A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Virtudes... a Temperança.

 


[ Hoje estou a escutar na Amazon Music Prime uma jazzista de traços orientais,
e de curioso nome: Grace Kelly ]

Voltemos ao nosso assunto sobre a Ética das Virtudes. Analiso brevemente a temperança que, conforme os dicionários, seria a qualidade de quem é moderado, comedido (em especial nos dia de hoje em relação às comidas ou bebidas mas, ao que parece, nem tanto com os modos à mesa...), equilibrado, parcimonioso. Esta importante e pouco apreciada virtude, que regularia pela Razão nossos apetites ou desejos sensuais, permitiría-nos assim desfrutar melhor das benesses ao nosso alcance, posto que seria portanto um gozo mais esclarecido, dominado, cultivado, apreciado de modo equânime. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, diria alguém. 

Temperantes, somos senhores de nossos prazeres, não escravos, pois desfrutamos ali juntamente a nossa própria liberdade. Intemperantes, nos tornamos vassalos de nossos corpos, de nossos desejos, de nossos incontroláveis hábitos, aprisionados em sua força ou fraqueza... Se sou temperante, consigo contentar-me com pouco, visto que não é questão de quanto, mas sim do poder que me concedo ao apreciar, e este decididamente um apreciar superior. Revela o temperante um árduo trabalho de vasculhar o desejo sobre si mesmo, visando não a superação ou mera satisfação a partir dos nossos limites, mas sim visando a respeita-los. O intemperante está sempre triste, pois nunca se satisfaz com o necessário e suficiente para viver numa sociedade de abundância relativa, mas a cada momento deseja (e sofre, pela percebida incompletude) mais e mais...

Duas prisões aqui nos sujeitam: quando nos comparamos com o outro (em seu aparente ou efetivo desfrute de algo) e na ilusão da especificação, determinação-quantificação de algo para que venha a nos satisfazer efetivamente. Nossa régua, nosso standard, ilustrado ou estabelecido p. ex.  pela moda, propaganda ou pela vaidade de emular (possível) felicidade do outro, fatalmente entorpece nosso julgamento. O outro ou outra 'sempre' parece ser mais feliz ou realizado que a gente. Tais armadilhas podem estar na raiz de muitos adoecimentos que observamos em sociedade. Por exemplo, nunca consigo entender, por mais que examine as muitas hipóteses, porquê tantas criaturas utilizam substâncias que alteram a consciência... Consumir algo que altera a química de nosso ser em si já deveria ser algo a se duvidar ou desconfiar. Mas mais e mais vemos pessoas se entorpecendo, insatisfeitas, fragilizadas.. Falta instrução, orientação ou amor-próprio? 

As forças do ser do homem voltadas por natureza para a autoconservação, aperfeiçoamento e realização são aquelas mesmas forças que podem desnaturalizar o homem para a autodestruição. Assim, creio que a introspecção metódica da pessoa se impõe como chave para o correto situar-se perante este mundo com tantas 'tentações' - se nos conhecermos melhor poderemos estabelecer e respeitar os limites do desfrutar libertador das coisas que - ao final e ao cabo -  não nos pertencem, mas que insistimos em possuir, ocupar, 'domar'. Ledo engano!


sábado, 19 de novembro de 2011

A Pajem e o Lobo


Foto obtida nesta data do site
http://fohn.net/wolf-pictures-facts

         Conta a fábula (nro. LXXXV do livro Aesop's Fables, London: Penguin Popular Classics, 1996, p. 88) que um lobo errante, procurando comida, passou frente a uma porta onde uma criança estava chorando e sua pajem a estava censurando. Assim que o lobo parou para escutar, ouviu a senhora dizer "se você não parar de chorar agora, vou te colocar para fora e o lobo vai te pegar!!

        Imaginando que a mulher pudesse ser boa como afirmava, o lobo esperou quieto fora da casa, contando com uma ótima refeição. Mas assim que escureceu e a criança se acalmou, o lobo escutou a pajem mimando a criança  dizendo "Que menino bom! Pois agora se o lobo malvado aparecer eu vou bater nele até morrer! "  

       Desapontado e mortificado, o lobo pensou que era agora hora de ir para casa. Esfomeado como somente um lobo pode ser, ele foi embora murmurando consigo mesmo "Isto é o que acontece por escutar pessoas que dizem uma coisa, mas querendo significar outra..."

       Este é mais um exemplo das mazelas humanas; nossa comunicação é muito complicada. A linguagem é um fenômeno tão dúbio, tão enganador, que é notável que possamos nos compreender amiúde (pelo menos é o que parece!)... Sei, os termos são por vezes polissêmicos, mas falo mais da intencionalidade que subjaz no emprego das palavras. 

      Eu, psicólogo por profissão, educador por vocação (se bem que muitos pedagogos acham que este termo é privativo de sua prática, que viés ...), lembro sempre aos meus alunos como devemos ser muito observadores da totalidade do ser (e da situação) do interlocutor, se desejamos realmente chegar perto do que ele/ela tenciona em sua fala.... e mesmo assim não se garante a real intelecção. Eu sempre assumo que (talvez) chego 'perto', e assim tenho evitado muitas decepções. Mas creio que este fato seja mais uma evidência (ou decorrência?) do inexorável, inelutável solipsismo a que, ao que tudo indica, estamos todos encerrados.

       Este ano, academicamente, foi muito interessante para mim. Precisei substituir na Faculdade uma professora na disciplina de Psicologia Humanista Existencial e, em virtude dos debates dos diversos assuntos, realizei boa revisão destas idéias. Um tema pertinente é a atividade de conferir sentidos, que parece ser privativa dos humanos. Ainda que existam alguns, como o notável literato Rubem Braga (1913-1990) que afirmem que as coisas, em geral, não tem sentido algum, sabemos que o conferir sentidos é-nos imanente, mesmo essencial à nossa natureza e práxis. E fazemos isso primacialmente pela linguagem, ainda que imperfeita, provisória, enganadora...
   
       A arte de viver - que muitos hoje em dia aparentam desprezar seu aprendizado - está imbricada no aperfeiçoamento do nosso linguajar, seguramente. Agradeço aos céus ter tido este vislumbre logo cedo em minha juventude, o que tem, creio, me poupado de muito desalento e aflição. Estou ainda aprendendo. Vejo como uma das tarefas mais lancinantes (a que nos podemos propor) a imperiosa, preciosa introspecção - e como é trabalhosa! Mas como pretender saber um pouco do outro se não nos entendemos um tanto mais? Assim vejo a equação - entender ao outro a partir do entendimento que obtenho de mim mesmo. É divertido ver as agruras daqueles que querem se entender a partir do outro - tenho minhas reservas sobre tal estratégia...