A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Política, evidência e (ir)racionalismo


(no cafofo...)

1. Este ano de 2020 ficará na História, realmente. No caso de brazólia (ou 'Belíndia', como já se colocou, expressando um país sui generis, com tantas contradições...) a maior parte de nosso estado perene, constante de estupefação se deve à Política (ou politicalha?). John Kenneth Galbraith ensinou que a política não seria a arte do possível, como já se disse, mas que ela consiste em escolher entre o desagradável e o desastroso... Esta lição ficou bem patente para mim como cidadão nestes dias de Sars-Cov-2... 

Nós ficamos tristes pelo que nosso país poderia ser, tendo em vista nosso incomensurável potencial (em todos os sentidos), mas a cada vez sentimos que somos muuuuito azarados. Estamos "em crise" há tanto tempo que não se sabe  mais o que seria funcionar, existir 'sem crise': banalizou-se o termo 'crise' (não obstante seus vários significados), infelizmente, e o mesmo não tem mais o condão de nos mobilizar à ação. Estamos desanimados, acabrunhados, não vemos luz ao final do túnel, para usar o gasto clichê, um abusado lugar-comum. 

2.  Muito de nosso sofrimento é originado ou problematizado pela nossa irracionalidade - grosso modo, certa disfunção do bom-senso, como a falta de clareza nas idéias ou do correto razonar. Lord Bertrand Russell (1872-1970) no seu Sceptical Essays (de 1928; Ensaios Céticos, Porto Alegre: L&PM Pocket, 2008, p. 48) ensina que 'irracionalismo' - de modo amplo -  é, de um lado, a descrença no fato objetivo, surgindo quase sempre do desejo de afirmar algo para o qual inexiste evidência ou, de outro, negar alguma coisa para a qual existem evidências (comprovação ou demonstração) muito boas.

[ O termo 'evidência' aqui é fulcral para nossos esclarecimentos.  A discussão do que constitui evidência objetiva é um complicador, mas podemos considerar aqui como sendo precisamente o indício, a indicação de algo que permite - sem dar, portanto,  azo a dúvida - chegar-se ao fato com clareza, distinto que outras coisas similares ou assemelhadas que poderiam confundir, enganar. A identificação apropriada dos fatos deveria orientar as (precisas) intelecções. No fundo é o que a Ciência sempre busca esclarecer/fundamentar acerca dos fenômenos que estuda. ]

Nossas crenças podem adquirir (por diversas razões, como p. ex. desejos, preconceitos ou tradições) a imprópria tendência de serem contrárias, não conforme aos fatos. A 'realidade' abordada pela pessoa adquire ali seus contornos de 'fato' o quanto se coaduna (habitual e principalmente) com os desejos ou hábitos de seu possuidor.  É a maneira como o homem comum acaba aprendendo (erroneamente) a perceber, expectar e a pensar, em geral. 

Em vez de fundamentar a veracidade de algo no (exame e discernimento do) fato real, concreto, a pessoa (inadvertidamente) verifica se o pensamento ou 'explicação' imaginado se coaduna com a sua expectativa, com seu desejo. 'Funcionando', ou seja, confirmando ou se adequando ao desejo que possui, esta representação se torna para a pessoa 'verdadeira', convincente, como se fato fosse. 

Contrariamente, Russell afirma que muito da racionalidade que uma pessoa pode ter se expressa nas práticas de examinar seus desejos relevantes, controlando com critério, método, aqueles que se afastam da realidade (evidente), evitando/prevenindo assim a pessoa a se enganar. (Em meu sistema psicoterapêutico ensino o cliente a pensar com racionalidade, pois muito do sofrimento psicológico da pessoa reside na posse de pensamentos irracionais, mas isto é assunto para outra postagem). 

3. Nós temos que aprender (e aperfeiçoar - já abordei isto aqui em outras oportunidades...) a arte de sobreviver às cotidianas dificuldades, às decepções, às ingratidões etc. O aprendizado de suplantar nossas limitações e limitantes é constante, e a Felicidade (a rigor, o estado ou sentimento da infelicidade também...) "vem de dentro": o modo, a maneira como vemos nossa condição - como 'copo meio cheio' ou o (mesmo) 'copo meio vazio'... Ou seja, o quanto racionais (ou não) são nosso pensamentos - o quanto são ou não consistentes ou harmônicos com os fatos (e suas evidências).  No fundo é, como eu disse acima, o aprendizado de pensar (racionalmente) a realidade o que se operacionaliza aos clientes, em Psicoterapia. A realidade é o que é, e são os nossos pensamentos (irracionais, tendenciosos, enviesados) que a fazem 'ruim', ameaçadora, entristecedora...

