A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Espiritualidade e outras constatações...

 

Minha galeria de imagens budistas

(hoje o fundo musical é o conjunto Talking Heads, de David Byrne)


1. Eu sempre gostei de estudar (via Psicologia das Religiões) a espiritualidade e suas expressões religiosas concomitantes à cristã reformada, e uma das que mais me surpreendeu foi a Budista, em especial a vertente monástica Zen, e nesta, a Escola japonesa Soto-Zen. A rigor, aqui no Ocidente não se considera o Budismo como 'religião', mas existem ramificações budistas que se aproximam desta concepção. Em minhas viagens turísticas por vezes adquiri imagens que representam a natureza búdica que nos pertence, e arrumei-as numa prateleira aqui ao lado de minha mesa de trabalho (foto acima). Gosto de relembrar os ensinamentos desta popular filosofia de vida, e estas imagens retratam a serenidade e paz que seus praticantes almejam. 

2. Ano que vem teremos eleições presidenciais novamente... Dia 2 de outubro será a data da votação em primeiro turno. Quanto dinheiro desperdiçado, ainda que seja necessária expressão democrática inerente ao nosso sistema político. Mas, como tudo por aqui reflete nossa escasso nível educacional (penso na população como um todo) e o baixo quilate de nossas lideranças (alguém identifica atualmente ou se lembra de algum estadista brasileiro atualmente?) o que resulta é um certo desânimo frente às coisas que continuarão aqui em Pindorama como sempre foram. Outro dia soube da quantidade de brazucas que emigraram (preste atenção: 'imigrar' é quem vem de fora para cá)  nos últimos anos para outros países e fico desconcertado...não sei se conseguiria fazer isso. Sou apegado à minha terra. 

3. Dia 23 de novembro agora farei a cirurgia de colocação de prótese no quadril, lado esquerdo (artroplastia e enxerto ósseo) no Hospital Poços de Caldas - um dos melhores da região, pois é lá que opera meu médico Dr. Anelo Zenni Neto, mui bem referenciado por estas bandas. Um amigo pergunta se estou ansioso; respondo que, há muito, sou cético e determinista o suficiente para não ter esta afecção comum... Aceito o que surgir! Ficarei um dia na UTI e mais outro no Hospital - depois uma ambulância me trará para casa. A provação maior será nas duas semanas seguintes, pois a recuperação é trabalhosa e deve-se ter o maior cuidado com a nova instalação. Mas serei assistido por Home Care do meu plano de saúde, então tudo bem. E tenho uma esposa fisioterapeuta muito amorosa!

4. Minha memória parece que piorou com o Covid-19, já falei disso aqui. Curioso que consigo minimizar a deficiência percorrendo com os olhos as inúmeras coisas que tenho aqui no meu den room: livros, revistas, apostilas, mangás, centenas de CDs e DVDs, pastas suspensas, estantes com mil 'caquêdos' (gíria de alguns gaúchos para baguios, tralhas, 'porcariadas'), fotos, gravuras, artigos da antiga barbearia, quadros etc. Todo dia eu, revendo esta coisarada, 'espano' a poeira dos meus neurônios... Agora que vou fazer a cirurgia espero retomar as minhas leituras, coisa que amo fazer, desde a adolescência! Foi o meu primeiro amor, ler, ler, ler sem cansar ou ter enfado. Livros há que li e reli diversas vezes, de tão bons e de tanta alegria e satisfação que proporcionam! Fazem lembrar que minha mente é a melhor coisa que possuo...

5. Felizmente consegui trocar o gabinete do meu banheiro; havia rachaduras na pedra e a hidráulica geral não era 'estas coisas'. Estava mal montado - resquícios aborríveis da reforma que o dono anterior perpetrou nesta casa (felizmente já consegui refazer muitas coisas). Um irmão da igreja presbiteriana instalou todo o novo conjunto (que não foi tão caro como imaginava) em meio dia, com todo o capricho e limpeza. Sofri tanto tempo por nada...


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Felicidade e outros papos...



Obtido agora (via Google Images) de
https://www.linkedin.com/pulse/2014082015131-1442738-is-happiness-a-choice-or-is-happiness-dependent-upon-pleasing-circumstances

1. Já conversei sobre este tema aqui; estava divagando há pouco com minha mulher sobre ser feliz. Disse a ela que não me considero um homem de posses (tenho quase nada!), o que é grande parâmetro para a maioria, mas me considero muito feliz.  Como comentei noutro post no passado, creio que ter estudado a filosofia budista Zen me ajudou muito. Hoje em dia credito na maior parte meu estado de espírito à minha conversão cristã efetiva, minha 'pérola de grande valor'. Na verdade,  (para) 'ser feliz' precisa(-se) de pouco: agora, fim de tarde, chuva querendo cair, acabo de fazer um café prá gente, do modo tradicional (moendo o grão, água de pote de barro, sem açúcar  etc. - já falei disso noutra conversa...), carreguei o Spotify (alternando reggae e jazz) no tablet e recostamos em nossas cadeiras preferidas, desfrutando a mútua presença. Eu não preciso de mais nada. O 'mundo poderia acabar agora'...

O fato é que a gente tem que aprender a domar nossa própria mente, pois ela tanto facilita quanto paradoxalmente nos dificulta o viver feliz. Eu aprendi a rir de mim mesmo, a aceitar meu muitos erros. Aprendi a identificar à minha volta os ‘instantificadores/desencadeadores’ de felicidade, como ouvir boa música, por exemplo. Mas é um duro aprendizado o ser feliz. Temos que busca-lo, não vem facilmente.

A principal coisa que me felicita: a vida e os ensinos de Jesus. Quanta estória bonita, e a doutrina; profundas palavras... Ocorre d'eu ficar estudando bom tempo uma perícope. Tem elocuções fantásticas!

2.  Tenho preferido ultimamente mais minha conta no Facebook para colocar as ideias. Convido-o(a) para ir lá ver: postei sobre desemprego, zika virus, política, Previdência e microcefalia, entre outros assuntos. É mais prático, com esta correria toda que o início das aulas determina. Como assino 3 jornais digitais, logo cedo eu vejo coisas que merecem ser compartilhadas. Que coisa esta modernidade - eventos/facilidades que poquíssimos divisaram...  Maluco!

