A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

Mostrando postagens com marcador auto-engano. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador auto-engano. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 13 de março de 2012

artigo A NATUREZA DO AUTO-ENGANO: proposições iniciais


Resumo
Este artigo discute a natureza do fenômeno do Auto-engano e os diversos campos onde se manifesta. Aponta-se que os aspectos cognitivos, conativos,   afetivos, intencionais, conscientes, inconscientes e volitivos podem tomar parte no entendimento do fenômeno.
  
            O Homem sempre enfrentou a situação onde a falsidade, a mentira, o logro pode tomar parte, e envida diuturnamente esforços tanto para empregar com certa segurança estas estratégias contra terceiros, quanto para identificar as que os mesmos utilizam contra ele. Apesar de certos agentes políticos serem, ao que parece, atualmente, os mais notórios usuários deste tipo de 'jogo' (v., p. ex. BONASSI, 2007, p. E-6), um tipo especial de logro muito investigado atualmente consiste na situação onde existe identidade entre o agente que logra e o agente que sofre a ação de engano, denominado 'Auto-engano' (doravante grafado 'AE'). Este artigo pretende discutir algumas nuanças que envolvem a correta identificação do fenômeno, como parte de uma investigação psicológica sobre a violência interpessoal  posto que, entre outros, conforme Rosenfield (2007, p. A-2), “a mentira é um meio de provocar a violência (...)”. (Para uma sucinta explanação dos principais aspectos psicológicos da natureza do fenômeno do AE, v. SHAPIRO, 1996).

          O problema do AE, à semelhança do problema mente-corpo, tem intrigado os estudiosos, desde tempos imemoriais - inclusive nas Escrituras cristãs encontra-se menção de tal fenômeno, como em Gálatas 6:3. Na literatura sobre o tema tem-se definido o termo como o ato de enganar-se a si mesmo ou como o estado de estar enganado por si mesmo. Não há consenso entre os especialistas sobre o fato de que aquele que se auto-engana estar ou não consciente de tal ato. Em que sentidos casos de auto-engano seriam distintos de hipnotismo,  'lavagem cerebral', 'pensamento positivo', 'cegueira intelectual', raciocínio ou pensamento tendencioso (enviesado), juízo distorcido ou outras formas de irracionalidade? No entanto, a considerar-se que o AE envolve logro intencional, a definição irá direcionar ao questionamento adicional sobre como alguém pode, ao mesmo tempo, pretender iludir-se e ter sucesso em tal empreitada. (MARTIN, 1986; MELE, 1987).

A definição usual de AE ( como p. ex., “The act of deceiving oneself or the state of being deceived by oneself ”, HONDERICH, 1995, p. 818) encontrada em diversos  textos é, aparentemente, circular. Observa-se grande variabilidade de interpretações entre diversos autores sobre o que seria AE, como por exemplo, em Platão (Crátilo), em Sartre (L’Être et le néant) e em Kierkegaard (Enten-Eller), para citar os mais conhecidos. Será que estes autores se referem ao mesmo fenômeno? Ou são diferentes fenômenos sob a mesma nomenclatura, o que leva a considerações sobre diferentes usos do termo? AE parece facilmente ser algo paradoxal. Como pode o enganador-que-conhece ser ao mesmo tempo o enganado-que-desconhece? Como pode alguém, intencionalmente, sabendo, não saber? Se isto ocorre, o processo requer um monitoramento seletivo de si mesmo e esta seletividade implica, de um lado, saber o que deve ser sabido e ao mesmo tempo ser capaz de não sabe-lo (SHAPIRO, 1996).

            Por outro prisma, em que difere essencialmente mentir para si da mentira para os outros? Para ilustrar com um aspecto do cotidiano de todos, o fenômeno da protelação de tarefas, pode ser um exemplo de AE? (ver, p. ex., MELLO, L. E. de A. M. ‘Amanhã eu faço’ – Estudos relacionam a protelação de tarefas à ansiedade e à depressão. FOLHA DE SÃO PAULO, 03 de Janeiro de 1999, Caderno mais!/Ciência, p. 5-13.; MICHELOOTTI, G.  Empurrando com a barriga. FOLHA DE SÃO PAULO, 17 de Janeiro de 1999. Cad. Campinas/Revista, p.3-17)  Parece não haver unanimidade sobre o entendimento da natureza do AE (SVECE, 1996), tornando trabalhoso o estudo do fenômeno. Muitos aspectos podem estar envolvido na determinação do fenômeno. Por exemplo, PALUSH (1967, p. 276) diz que uma pessoa X está auto-enganada quando:

(1) X crê p e p é falso. (2) X sabe a evidência relevante contra a verdade de p. (3) X tem algum motivo para descartar a evidência. (4) Se o motivo foi insuficiente ou deficiente, X veria que p é falso e a sua negação verdadeira. (5) se o motivo fosse tornado claro a X ele veria que isso não proveria razões legítimas para a sua crença. (6) X é livre para discernir a capacidade do seu motivo.

[(1) X believes p and p is false. (2) X knows the evidence which counts against the thruth of p. (3) X has some motives for discounting the evidence. (4) If the motive were lacking X would see that p is false and its negation true. (5) If the motive were made clear to X he would see that it provided no legitimate grounds for his belief. (6) X is free to discern the character of his motive]

            Nesta linha de pensamento, FOSS (1980, p. 241) declara que ‘Jones deceives himself that  p  just in case (i) Jones brings it about that Jones believes that  p, and (ii) Jones knows that not-p. Para SIEGLER (1962, p. 473) se White diz a Brown que Brown está enganando a si mesmo, White está dizendo a Brown que este tem uma crença errônea, e aquele está afirmando que é irracional para Brown ter tal crença. Por outro lado, Herbert FINGARETTE (1969, p. 81) aduz que o auto-enganador é aquele que de certa maneira está comprometido no mundo mas recusa o próprio comprometimento, não o reconhecendo a si mesmo como seu [‘the self-deceiver is one who is in some way engaged in the world but who disavows the engagement, who will not acknowledge it even to himself as his']. Enquanto os dois primeiros autores descrevem o fenômeno empregando explicitamente o conceito de crença, este ultimo parece fundamentar o AE em aspectos emocionais.

            Adicionando algumas dimensões não presentes nas formulações anteriores, AUDI (1985) estabelece que:

Uma pessoa, S, está em um estado de auto-engano com relação a uma proposição, p, se e somente se: (1) S inconscientemente sabe que não-p (ou tem razão para crer, e inconsciente e verdadeiramente crê que não-p); (2) S sinceramente admite ou está disposto a admitir sinceramente, que p; e (3) S tem ao menos uma carência que explicita, em parte, tanto porque a crença em não-p de S seja inconsciente e porque S está inclinado a admitir que p, mesmo quando reconhece, constata evidência contra p.

            Aqui temos intencionalidades ('sinceramente admite'), crenças 'inconscientes', 'carências' e 'inclinações' tomando parte na explanação do fenômeno, o que faz acreditar que o acontecimento possui muitas dimensões que, em princípio, desafiam qualquer proposta simplista de definição. Até ocorrências como 'esquecimento', colocado de modo vago ('certas circunstãncias'), como em CANFIELD & GUSTAVSON (1962, p. 34-35) é proposto:  “tudo o que ocorre no auto-engano (...) é que a pessoa crê ou esquece algo em certas circunstâncias [all that happens in self-deception (...) is that the person believes or forgets something in certain circumstances]”, e as circunstâncias constituiriam a falta de garantia para a crença envolvida.

            Esta lista pode ser consideravelmente ampliada, com variações mais ou menos ampla nos níveis descritivos envolvidos. Em resumo, analisando algumas das formulações citadas, podemos ver que Fingarette pensa AE como compreendendo engajamento no mundo, enquanto que muitos dos citados consideram o fulcro do fenômeno repousando na crença numa proposição p, concomitantemente com a crença na proposição não-p. Foss indica que AE requer duas crenças contraditórias (e parece sugerir também que Jones intencionalmente engana a si mesmo), enquanto que Audi, Canfield & Gustavson, Siegler e Palush descrevem AE consistindo na presença de uma crença sem sustentação, sem garantia, em outras palavras, sem evidência. De modo diferenciado dos demais estudiosos considerados brevemente aqui, Audi considera que AE requer conhecimento inconsciente, o quanto paradoxal possa isto parecer.

