A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

Mostrando postagens com marcador Psicologia Budista. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Psicologia Budista. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Última da série: O Meio de Vida Correto


Chegamos ao último comentário sobre cada passo do Nobre Caminho Óctuplo, o Caminho do Meio (caminho do equilíbrio) do Budismo, que encerra muita verdade sobre a arte de viver. A Psicologia Budista se vale muito destas instruções. 

Este notável passo do Caminho do Meio, como os outros, envolve em grande parte o bom senso - a pessoa espiritualizada e inteligente sabe que deve procurar um meio de vida que não trangrida os ideiais de amor e compaixão, visto que a maneira como nos sustentamos pode ser expressão do mais profundo do nosso ser, ou constituir uma fonte de sofrimento para nós e para os demais.

Nos tempos do Lorde Siddharta, uma dica para cumprir o Meio de Vida Correto era: não vender armas; não vender escravos; não vender carne, álcool, drogas nem venenos; não fazer profecias nem dizer a sorte. Creio que a maior partes destas prescrições ainda são úteis... Mas penso que, em todas as épocas, trabalhar em negócios que tem o potencial de fazer as pessoas infelizes nunca pode redundar em algo bom, mais cedo ou mais tarde. Se nosso sustento depende de agirmos em maior ou menor grau em coisas que envolvem mau uso da sexualidade, que necessitam mentir, defraudar ou roubar, comerciar substancias de modo ilegal, transacionar com armas ou lucrar a partir das superstições das pessoas, nunca estaremos cumprindo este preceito e vamos atrair problemas, seguramente.

Os mestres Zen ensinam que, no fundo, a questão do Meio de Vida Correto constitui-se numa questão coletiva, que envolve nosso discernimento no nível comunitário, visto que nosso trabalho afeta o trabalho de muitas outras pessoas e vice-versa. Não se deve ser inocente ao ponto de pensar que esforçar-se para ter um Meio de Vida Correto envolve somente os aspectos pecuniários que abarcam nosso rendimento mensal. Pode ser difícil ter um Meio de Vida cem por cento Correto todo o tempo, mas a qualquer tempo a pessoa pode optar em trilhar sempre o caminho equilibrado de reduzir o sofrimento e aumentar a compaixão pelos demais seres viventes, os animais e nossos semelhantes, a partir do nosso trabalho. Um bom meio de ajudar a comunidade, inclusive com consumo responsável e auto-sustentável, é colaborarmos para que os demais tenham também seus bons empregos, e eles também seguindo o preceito do Meio de Vida Correto. 

Ao final destas nossas humildes apreciações, podemos dizer que nenhuma prática, nenhuma etapa do Nobre Caminho se corporifica isoladamente; temos que praticar os oito passos conjuntamente, sendo que cada prática, cada etapa, pressupõe os outros sete. Tudo inter-depende entre si, tudo guarda relacionamento com o resto, pois tudo pertence ao Universo, tudo é uma totalidade. 

Tenho apreço a estes ensinamentos pois revelam calma e pacientemente um modo oriental de ver a vida, com sua estética e ética características, difíceis, muitas vezes, de divisar pelo homem ocidental.  Eu, como sempre gostei do Oriente (Japão, especialmente), senti-me atraído por estes ensinamentos. Excetuando afirmações religiosas dogmáticas, que guardam suposições que podemos chamar de 'teológicas', os preceitos da arte de viver equilibrada do Budismo guardam bastante identidade com muitas das prédicas ensinadas por Jesus. 

Gosto particularmente de um ensino búdico denominado 'Cinco Lembranças', que devem ser recitadas diariamente, como forma de lidar com o sofrimento:

1. Sei que minha natureza é composta de coisas que envelhecem - não há como escapar da velhice, da decrepitude.
2. Sei que minha natureza envolver adoecer - a doença, em todos as suas modalidades, é-nos inescapável.
3. Minha natureza me faz saber que um dia fenecerei: não há como escapar da morte.
4. Tudo o que valorizo, em especial as pessoas que amo, tem a natureza, a essência de coisas que estão em constante mudança - isto implica que eventualmente posso me separar destas coisas e pessoas que aprecio.
5. O que mais me pertence são meus atos, aquilo que opto agir. Portanto, não posso escapar das consequências de minhas ações. 