3. Estou ministrando neste semestre uma disciplina diferente no Programa de Pós-Graduação - Mestrado acadêmico Interdisciplinar em Educação, Ambiente e Sociedade, na Instituição de Ensino Superior que trabalho (Área de Concentração: Desenvolvimento Humano nas Sociedades Complexas). A matéria denomina-se Educação, Direitos Humanos e Cidadania. Foi muito interessante pesquisar estes temas para compor o conteúdo e cronograma. O legal é que neste semestre tenho somente cinco alunos. Lembro do meu Mestrado e do Doutorado, onde o número reduzido de colegas permitia um aproveitamento excepcional. Espero que consiga realizar assim também para meus discentes. Tive ótima impressão da pequena turma logo no início.

4. Terei a partir deste semestre dois orientandos no Mestrado. Sempre orientei alunos na maufatura de Trabalhos de Conclusão de Curso, Iniciação Científica e Estágios, mas Mestres serão os primeiros. Novos desafios...

Vista parcial do prédio principal do UNIFAE:

UNIFAE - Centro Universitário das Faculdades Associadas  
de Ensino - FAE (Autarquia Municipal)
São João da Boa Vista (SP)

sábado, 24 de maio de 2014

Frio, chuva e Institutas!


Foto obtida agora (via Google Images)  de
http://www.luizberto.com/alem-do-que-se-le-uma-coluna-de-luciane-trevejo/medo-da-chuva

É mais ou menos esta imagem que eu vejo aqui do meu escritório.  Ao contrário de muitas pessoas que ficam triste com este tempo, eu fico muito feliz - lembro-me da infância, onde ficava 'horas' admirando este milagre, e o quanto a chuva é benéfica. Quando existem tragédias por causa de inundações no mais das vezes a culpa é do desmatamento e más escolhas de onde colocar a residência, etc.

Faço uma certa meditação olhando a chuva intermitente. Consigo pensar, cogitar, refletir por horas, se necessário - treinei na juventude a meditação Zen, e acho que preciso voltar a praticar. Estou muito desatento!

foto obtida agora (via Google Images) de
http://zenways.org/zen-study/sitting.html

Espero que este friozinho permaneça, pois tivemos muito calor nestes últimos semestres - nem digo 'meses'... e tem gente que não acredita nas mudanças climáticas! Já disse que estou economizando dinheiro para colocar um ar-condicionado; eu não gosto deste aparelho, mas estou me rendendo à necessidade. À noite fica  'impossível' dormir, imagine...

Estou lendo novamente as Institutas (Instituição da Religião Cristã), obra prima de João Calvino. Um é o alimento para o corpo, e outro para o espírito. Neste, depois da Bíblia, é a obra que me alimenta mais!

Quer uma dica legal? Tem um site bem interessante para quem gosta de estar 'antenado' em ferramentas digitais, é o Olhar Digital - http://olhardigital.uol.com.br/  tem muitas dicas e novidades. Eu peguei um programa bem legal, que está no link  ('copie e cole'...) http://olhardigital.uol.com.br/download/41065/41065?oid=0 e acho que você poderia inspecionar...

Amanhã é o último dia do torneio de Sumô de maio - não houve grandes surpresas, apesar de resultados inesperados (como sempre acontecem). A luta só se decide na hora mesmo; bem, a não ser que se faça trapaça - há tempos, até um torneio foi cancelado quando se descobriu uma rede de resultados 'armados'. Deu grande confusão e muita gente foi banida, até um Yokozuna, imagine!!

Hoje e amanhã vou produzir as provas de final de semestre - que preguiça!!  Mas faz parte, que fazer; quem sabe um dia inventam algo melhor para mensurar a aprendizagem...

Imagem obtida agora (via Google Images) de
http://www.shambhalastudios.com/zen-meditation-and-mindfulness-for-insight-course

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Última da série: O Meio de Vida Correto


Chegamos ao último comentário sobre cada passo do Nobre Caminho Óctuplo, o Caminho do Meio (caminho do equilíbrio) do Budismo, que encerra muita verdade sobre a arte de viver. A Psicologia Budista se vale muito destas instruções. 

Este notável passo do Caminho do Meio, como os outros, envolve em grande parte o bom senso - a pessoa espiritualizada e inteligente sabe que deve procurar um meio de vida que não trangrida os ideiais de amor e compaixão, visto que a maneira como nos sustentamos pode ser expressão do mais profundo do nosso ser, ou constituir uma fonte de sofrimento para nós e para os demais.

Nos tempos do Lorde Siddharta, uma dica para cumprir o Meio de Vida Correto era: não vender armas; não vender escravos; não vender carne, álcool, drogas nem venenos; não fazer profecias nem dizer a sorte. Creio que a maior partes destas prescrições ainda são úteis... Mas penso que, em todas as épocas, trabalhar em negócios que tem o potencial de fazer as pessoas infelizes nunca pode redundar em algo bom, mais cedo ou mais tarde. Se nosso sustento depende de agirmos em maior ou menor grau em coisas que envolvem mau uso da sexualidade, que necessitam mentir, defraudar ou roubar, comerciar substancias de modo ilegal, transacionar com armas ou lucrar a partir das superstições das pessoas, nunca estaremos cumprindo este preceito e vamos atrair problemas, seguramente.

Os mestres Zen ensinam que, no fundo, a questão do Meio de Vida Correto constitui-se numa questão coletiva, que envolve nosso discernimento no nível comunitário, visto que nosso trabalho afeta o trabalho de muitas outras pessoas e vice-versa. Não se deve ser inocente ao ponto de pensar que esforçar-se para ter um Meio de Vida Correto envolve somente os aspectos pecuniários que abarcam nosso rendimento mensal. Pode ser difícil ter um Meio de Vida cem por cento Correto todo o tempo, mas a qualquer tempo a pessoa pode optar em trilhar sempre o caminho equilibrado de reduzir o sofrimento e aumentar a compaixão pelos demais seres viventes, os animais e nossos semelhantes, a partir do nosso trabalho. Um bom meio de ajudar a comunidade, inclusive com consumo responsável e auto-sustentável, é colaborarmos para que os demais tenham também seus bons empregos, e eles também seguindo o preceito do Meio de Vida Correto. 