            Assim, mediante o exame desta literatura, observamos que o tema do AE possui muitas interfaces como p. ex., (a) estados cognitivos; (b) estados conativos; (c) estados afetivos; (d) intencionalidade; (e) estados da consciência; (f) determinismo e liberdade; (g) estados volitivos, que direcionam o estudo para possibilidades de contribuição, além da Psicologia, também para a Filosofia da Mente e para a Filosofia da Ação. De igual modo, no âmbito da Filosofia Moral, o tema do AE também exibe considerável questionamento.

            O estudo do AE e da conduta mentirosa apresenta relevância tanto teórica, auxiliando a clarificação do uso comum do conceito, como prática, conforme tem sido proposto p.ex., por alguns setores da área da saúde ensejando que auto-afirmações de cunho duvidoso podem atuar como coadjuvantes em determinadas terapias de cunho psicológico (McGARRY-PETERS, 1990; RUDDICK, 1999), o quanto isto possa ser eticamente questionado.

            Ultimamente tem-se observado grande interesse sobre o estudo do engano de si e dos outros, dissimulação e esquivas, com discussões e pesquisas patrocinadas nos mais diversos campos de investigação. Nas Ciências Jurídicas, cremos que o entendimento dos motivos que levam as pessoas a cometer certos atos envolvendo mentira e engano deliberado pode colaborar na aplicação adequada da Justiça, posto que podem levar a situações de abuso e violência. Neste âmbito, muitas questões do Direito Civil (principalmente) ligados ao AE tem sido objeto de discussão como, p. ex., nas acusações de abuso sexual infantil (KOCOURKOVA & MALA, 1996) e falsas acusações de estupro (BIEDER & MAES-BIEDER, 1995; FELDMAN et al, 1994; KANIN, 1994). No Direito Penal, faceando a Psicologia Forense e Judiciária, muitas questões sofrem semelhante escrutínio, como na situação de interrogatório onde se originam falsas confissões (GUDJONSSON, 1990, 1992;).

            No campo da Psicologia, a discussão de muitos aspectos do AE e suas interfaces tem sido propostos. Dentre elas podemos citar o uso de instrumentos psicológicos de avaliação da personalidade na identificação de dissimulação de abuso de substâncias (FALS-STEWART & LUCENTE, 1997) e de jogadores compulsivos (JOHNSON et al, 1997), no uso de referenciais psicofísicos na identificação da mentira (VINCENT & FUREDY, 1992), na Psicologia da adoção, sobre crianças e adolescentes que sofreram abusos ou injúrias (WILKINSON & HOUGH, 1996; GLASPER & POWELL, 1996; RICCI, 1995; RIESER, 1991), na pesquisa sobre hipnotismo (KINUNNEN et al, 1994) e assertividade (KERN, 1994).

            Um dos tópicos mais desafiadores (e que interessa de perto ao Psicólogo) seria a ocorrência do engano em situação de psicoterapia ou consulta, nos mais variados temas (BILLIG, 1991; SMITH, 1991; HENDRICKS, 1990; O’SHAUGHNESSY, 1990). O estudo do AE aqui pode ser associado a certos aspectos do comportamento lingüístico, favorecendo novos insights (SIEGRIST, 1995). Uma lacuna que observamos no exame da literatura é a inexistência de instrumentos que possam auxiliar ao Psicólogo a inventariar de modo rápido e confiável a extensão da posse de idéias inapropriadas/irracionais e relacionados ao nível de ansiedade por parte do cliente, e que favoreceriam a ocorrência de engano, auto-engano e dissimulação na situação de consulta.

No que tange às implicações sociais da circunstância do fenômeno do AE, averigua-se que o mesmo, mediante sutis variações, parece estar disseminado, como vimos, por todo espectro do relacionamento humano. Muitas dimensões da mentira, do engano e do auto-engano são objeto de pesquisa, como lograr nos relacionamentos interpessoais casuais e íntimos (DE PAULO & KASHY, 1998), inclusive com subdimensões quanto à opção sexual das pessoas (BURDON, 1996), no ambiente de trabalho (MILLER, RESICK & RICHMOND, 1997), e no ambiente da promoção da saúde física (HUDSON, 1996; HADJISTAVROPOULOS et al, 1996; SOBEL, 1996). Encontramos igualmente interessantes discussões sobre o fenômeno do AE em estudos no tratamento de usuários de tabaco (WOODWARD & TUNSTALL-PEDOE, 1992), na formação de estudantes de medicina (THOMPSON, 1995; WATTS, 1995) e na prática da enfermagem (TUCKETT, 1998; TAMMELLEO, 1997). Mesmo na área de negócios, certas descrições remetem ao tema do AE (GARCIA, 1998).

