A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

225a. postagem: volta de Belô e livro Nathanael

Tirei esta foto antes de ir ao Aeroporto de Confins (da esquerda para direita:)
Tia Cordélia, Ruth, Maria Luísa, Bernadete, Tia Aurinha e Tio Cláudio


Na sexta feira próxima passada a Família Cláudio Dutra nos convidou para um almoço de despedida. Muito bom ter reencontrado nestas férias todo o pessoal - nossa família paterna é pequena, inclusive porque infelizmente um irmão de meu pai - Tio Clóvis - faleceu ainda jovem, deixando uma filha - a querida Claudinha, que mora atualmente no estado do Rio de Janeiro (ela tem duas jovens filhas). Este divertido tio Cláudio é mais velho que meu pai e trabalhou com Geologia muitos anos na capital de Minas Gerais, tanto no serviço público quanto na iniciativa privada. Ele conheceu a Tia Aurinha (uma gaúcha) quando estavam fazendo cursos nos Estados Unidos, veja só. Eu e meus irmãos gostávamos muito quando crianças de visitar estes Dutras de Belô, pois eram e são muito simpáticos, atenciosos e amorosos. Fazem de tudo para agradar a gente, especialmente as primas queridas, e sempre que podemos voltamos aqui, meus irmãos todos (ao que parece meu mano Serginho vem logo-logo visitar a turma; Luciano também sempre vem, bem como Lúcia e Lia). Lembro-me que tinham todos muita paciência com as bagunças que eu e meus outros irmãos fazíamos (minhas irmãs eram mais comportadas), e minha avozinha Zizi (Adalgiza) só sorria com as traquinagens. Alguns anos antes de entrar na faculdade eu vim a Belo Horizonte para treinar atletismo com uma mineirada boa mesmo, no Clube Atlético Mineiro, sendo que em 1971 competi aqui pelo estado de São Paulo nos Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs), tirando o segundo lugar nacional em arremesso de disco. Bons tempos aqueles...

Tencionava escrever logo este post, mas fiquei os 2 últimos dias sem internet - problemas de cabeamento fora de nossa cidade, segundo nos informaram. Mas, continuando, depois do almoço fomos ao aeroporto pegar o avião às quase 18 horas, e chegamos a Campinas antes das 19 e 30 horas, computados alguns atrasos 'normais' dos terminais. Ficamos no apartamento dos meus pais e voltamos a São João da Boa Vista no sábado na hora do almoço. Tínhamos um importante compromisso: o lançamento do livro de meu amigo Nathanael de Oliveira Neves, que eu ajudei a escrever (ele ditava e eu digitava, organizando a cronologia e o enrêdo). A conhecida professora Clineida Jacomini (minha ex-colega no Centro Universitário UNIFEOB e irmã na Igreja Presbiteriana) fez a revisão literária. A Gráfica Sanjoanense imprimiu as cópias, entregues gratuitamente a todos os presentes.



O evento ocorreu no salão nobre do UNIFAE, a universidade onde trabalho. Nas fotos acima, à esquerda o autor, forte e desenvolto nos seus 86 anos; o autor e seus familiares; a capa do livro, e uma vista do auditório, com o pessoal que compareceu ao evento. Após as falas de praxe houve a sessão de autógrafos, ao som de música de câmara, provida pelo maestro João Rios, pai do designer Thales Rios, que fez a capa do livro. Foi uma boa experiência ter colaborado com meu amigo neste um ano e meio de 'trabalho' que demorou a feitura do livro; na verdade nos divertimos muito, e sempre tinha um lanche ao final da tarde, preparado pela querida esposa Isabel...

Acima, Nathanael autografando; 
abaixo, Isabel, a filha Naísa (que prefaciou o livro), e Ruth.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ainda em Belo Horizonte...

Tia Cordélia e Elaine
(fotógrafo Lucas)

Uff! Vejam só um almoço típico na casa da tia, elaborado com maestria pela Elaine (aliás, obrigado pelo empréstimo do computador para estas postagens): arroz, feijão, 2 tipos de suco (além da água de coco), carne assada com batata, salada com 7 tipos de verduras e legumes, suflê de queijo, e sobremesa (arroz-doce) indescritível... É difícil manter o peso aqui! Já estamos nos preparando para dar uma extensa caminhada até o centro da cidade de modo a manter as calorias sob controle, isto depois do cafezinho das 16 horas...

A semana toda tem chovido, e bem. Eu gosto demais de chuva, e sente-se até certo frio por aqui. Logo cedo saio para comprar o jornal Folha de São Paulo, que é encontrado com facilidade. Gosto de me manter 'antenado', e sempre retiro dali algum material para preparar aulas para meus alunos. Quando forneço um texto de jornal parece que os alunos se motivam mais a ler a matéria, e podemos debater os assuntos de modo mais aprofundado. Tenho a impressão que a moçada não aprecia muito ler, não... então a gente lê em sala mesmo, que fazer. O resto do tempo vejo a TV - sempre se acha algo 'palatável' na tv a cabo, principalmente nos canais de documentários e ponho a leitura em dia. 

Ainda antes de pegar o avião para vir para cá descobri um livro recente sobre religiosidade e já estou quase terminando. Chama-se 'A razão de Deus: ciência e fé, criacionismo e evolução, determinismo e liberdade', de José Carlos de Assis (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012). O título me pareceu ambicioso, e o autor não reconheci entre os habituais da área. Vi depois que é (aparentemente, pois a plataforma Lattes/CNPq informa somente mestrado e doutorado em Engenharia, sem declarar formação acadêmica) um economista político, mas que talvez tivesse algo a dizer. De qualquer forma, pareceu sério, ainda que a proposta fosse inusitada: defender a existência de Deus, ao falar sobre Estado, valor, Criação, e paranormalidade, além dos temas 'normais' de homem, da religião, do bem e mal, e da ética (ele coloca o termo 'estado' com  maiúsculo, como também 'criação' e 'deus'; os demais tópicos com letra inicial minúscula...). Como esperado, o capítulo sobre Estado é muito bom, mas outros deixam a desejar, pela superficialidade. Mas não é um pastiche oportunista, ao que parece. Encontrei poucos erros de revisão, que fazem algumas frases perderem o sentido, mas o que me chamou a atenção é a citação (p. 93), inusitada para um acadêmico (há 7 anos ele é professor numa Universidade Federal), de uma passagem da Wikipedia para ilustrar um fato da Reforma Protestante, ocorrido em 15 de maio de 1525. Todos sabemos que esta fonte não é das mais acreditadas para sustentar discussões, mas como o autor trabalhou muitos anos na área de jornais como repórter e editor, não parece preocupado em discutir, mas apresentar suas idéias. Ah, e numa passagem (p. 211) ele diz que 'homossexualidade e uso de contraceptivo não são uma questão ética, mas moral'. Não posso afirmar que o autor não saiba que 'ética' e 'moral' são, grosso modo, no âmbito da Ética, sinônimos. Mas recomendo a leitura - sigo a máxima "leia de tudo, retenha o que é bom". Para mim fica principalmente a lição de ter sempre muita humildade na hora em que eu for escrever meus futuros livros, com prudência e cuidado redobrado. 