Ao final destas nossas humildes apreciações, podemos dizer que nenhuma prática, nenhuma etapa do Nobre Caminho se corporifica isoladamente; temos que praticar os oito passos conjuntamente, sendo que cada prática, cada etapa, pressupõe os outros sete. Tudo inter-depende entre si, tudo guarda relacionamento com o resto, pois tudo pertence ao Universo, tudo é uma totalidade. 

Tenho apreço a estes ensinamentos pois revelam calma e pacientemente um modo oriental de ver a vida, com sua estética e ética características, difíceis, muitas vezes, de divisar pelo homem ocidental.  Eu, como sempre gostei do Oriente (Japão, especialmente), senti-me atraído por estes ensinamentos. Excetuando afirmações religiosas dogmáticas, que guardam suposições que podemos chamar de 'teológicas', os preceitos da arte de viver equilibrada do Budismo guardam bastante identidade com muitas das prédicas ensinadas por Jesus. 

Gosto particularmente de um ensino búdico denominado 'Cinco Lembranças', que devem ser recitadas diariamente, como forma de lidar com o sofrimento:

1. Sei que minha natureza é composta de coisas que envelhecem - não há como escapar da velhice, da decrepitude.
2. Sei que minha natureza envolver adoecer - a doença, em todos as suas modalidades, é-nos inescapável.
3. Minha natureza me faz saber que um dia fenecerei: não há como escapar da morte.
4. Tudo o que valorizo, em especial as pessoas que amo, tem a natureza, a essência de coisas que estão em constante mudança - isto implica que eventualmente posso me separar destas coisas e pessoas que aprecio.
5. O que mais me pertence são meus atos, aquilo que opto agir. Portanto, não posso escapar das consequências de minhas ações. 

Quantos paralelos com mandamentos cristãos, e também com preceitos humanistas e existencialistas! A Humanidade tem colecionado por centenas de anos estes ensinamentos, e fico pasmo que ainda exista tanta ignorâcia no mundo. Obviamente, dentro destas normas todas, o que está na Palavra é o repositório mais perfeito deste saber, da Sabedoria que foi  espalhada, manifestada deste o começo dos tempos a toda Humanidade. É muito interessante saber que, pela graça de Deus, todos estes ensinamentos, ainda que parciais, foram derramados para os homens, em todas as raças, eras e locais, guardando muita semelhança entre si.

Para finalizar, relembro um preceito antigo, deturpado por vezes, mas que ilustra bem esta certa uniformidade de sabedoria sobre a arte de viver. É a conhecida fórmula epicurista (de Epicuro, o famoso filósofo de Samos, da Grécia - 341 a 27o antes de Cristo - denominada o Tetrapharmakos. Ele ensinou estas quatro meditações, como modo de controlar o medo, a ansiedade e  angústia; em suma, o sofrimento, que era fonte de adoecimento da alma:

1. Não há o que temer aos deuses;
2. Não há o que temer à morte;
3. O sofrimento pode acabar, e
4. A felicidade é possível.

Obviamente estas quatro assertivas demandam estudo contextual e reflexão sobre o que querem significar, pois refletem uma visão de mundo à época antes de Cristo. Mas é notável que refletem uma preocupação milenar de debelar fontes de sofrimento, de aflição, de desalento. 

O Homem nunca vai ser feliz inteiramente, pois é muito apegado às coisas do mundo (o apêgo é o que causa sofrimento, para o Budismo), mas sei que somente pela reflexão sobre sua condição é que ele pode se libertar. Muitos caminhos são disponíveis, e importa que a pessoa se dedique a conhecer-se, a reconhecer a si mesmo e, assim trabalhando, pode vir a conhecer ao seu semelhante e, no limite, abrir-se para conhecer seu Criador, que se revela ao Homem por Sua própria iniciativa, pois por nós mesmo nunca O conheceríamos. Mas isso é assunto para outro dia...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Penúltima da série: a Concentração Correta

Hoje discuto um passo do Nobre Caminho Óctuplo que me é especial. Em toda minha vida não houve aspecto mais trabalhoso em que eu tenha me debruçado. Sabem,  creio que tenho TDAH, ainda hoje. Relembrando os depoimentos familiares e averiguando certos fatos, vejo que eu sempre lidei com este distúrbio. Por exemplo - não só isso, sei, mas veja - para guardar algo em minha memória preciso ter total silêncio e concentração atenta, perseverante, senão  puft!  algo que vi ou ouvi  'some' como vapor na atmosfera... Os anos que pratiquei Yôga e zazen (tenho minha almofada apropriada de meditação zen - o  zafu - até hoje!!)  foram muito bons para dar conta de grandes incumbências, em especial o Mestrado e o Doutorado.  Não sei se as conseguiria sem estas disciplinas pessoais,  estas práticas.  Hoje, estou bem estabilizado, inclusive por causa de sessões periódicas de acupuntura com um profissional muito sério e competente, meu amigo Prof.  Adão Carlos.

Em essência, a prática da Concentração Correta consiste em cultivar uma mente 'focada', habilitada em dar conta efetivamente de uma coisa por vez, (con)centrar-se em um aspecto do campo fenomênico a cada vez. Nossa 'mente de macaco' - que pula sem parar ali e lá e para acolá - é o maior empecilho para que atinjamos eficiência e eficácia nester mister de considerar o ser, o situar-se no aqui-e-agora. Sabem como primacialmente se treina a concentração? Isso, é meditando... No Zen, praticamos zazen, a meditação sentada (olhando por uma hora ou mais uma parede branca à nossa frente) e, também, uma espécie de 'meditação andando', onde caminhamos beeem devagar (o nome é kinhin), pé ante pé, nos intervalos de um zazen e outro, em postura apropriada. E, obviamente, tudo em completo silêncio! Aliás, até as refeiçoes na comunidade zen é realizada sem nenhum pio...

Quando estamos meditando a mente nunca para, mas o segredo é 'deixar vir, deixar ir'... assim, com o tempo conseguimos deter a voragem do pensar. A mente é uma coisa maluca mesmo; nem quando dormimos o cerebro se interrompe - o que é o sonho, não é mesmo?

Há vários degraus de concentração e mormente galgamos passo a passo esta competência. Um outro segredo é começar a escutar nossa respiração. Quando respiramos, respeitando nossa natureza, ficamos mais capazes de focar nossa atenção, de domar a mente de macaco.