Quantos paralelos com mandamentos cristãos, e também com preceitos humanistas e existencialistas! A Humanidade tem colecionado por centenas de anos estes ensinamentos, e fico pasmo que ainda exista tanta ignorâcia no mundo. Obviamente, dentro destas normas todas, o que está na Palavra é o repositório mais perfeito deste saber, da Sabedoria que foi  espalhada, manifestada deste o começo dos tempos a toda Humanidade. É muito interessante saber que, pela graça de Deus, todos estes ensinamentos, ainda que parciais, foram derramados para os homens, em todas as raças, eras e locais, guardando muita semelhança entre si.

Para finalizar, relembro um preceito antigo, deturpado por vezes, mas que ilustra bem esta certa uniformidade de sabedoria sobre a arte de viver. É a conhecida fórmula epicurista (de Epicuro, o famoso filósofo de Samos, da Grécia - 341 a 27o antes de Cristo - denominada o Tetrapharmakos. Ele ensinou estas quatro meditações, como modo de controlar o medo, a ansiedade e  angústia; em suma, o sofrimento, que era fonte de adoecimento da alma:

1. Não há o que temer aos deuses;
2. Não há o que temer à morte;
3. O sofrimento pode acabar, e
4. A felicidade é possível.

Obviamente estas quatro assertivas demandam estudo contextual e reflexão sobre o que querem significar, pois refletem uma visão de mundo à época antes de Cristo. Mas é notável que refletem uma preocupação milenar de debelar fontes de sofrimento, de aflição, de desalento. 

O Homem nunca vai ser feliz inteiramente, pois é muito apegado às coisas do mundo (o apêgo é o que causa sofrimento, para o Budismo), mas sei que somente pela reflexão sobre sua condição é que ele pode se libertar. Muitos caminhos são disponíveis, e importa que a pessoa se dedique a conhecer-se, a reconhecer a si mesmo e, assim trabalhando, pode vir a conhecer ao seu semelhante e, no limite, abrir-se para conhecer seu Criador, que se revela ao Homem por Sua própria iniciativa, pois por nós mesmo nunca O conheceríamos. Mas isso é assunto para outro dia...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Esforço Correto


Gosto, artísticamente, das figuras do Lorde Gautama (o conhecido príncipe indiano Siddharta Gautama, que viveu de 563 a 483 a.C., que depois se cognominou, do sânscrito, 'Buddha' - 'despertado', querendo significar 'esclarecido', 'iluminado') pois elas passam um tanto do desapego e da serenidade que o Budismo prega. Diferente do que se observa em algumas vertentes do cristianismo com relação às imagens, estátuas, relíquias e figuras, em geral aqui estas representações imagéticas não são adoradas, ainda que algumas, pelo seu valor histórico, sejam reverenciadas pelos adeptos de algumas seitas. Budismo é considerado como religião em nossas imprecisas ocidentais considerações, mas muitas vertentes, na verdade, constituem-se  mais como uma espécie de 'filosofia de vida', uma maneira ética de se relacionar com o Cosmos. É assim que eu encaro esta ampla escola de pensamento oriental, mesmo porque creio que só o Zen (e dentro deste, a escola japoneza Sotozen) represente a essência do Budismo, como Lorde Gautama o concebeu. Ele nunca pensou em fundar uma religião e, creio, ficaria 'chocado' com o que algumas correntes eregiram a partir de seus ensinos originais...

Hoje veremos um dos oitos passos do Nobre Caminho Óctuplo, que encerra interessante ensinamento. Esforço Correto (também entendido como Diligência Correta) é aquele passo que abarca um tipo de energia que ajuda ao budista (e qualquer vivente; não tem que ser adepto desta escola de pensamento para auferir sua inteligência...) a percorrer de modo mais apropriado o Caminho do Meio, o Nobre Caminho Óctuplo. Este esforço correto liga-se, creio, ao foco que deve presidir a maioria de nossas ações. Vejamos:

1. Esforçar-se corretamente não significa necessariamente intensidade de praticar, agir. Por exemplo, se nossa prática, nosso agir, qualquer que seja, nos fizer sofrer, ou sofrer a outros, está desvirtuada. Nossa prática e ação deve ser inteligente, baseada na real compreensão do ensinamento subjacente. (No Budismo se diz 'praticar' pois, mediante nosso correto, diligente - aplicado -  agir, nossa atenção constitue-se como que em método para alcançar fins; é metodologia de aprender a viver, de vivenciar)