Estas duas semanas de férias que sobram vou me ocupar em preparar todas as aulas do semestre. Muitas disciplinas são reedições do mesmo conteúdo previsto em ementas oficiais fixas, mas sempre tento atualizar os temas com textos e materiais recentes. 'De quebra', procuro com esta estratégia incentivar os alunos a lerem jornais (e revistas, especialmente as científicas ou de divulgação científica), especialmente alguns colunistas ligados à nossa profissão, como o psicanalista Contardo Calligaris, que escreve às quintas no caderno 'Ilustrada' da Folha de S. Paulo

Amanhã retornamos a Campinas, devendo chegar ao cair da tarde. E já vamos pensar em quando voltar a Belô...  

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Belo Horizonte...

Foto obtida agora via Google Images, de
http://www.brazil-travels.com/Belo_Horizonte_vacations_hotel_packages_tours.html

Estamos, Ruth e eu, em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, na morada da querida Tia Cordélia, mana mais velha do meu pai. Ela nunca se casou, morando solita neste grande apartamento, de 4 quartos. Neste belo prédio (um apartamento por andar) também residem o outro tio (Cláudio) com a esposa Aurinha, e também, noutro apartamento, as suas filhas, as primas Maria Luiza e Bernadete. Chegamos anteontem via aérea, vindos de Viracopos, Campinas, aeroporto de muito movimento, cheio de gente! O curioso é que, comprada com antecedência a passagem pela empresa Gol, voamos num 'sucatão' (Boing 737) pintado com nome e as cores da célebre VARIG - pensei que tinha sido extinta esta marca. Para variar, o voo saiu com certo atrazo, inexplicável, mas 'normal' nesta brazólia. Nem um 'refri' nos serviram, 'pobreza'... Pousamos em Confins, aeroposto distante 40 km daqui da capital; por mais que se tente é difícil voo para pouso no aeroporto de Pampulha, um bairro aqui na cidade mesmo. Fico a pensar como precisamos melhorar nossa infraestrutura aeroportuária até a futura Copa do Mundo e também as Olimpíadas. Mas acho que vamos certamente passar vergonha e ser mais uma vez motivo de piada no resto do mundo, que fazer...

Quando criança a gente costumava vir aqui para 'Belô' - o bairro aqui da rua Ramalhete, um cruzamento da afamada Rua do Ouro, era 'periferia' e cheio de espaços vazios. Antes de todos se mudarem para este prédio aqui no mesmo quarteirão, moravam numa casa assobradada enorme. Gostosas memórias, inclusive por causa dos quitutes da Vó Zizi (Adalgisa). Tinha até um riacho pertinho da casa. Hoje a grande avenida Afonso Pena foi prolongada até mais acima, e os muitos prédios tampam a bela visão da cidade lá embaixo, que costumávamos apreciar. E agora aqui, na Serra, como chamam esta região da metrópole, é um lugar muito chic, de pessoas abastadas e bonitas. 'Cada' mansão construiram por aqui... Tem muitos jovens fazendo corrida e caminhada pelas ruas, exercitando nas diversas academias, e refrescando-se nos muitos barzinhos e cafés. Fico observando e meditando sobre as caras, bocas e gestos - eu tinha que virar psicólogo mesmo. (As pessoas dizem que psicólogo 'só fica analisando'; bobagem, só quando algo nos chama a atenção, pelo inusitado ou pelo disruptivo! Nem mesmo quando nos pedem para analisar a gente 'analisa' - somos muito profissionais... Alguns deslumbrados podem fazer isso, mas talvez só em início de carreira,  ou bobamente, quando estudante, mas logo se apercebe que isto é insensatez)

O trânsito é horrível, como toda cidade deste porte, problematizado pelas onipresentes (e perigosas) motocicletas. Andar à pé é interessante, pois permite que a gente veja melhor as pessoas e as construções. Os mineiros são algo diferentes na fala e nas atitudes, e todos reconhecem que sou paulista, apesar de minhas raízes mineiras... Em geral são mais cordiais. Fomos num shopping center que fica aqui perto, a Savassi, que tem já algumas décadas, segundo consta, mas que foi ampliado e reformado, pois parece novo em folha. Muitas lojas, uma bela livraria (mas muito bagunçada a disposição dos diversos assuntos) com muitos funcionários, muitos seguranças e variedade de ofertas, além dos inevitáveis cinemas. Pelo menos tinha bons banheiros, apesar de poucos para aquela enormidade de usuários.

Na verdade, a gente não veio aqui para ficar passeando, pois como é difícil a gente encontrar os Dutras daqui, temos que aproveitar para colocar a conversa em dia... O mais legal é curtir a tia, simpaticíssima e lúcida nos seus 95 anos. Ah, e comer as especialidade mineiras da secretária Elaine, solítica e sempre amiga.

 Tia Cordélia e Bilú

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Pensamento Correto


O Pensamento Correto é o que resulta quando a Compreensão Correta se configura como parte integrante de nosso ser; esta, a Compreensão Correta, é o fundamento, o alicerce do pensar. E se aprimorarmos o Pensamento Correto, reciprocamente nossa Compreensão Correta irá se aperfeiçoar.

No Budismo se diz que o processo de pensar é a fala da mente, e o Pensamento Correto tornará nosso falar mais claro e benevolente. Como o pensamento é o motor da ação, conduz ao agir, o Pensamento Correto é fundamental para conduzir a cada um ao caminho da Ação Correta. O Pensamento Correto reflete a maneira, a forma como as 'coisas' se constituem. O pensamento errôneo faz-nos visualizar os fenômenos de modo confuso, desfocado, e é um sintoma de como nosso corpo e nossa mente estão dissonantes, ou seja, estão funcionando em desarmonia, de forma não unificada, como na situação onde nossa mente está pensando uma coisa e nosso corpo está fazendo outra. Esta é uma situação muito comum - mais usual ainda, penso eu, nestes tempos altamente cibernéticos...