Há várias maneiras de se treinar concentração, tantas quantos os mestres que existem, ao que tudo indica... O problema então pode ser encontrar um bom mestre, se você for iniciante. Mas sei de pessoas que encontraram a paz de modo autônomo, autodidaticamente. Uma vez vi um modo de meditar que é sentar e ficar olhando para uma vela bruxuleante, num ambiente calmo e em silêncio. Fiz algumas vezes e acho que pode funcionar. O método que acho cem por cento é o do Budismo Sotozen - zazen e meditação andando. Mas acho que qualquer prática honesta e perseverante pode dar resultado. O importante é caminhar, trilhar uma senda, percorrer uma vereda só nossa... Vai chegar uma hora que qualquer atividade, qualquer prática é uma meditação... Eu, por exemplo, gosto muito de lavar pratos (na companhia de minha esposa, então, é um prazer diário), fazer barba dos meus velhos no asilo...; tudo feito com concentração apropriada pode ser uma meditação, um praticar onde todo o seu ser está 'focado', centrado...

Praticantes de meditação sentada Zen (zazen)
(fiz muito isso no Templo da Comunidade Soto Zenshu
em São Paulo, que fica na Rua São Joaquim, 
no bairro da Liberdade - ver abaixo 2 ultimas fotos)
Foto obtida agora, via Google Images, de
http://anshin.it/en/pratica-zen/zazen
(este parece um site sério - boas pesquisas!!)

Praticantes no kinhin
Foto obtida agora, via Google Images, de
http://www.flickr.com/photos/23236468@N04/3852450685/
(tem outras fotos legais lá, enjoy!!)

Templo Busshinji de São Paulo
http://www.sotozen.org.br/index.php
(fotos acima e abaixo)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Esforço Correto


Gosto, artísticamente, das figuras do Lorde Gautama (o conhecido príncipe indiano Siddharta Gautama, que viveu de 563 a 483 a.C., que depois se cognominou, do sânscrito, 'Buddha' - 'despertado', querendo significar 'esclarecido', 'iluminado') pois elas passam um tanto do desapego e da serenidade que o Budismo prega. Diferente do que se observa em algumas vertentes do cristianismo com relação às imagens, estátuas, relíquias e figuras, em geral aqui estas representações imagéticas não são adoradas, ainda que algumas, pelo seu valor histórico, sejam reverenciadas pelos adeptos de algumas seitas. Budismo é considerado como religião em nossas imprecisas ocidentais considerações, mas muitas vertentes, na verdade, constituem-se  mais como uma espécie de 'filosofia de vida', uma maneira ética de se relacionar com o Cosmos. É assim que eu encaro esta ampla escola de pensamento oriental, mesmo porque creio que só o Zen (e dentro deste, a escola japoneza Sotozen) represente a essência do Budismo, como Lorde Gautama o concebeu. Ele nunca pensou em fundar uma religião e, creio, ficaria 'chocado' com o que algumas correntes eregiram a partir de seus ensinos originais...

Hoje veremos um dos oitos passos do Nobre Caminho Óctuplo, que encerra interessante ensinamento. Esforço Correto (também entendido como Diligência Correta) é aquele passo que abarca um tipo de energia que ajuda ao budista (e qualquer vivente; não tem que ser adepto desta escola de pensamento para auferir sua inteligência...) a percorrer de modo mais apropriado o Caminho do Meio, o Nobre Caminho Óctuplo. Este esforço correto liga-se, creio, ao foco que deve presidir a maioria de nossas ações. Vejamos:

1. Esforçar-se corretamente não significa necessariamente intensidade de praticar, agir. Por exemplo, se nossa prática, nosso agir, qualquer que seja, nos fizer sofrer, ou sofrer a outros, está desvirtuada. Nossa prática e ação deve ser inteligente, baseada na real compreensão do ensinamento subjacente. (No Budismo se diz 'praticar' pois, mediante nosso correto, diligente - aplicado -  agir, nossa atenção constitue-se como que em método para alcançar fins; é metodologia de aprender a viver, de vivenciar)

2. Um Esforço Correto conduz nosso agir a alcançar valores humanos como amor, lealdade, reconciliação. Obviamente quando nos esforçamos de modo correto a alegria e a felicidade a acompanha, mais cedo ou mais tarde - são índices, critérios de nosso esforçar apropriado. Um exemplo: quando se acorda, devemos sorrir - temos a bênção de mais um dia para praticar o Caminho. Mas como sorrir, se acordo com dores, angustiado, temeroso? Sorria para tudo isso também!!  Antigamente eu poderia me assustar quando acordava e ia ao toalete escovar os dentes, com a minha cara amassada. Resolvi colocar no espelho um lembrete tipo post-it que dizia, com aquela figurinha muito conhecida estilizada de sorriso :-) "Sorria!!" e, logo-logo, me condicionei a realizar isto 'automaticamente' nas manhãs, quero dizer, de modo cônscio; sim, consciente da necessidade do sorriso ser presente em meu rosto frente a qualquer situação (minha feição não ajuda muito as pessoas a 'se  soltarem' na minha presença, e se estiver carrancuda, então, pode mesmo assustar...). Mas confesso que ainda tenho dificuldades de manter esta prática; que fazer... - devo insistir, esforçar, pois sei que isso é correto em todos os sentidos!

3. Com o tempo descobre-se que qualquer prática, qualquer agir, se realizado com a energia e disposição da plena atenção, pode ser expressão de um esforço correto. Assim, lavar os pratos, varrer o chão, cuidar de crianças ou idosos adoentados podem ser eventos muito preciosos  (hoje cedo fiquei minhas 3 horas cortando cabelo e barba no asilo, como sempre faço às terças e sextas-feiras, e pude orar ao Pai Celestial mais uma vez pela bênção de poder servi-Lo)  para nosso despertar.

Aprendi em minha vida que o sofrimento é um tipo fundamental de experiência que pode nos conduzir a uma prática, a um agir consciente que, adornado pelo Esforço Correto, nos faz atingir conquistas existenciais, pessoais, muito importantes. Se estamos ansiosos ou tristes, quando assim praticamos sentimos alívio. Necessitamos de muita energia (leia-se estudo, conscientização) para contemplar o sofrimento e investigar suas causas, e sabemos que somente este tipo de compreensão é que poderá nos dizer como (qual o caminho para)  colocar um ponto final no sofrimento. Em outros termos, quando acolhemos o sofrimento, investigando sua(s) origem(ns), poderemos constatar que é possível por um fim no sofrer, visto que existe um caminho para realizar isso. 