            Com o acelerado desenvolvimento da tecnologia da comunicação, a velocidade e a magnitude das influências interpessoais ficam, ao que parece, mais e mais pronunciadas. Em igual extensão podemos esperar que os problemas nesta área do engano e auto-engano possam afetar maior número de indivíduos, em especial àqueles que não tem oportunidades igualitárias de inserção na Sociedade. Neste sentido, acreditamos que as iniciativas que promovam o esclarecimento das dificuldades humanas em geral (notadamente, nos últimos tempos, problematizados pela questão da violência) e do engano em particular tornam-se cada vez mais missão dos estudiosos e cientistas, em especial àqueles voltados para as Ciências Humanas.

            Estas constatações iniciais permitem identificar uma dificuldade importante para a consideração da questão do AE e o prosseguimento de nossa discussão. Perguntamos novamente: estas diferentes interpretações do que constitua AE são diferentes definições para o mesmo fenômeno, ou são descrições de diversos fenômenos sob a mesma nomenclatura, ou ainda, corporificam descrições de diferentes usos do termo Auto-Engano?

            Para estabelecer um parâmetro de trabalho dentre as muitas acepções para o fenômeno, iremos atentar em nossas futuras investigações para o termo AE e o significado do mesmo na linguagem ordinária, visto a ocorrência de ‘alguém-enganar-a-si-mesmo’ existir já antes de qualquer estudo teórico sistemático sobre o fenômeno. Este significado pode servir de base para comparação dentre as diferentes interpretações formuladas, averiguando quão coincidentes ou distantes as mesmas se mostram quando comparadas com a noção presente no senso comum do termo. Acreditamos que da análise dos muitos horizontes descritivos poderemos ampliar nossa compreensão sobre o fenômeno, em especial para a determinação e emergência das situações de crise nas populações (pequeno grupo), como p. ex., as de violência interpessoal.

REFERÊNCIAS


AUDI, R.  (1985)  Self-Deception and Rationality.  In: MARTIN, M. W. (Ed.)  Self-Deception and Self-Understanding.  Lawrence, Kansas: University Press of Kansas.

BIEDER, J. & MAES-BIEDER, F.  (1995)  False Accusations of rape.  Ann Med Psychol Paris  153(6), 409-13, Jun-Jul.

BILLIG, N.  (1991)  Deceptions in psychotherapy: case report and considerations.  Can J Psychiatry 36(5), 349-52, Jun.

BONASSI, F. (2007) Aviso de saúde. Folha de São Paulo, ano 87, n. 28.573, Ilustrada, terça- feira 23 de junho, p. E-6.

BURDON, W.M.  (1996)  Deception in intimate relationships: a comparision of heterosexuals and homosexuals/bisexuals.  J Homosex  32(1), 77-93.

CANFIELD, J. V. & GUSTAVSON, D. F.  (1962)  Self-Deception.  Analysis, 23, p. 32-36.

DE PAULO, B.M. & KASHY, D.A.  (1998)  Everyday lies in close and casual relationships.  J Pers Soc Psychol  74(1), 63-79, Jan.

FALS-STEWART, W. & LUCENTE, S.  (1997)  Identifying positive dissimulation by substance-abusing individuals on the Personality Assessment Inventory: a cross-validation study.  J Pers Assess  68(2), 455-69, Apr.

FELDMAN, M.D., FORD, C.V. & STONE, T.  (1994)  Deceiving others/deceiving oneself: four cases of factitious rape.  South Med J  87(7), 736-8, Jul.

FINGARETTE, H.  (1969)  Self-Deception.  London: Routledge & Kegan Paul.

FOSS, J.  (1980)  Rethinking Self-Deception.  American Philosophical Quarterly, 17.3, p. 237-243.

GARCIA, A.  (1998)  Os cães que não mordem.. EXAME,  p.92-96, Dez 16.