Quando a mente e o corpo não funcionam em uníssono, 'perdemo-nos' a nós mesmos e não se pode afirmar realmente que se está - aqui-e-agora -  presente. Isto, a dissonância, ocorre em grande parte por causa do fato do nosso pensar ser, em sua maior parte, desnecessaria, visto que nossos pensamentos comuns são limitados, dotados de parca compreensão. Nunca a nossa mente descansa (nem quando dormimos - o que são os sonhos, os pesadelos?) e nossos pensamentos ficam 'pulando' para ali e acolá, percorrendo assuntos díspares constantemente - é o que o budista diz da 'mente de macaco'.

Uma explicação para esta 'mente de macaco' é o apêgo excessivo às palavras e conceitos. Quando, em meio à cotidiana voragem do nosso existir, nos perguntamos 'o quê estou -a aqui-e-agora - fazendo?' podemos subitamente nos libertar das amarras a que nos dispomos - tanto ao passado quanto ao futuro - e podemos retornar ao momento presente, de modo a vivenciá-lo integralmente. Aprendi meditando que as pequenas ações são preciosidades particulares. Quer ver um exemplo? Lavar pratos para muitos é tedioso e aborrecido, mas se nos dispomos a vivenciar plenamente o momento, aprendemos que lavar pratos pode ser uma meditação preciosa, se a realizamos com atenção e gratidão. Ou seja, se estamos realmente presentes (pois o passado já foi, é memória, e o futuro é uma abstração, uma possibilidade) lavar pratos pode ser uma experiência intensa, profunda e extremamente agradável. Mas se lavamos pratos pensando no que se poderia estar fazendo, sobre a obrigação que esta tarefa repetitiva traduz, sobre...; nosso corpo está a realizar tarefas mas nosso pensamento não está 'junto', e possivelmente não lavaremos bem os pratos e ficaremos aborrecidos, chateados!

Quando se pratica a Compreensão Correta e o Pensamento Correto, aprende-se a viver o 'aqui-e-agora', o momento presente, que é o quê unica e precisamente temos (pois o passado já se foi e o futuro é incerto) e assim poderemos entrar em contacto com a alegria, com a paz e a libertação das amarras que o viver nos habitua, nos condiciona, e para as quais não estamos  antenados, despertos, alertados, prevenidos. Estas amarras quase-invisíveis encerram muito de nosso sofrimento, fazendo-nos encapsular em nosso egocentrismo. Urge aprender o caminho que nos liberta de nós mesmos...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Compreensão correta


A primeira prática do Nobre Caminho Óctuplo é a Compreensão Correta, que encerra uma profunda compreensão das Quatro Nobres Verdades - o sofrimento, seu aparecimento, o fato de que o sofrimento pode ser transformado, e o caminho preciso de sua transformação.

A Compreensão Correta não pode ser descrita - só se pode apontar sua direção. Não é possível explicar o gosto da jabuticaba para alguém que nunca experimentou uma em sua vida. Pode-se tentar descrever, mas não se é capaz de dar ao outro a experiência direta; a pessoa tem que experimentar por si mesma o fruto.

É ensinado que mesmo um mestre não pode transmitir o que seja a Compreensão Correta; ele pode ajudar-nos a identificar as sementes da Compreensão Correta em nosso baú de vivências, e pode nos ajudar a ter confiança para praticar, mesmo proporcionando algumas sementes adicionais no solo de nossa vida do dia-a-dia. Mas o lavrador teremos que ser nós mesmos; é algo que não se delega a outrem, como o alimentar-se: nós é que temos que decidir e agir no sentido de alimentar nosso corpo; não podemos pedir para alguém ir almoçar em nosso lugar... Pode-se até casar com alguém por procuração, mas mesmo para efetivar o casamento nós é que temos que estar presente com nosso cônjuge para consumá-lo.

Uma chave para 'adubar' as boas sementes da Compreensão Correta que carregamos é viver com atenção plena, que significa respirar conscientemente, caminhar e vivenciar cada momento de nossa vida com plena e grata atenção a tudo o que nos é dado.

Outra chave que se aprende é que ficar pensando, conceituando e 'percebendo' tudo a todo momento na verdade tudo isso nos faz 'presos' à mente que tende a compartimentalizar tudo, como na tendência a catalogar as coisas e fatos como 'bom' ou 'mau', certo ou errado, inclinação a considerar as coisas de maneiras relativas, subjetivas, situacionais. No limite, qualquer ponto de vista traz a incorreção em seu bojo, pois nenhum ponto de vista pode representar a verdade total.

Quando se aperfeiçoa a Compreensão, aprendemos que as suas sementes em nós estão obscurecidas por 'camadas' de desapontamento, mágoas e ignorância, que temos que domar.  Nossa mente nos engana por demais - pensamos (p. ex. percebemos, julgamos, concluimos) muito errado; nossas hipóteses sempre tem vícios que precisamos pacientemente depurar... Aprendemos que os outros também tem as mesmas sementes dentro de si, e que a prática concreta é o que nos faz a todos, a cada passo, mais sábios em nossa Compreensão.

Ter a Compreensão Correta é ter 'olhos abertos', os mais descompromissados possíveis; abertos à experiência, sem medrosamente (defensivamente) 'pré-catalogar' tudo o que nos sucede, de plano; estar aberto à experiência como se nos descortina. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Caminhos...


Uma cena comum em muitas cidades aqui do sudeste no começo do ano é o sofrimento das criaturas que, morando em lugares de risco, tem suas casas invadidas pelas águas torrenciais oriundas das copiosas chuvas que habitualmente vem depois das festas de fim de ano. Não bastasse isso, este ano houve cidade em que o lixo (não recolhido por vingança de políticos que não se reelegeram nas ultimas votações) se somou ao entulho carregado pelas torrentes que veio das montanhas e encostas próximas às casas e prédios comerciais, onde as pessoas teimam em edificar suas construções.

O mais chato de tudo é que tais tragédias se repetem há tempos, e o jogo de empurra-empurra se alterna com os discursos inflamados de políticos e autoridades (ao que parece, sumamente comovidos com a provação das famílias, assoladas por vezes com a perda de parentes, além dos bens móveis e imóveis), prometendo a solução do amplo transtorno. E desgraçadamente eu, que olho de longe tal sofrimento, a salvo de tais perigos, além das minhas orações, não me encorajo em enviar algum donativo, pois não tenho a mínima confiança de que o recurso, ainda que parco, será empregado apropriadamente, dada as notícias de desvio de verbas por parte de corruptos alocados em diversos níveis da sociedade pertencente às áreas atingidas. Evito até ligar a TV ou escutar os noticiários do rádio nesta época...