O praticar do vivenciar consciente deve ser alegre, prazeroso. Devemos examinar nossa forma de praticar (de agir) em tudo. Não fomos criados para sofrer, ainda que nossa natureza decaída nos induza a isso. Mas, em si, a forma de lidar, de praticar, de agir, com relação a todas as coisas (boas e ruins, doloridas ou agradáveis, ...) deve ser alegre, prazerosa; se não, não estaremos nos esforçando corretamente. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A Ação Correta


A Ação Correta baseia-se na Compreensão Correta, no Pensamento Correto e na Fala Correta, dependo intrinsecamente do Meio de Vida Correto. Implica em praticas que evitam prejudicar os outros, exercendo a não-violência com os demais e consigo mesmo. Para agir corretamente temos que agir sempre com plena atenção, e observamos principalmente quatro áreas de nossa existência muito afetadas neste particular: agir corretamente com relação à Vida, à generosidade, à sexualidade e ao consumo responsável.

Agimos corretamente quando demonstramos reverência pela Vida, não permitindo que se interrompa a vida dos seres viventes; em suma, não matar. No budismo esta ideia associa-se à ideia de Compaixão - o imperativo de amor que surge em nosso íntimo, oriundo do pesar que sentimos ao ver que muitas de nossas ações prejudica aos demais. Significa, então, estar decidido a impedir o sofrimento dos outros, principalmente pela cessação da vida.

Agimos corretamente quando demonstramos generosidade, cultivando a bondade e outras formas de contribuir para o bem-estar dos demais viventes. Posso fazer isso compartilhando meu tempo, energia e recursos, principalmente para os que mais necessitam. Igualmente decido não possuir algo que pertença a outrem, respeitando a propriedade e os direitos alheios; terei uma vida simples, espartana. Decido também, de acordo com este valor, não exercer nenhuma forma de exploração do próximo, contribuindo para a justiça social.

Agimos corretamente quando observamos uma vida sexual que não ofende as pessoas. Nossa tendência ao erotismo é muito forte, e com ela podemos infligir sofrimento ao outro, sejam conhecidos, amigos e principalmente familiares. Devo me comprometer a cultivar a responsabilidade e assimilar meios de proteger a segurança e a integridade de pessoas, casais, famílias, principalmente as crianças. Estas dificuldades geradas pela incontinência e todo tipo de abuso geram sofrimento que perduram toda uma vida, inclusive ao ofensor. Muitas pessoas imaginam que com uma vida sexual superficial aliviam sua solidão ou o sentimento de auto-desvalor, mas sem compreensão, bondade e diálogo (ou seja, amor - e um dos principais é o amor-próprio...) nada disso se consegue.

Agimos corretamente quando comemos, bebemos e consumimos de modo cônscio, responsável os recursos que dispomos. Devo me comprometer a cultivar a boa saúde (física e mental) em mim, minha família e da sociedade. Isto implica também observar o uso apropriado de coisas potencialmente intoxicantes, tanto as materiais (bebidas, alimentos, drogas lícitas e ilícitas, principalmente) quanto as virtuais (certos programas de TV, revistas/livros e filmes, e até conversas ociosas). Temos que nos comprometer a trabalhar duro para alterar a violência, medos, raivas e ressentimentos, confusões (ideias ilógicas) presentes em nosso espirito que nos levam , cônscia ou inconscientemente a utilizar destas ilusões. Ação Correta significa propiciar ao nosso corpo e nossa mente somente nutrientes seguros, sadios, confiáveis. 

Uma vida que privilegia ações corretas pressupõe uma vida de estudo, de 'decodificação' desta extrema complexidade que é o cosmos e nossa existência pessoal e social. Se não tivermos uma clara noção de quem somos e de nossa situação, dificilmente nos engajaremos em ações que possam nos levar ao equilíbrio. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

A Fala Correta


Interessante ficar estabelecido, desde os primórdios dos ensinamentos proferidos pelo Lorde Sidharta a necessidade de cultivar a Fala Correta. Quantos sábios não apontaram para as inúmeras ruínas pessoais, sociais, comunitárias, nacionais etc. determinadas pelo uso impróprio da linguagem. A língua é uma espada de dois gumes! Tanto constrói como destrói.

Todos sabemos que para falar corretamente temos que pensar corretamente; em outros termos, a Fala Correta baseia-se no Pensamento Correto (q. v.), pois o falar consiste no nosso pensamento, expresso sob a forma de encadeamentos adequados de sons, que se articulam em conceitos, estas em ideias, e estas originam os raciocínios. O fantástico é que quando falamos, nossos pensamentos adentram a esfera do público – não mais nos pertencem, deixam de ser particulares, e isso falando pessoalmente, via computador ou pelo telefone...

Estes tempos tem a marca dos sistemas e técnicas de comunicação cada vez mais sofisticados e abrangentes; o que ocorre num lugar pode ser imediatamente conhecido no outro lado do mundo! As ferramentas disponíveis parecem conectar as pessoas instantaneamente, pessoal ou remotamente, analógica ou digitalmente. O contraditório é que a comunicação interpessoal parece, a cada momento, mais difícil de realizar-se de modo excelente, profícuo, pois há muita incompreensão, bloqueios, mal-entendidos e aborrecimentos a partir do que o outro nos diz aqui e acolá. 

A condição fundamental da Fala Correta é o ouvir com atenção. Pode parecer banal, mas o que menos se vê é alguém ‘escutando’; os diálogos por vezes parecem solilóquios, discursos para plateia que não quer ouvir, monólogos frente ao espelho. O que sabemos é que, assim,  se não se consegue escutar de modo cônscio, não se pode realizar a  Fala Correta, pois fica-se girando em torno de nossas ideias, não respondendo ao que o outro ou outra efetivamente disse. Eu vislumbro isso toda vez que tenho a impressão, a partir do que o outro profere, de que este outro não está a me escutar; é como se ele ou ela parecesse não assumir ou considerar o que eu estou pensando, dizendo em nossa conversa, nas suas falas... é muito estranho. Tem conversa que saímos dela ‘iguais’ como no começo da mesma!

