Gravura obtida nesta data de
http://ailhadaspalavras-alvarinhos.blogspot.com
Hoje, fuçando no google images - que faríamos hoje sem o Google? - para ilustrar esta fábula (nro. LXIV do libreto - página 67 - já evocado anteriormente...) achei a acima colocada; inclusive a autora do despojado mas atraente blog também comenta (com foco diverso) esta mesma fábula. Estou curtindo muito esta série, pois descubro sites interessantes pela web!
Diz a narrativa alegórica que ... desde que as lebres eram continuadamente ameaçadas pelos inimigos à sua volta, certa vez fizeram uma reunião para debater sua lamentável condição. Consequentemente, elas decidiram que a morte seria mais preferível à sua desesperada situação e saíram para um lago próximo, determinadas a se afogarem como as mais miseráveis e desgraçadas das criaturas.
Ocorreu que um grupo de rãs estavam assentadas à margem do lago, admirando o luar, e quando ouviram as lebres se aproximando, assustaram-se e saltaram às águas em grande alarido e confusão. Vendo o rápido desaparecimento das rãs, uma das lebres gritou às companheiras: 'Parem, amigas! Nossa situação não é tão desesperadora como parece! Existem outras pobres criaturas ainda mais covardes que nós!' O compilador aduz a máxima, fechando a narrativa: "Lembre-se, não importa quão infeliz você seja, haverá sempre alguém que não gostarias de estar no lugar dele... "
Muitas lições cabem nesta fabela. Para mim, a mais óbvia é o fato de sermos por vezes pouco indulgentes conosco mesmo, exigindo de nós mesmos perfeição e realizações ótimas em todas as situações. Não nos perdoamos errar, não ser realizador ou competente. Comparamo-nos com os outros, e sempre vemos pessoas 'melhores' que nós, nisto ou naquilo, com mais ou mais vistosa fortuna, etc. O fato é que sempre encontraremos pessoas melhores (e piores, também) que nós, não importa com o que nos comparemos e com quem... O problema é então a malévola tendência de ficar comparando a todo momento. Nosso foco acaba na constatação de coisas 'resultantes', das quais desconhecemos precisamente a processualidade que levou ao resultado que estamos a comparar. O foco deveria ser em nosso comportamento - como aperfeiçoa-lo paulatinamente, de modo que a recompensa seja uma decorrência natural. Quando se olha somente resultados, corre-se o risco que julgarmo-nos miseráveis, incapazes, despossuídos, desprezados, etc...
Quando se cultiva a virtude da humildade, aprendemos logo que tal disposição de ficar comparando é lorpice. Da comparação surge inveja e outros sentimentos perniciosos que obnubilam nosso entendimento, enredando-nos num cipoal difícil de discernir. Mas se olharmos ao outro e vermos que estamos todos juntos 'condenados' a viver num mundo dado, que recebemos 'pronto', cada um na sua pessoal condição, poderemos divisar que podemos suplantar nossas imperfeições naturais, esperadas, habilitando-nos de um lado à solidariedade, ao companheirismo, à mútua instrução e, de outro, à sábia apreciação do que efetivamente somos aqui e agora, e assim poder planejar a pessoa que desejamos ser. Nossa vida, nossa existência, é determinada por aquilo que planejamos ser, pois livre-arbítrio, se o temos, constitue nossa principal natureza - poder decidir quem queremos ser.
Fim de semestre letivo. Passou depressa mesmo desta vez! (dizem que quando o tempo corre célere é sinal inequívoco de nossa ancianidade...) Espero que consiga descansar neste julho da faina escolar. Outro dia estava comentando com um amigo, veja só, sobre aposentadoria, e ele me disse que, se pudesse, tinha já se aposentado 'ontem', dada a canseira que as relações interpessoais hodiernas determinam. Cansa-se demasiado porque as pessoas não são polidas como antigamente; ser tosco, rude hoje parece ser 'normal' no trato comum. Concordo com o colega - vejo isso em sala de aula muitas vezes, e também pelos corredores da escola, nas ruas, na igreja! A saída para problemas que temos é culpar ao próximo, ou a sociedade, ou ao governo, ou a Deus. Quão sábio aquele cientista que esclareceu que a inteligência abarca muito mais dimensões do que pensávamos, sendo a emocional a primordial. Eu creio que esta dimensão (inteligência emocional) precisamente organiza, estrutura as demais, pelo menos no trato interpessoal. É muito cansativo hoje em dia conviver! E o pior, quanto mais velho se fica, menos paciência parecemos ter, daí o cansaço (ou será o famigerado fastio, o antojo, o enfado, o tédio??)...