2. Um Esforço Correto conduz nosso agir a alcançar valores humanos como amor, lealdade, reconciliação. Obviamente quando nos esforçamos de modo correto a alegria e a felicidade a acompanha, mais cedo ou mais tarde - são índices, critérios de nosso esforçar apropriado. Um exemplo: quando se acorda, devemos sorrir - temos a bênção de mais um dia para praticar o Caminho. Mas como sorrir, se acordo com dores, angustiado, temeroso? Sorria para tudo isso também!!  Antigamente eu poderia me assustar quando acordava e ia ao toalete escovar os dentes, com a minha cara amassada. Resolvi colocar no espelho um lembrete tipo post-it que dizia, com aquela figurinha muito conhecida estilizada de sorriso :-) "Sorria!!" e, logo-logo, me condicionei a realizar isto 'automaticamente' nas manhãs, quero dizer, de modo cônscio; sim, consciente da necessidade do sorriso ser presente em meu rosto frente a qualquer situação (minha feição não ajuda muito as pessoas a 'se  soltarem' na minha presença, e se estiver carrancuda, então, pode mesmo assustar...). Mas confesso que ainda tenho dificuldades de manter esta prática; que fazer... - devo insistir, esforçar, pois sei que isso é correto em todos os sentidos!

3. Com o tempo descobre-se que qualquer prática, qualquer agir, se realizado com a energia e disposição da plena atenção, pode ser expressão de um esforço correto. Assim, lavar os pratos, varrer o chão, cuidar de crianças ou idosos adoentados podem ser eventos muito preciosos  (hoje cedo fiquei minhas 3 horas cortando cabelo e barba no asilo, como sempre faço às terças e sextas-feiras, e pude orar ao Pai Celestial mais uma vez pela bênção de poder servi-Lo)  para nosso despertar.

Aprendi em minha vida que o sofrimento é um tipo fundamental de experiência que pode nos conduzir a uma prática, a um agir consciente que, adornado pelo Esforço Correto, nos faz atingir conquistas existenciais, pessoais, muito importantes. Se estamos ansiosos ou tristes, quando assim praticamos sentimos alívio. Necessitamos de muita energia (leia-se estudo, conscientização) para contemplar o sofrimento e investigar suas causas, e sabemos que somente este tipo de compreensão é que poderá nos dizer como (qual o caminho para)  colocar um ponto final no sofrimento. Em outros termos, quando acolhemos o sofrimento, investigando sua(s) origem(ns), poderemos constatar que é possível por um fim no sofrer, visto que existe um caminho para realizar isso. 

O praticar do vivenciar consciente deve ser alegre, prazeroso. Devemos examinar nossa forma de praticar (de agir) em tudo. Não fomos criados para sofrer, ainda que nossa natureza decaída nos induza a isso. Mas, em si, a forma de lidar, de praticar, de agir, com relação a todas as coisas (boas e ruins, doloridas ou agradáveis, ...) deve ser alegre, prazerosa; se não, não estaremos nos esforçando corretamente. 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Caminho Óctuplo: a Atenção Correta.


Continuando com nossas singelas prédicas sobre a existência plena na psicologia budista, veremos hoje, depois de viagens de férias, o terceiro aspecto compreendido no Nobre Caminho das Oito Vias, ou Caminho Óctuplo.

A Atenção (Plena) Correta sempre esteve no âmago do ensino do príncipe Sidharta, abrangendo a energia que nos traz, a cada momento, precisamente de volta para o momento presente, o que vulgarmente se nomeia o ‘aqui-e-agora’. É um dos mais preciosos ensinamentos, e existem livros e livros dedicados à sua compreensão. Tentarei aqui resumir um pouco do ensinamento oriental, sabendo que algo se perde neste esforço de concisão. Conto com sua paciência!

Na psicologia budista, a atenção tem a característica de ser universal; em outros termos, sempre se está dando atenção a algo, mesmo quando se está devaneando, aparentemente alheio aos fatos. Nossa atenção pode ser apropriada, quando estamos inteiramente imersos no momento presente, ou pode ser inapropriada, quando nos atemos a algo que nos afasta do aqui-e-agora. Assim, a atenção plena consiste em lembrar-se de voltar constante e conscientemente ao momento presente, que é onde nós efetivamente existimos.