Muitas vezes consultamos um terapeuta porque não conseguimos conversar com o próximo e, pior, conosco mesmo... A pessoa que tem problemas comunicacionais habitualmente tem dificuldades na família, no emprego, na escola etc. Um dos conselhos que os psicoterapeutas encorajam é a pessoa escrever o que precisa falar – cartas ou mesmo e-mails. Escrever dá mais segurança pois pode-se refletir melhor o que vai se dizer; visualizamos o que o outro pode pensar, ao lermos nossas palavras e, assim, ‘calibrar’ nossos termos e avaliar sempre a adequação do que queremos transmitir. Mas escrever é difícil, tememos a avaliação do outro.

Um outro conselho, agora prescrito por mestres zen, é praticar o silêncio; em outras palavras, ficar menos dependente e escravizado pelas palavras. Quando se pratica o silêncio, meditando sentado, andando ou agindo (p. ex., lavrar pratos é uma excelente contemplação, dizem os adeptos avançados da meditação, o que eu concordo em gênero, número e grau) abrimos boas portas para exercitar a clareza dos nossos próprios pontos de vista e averiguar os bloqueios que subjazem em nossa forma de pensar. Se aprendermos a ouvir com a mente em silêncio, veremos que podemos compreender muito mais a partir das mesmas coisas que estão à nossa frente.

A fala, como qualquer ferramenta, é perigosa se usada de modo impróprio. A pessoa sábia é aquela que se conscientiza que a fala deve ser construtiva, amorosa, compassiva. 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Pensamento Correto


O Pensamento Correto é o que resulta quando a Compreensão Correta se configura como parte integrante de nosso ser; esta, a Compreensão Correta, é o fundamento, o alicerce do pensar. E se aprimorarmos o Pensamento Correto, reciprocamente nossa Compreensão Correta irá se aperfeiçoar.

No Budismo se diz que o processo de pensar é a fala da mente, e o Pensamento Correto tornará nosso falar mais claro e benevolente. Como o pensamento é o motor da ação, conduz ao agir, o Pensamento Correto é fundamental para conduzir a cada um ao caminho da Ação Correta. O Pensamento Correto reflete a maneira, a forma como as 'coisas' se constituem. O pensamento errôneo faz-nos visualizar os fenômenos de modo confuso, desfocado, e é um sintoma de como nosso corpo e nossa mente estão dissonantes, ou seja, estão funcionando em desarmonia, de forma não unificada, como na situação onde nossa mente está pensando uma coisa e nosso corpo está fazendo outra. Esta é uma situação muito comum - mais usual ainda, penso eu, nestes tempos altamente cibernéticos...

Quando a mente e o corpo não funcionam em uníssono, 'perdemo-nos' a nós mesmos e não se pode afirmar realmente que se está - aqui-e-agora -  presente. Isto, a dissonância, ocorre em grande parte por causa do fato do nosso pensar ser, em sua maior parte, desnecessaria, visto que nossos pensamentos comuns são limitados, dotados de parca compreensão. Nunca a nossa mente descansa (nem quando dormimos - o que são os sonhos, os pesadelos?) e nossos pensamentos ficam 'pulando' para ali e acolá, percorrendo assuntos díspares constantemente - é o que o budista diz da 'mente de macaco'.

Uma explicação para esta 'mente de macaco' é o apêgo excessivo às palavras e conceitos. Quando, em meio à cotidiana voragem do nosso existir, nos perguntamos 'o quê estou -a aqui-e-agora - fazendo?' podemos subitamente nos libertar das amarras a que nos dispomos - tanto ao passado quanto ao futuro - e podemos retornar ao momento presente, de modo a vivenciá-lo integralmente. Aprendi meditando que as pequenas ações são preciosidades particulares. Quer ver um exemplo? Lavar pratos para muitos é tedioso e aborrecido, mas se nos dispomos a vivenciar plenamente o momento, aprendemos que lavar pratos pode ser uma meditação preciosa, se a realizamos com atenção e gratidão. Ou seja, se estamos realmente presentes (pois o passado já foi, é memória, e o futuro é uma abstração, uma possibilidade) lavar pratos pode ser uma experiência intensa, profunda e extremamente agradável. Mas se lavamos pratos pensando no que se poderia estar fazendo, sobre a obrigação que esta tarefa repetitiva traduz, sobre...; nosso corpo está a realizar tarefas mas nosso pensamento não está 'junto', e possivelmente não lavaremos bem os pratos e ficaremos aborrecidos, chateados!

Quando se pratica a Compreensão Correta e o Pensamento Correto, aprende-se a viver o 'aqui-e-agora', o momento presente, que é o quê unica e precisamente temos (pois o passado já se foi e o futuro é incerto) e assim poderemos entrar em contacto com a alegria, com a paz e a libertação das amarras que o viver nos habitua, nos condiciona, e para as quais não estamos  antenados, despertos, alertados, prevenidos. Estas amarras quase-invisíveis encerram muito de nosso sofrimento, fazendo-nos encapsular em nosso egocentrismo. Urge aprender o caminho que nos liberta de nós mesmos...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Caminhos...


Uma cena comum em muitas cidades aqui do sudeste no começo do ano é o sofrimento das criaturas que, morando em lugares de risco, tem suas casas invadidas pelas águas torrenciais oriundas das copiosas chuvas que habitualmente vem depois das festas de fim de ano. Não bastasse isso, este ano houve cidade em que o lixo (não recolhido por vingança de políticos que não se reelegeram nas ultimas votações) se somou ao entulho carregado pelas torrentes que veio das montanhas e encostas próximas às casas e prédios comerciais, onde as pessoas teimam em edificar suas construções.

O mais chato de tudo é que tais tragédias se repetem há tempos, e o jogo de empurra-empurra se alterna com os discursos inflamados de políticos e autoridades (ao que parece, sumamente comovidos com a provação das famílias, assoladas por vezes com a perda de parentes, além dos bens móveis e imóveis), prometendo a solução do amplo transtorno. E desgraçadamente eu, que olho de longe tal sofrimento, a salvo de tais perigos, além das minhas orações, não me encorajo em enviar algum donativo, pois não tenho a mínima confiança de que o recurso, ainda que parco, será empregado apropriadamente, dada as notícias de desvio de verbas por parte de corruptos alocados em diversos níveis da sociedade pertencente às áreas atingidas. Evito até ligar a TV ou escutar os noticiários do rádio nesta época...