Lembrei agora de um aforisma do escritor americano Edgar Watson Howe: Se você não aprende a rir das dificuldades, você não terá nada para rir  quando estiver velho...  Um dos critérios pelo qual o terapeuta verifica o progresso da pessoa em psicoterapia (ou seja, adquirindo estruturas de pensamento mais afeitas à realidade) é a faculdade do cliente precisamente rir - e principalmente rir de si mesmo! Constatar que existe diferença entre o fato, o real, e um pensamento não conforme a ele, nos faz rir; alegra-nos saber que podemos ser capazes de não nos enganarmos a nós mesmos e assim pavimentar o caminho de uma vida mais realista, veraz, autêntica, portanto mais realizadora, plena, satisfatória.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Tempos e eventos pandêmicos...

Em 2018, em frente à então Barbearia Garage...
Rua Teófilo Ribeiro de Andrade 89, aqui em Sanja.
(sim, foi um drone que fez a foto...) 

1. Este ano de 2020 vai dar mesmo o que falar! Não bastasse as enormes transformações que a digitalização onipresente determina, em todos os campos humanos - notadamente na Economia como um todo, e em especial na Educação e no Trabalho - agora as relações interpessoais também foram seriamente afetadas...  Como todo assunto 'modernoso' em brazólia, a gente acaba lendo ou escutando tanta bobagem no jornal ou TV, veiculada por  soi-disant 'experts', momentâneos por vezes, efêmeros como o vento (brasileiro 'tem mania' de opinar, dar palpite em tudo, sabendo ou não do que se trata). Ou, é de uma avassaladora superficialidade, passageira, como a poeira das estrelas (que é o que somos!). Sim, é óbvio que existem bons textos; concedo que também se encontra coisa escrita ou falada muito boa - e este é o ponto - como discernir? Imagino quanta mocidade 'meio' sem-senso-crítico sendo erroneamente sugestionada... que tempos!

2. Estava a falar da momentaneidade, transitoriedade das coisas. É algo que me deixa de boca aberta. Acho que até já falei sobre isso aqui no passado. Me desculpem se repito temas... Mas isto às vezes me atrapalha a pegar no sono. Vi agora no meu estoque de fotos Google (que agregado de ferramentas esta marca - 'assustador', chocante mesmo!) este cromo acima que ilustrei este post: um evento recente, para exemplificar (mas poderia ser qualquer coisa minha mais antiga), mas foram quase três anos de trabalho na Barbearia Garage tão bacanas; conheci muitos homens que agora nem sei mais onde andam ("sumiram"... eram 'clientes' quase-amigos; com alguns, compartilhamos muitas conversas transformadoras...) e o que restou foram algumas memórias esparsas, que pertencem só a mim e, a não ser que eu detalhe ali e acolá alguma passagem, ficará mesmo somente na mente de Deus. De tantos que passaram aqui restaram uns pouquíssimos, que telefono ou vejo aleatoriamente por aí de vez em quando, esbarrando no supermercado ou calçadas...

3. Me pergunto se esta superficialidade não seria a causa ou grande complicador da ansiedade, angústia e tristeza que temos visto mais nestes tempos pandêmicos de 2020. Pensar 'superficialmente' é um vício, um 'mal-aprendizado' de vida. Faz-nos relativizar sem ser autorizado, ou abruptamente já polarizar, ou simplificar (pois na verdade tudo é de certo modo 'complexo', ou seja, temos que analisar muito detidamente o maior número possível de elementos componentes...), sem critério, de modo enviesado, tendencioso, fazendo-nos perder no raciocínio.  

4. Para mim, a chave para o equilíbrio pessoal (nesta fase tão turbulenta, com tanta insegurança) reside na velha máxima do aperfeiçoamento pessoal: temos que aprimorar nosso intelecto para que assim nossa mente possa perceber as coisas o mais legitimamente como efetivamente são (e não como desejamos ou esperamos); percebendo bem, poderemos interpretar com acurácia o que se apresenta (ou seja, cotejar o que estamos agora percebendo com o que temos no nosso 'estoque' mental); interpretando corretamente, podemos efetivamente conhecer algo (e ter menos dúvidas sobre este algo 'conhecido').  Aperfeiçoando a mente, poderemos avançar, tentando cultivar as virtudes, que seriam, grosso modo,  condensação dos valores que adornam nosso existir, visto que são como que parâmetros que modulam nosso modo de proceder nas diversas situações. Digo 'modular' como balizador do correto agir.

5. Outra dica que forneço, funcionando muito bem pra mim.  Eu leio todo dia a Palavra. Gosto muito de Salmos, e também de Provérbios, além das cartas paulinas do Novo Testamento. É um programa de estudos que faz tempo me determinei. Me ajuda a relembrar velhas e edificantes lições. Me sintoniza sempre no momento que vivo. Outra coisa - sempre escuto música. Smooth Jazz habitualmente ajuda a relaxar e concentrar. Mas cada um tem que achar seu Eixo. Pronto, falei. 

sábado, 11 de julho de 2020

Dica do dia...