Um dos caminhos ensinados no Zen Budismo para treinar a atenção plena (conheço muitos outros...) consiste em praticar os ‘Sete Milagres da Atenção Plena’.  O primeiro deles é atentar para a miríade de fenômenos e coisas que nos cercam, a profusão de eventos e oportunidades com que somos agraciados a cada momento. Creio que o principal desta constatação de inúmeras ‘coisas’ que nos cercam é que Pessoas, não meras outras pessoas, outras indiferentes e anônimas gentes, se nos relacionam, a cada momento. Cada pessoa com sua história e valores únicos. Estar atento de modo pleno com estas pessoas pressupõe ser capaz de entrar em contato profundo com estas pessoas e os diversos elementos de sua pessoalidade (algo que, se não cultivarmos a Atenção Plena, se perde, ou seja, dela, sua pessoalidade singular, não nos tornamos cônscios).

O segundo milagre da Atenção Plena consiste que as coisas e principalmente as pessoas também se façam, com nossa Atenção Plena, efetivamente presentes para o pleno (enriquecedor) encontro. Na psicologia búdica, se algum de dois indivíduos não se faz ‘presente’, é como que a realidade do encontro se tornasse como que uma ilusão, um sonho, pois o corpo pode estar presente, mas a mente não;  então, rompida a dualidade (que se pretende indissociável) mente-corpo, a pessoa tem uma parte de si num lugar, e outra parte noutro lugar; somente uma delas está ‘presente’...

O terceiro milagre da Atenção Plena consiste em alentar, nutrir o objeto de nossa atenção, não ser indiferente ou neutro em relação a ele, implicando nos devotar todo o nosso ser na relação, no envolver com o outro. Implica também evitar pressuposições, assumir ‘verdades’ sobre o outro ou coisa, sem base, o que atrapalha descobrir fatos novos e auferir a verdade em si a partir da relação.

O quarto milagre da Atenção Plena é, coerente com o que prega a doutrina búdica, aliviar o sofrimento de outra pessoa, que se materializa inclusive nos pequenos gestos, como, p. ex.,  o modo com que olhamos para o outro. Assim, amar pode significar também nutrir o outro com nossa atenção, com nossa presença ativa. Já se disse que a melhor coisa que podemos fazer na situação de alguém que está a entregar sua alma é estar a seu lado, ‘apoiando’. Não se pode às vezes fazer mais nada para evitar a morte da pessoa, mas ela morrerá muito melhor se estivermos ao seu lado atentamente, do que se ela falecesse sozinha.

A contemplação profunda, um dos aspectos da meditação, é o quinto milagre da Atenção Plena, consistindo no fato de que, relaxados e concentrados, poderemos nos habilitar a olhar para os objetos e fenômenos com profundidade: estar-se-á cônscio do conteúdo de nossa Consciência sobre aquilo que se está a contemplar.

O sexto milagre da Atenção Plena é a compreensão resultante, como quando entendemos algo dizemos “ah, agora ‘vejo’ “. Ou seja, começa-se a ‘enxergar’ algo que antes não se vislumbrava; algo que surge à nossa frente ou em nossa mente, quando a constatamos dizemos que este algo apareceu, surgiu ‘dentro’ de nós. Ver, enxergar, surgir, compreender, tudo isto ocorre aqui neste momento, aqui-e-agora.

Finalmente, o  sétimo milagre da Atenção Plena é a mudança ou, uma palavra melhor, transformação, que ocorre como resultado da prática séria, consciente. Mas transformação de quê? Do sofrimento, de nossa dor, do apego. Atualmente vemos uma exacerbação do apego das pessoas com as coisas ilusórias da sociedade consumista, redundando muitas vezes em vícios, sendo o mais trágico os relacionados às drogas, lícitas ou ilícitas. Chega-se ao ponto de as autoridades terem que internar, contra a vontade das pessoas, os adictos em clínicas, pois elas não tem mais como visualizar seus desejos decaídos, destruidores, e os efeitos decorrentes de suas atitudes. Mas nunca vão se reerguer, curar-se, se não estiverem cônscias, se não virem claramente (ou seja, com Plena Atenção) o que elas fazem consigo...