GLASPER, E.A. & POWELL, C.  (1996)  Child guidance.  Nurs Stand 11(9), 17, Nov 20.

GUDJONSSON, G.H.  (1990)  One hundred alleged false confessions cases:  some normative data.  Br J Clin Psychol  29(Pt2), 249-50,May.

HADJISTAVROPOULOS, H.D., CRAIG, K.D., HADJISTAVROPOULOS, T. & POULE, G.D.  (1996)  Subjective judgements of deception in pain expression: accuracy and errors.  Pain  65(2-3), 251-8, May-Jun.

HENDRICKS, W.M.  (1990)  Do patients deceive their doctors?  N C Med J  51(7), 335-6, Jul.

HONDERICH, T. (1995)  The Oxford Companion to Philosophy. New York: Oxford University Press, Inc.

HUDSON, C.P.  (1996)  Sex, Lies and genitourinary medicine.  Int J Std AIDS  7(4), 304-6, Jul.

JOHNSON, E.E., HAMMER, R., NORA, R.M., TAN, B., EISENSTEIN, N. & ENGELHART, C.  (1997)  The Lie/Bet Questionnaire for screening pathological gamblers.  Psychol Rep  80(1), 83-8, Feb.

KANIN, E.J.  (1994)  False rape allegations.  Arch Sex Behav  23(1), 81-92, Feb.

KERN, J.M.  (1994)  Detection of faking on role-play tests of assertiveness.  Psychol Rep  74(2), 367-70, Apr.

KINNUNEN, T., ZAMANSKY, H.S. & BLOCK, M.L.  (1994)  Is the hypnotized subject lying?  J Abnorm Psychol  103(2), 184-91, May.

KOCOURKOVA, J. & MALA, E.  (1996)  True and false accusations in cases of child sexual abuse.  Ceska Slov Psychiatr  92(1), 25-31, Feb.

MARTIN, M. W. (1986)  Self-Deception and Morality.  Lawrence, Kansas: University Press of Kansas.

McGARRY-PETERS, B.  (1990)  The benefits of self-deception. Wahington Post Health, MDX Health Digest, 6 (41):16, Oct 09.

MELE, A. R. (1987)  Irrationality: na essay on akrasia, self-deception, self-control.  New York: Oxford University Press.

MILLER, C., RESICK,L. & RICHMOND, G.  (1997)  When your colleague lies on the job.  Adv Nurse Pract  5(9), 17, Sep.

MITCHELL, R.W.  (1996)  The Psychology of human deception (Truth-Telling, Lying and Self-Deception).  Social Research  63(3), 819-43, Fall.

O’SHAUGHNESSY, E.  (1990)  Can a liar be psychoanalysed?  Int J Psychoanal  71(Pt2), 187-95.

PALUSH, S.  (1967)  Self-Deception.  Inquiry, 10, p. 268-278.

RICCI, L.R  (1995)  False allegations of sexual touching.  Pediatrics  95(5), 797-8, May. letter/coment.

RIESER, M.  (1991)  Recantation in child sexual abuse cases.  Child Welfare  70(6), 611-21, Nov-Dec.

ROSENFIELD, D. L. (2007) A guerra e a resistência. O Estado de São Paulo, ano 128, n. 41.467, Espaço aberto, segunda-feira 30 de abril, p. A-2.

RUDDICK, W. (1999) Hope and deception. Bioethics, vol. 13, n. 3-4, July, p. 343.

SHAPIRO, D. (1996) On the Psychology of Self-deception. Social Research, v. 63, n. 03, Fall, p. 785-800.

SIEGLER, F. A.  (1962)  Demos on Lying to Oneself.  The Journal of Philosophy, 59, p. 469-475.

SIEGRIST, M.  (1995)  Inner speech as a cognitive process mediating self-consciousness and inhibiting self-deception.  Psychol Rep  76(1) 259-65, Feb.

SOBEL, R.  (1996)  Deception/trust.  Isr J Med Sci  32(3-4), 256-9, Mar-Apr.

SVECE, A. (1996) An analysis of the possibility of deliberate self-deception.  Thesis submitted to the School of Graduate Studies, Department of Philosophy, Sir Wilfred Grenfell College, Memorial University of Newfoundland. Corner Brook, Newfoudland, Canadá.