O tema do sofrimento é sempre presente para o homem. No cristianismo, a 'obra prima' do ensinamento sobre o sofrimento encerra-se no Livro de Jó. Sempre pensei sobre isso em minha vida, ainda que eu pouco tenha sofrido em toda minha existência. Não considero hoje  que tenha 'sofrido', pois quando miramos o que vivenciam diariamente nossos semelhantes, tudo o que passei é quase irrelevante. E quando penso sobre o sacrifício expiatório do Cristo, vejo que nada tenho a lamentar ou reclamar e, sim, a agradecer. Todo o tempo.

Outro dia revi alguns papéis guardados, lembranças de um tempo bom que vivi intensamente. Eu já comentei que estudei bastante o Budismo, em especial a doutrina Zen (e, dentro desta, a escola Soto). Não me aproximei da doutrina de Buda como religião (alguns assim a consideram, mas prefiro considera-la enquanto ‘prática que nos ajuda a eliminar os pontos de vista incorretos’ como ensina o monge vietnamita Thich Nhat Hanh), mas pelas interfaces que possui com a Psicologia. Na verdade, existe até uma ‘Psicologia Budista’, que auxilia muito a pessoa a ajustar sua conduta, a partir da reflexão sobre as melhores práticas mentais para lidar com suas intelecções de modo apropriado.

Uma das lições principais desta abordagem – digo que a lição fundamental, do qual todas as demais derivam - é a proposição da meditação sobre as Quatro Nobres Verdades, enunciadas diretamente pelo príncipe Sidharta Gautama quando da sua iluminação, ou seja, quando ele finalmente compreendeu a sua situada condição. Existem centenas de livros refletindo somente sobre esta temática. A primeira nobre verdade é o Sofrimento, inerente à existência do homem, e que precisamente existe ‘em tudo’, é onipresente. A segunda verdade nobre é a Origem do Sofrimento, que reside no apego que o homem desenvolve em seu existir cotidiano, ou seja, nos caminhos indignos que ele trilha e que conduzem ao sofrimento. A terceira nobre verdade é a Cessação do Sofrimento; a possibilidade do sofrimento ter um fim – é possível ao homem atingir o bem-estar. A quarta verdade nobre encerra o caminho para o surgimento do bem-estar: o Caminho Óctuplo, o nobre Caminho, ou como os chineses traduziram, o ‘Caminho das Oito Práticas Corretas’, as práticas retas, realizadas na forma certa, apropriada.

Praticar o Budismo se resume em aprender (é o ‘despertar’, ou a 'iluminação') a conduzir a si neste caminho de oito práticas, que é o que vai determinar a eliminação do sofrimento da vida da pessoa. Obviamente que, compreendendo o que este pequeno e superficial resumo encerra, veremos que a prática aperfeiçoante deste caminho pode abranger toda a vida da pessoa, e é isso mesmo... E quais são estes 8 passos? Auferir a Compreensão Correta, o Pensamento Correto, a Fala Correta, a Ação Correta, o Meio de Vida Correto, o Esforço Correto, a Atenção Plena Correta e a Concentração Correta. Não há nesta lista precedência ou grau ou subordinação entre os passos, posto que são inter-relacionados entre si como numa matriz; cada passo contém todos os outros sete... Vou comentar cada um deles nas próximas postagens.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Do libreto de Fábulas...

gravura obtida agora via Google Images de
http://metaforas.com.br/o-cachorro-na-manjedoura

O cachorro na manjedoura

Hoje li interessante fábula daquele libreto (Jack Zipes, Aesop's Fables, London: Penguin, 1996; CIII: The dog in the manger, p. 107), de poucas mas densas palavras. Um cão fez sua cama numa manjedoura e mantinha, rosnando e latindo, cavalos e bois afastados da sua alimentação. 

Um dos cavalos comenta "que miserável patife é este vira-lata! Mesmo que ele não coma a forragem, não permite que ninguém faça uso dela..."  Algumas versões modernas colocam  em cena outro personagem, um fazendeiro que, na história, aparece castigando o cachorro, assim que o vê judiando dos outros animais; mas, na fábula original, não consta.

A moral da história é que não se deve privar outros das bênçãos simplesmente porque não podemos nós mesmos as desfrutar. E não é o que muito se vê hoje em dia? Nem digo daqueles que fazem isso malevolamente, mas o que acho mais patético é aquela criatura que nem imagina o impedimento que impõe aos outros, pela desimportãncia que nutre pelo semelhante e suas coisas, ou pela simples ignorância.

Nas famílias sabemos de casos de jovens que sofrem um sistemático processo de desmotivação que as vão comprometer pelo resto de suas vidas, oriundo da simples falta de conversa com seus genitores. Obviamente que cabe ao pai ou à mãe tomar a iniciativa do diálogo, posto que quanto mais imaturo, mais confuso se desenham as realidades nas mentes das pessoas. Se cada um é um universo diverso, ainda que semelhante em muitas coisas, como saber do que se apraz, e mais a um do que a outro? E daí se estabelece, a princípio, muitas situações de estorvo da felicidade, desfrute para o(a) outro(a), mormente de coisas que não nos faz maior diferença. 

E como faz falta para os jovens uma vera atividade para proficuamente contruir seu caráter e, melhor ainda, prazenteira! Tenho refletido muito sobre o hábito da moçada de ficar o tempo todo atento a um terminal (TV, tablet, web, celular do tipo smartphone etc.) e isso às vezes por horas... Como esta mente está se moldando para uma realidade cada vez mais complexa, que exige demorado meditar para a sua devida compreensão, vivenciando a maior parte do seu tempo uma experiência, ao que parece, fugaz e superficial?

Para mim, que tenho uma filha nos seus onze anos, a preocupação é recorrente. Angustia-me  ve-la digitando, ouvindo, olhando 'ferozmente' seu iPod, o computador, o seu celular, por tardes a fio. Oferecer livros é arriscado, pois a meninada acha ler maçante por demais. Convida-la para sair e passear é, creio, talvez, interessante, mas sei que os amigos são mais motivadores para estar em contacto. Outro dia fui ver o conteudo da pagina de uma destas redes sociais que ela e suas amiguinhas frequentam e fiquei pasmo com a bobajada (sei, "assim é se lhe parece...") que lá é despejada diuturnamente. O fato é que o esforço de comunicar-se é cada vez mais necessário - ela me diz que pareço um 'dicionário ambulante', e juro que nem procuro usar termos muito técnicos! Vou ter que fazer um curso de linguajar popular... ou de gíria, ou de comunicação inter idades - existe algum?