O tema do sofrimento é sempre presente para o homem. No cristianismo, a 'obra prima' do ensinamento sobre o sofrimento encerra-se no Livro de Jó. Sempre pensei sobre isso em minha vida, ainda que eu pouco tenha sofrido em toda minha existência. Não considero hoje  que tenha 'sofrido', pois quando miramos o que vivenciam diariamente nossos semelhantes, tudo o que passei é quase irrelevante. E quando penso sobre o sacrifício expiatório do Cristo, vejo que nada tenho a lamentar ou reclamar e, sim, a agradecer. Todo o tempo.

Outro dia revi alguns papéis guardados, lembranças de um tempo bom que vivi intensamente. Eu já comentei que estudei bastante o Budismo, em especial a doutrina Zen (e, dentro desta, a escola Soto). Não me aproximei da doutrina de Buda como religião (alguns assim a consideram, mas prefiro considera-la enquanto ‘prática que nos ajuda a eliminar os pontos de vista incorretos’ como ensina o monge vietnamita Thich Nhat Hanh), mas pelas interfaces que possui com a Psicologia. Na verdade, existe até uma ‘Psicologia Budista’, que auxilia muito a pessoa a ajustar sua conduta, a partir da reflexão sobre as melhores práticas mentais para lidar com suas intelecções de modo apropriado.

Uma das lições principais desta abordagem – digo que a lição fundamental, do qual todas as demais derivam - é a proposição da meditação sobre as Quatro Nobres Verdades, enunciadas diretamente pelo príncipe Sidharta Gautama quando da sua iluminação, ou seja, quando ele finalmente compreendeu a sua situada condição. Existem centenas de livros refletindo somente sobre esta temática. A primeira nobre verdade é o Sofrimento, inerente à existência do homem, e que precisamente existe ‘em tudo’, é onipresente. A segunda verdade nobre é a Origem do Sofrimento, que reside no apego que o homem desenvolve em seu existir cotidiano, ou seja, nos caminhos indignos que ele trilha e que conduzem ao sofrimento. A terceira nobre verdade é a Cessação do Sofrimento; a possibilidade do sofrimento ter um fim – é possível ao homem atingir o bem-estar. A quarta verdade nobre encerra o caminho para o surgimento do bem-estar: o Caminho Óctuplo, o nobre Caminho, ou como os chineses traduziram, o ‘Caminho das Oito Práticas Corretas’, as práticas retas, realizadas na forma certa, apropriada.

Praticar o Budismo se resume em aprender (é o ‘despertar’, ou a 'iluminação') a conduzir a si neste caminho de oito práticas, que é o que vai determinar a eliminação do sofrimento da vida da pessoa. Obviamente que, compreendendo o que este pequeno e superficial resumo encerra, veremos que a prática aperfeiçoante deste caminho pode abranger toda a vida da pessoa, e é isso mesmo... E quais são estes 8 passos? Auferir a Compreensão Correta, o Pensamento Correto, a Fala Correta, a Ação Correta, o Meio de Vida Correto, o Esforço Correto, a Atenção Plena Correta e a Concentração Correta. Não há nesta lista precedência ou grau ou subordinação entre os passos, posto que são inter-relacionados entre si como numa matriz; cada passo contém todos os outros sete... Vou comentar cada um deles nas próximas postagens.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Fim de ano; Salmo 25: 10

gravura obtida agora via Google Images de
http://educarfinancas.com.br/2012/12/12/fim-de-ano-consumir-ou-poupar/
(bom site para sábios conselhos de planejamento financeiro...)

Ultima postagem do ano. Boa hora para fazer certo 'balanço' do que sucedeu ao longo dos 365 dias. Teria tantas coisas a comentar, mas a principal para mim foi a mudança de domicílio, do apartamento que gostava tanto (mas não do Condomínio - lugar cada vez mais inviável para se viver nos dias de hoje) para a casa antiga que adoro. Como agradeço a Deus o recebimento de uma casa do jeito que sempre imaginei... Fico estatelado com a misericordia do Pai Celestial, que me concede todo dia coisas que nunca mereceria - a principal, a Família, aquela na qual nasci, meus pais e irmãos, e meus filhos e netos, além de, claro, Ruth. Quanto mais estudo e medito, mais vejo o quanto dependo Dele.

Outro dia vislumbrei com clareza a certa 'dificuldade' de relacionamento que tenho com as pessoas, obtida paradoxalmente atraves dos meus anos de intensa meditação zen-budista. É este um caminho realmente avassalador. Não, não tem necessária e metodologicamente contradição com o caminho cristão, principalmente o protestante reformado, como poderia superficialmente uma possível alma temer... Tive o privilégio de estudar bem estes dois caminhos (além de outros, a partir da psicologia da religião) e sei bem separar os domínios, suas pressuposições, seus fundamentos. É como aquela dualidade Ciência-Religião (ou também a dualidade mente-corpo), que muitos julgam irreconciliáveis: existem mais pontos de aderência do que de afastamento, ainda que estas sejam profundas; mas afirmo novamente (como já disse anteriormente aqui) que uma pessoa pode muito bem ser um bom cristão e um rigoroso cientista. 

O caminho zen-budista (estudei a tradição Soto Zen, do Japão) é bem esclarecedor sobre:  1. a finitude, 2. o potencial e as limitações humanas (principal e paradoxalmente a nossa mente), 3. as expectativas que criamos, e como tudo isso nos condiciona para o sofrimento. Compreendendo bem esta equação, pode-se libertar destas amarras que o viver cotidiano determina, suas paixões e apegos. E a mente, sob este enfoque zen,  fica bem domada, disciplinada para outra visão de mundo, diversa do que é veiculada pela consumista e imediatista cultura ocidental, que tem enfoques bem diversos daquela dos orientais. É bem complicado para um ocidental vislumbrar a visão de mundo do oriental e, para mim que fui bem treinando em psicologia, tive mais facilidades neste sentido.

Para não me estender muito, digo que o ocidente privilegia, em sua visão de mundo, a pessoa em si; ela é o centro e a referência para esta construção. Na visão oriental, o cosmos é o centro - fazemos parte dele - e constitui-se precisamente na referência prmordial para se construir a visão de mundo. Esta inversão de sentido faz toda a diferença, e somente se a obtém mediante treino intensivo para domar a mente egocêntrica (no zen isto se aufere essencialmente com a meditação, em todas as suas modalidades - a principal é o zazen, meditação sentada de olhos semicerrados). O Budismo não é entendido como uma religião, no sentido ocidental,  posto que, em princípio, não pressupõe um Deus - é mais um humano caminhar, refletindo a existência e o ser de modo bem particular, sob outra ótica. 