TAMMELLEO, A.D.  (1997)  Nurses ‘cover up’ lack of informed consent for hysterectomy.  Regan Rep Nurs Law  38(6), 1, Nov.

THOMPSOM, J.A.  (1995)  Cheating in medical school. Lying statement reiforces in appropriate cultural stereotype.  B J M  311(6998), 194, Jul 15.

TUCKETT, A.  (1998)  ‘Bending the truth’: professional’s narrative about lying and deception in nursing practice.  Int J Nurs Stud  35(5), 292-302, Oct.

VINCENT, A. & FUREDY, J.J.  (1992)  Electrodermal differentiation of deception: potentially confounding and influencing factors.  Int J Psychophysiol  13(2), 129-36, Sep.

WATTS, G.T.  (1995)  Cheating in medical school. Poor teaching may be responsible. B J M  311(6998), 193-4, Jul 15.

WILKINSON, S. & HOUGH, G.  (1996)  Lie as narrrative truth in abused adopted adolescents.  Psychoanal Study Child  51, 580-96.

WOODWARD, M. & TUNSTALL-PEDOE, H.  (1992)  An  iterative technique for identifying smoking deceivers with application to the Scottish Heart Health Study.  Prev Med  21(1), 88-97, Jan.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde

Oscar Wilde
(obtido nesta data de http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Wilde)

          Tenho um libreto que ganhei há tempos de um amigo paranaense que costumava aportar por aqui, na época que ainda trabalhava no Centro Universitário UNIFEOB. Chamava-se Rodrigo, e era um vero empreendedor da área da educação, cativante mesmo (as mulheres diziam-no muito charmoso). Nunca mais o vi, mas ficou a lembrança. Este livro ('Aforismos', de Oscar Wilde, Rio de Janeiro: Newton Compton Brasil Ltda., 1997. Coleção Clássicos Econômicos Newton, vol. 02; tradutor Mario Fondelli) traz saborosos ditados do conhecido (e polêmico) poeta, romancista, comediógrafo, talvez o mais importante escritor da época vitoriana. Este simpático opúsculo (98 p.) traz também ótima nota biobibliográfica sobre Wilde, além de boa Introdução, de autoria do conhecido intelectual italiano Riccardo Reim (veja http://www.riccardoreim.it ). Pesquise no endereço da wikipedia acima um bom resumo da conturbada vida de Wilde. É um autor "obrigatório"...

          Suas frases fazem pensar, não tanto pelo inusitado da costumeira apresentação verbal - ele esgrimia com maestria as palavras - mas pelas verdades que embutem. Uma das minhas preferidas (e com a qual me identifico, de certa maneira) é   'Adoro as coisas simples. Elas são o último refúgio de um espírito complexo'. Um grande frasista sabe ser sintético, mas com estilo! Em verdade, serve esta frase a todos/todas e qualquer um; todos somos pessoas de imensa complexidade, todos nós, humanos, pessoas, mesmo os que recusam esta existencial determinação de pessoalidade.

          Mas o que gostaria de comentar hoje aqui é uma de suas frases modelares sobre a verdade. Aprecio também os ditos de Sebastian Melmoth (uma de suas conhecidas onomatóposes...) porque carregam um certo desafio de reflexão, como aqueles paradoxos zen que intentam realizar nossa iluminação mediante o estupefacto meditar nelas. Diz assim:

Raramente se dizem verdades que merecem ser ditas. Seria preciso escolher as verdades com o mesmo cuidado com se escolhem as mentiras, e escolher as nossas virtudes com aquele mesmo cuidado que dedicamos à escolha dos nossos inimigos (opere citato, página 89).

          Nesta nossa sociedade, progressivamente mais e mais adoecida, a cada vez 'precisamos' ser menos verdadeiros, ao que (paradoxalmente) parece... O medo do relacionar-se faz-nos pensar demais (e sucumbir à tentação) em falsear nossos relacionamentos, pois nunca vemos claramente o que os outros poderão fazer com as nossas 'verdades'. Mas, ao fim e ao cabo, demonstramos muito nosso não-ser, o que não nos pertence, de fato. Só pode resultar em confusão, o que, parece também, ser a marca destes nossos tempos.