Mas, penso, tenho o direito de determinar sempre o que é melhor para ela? Não estou a impedindo de desfrutar o que é para ela benefício, uma coisa que para mim não o é? Pensamentos, pensamentos... é por isso que alguns casais não tem filhos; no máximo, um animal de estimação!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Primeiro post do ano!

gravura obtida agora via Google images de
http://blogdairmamonica.blogspot.com.br/2012/09/blog-post.html
(simpatico blog com wall papers diversos para baixar)


2013 chegou! Novas esperanças, desejos mais ou menos apegados e expectativas racionais ou não... Depois que eu descobri nossa tendência a desenvolver crenças irracionais, vivo a todo tempo averiguando a racionalidade das minhas afirmações, sobre mim e sobre o mundo. É um exercício interessante, quase um passatempo... com a vantagem que previne dores de cabeça.

Com esta chuvarada que ocorre normalmente no fim do ano descobri que a casa que nos foi vendida necessita de reparos. Tem ‘chovido’ dentro de algumas salas aqui (ainda bem que é pouco) e não se acha nenhum pedreiro nesta época – bem, aqui em São João achar este tipo de profissional é trabalhoso, pois os investidores aqui apreciam muito aplicar seu dinheiro em casas e apartamentos; vê-se muitas casas em construção, o que determina a escassez de bons profissionais.  Estou vendo com um sobrinho (magrelo...) se ele sobe no telhado para ver as telhas (tempos atrás eu mesmo subiria, apesar dos meus 100kg , mas hoje tenho certo receio, pois meus reflexos não são mais os mesmos...) e averiguar o estado das calhas e rufos. Aparentemente se trata de entupimento de calha, vamos ver... tomara que seja, mas casa antiga costuma guardar ‘surpresas’.... infelizmente.

Acabo de vir do Asilo; realizei mais um dia de tarefa de barbeiro voluntário. Meu dia fica luminoso quando posso fazer minha atividade bissemanal – agora volto lá sábado para dar conta da meta de barbear todos os homens. Alguns até tem pedido para cortar cabelo, o que não é difícil com os equipamentos modernos – mesmo porque não sou cabelereiro, só ‘quebro galho’! mas ninguém tem reclamado...

Nesta semana reinicio a preparação das aulas deste ano. Gosto de me programar antecipadamente pois a carga de procedimentos para elaborar boas aulas é enorme, apesar de parecer coisa de somenos – para quem fez Pedagogia, sabe como é complexa a sistemática do ensino-aprendizagem. Para alguns, ‘dar aula’ resume-se a proferir verbalmente alguns conteúdos que constam na ementa oficial, mas organizar lógica e propedeuticamente as ideias e conceitos não é tarefa simples; exige-se além do conhecimento inerente boa intelecção sobre a totalidade das competências que se quer desenvolver, além de cotejar os recursos midiáticos apropriados com o potencial da ‘clientela’ objeto da aprendizagem. 

Vamos ver o que o Pai Celestial nos reserva neste 2013. Sinto que com o passar dos anos fico menos 'corajoso', mais preguiçoso... e mais decepcionado com a falsidade das pessoas. Mas faz parte do jogo; nossa natureza corrompida nos determina ser assim. Outro dia comentei com Ruth: o que sinto muita 'falta' é pertencer a uma comunidade cristã de verdade, com pessoas amigas que se cultivem, que se visitem e se importem com os outros. Mas estes tempos modernos implicam, ao que parece, que mesmo as igrejas, as comunidades, sejam constituidas por pessoas 'frias', individualistas, que não se importam mais com os irmãos. Uma vez ouvi que nossa Igreja Presbiteriana tem o apelido de 'Igreja Sorveteriana', tal a frieza dos membros. Não sei se é aqui em São João que isso acontece, pois os sanjoanenses não são muito 'dados' mesmo com quem 'é de fora', mas se tal é verdade é uma pena, pois a doutrina protestante reformada é maravilhosa, verdadeira e libertadora!  De qualquer forma, tento fazer a minha parte, mas é desanimador. Pelo menos no grupo de oração que participo toda segunda feira sinto mais calor humano... Estamos agora de 'férias', mas retomaremos os encontros logo-logo, espero, pois a saudade é enorme!

Uma última palavra, um pensamento que serve muito para mim agora, que mandei para meu filho José Geraldo, lá em Fresno, California. Shakespeare disse: ‘our doubts are traitors, and make us lose the good we oft might win by fearing to attempt’ (Measure for measure).

Que 2013 traga as realizações que todos sonhamos!


segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Fim de ano; Salmo 25: 10

gravura obtida agora via Google Images de
http://educarfinancas.com.br/2012/12/12/fim-de-ano-consumir-ou-poupar/
(bom site para sábios conselhos de planejamento financeiro...)

Ultima postagem do ano. Boa hora para fazer certo 'balanço' do que sucedeu ao longo dos 365 dias. Teria tantas coisas a comentar, mas a principal para mim foi a mudança de domicílio, do apartamento que gostava tanto (mas não do Condomínio - lugar cada vez mais inviável para se viver nos dias de hoje) para a casa antiga que adoro. Como agradeço a Deus o recebimento de uma casa do jeito que sempre imaginei... Fico estatelado com a misericordia do Pai Celestial, que me concede todo dia coisas que nunca mereceria - a principal, a Família, aquela na qual nasci, meus pais e irmãos, e meus filhos e netos, além de, claro, Ruth. Quanto mais estudo e medito, mais vejo o quanto dependo Dele.

Outro dia vislumbrei com clareza a certa 'dificuldade' de relacionamento que tenho com as pessoas, obtida paradoxalmente atraves dos meus anos de intensa meditação zen-budista. É este um caminho realmente avassalador. Não, não tem necessária e metodologicamente contradição com o caminho cristão, principalmente o protestante reformado, como poderia superficialmente uma possível alma temer... Tive o privilégio de estudar bem estes dois caminhos (além de outros, a partir da psicologia da religião) e sei bem separar os domínios, suas pressuposições, seus fundamentos. É como aquela dualidade Ciência-Religião (ou também a dualidade mente-corpo), que muitos julgam irreconciliáveis: existem mais pontos de aderência do que de afastamento, ainda que estas sejam profundas; mas afirmo novamente (como já disse anteriormente aqui) que uma pessoa pode muito bem ser um bom cristão e um rigoroso cientista. 

O caminho zen-budista (estudei a tradição Soto Zen, do Japão) é bem esclarecedor sobre:  1. a finitude, 2. o potencial e as limitações humanas (principal e paradoxalmente a nossa mente), 3. as expectativas que criamos, e como tudo isso nos condiciona para o sofrimento. Compreendendo bem esta equação, pode-se libertar destas amarras que o viver cotidiano determina, suas paixões e apegos. E a mente, sob este enfoque zen,  fica bem domada, disciplinada para outra visão de mundo, diversa do que é veiculada pela consumista e imediatista cultura ocidental, que tem enfoques bem diversos daquela dos orientais. É bem complicado para um ocidental vislumbrar a visão de mundo do oriental e, para mim que fui bem treinando em psicologia, tive mais facilidades neste sentido.