Pessoal, hoje no Estadão, à p. H-6 do caderno Especial, uma reportagem de Danilo Casaletti sobre um álbum de Nana Caymmi, interpretando obras de Tom Jobim e Vinicius de Moraes... Veja e depois ouça as 12 preciosidades no site   sesc.digital     Imperdível!

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Ceticismo e Ética


Bertrand Arthur William Russell
(18 de maio 1872 - 02 de fevereiro 1970) 
   
Hoje em dia creio que uma antiga atitude, uma antiga maneira de pensar poderia voltar a estar na moda, em especial aqui no Brasil... Tem ocorrido tanta coisa na política, na economia e na vida comum que uma atitude cética poderia vir a nos salvar de algum surto imprevisível de irracionalidade. Nem tanto pela onda cada vez mais torrencial de 'fake news' mas, ao que parece, não é mais feio (ou condenável) faltar com a verdade; na realidade, vemos que existe uma crescente 'turma' empenhada em criar e disseminar inverdades -- a começar pelos políticos!
Mas vejamos com maior detalhe que atitude seria essa. Ceticismo (ou como foi conhecido no início, Pirronismo) era uma doutrina do pensador grego Pirro de Élida (alguns textos o nomeiam Pírron de Elis - 365-270 ou 275 a.C.), contemporâneo de Alexandre Magno, e ensinava que a pessoa devia cultivar de modo perene a  dúvida, questionando as ‘verdades’, os  dogmas, e as  certezas ‘inquestionáveis’. Consta que o mesmo foi um pintor nascido no Peloponeso, e não deixou nenhum escrito filosófico sobre o assunto, mas desenvolveu um grande interesse por filosofar, que o levou a fundar uma linha de pensamento que obteve muita influência em sua época.
Podemos afirmar que Ceticismo seria como que uma atitude, uma postura característica do constante questionar, duvidar de que algo seja realmente tal como estamos a perceber. Este termo tem origem grega e significa basicamente 'exame'.  A rigor, abrange a doutrina segundo a qual o intelecto não pode alcançar nenhuma certeza a respeito da verdade, determinando ao vivente, de um lado, um procedimento intelectual de dúvida permanente e, de outro, em decorrência, na desistência de constituir para si uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real. Qualquer estudioso, principalmente se considerar-se 'cientista', é em grande medida um cético, em maior ou menor grau. Por 'grau' aqui quero dizer 'situar-se em algum ponto de posicionamentos’  acerca desta atitude.

O notável filósofo inglês Bertrand Russell na sua obra ‘Ensaios Céticos’ (1928) afirma sobre Pirro que ele sustentava que  “nunca sabemos o suficiente para estarmos certos se um curso de uma ação é mais sábio que o outro”.  Visto que para o homem os fatos e acontecimentos não são (plena ou satisfatoriamente)  acessíveis, a única atitude legítima é a de não julgá-los verdadeiros ou falsos, nem belos ou feios, nem bons ou ruins  etc. ’Não julgar’ também significa não preferir ou não evitar: assim, a suspensão do juízo é já por si mesma uma ataraxia, este  também um conceito fundamental da filosofia epicurista, e pode traduzir-se como imperturbabilidade, ausência de inquietação ou serenidade do espírito.

Qual o valor de ceticismo hoje? Se fosse uma matéria de estudo amplamente adotada pelas pessoas, muitas das dificuldades atuais da sociedade seriam minimizadas... As pessoas aparentemente, em grande medida, não se preocupam (posto que no mais das vezes não se recebe, informal ou formalmente, este ‘treinamento’) em analisar racionalmente o fundamento (ou as evidências) de suas opiniões, tomando o caminho mais fácil de sufragá-las ou legitima-las p. ex., a partir da pretensa autoridade de quem as ouviu ou da paixão ou desejo pessoal que evocam em si.

Nossas opiniões originam sistemas de crenças (mais ou menos racionais) que, tornando-se habituais em nosso repertório, vão ser identificadas como as causas de nossas ações consideradas, por extensão, racionais ou não.  Ou seja, boa parte de nossas ações não são determinadas pela análise desejável de fatos ou evidências, mas  pelas crenças cristalizadas que possuímos e compartilhamos.

Uma ferramenta social desenvolvida  para instrumentalizar a análise da racionalidade de nossas ações foi a discussão sobre a moralidade (ou a Ética), muito em voga hoje em dia, e que já foi objeto de publicações aqui neste blog. As  intelecções da Ética  podem em muito auxiliar o vivente em abster-se de realizar ações irracionais, tendenciosas, preconceituosas, ou seja, baseadas em desejos e opiniões apaixonadas, oriundas de crenças por vezes mui arraigadas.

O que precisamos reforçar nos dias de hoje é a discussão (e o aprendizado sistemático) das noções éticas. Felizmente vejo que  assuntos como Compliance, Governança e Ética  cada vez ocupam mais espaço nas preocupações das pessoas bem-intencionadas. Que seja um movimento mais e mais vigoroso em nossa sociedade!