          Interessante como nosso Autor liga aqui verdade com a idéia da virtude que, para mim, é esta inerente, intrínseco à idéia da Ética enquanto tal. Nossa pessoalidade é organizada e expressa em grande medida pelas virtudes que cultivamos. Pode-se estimar, avaliar muito o(a) outro(a) pelo que ele/ela demonstra com sua conduta virtuosa (ou viciosa). Na verdade é (esta estimativa) algo relativamente fácil, mas de dificultosa aquisição pelo homem/mulher simples.

          Se é trabalhoso, árduo proferir verdades aos demais, o mais precioso é, vejo, a partir destas reflexões de Wilde, aprender a dizer-se verdades a si mesmo...  Como nos auto-enganamos hoje em dia!

domingo, 1 de maio de 2011

Fábula de Esopo

obtido de
http://chato.cl/blog/es/2008/12/historia_jesus.html

Hoje vou iniciar uma série de comentários sobre o grande fabulista Esopo, cuja biografia pode ser averiguada em muitos lugares (ver, p. ex.,  http://sites.google.com/site/fabulasesopo/ e também no http://pensador.uol.com.br/autor/Esopo/biografia/). Depois da Bíblia, é tradicionalmente apreciado pelo povo como um ótimo repositório de ensinamentos úteis para a arte de bem viver. Como eu já havia comentado anteriormente, achei um libreto muito legal - bom e barato! - na livraria Saraiva (Aesop's Fables, London: Penguin Books, 1996 - Penguin Popular Classics 20, selecionado e editado por Jack Zipes) e que agora passo a traduzir e adaptar para meus comentários.

O uso de apólogos/fábulas para orientar ao simples é um recurso tradicional entre os viventes, desde priscas eras. Como se costuma encerrar a lição com uma máxima, ou um provérbio, acaba sendo um modo apreciado, inclusive pela fácil memorização. Uma afirmação dessa, um adágio ou um ditado, colocado ao final de uma estória interessante, visa sintetizar um conceito a respeito da realidade vivida, ou ainda uma regra social ou moral, e as pessoas apreciam a sutileza, a simplicidade da solução, em especial se ela é rimada ('Deus ajuda quem cedo madruga'...). Eu já acho que é bom recurso em especial para se usar com as crianças (se bem que muito marmanjo como eu também se beneficia com sua reflexão...) e até nas sessões de terapia, a ilustrar nossos argumentos.

Uma das mais conhecidas sem dúvida é a fábula da Raposa e as uvas. Conta-se que uma raposa faminta aproximou-se cuidadosa e sorrateiramente de um vinhedo onde cachos de uvas maduras e saborosas derramavam-se em parreirais tentadores. Em seus esforços para obter um suculento prêmio, a raposa pulou e saltou muitas vezes, mas falhou em todas as suas tentativas. Quando ela finalmente teve que admitir sua derrota, ela bateu em retirada e resmungou para si mesma 'Bem, que isto importa, de qualquer modo? As uvas estavam verdes!!' ...  "É fácil desprezar aquilo que você não pode obter".

Quão humano é esta reação da raposa, e vemos isto diuturnamente, inclusive em nós mesmos... sim, muitos de nós utiliza esta saída, de modo a proteger sua auto-estima. O problema é o fenômeno já modernamente bem estudado do auto-engano embutido, que transparece nas pessoas, em diferentes graus. Este tipo de estratégia (que Sartre apropriadamente rotulava de 'má-fé') se observa nas crianças também, e muitos continuam a adota-la na vida adulta. O maior mico que pagamos com esta 'solução' é, na esteira do auto-engano, imaginar que ninguém se apercebe deste nosso devaneio, da 'auto-burla' que nos impomos... O fato é que tal conduta assume, por vezes, contornos patológicos, inviabilizando a mínima convivência.

Neste mundo pós-moderno, logar-se a si mesmo  (ou ao semelhante) parece fenômeno epidêmico, não poupando idade, genero, classe social, nível de educação. A garatusa, a logração, a manganilha, a mofatra, parecem hoje, em muitos círculos, expedientes quase-aceitos, para qualquer um pespega-lo no próximo,  a qualquer título. Vemos que muitos, flagrados nesta deplorável atitude, 'não se dão por achado', e se acham espertalhões, e ficam assim, gabolas... Fazer o quê, sinal dos tempos!