Para não me estender muito, digo que o ocidente privilegia, em sua visão de mundo, a pessoa em si; ela é o centro e a referência para esta construção. Na visão oriental, o cosmos é o centro - fazemos parte dele - e constitui-se precisamente na referência prmordial para se construir a visão de mundo. Esta inversão de sentido faz toda a diferença, e somente se a obtém mediante treino intensivo para domar a mente egocêntrica (no zen isto se aufere essencialmente com a meditação, em todas as suas modalidades - a principal é o zazen, meditação sentada de olhos semicerrados). O Budismo não é entendido como uma religião, no sentido ocidental,  posto que, em princípio, não pressupõe um Deus - é mais um humano caminhar, refletindo a existência e o ser de modo bem particular, sob outra ótica. 

Esta estratégia de deslocar o centro das considerações do ego para o cosmos é semelhante à orientação que Jesus ensinou, com a especificidade de que Deus é Aquele para onde devemos nos dirigir, nos abandonar, nos entregar de todo o coração. Acredito que a meditação zen me ajudou substancialmente em minha reaproximação com a familiar tradição cristã, ainda que eu esteja percorrendo um caminho diverso daquela recebida de meus pais. Em certo sentido fiquei mais radical, pois o caminho calvinista é mais bíblico, mais aferrado ao que preceitua a Palavra, do que o romanismo.

O grande problema que vejo é que, diversamente do que encoraja a visão ocidental, não coloco as pessoas (eu inclusive!) em primeiro lugar na minha vida; não as vejo como recursos e meios dos quais deveria 'investir', no sentido de priorizar minhas ações para atingir os valores mais apreciados em nossa sociedade. Meus valores são outros (diria 'espirituais'), e determinam um viver mais distanciado das pessoas, menos 'interesseiro', menos utilitarista. Sei que isto leva a viezes recorrentes das pessoas a meu respeito, mas não dá para ser o que não sou. Quem me acompanha aqui sabe o que estou a ponderar.

Gostaria de finalizar este ano agradecendo a todos e principalmente ao Pai Celestial, meu amigo. A citação que coloquei acima, salmo 25: 10, diz meu estado de espírito: 

Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos. (versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade para com os que cumprem os preceitos da sua aliança. (versão NVI - Nova Versão Internacional)

Estas duas amplitudes de interpretação da perícope abarcam o sentido contido em outras boas versões, como a da Sociedade Bíblica Britânica e a Católica Romana. Tudo - inclusive as provações ou 'coisas ruins', que não gostamos ou desejamos ou que achamos que não merecemos - o que Deus nos permite ou concede de Sua Mão, nos determina ou requer, tudo constitue-se em graça, misericórdia e verdade autêntica, tudo isto para nós que tentamos (guardamos, cumprimos), em nosso temor, a percorrer a senda, o caminho preceituado, requerido pelo soberano Pai Celestial, que é um caminho de Vida.  O que o cristão deve realizar nesta vida é, percorrendo o caminho, aperfeiçoar o entendimento deste mesmo Caminho e o agir nele, vereda que pode efetivamente nos configurar, também ao fim e ao cabo, pessoas completas, esperançosas no devir de nossas existências situadas, cada qual com suas determinações e condicionantes específicos.

Que 2013 surja pleno de esperança e realizações. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Newtown, Connecticut, EUA

Imagem obtida agora via Google Images, no site
http://02varvara.wordpress.com/tag/newtown-ct-school-massacre/



Tem ocorrido muitas coisas impactantes ultimamente, que ensejaram em mim desejo de comenta-las aqui, mas as mesmas tem se sucedido e sobreposto de modo tão acerbo que logo minha atenção se desvia e ‘perco’ minhas confabulações, isto é, acabo desperdiçando a oportunidade de posta-las aqui em estado mais puro, sem ficar  ‘exagerando’ na reflexão. Prometi a mim mesmo doravante não falar de política - não tenho mais estômago para isso, a coisa está ficando insana (de insânia...).

Se eu trabalhasse diuturnamente frente a um terminal de computador (como muitas profissões hoje em dia) teria mais azo para deitar palavras em crônicas e comentários; como quase raro recorro a esta ferramenta, ‘desmotivo-me’ facilmente. Na verdade, procuro preservar o lúdico deste desvanear cibernético, pois é o meu principal divertimento hoje em dia, depois da leitura. Ah, sim, estudar a Palavra é um tipo de obrigação do espírito; a alegria aqui resultante é maior do que a do folguedo, da folgança, mas é coisa mais que vital – obrigação vivencial do mais alto grau.

Mas agora, passado o estupefato da carnificina de Newtown (pequena cidade do estado de Connecticut, nos EUA), posso manifestar algo que importa. Se a insensatez choca a qualquer um, imagine para mim, um profissional da saúde mental. Meu primeiro impulso é averiguar o que os colegas manifestam pelos veículos de comunicação. Um profissional que gosto de ler é o psicanalista Contardo Calligaris. Ele escreve uma coluna num dos melhores jornais paulistanos, às quintas feiras, no caderno ‘Ilustrada’. Ele é habitualmente ponderado e arguto e em seu comentário do dia 20 de dezembro (O massacre de Newtown, Folha de São Paulo, ano 92, #30.577, p. E-12) aborda dois aspectos que sempre são aventados em chacinas, em especial a que envolve crianças: a previsibilidade (de algum celerado perpetrar tais morticínios) e o controle da posse e uso de armas nas mãos das pessoas, especialmente os civis. A conclusão que o articulista chega (e que concordo) é que, apesar de devermos melhorar sempre os controles e vigilância dos potenciais facínoras, além de proibir ou acompanhar devidamente quem tem armas (e que tipo, etc.), tudo o que se faça não vai impedir que tais loucuras ocorram novamente; assim, não devemos continuar nos enganando, pensando que podemos efetivamente prevenir estas ocorrências, complexas e com muitos prós e contras, a partir dos multifacetados pontos de vista.

Na mesma edição deste jornal, à p. A-20 do caderno ‘Mundo’, Ricardo Bonalume Neto nos relembra, com certa frialdade, que assinar muitas pessoas é, de certo ponto de vista, (também, digo eu,) uma questão de tática, pois é como pensa o assassino. “O alvo está parado ou é móvel? Está em um lugar fechado ou ao ar livre? E que arma ou armas usar?” E por aí vai, o articulista, contribuindo, com sua crueza, para tentar definir melhor a obscuridade do quadro todo da carniçaria.