Esta estratégia de deslocar o centro das considerações do ego para o cosmos é semelhante à orientação que Jesus ensinou, com a especificidade de que Deus é Aquele para onde devemos nos dirigir, nos abandonar, nos entregar de todo o coração. Acredito que a meditação zen me ajudou substancialmente em minha reaproximação com a familiar tradição cristã, ainda que eu esteja percorrendo um caminho diverso daquela recebida de meus pais. Em certo sentido fiquei mais radical, pois o caminho calvinista é mais bíblico, mais aferrado ao que preceitua a Palavra, do que o romanismo.

O grande problema que vejo é que, diversamente do que encoraja a visão ocidental, não coloco as pessoas (eu inclusive!) em primeiro lugar na minha vida; não as vejo como recursos e meios dos quais deveria 'investir', no sentido de priorizar minhas ações para atingir os valores mais apreciados em nossa sociedade. Meus valores são outros (diria 'espirituais'), e determinam um viver mais distanciado das pessoas, menos 'interesseiro', menos utilitarista. Sei que isto leva a viezes recorrentes das pessoas a meu respeito, mas não dá para ser o que não sou. Quem me acompanha aqui sabe o que estou a ponderar.

Gostaria de finalizar este ano agradecendo a todos e principalmente ao Pai Celestial, meu amigo. A citação que coloquei acima, salmo 25: 10, diz meu estado de espírito: 

Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos. (versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade para com os que cumprem os preceitos da sua aliança. (versão NVI - Nova Versão Internacional)

Estas duas amplitudes de interpretação da perícope abarcam o sentido contido em outras boas versões, como a da Sociedade Bíblica Britânica e a Católica Romana. Tudo - inclusive as provações ou 'coisas ruins', que não gostamos ou desejamos ou que achamos que não merecemos - o que Deus nos permite ou concede de Sua Mão, nos determina ou requer, tudo constitue-se em graça, misericórdia e verdade autêntica, tudo isto para nós que tentamos (guardamos, cumprimos), em nosso temor, a percorrer a senda, o caminho preceituado, requerido pelo soberano Pai Celestial, que é um caminho de Vida.  O que o cristão deve realizar nesta vida é, percorrendo o caminho, aperfeiçoar o entendimento deste mesmo Caminho e o agir nele, vereda que pode efetivamente nos configurar, também ao fim e ao cabo, pessoas completas, esperançosas no devir de nossas existências situadas, cada qual com suas determinações e condicionantes específicos.

Que 2013 surja pleno de esperança e realizações. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Barafunda...

http://www.neighborhoodnewspapers.com

Nestes dias de fim-de-mundo quanta coisa se pode obter, principalmente pelos jornais... Mas o que vejo mais é a enormidade de 'fatos', misturados em tamanha baralhada que produz  enorme pandemônio na cabeça do incauto, determinando mais confusão que esclarecimento.

Não basta por vezes ter um foco ou interesse - hoje todo mundo é expert, produzindo tantas versões da realidade que não se tem balizamento para dirimir dúvidas ou sedimentar um ponto de vista confiável. 

Veja o ocorrido (uma suposta violação, de cunho sexual) no tal programa BBB da Rede Globo. Eu nunca vi este tipo de entretenimento, por razões óbvias, mas ficou onipresente em diversas mídias. Que tipo de assunto para tomar o noticiário! Mas nesta aldeia global não se consegue mais alhear-se... A qualquer hora alguém pode inquirir nossa opinião sobre o 'acontecido'...

Por estas e outras razões que sempre falo que a leitura de boa literatura, de bom textos é o que mais faz falta ao pessoal hoje em dia. A rapidez das mudanças traz esta superficialidade em tudo, esta mesmice, esta certa 'preguiça mental' em analisar os eventos e suas relações. Sim, hoje tudo é 'relativo' - parece que não se pode, por vezes, precisar o critério basilar que moldaria uma abordagem profícua de qualquer assunto. 

Por isso, insisto que a religião verdadeira continua sendo como que um corrimão, uma barra de ferro num denso nevoeiro, nestes tempos turbulentos - a busca por uma totalidade de valores conectados em torno de referenciais bem demarcados que possam significar as ações (aquilo que resulta de um agente, com determinada intencionalidade, realizar atos, comportamentos), que guardam enorme complexidade. A existência desta tríade agente-intencionalidade-conduta implica em risco enorme ao se analisar (as ações) de maneira simplista, reducionista.  Explico melhor. Imagine o ato de puxar um gatilho. É um comportamento bem delimitado, que se pode filmar e descrever como tal e tal músculo do dedo tal se flexiona ou contrai, aplicados com tal força acima de uma determinada peça de armamento, resultando no 'puxar o gatilho'. São ações diferentes se praticadas por agentes diferentes (imagine uma criança que pega o revolver do pai em cima  do guarda-roupa, para brincar de 'moçinho' com o coleguinha; um ladrão que empunha e dispara um revolver para praticar assaltos; um soldado constitucionalmente comissionado pelo seu país a atirar em inimigos no campo de batalha) com suas diversas intencionalidades... Como se pode analisar legitimamente o ato de puxar o gatilho de uma arma nestas 3 situações? - temos, assim, 3 ações diferentes.

Como avaliar, analisar apropriadamente ocorrências, qualquer tipo onde está presente o homem e suas ações, sem a posse de um certo tipo de metodologia mental como a que esbocei acima - o que só se aprende se se dispuser calma, serena e detidamente a meditar e considerar os constituintes fatos e valores deste mundo agitado? Quanta afobação se vê hoje em dia, principalmente nos alunos, cáspite! 

Lembro-me dos meus tempos de meditação zen-budista (umas das investigações existenciais que percorri em minha juventude de estudante de Psicologia) - estudei a vertente Soto-Zen, que  pratica o exercício do silêncio sentado, respirando - onde o que mais se ensinava era a 'limpeza' da mente da mixórdia natural do pensar, do estar acordado. Estar consciente significava expurgar a 'mente de macaco', que fica pulando ali e acolá, sem se fixar apropriadamente em um objeto que forneça utilidade existencial.  Bons tempos... Ainda é valiosa prática.