Tanto mais articulistas se escuta ou lê, tanto percebemos que todos veem (uns mais veridicamente, outros mais desacertados aqui ou ali) uma parte do controverso evento, do qual nunca saberemos em sua total realidade, tantas as dimensões e seus diversos atores. O que resulta para mim é que é um dos exemplos tenebrosos da corrupção que denota a natureza humana, determinando que estejamos todos, a qualquer tempo, tanto perto de Deus quanto do grão-tinhoso, do mofento, do temba. Por isso, cada um vigie a si próprio, em primeiro lugar...


Quer  ver? Ontem estava seguindo de carro por uma das ruas aqui e, numa das esquinas, com sinal verde para mim, um rapaz (nos seus 30 anos + ou - ) cruzou a rua. Parei abruptamente o carro e, pasmo, sinalizei ao bronco a falta de atenção: fiz aquele gesto que os italianos fazem com as 5 pontas dos dedos unidas para cima, 'ma que cosa'... Sei que não é um gesto obsceno, e não pretendia ofender o gajo, mas levei certo susto, apesar de sempre estar atento ao trânsito - pois pode surgir uma criança correndo atrás de uma bola (como já ocorreu comigo, e sempre lembro que poderia ser um dos meus). O rapaz - sei lá o que pensou; acho agora que estava drogado, pelo semblante, pela marcha dos seus passos, pelos olhos, pela conduta - fez diversos gestos obscenos e provocativos, penso que para chamar a atenção dos passantes, para arranjar briga; nunca saberei o certo.

[[ Não costumo comentar isso - mas estudei muitos anos karatê, tive armas, soco inglês etc. Cabeça de homem panaca: via possíveis ameaças por todo lado e me preparava para possível situação, que nunca ocorreu (talvez pela minha vigilância ou prevenção de situações, pode ser). As pessoas não imaginam como é fácil infligir dor, colocar um oponente fora de combate, matar alguém. Isto é uma espécie de insânia, e não é mais típico de nossos dias do que antigamente - na História temos inúmeros casos da irracionalidade humana, e qualquer um pode ter seu dia de fúria... ]]

Fiquei grato a Deus por estar perto Dele atualmente; se fosse alguns anos atrás eu certamente daria volta no quarteirão, pararia o veículo antes, desceria e iria ensinar àquele jovem lições que talvez o pai dele (se é que ele tem ou teve, vai saber) deixou de ensinar, expondo-me assim a diversos perigos, certamente, coisa de aloprado... Fui embora feliz pois, no fundo, o Pai, em sua misericordiosa Soberania, me ensinou e livrou, mais uma vez.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

215a. postagem: Medo de cara feia...

Ontem  ocorreu novamente comigo algo que me fez decidir – ‘escreverei sobre isso no blog’... Este tipo de acontecimento sempre me acompanhou, e acho que vai morrer comigo. Vou contar primeiro o que sucedeu, e depois vou ‘filosofar’ a respeito.

Período natalino, com lojas abertas até altas horas (muitos funcionários gostariam de estar em casa ou com amigos, mas estão a trabalhar – dinheiro extra, mas mais cansaço... os onipresentes conflitos modernos!). Estava a passear no centro desta querida São João com Bilú, em visita a vitrines e eventuais comprinhas, com a minha habitual boa vontade (diferente do normal dos maridos...), quando Bilú encontra uma simpática colega da Universidade que trabalha freelance em uma loja. Ficaram as duas a confabular e eu, recostado na parede, esperando o desenlace da conversa, mirando o movimento das pessoas e ocasionalmente as duas e sua (suas?) parlenda. Em dado momento a colega de Bilú me diz, em quase tom de brincadeira (com fundo de verdade): “não fica bravo comigo, olhando com esta cara feia, que eu libero logo sua mulher...”  Mas eu não estava bravo ou olhando com cara feia, juro! Homessa, pensei, o que levou a raparigota a proferir aquela desconexa percepção?  Mas tenho suspeitas...

Devo confessar que esta situação me deixava, tempos atrás, muito contrariado. Com algumas pessoas cheguei a increpar o dislate, denunciando pedagógica e psicologicamente a falta de lógica da percepção da pessoa etc... O que ocorreu é que, ali, eu não estava (sei que talvez só para mim, adianto) efetivamente bravo ou aborrecido; a colega da Ruth, a seu bel-prazer, ‘concluía’ esta minha disposição, e a assumia verdadeira, sabe-se lá a que título, baseada em nebulosa evidência.

Viu a foto? Você consegue inferir com certeza meu estado de espírito? Sei que a primeira impressão pode ser negativa. Juro que quando aqui fui clicado estava super bem e queria sair ‘bem na foto’... Sei que minha feição ali, que é a minha habitual pode, a princípio, ensejar a pessoa a imaginar isso de negatividade. Na verdade, a minha intenção é fazer, apresentar no dia a dia sempre esta feição:


Sei, como bom psicólogo, que a primeira impressão pode determinar toda a evolução de um relacionamento, pois as primeiras expectativas criadas sempre pautam nossas posteriores ações. Sempre que entro numa classe onde iniciarei uma disciplina, procuro ser MUITO risonho e amigável pois, pelo lado dos alunos, a ansiedade e excitação predispõem ainda mais as almas alarmadas a deturpar, enviesar suas percepções.  Mas imagine para mim, que não tenho o costume de ser risonho, ter que ficar o tempo todo com um sorriso estampado, imaginando com isso que as pessoas não vão me afastar pelo feiume da minha carranca? Será que as pessoas não sabem, inversamente, que existem inúmeras pessoas risonhas, amigáveis na aparência exterior, que são falsas e fementidas? Gostaria de ser exteriormente como alguns conhecidos, que parecem sempre ter acabado de ouvir uma boa notícia (a muitos, não interiormente, pois são falsos e desleais, apesar da casca)... Mas não sou assim, que fazer... e será que por isso 'sou' sempre perigoso, ameaçador? Sei que divisar alguém com rosto (aparente) inamistoso, e com 1,90 m. como eu aconselha a qualquer um a se manter cauteloso, arredio; mas serei perigoso assim necessariamente com tão poucos, subjetivos e ilusórios indícios??? Será que os jornais (ou a TV), com a onipresente violência, nos faz hoje tão medrosos?

Mas acontece isto volta e meia comigo – as pessoas pensam que estou aborrecido ou bravo. Não perguntam se há algo comigo (posso até estar com cara de poucos amigos por causa de algum desconforto ou tristeza, ou...) – pensam que é 'ameaçador contra elas', em tese; parecem sentir-se ameaçadas, e reagem antecipadamente como se eu fosse agredi-las, vai saber por quê... Nem adianta, muitas vezes, tentar dealbar o mal-entendido, a falha apercepção da pessoa a meu respeito – as pessoas pensam que faço troça.  E sei que, quanto mais inseguras, mais as pessoas tendem a achar que estou bravo ou aborrecido ou que posso espanca-las a qualquer momento, etc...  Uma coisa muito aborrecida e tediosa. Que indigência mental.

Talvez, se eu gostasse de beber, ficaria sempre alegre, como vejo ser a estratégia de algumas pessoas que assim ficam eufóricas, amistosas. Conheci uma pessoa carismática que andava com uma latinha de cerveja na mão o dia inteiro; seu trabalho permitia isso, e seus clientes também apreciavam a bebida naquele ambiente - inclusive era certa estratégia de marketing, eficiente, por sinal - era uma borracharia. Mas tenho horror a isso, acho patética esta situação toda de ajuntamento em torno de bebida; as pessoas falam muitas bobagens ao sabor do efeito etílico, e eu gosto de ficar calado a falar sem necessidade ou verbalizar banalidades. Na verdade, poucas pessoas hoje em dia se dispõem a engajar em uma conversa construtiva; parece que pensar dá dor de cabeça, pois vejo muita preguiça ‘mental’, enfado, superficialidades, sei lá.

Na época da faculdade, nos anos 70, aprendi com o renomado psicólogo americano Carl Rogers (no famoso livro ‘Tornar-se Pessoa’; em inglês, On Becoming a Person) que não adianta ser uma pessoa que não somos, fabricar algo para servir ao outro, interesseiramente. Ao longo do tempo estas falsas relações são danosas, a todos e todas. Resolvi ser o que sou, sempre (eu tinha na Faculdade de Psicologia uma amiga mais velha, Ignez Toledo - saudades - que me ensinou muito). Isto implica em ser honesto e dizer coisas que as pessoas não gostam de ouvir, mesmo que você não grite nem ofenda ao outro – mas enfim você acaba dizendo o que elas não gostariam de escutar. Ocorre que, nesta época atual de relações superficiais, robotizadas pela web, 'tipo' o que se vê nas redes sociais como o facebook (que evito a todo custo), isto – a honestidade relacional - não é eficiente, pois as expectativas das pessoas estão mais lábeis, instáveis e pior, tendenciosas ao extremo, privilegiando o ego em detrimento daquilo que respeita ao comum, ao coletivo, às amizades ou parcerias, que pressupõem para seu sucesso certa carga de maturidade.

Sei que, com algumas pessoas, nem se Jesus Cristo viesse e dissesse que ela está errada nisto ou naquilo, a mesma não acreditaria e encrencaria com Ele. Aprendi a identificar pessoas assim e não perco mais tempo com tais criaturas; é malhar em ferro frio, o que acaba se voltando contra nós. Sei também que se eu fosse rico financeiramente (pois me considero muito rico em casamento, em familia, em saúde, em religião, em paz de espírito) teria muitos 'amigos' mais; teria muito mais pessoas que não se assustariam com meu rosto inamistoso; teria muito mais pessoas com boa vontade para me conhecer de verdade.

Creio que esta minha incapacidade de ‘sorrir’ me prejudica; mas, por outro lado, creio que ganho se não me relaciono com pessoas que se deixam impressionar por causa de ‘cara feia’. Isto tudo me faz solitário, que fazer. Toda manhã ao estudar a Palavra encontro consolo, e procuro fazer o meu melhor. Ainda estou aprendendo, e tento aos trancos e barrancos compreender ao outro. Mas confesso que tenho voltado a me relacionar  mais com pessoas de idade, como no meu tempo de criança e adolescente, por bênção de trabalhar em 2 asilos. Lá tem muita pessoa autêntica, que gosta de verdade de você, com seus defeitos e incapacidades, e que não te teme gratuitamente somente por causa da sua cara feia....

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A águia e a flecha


Gravura obtida agora de http://www.litscape.com
(veja também o site associado http://litscapeart.com)

Fim de ano, calorão, alunos aborrecidos porque ficaram de exame; as mesmas coisas 'aborrecentes', que tédio!! Que fazer, mas deixemos de lado as lamúrias... Estas férias prometem; teremos mais tempo neste período sabático, visto que as aulas somente serão retomadas em 18 de fevereiro de 2013 - creio que por causa do carnaval, êba!  Vamos, Ruth e eu, visitar os Dutras de Belo Horizonte - até já comprei as passagens de avião.

Pretendo formatar muitas aulas em telas de power point (MS Office) e refazer outras, principalmente aquelas que ministro no curso de Engenharia (disciplina 'Gestão de Projetos'). Vejo que, a cada dia, temos que propor aulas-tarefa, como estudo de caso, com pouca teoria - é a tendência pedagógica atual, que fazer; tudo é muito 'objetivo', prático e utilitarista. Tenho sempre em mente a admoestação de Nelson Rodrigues quanto aos idiotas da objetividade, mas sou voto vencido, como se diz... 

Os alunos em geral (existem exceções) querem nota para 'passar de ano', desesperadamente, hoje em dia; aprender, não necessariamente, visto que os usos que farão do conhecimento não são, neste momento, palpáveis. Os relacionamentos (principalmente em sala de aula) exibem um grau de atrito desnecessário, a meu ver, pois os critérios pessoais que lastreiam comportamentos interpessoais estão muito indiscerníveis quanto ao real valor na construção de relações produtivas e isto a longo prazo, tanto no público quanto no privado...

O mundo moderno está cada vez mais difícil de decifrar, problematizado pela deseducação que campeia (aparentemente) impune. Como já comentei aqui outras vezes, não é mais feio ser grosseiro, incivil; que fazer. Mas no campo educacional isto atinge contornos trágicos, ainda que por vezes cômicos. As pessoas não sabem o mal que fazem a si mesmos com suas condutas descorteses mas, com os valores transmutados, o feio parece aceitável, normal. Creio que alguns grosseirões (tem muita mulher também) nem sabem o quanto são boçais - talvez não tiveram pais para modelarem condutas apropriadas neste sentido.

Relendo aquele livro de fábulas de Esopo (Aesop's Fables, compilado por Jack Zipes, London: Penguin Books, 1996 - Penguin Popular Classics, vol. 20) vi uma estória que ilustra esta situação. Um arqueiro mirou uma águia e alvejou-a certeiramente. Em sua agonia, a ave viu que a flecha tinha sido feita com penas dela mesma. A águia então lamentou e observou que os nossos ferimentos, infligidos pelas armas que nós mesmos provemos, são ainda mais lancinantes... As pessoas muitas vezes dão, elas mesmas, azo a que sejam prejudicadas/desprezadas pelos outros, próximos ou não...