A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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domingo, 26 de março de 2023

O cabelo

Cabelo é coisa séria, que o diga o belo sexo. Antes que o amável leitor imagine coisas impróprias, digo que as mulheres têm uma relação de vida e morte com suas madeixas. Sei de casos graves de profissionais que não satisfizeram apropriadamente as clientes, comprometendo a reputação de certos salões de beleza. 


Mas o caso aqui, verídico - como se dizia, conto o milagre mas não conto o Santo -  é de um homem (sim, os homens atualmente se preocupam muito com sua aparência) que passou a frequentar mais assiduamente os agora repaginados salões dos profissionais barbeiros. Antigamente Barbearias eram espaços onde em especial barbas eram aparadas, visto que inexistiam aparelhos populares que permitiam (como hoje) a pessoa cuidar-se de modo rápido e econômico. Nestas por vezes centenárias barbearias acorriam periodicamente os homens acusados de desleixados com a aparência, seja pela barba ou pelo cabelo. Hoje em dia Barbershop virou moda, existindo até espaços bem sofisticados, oferecendo, além dos tradicionais cuidados capilares, muito conforto adicional para atrair e fidelizar a clientela. 


Certo cavalheiro, vistoso, espadaúdo mas entrado em anos (visualizado pelo branqueamento progressivo dos pelos), cultivava longa e espessa barba, além de  compridos cabelos. Aposentado, perfazia divertida e candidamente o estilo “lenhador”, com a aparência um tanto, hmm… digamos, rústica. Mas era pessoa de bom trato, educado, casado com mui formosa e adorável dama, desde menina cuidadosa com a aparência, portadora de saudável vaidade feminina, aparentando ter décadas a menos em sua presumida idade. Ele, por sua vez, jactava-se de sua viril aparência, provocando a esposa, dizendo que anteriormente fazia sucesso com o mulherio, fazendo-a franzir as sobrancelhas, como que com ciúmes ou revelando descrença (vai saber, os homens dizem muita potoca…).  E a vida ia seguindo seu curso, sem mais percalços.


O casal dava-se muito bem, cultivando harmoniosa, respeitosa convivência, um completando o outro, como se diz. Certa vez, num encontro de casais (era perto do Dia dos Namorados) na Igreja, o Pastor propôs que cada membro do casal escrevesse um bilhete de amor ao outro, para ser lido no transcorrer do encontro perante a todos. O maridão escreveu no dele uma declaração que causou sensação:  que “...ele poderia dizer cinco defeitos da mulher MAS (escreveu em letras grandes) podia escrever noventa e cinco qualidades dela…”


Continuando com o rumoroso caso, um dia destes uma moça bate à porta, procurando por ele, sendo a mesma atendida pela solícita dona de casa. 


   – Seu pai se encontra? Fiquei de pegar uns recicláveis com ele…


   – Meu pai?, mas…  


A esposa ficou curiosa, visto que seu genitor, quarenta anos mais velho que seu esposo, residia em outro local.


   – Sim, um barbudo, alto…, respondeu a moça, certa que o local era aquele, pois já havia estado lá antes.


Depois de ir chamar dentro de casa o dito-cujo, mal escondendo o riso farto, comentou satisfeita com incrédulo companheiro o gostoso engano daquela pessoa, alegria inusitada que embalou seu espírito feminino por semanas. Afinal, seu garboso barbado era somente seis anos mais velho que ela… 


Ocorre que, pouco tempo depois, justamente ele, atendendo por sua vez um prestador de serviço (que havia anteriormente combinado determinada atividade com sua jovial esposa), dando seguimento nas tratativas, ouviu do profissional intrigante, quase cabulosa afirmação, ao mesmo que apontava para sua (do barbudão)  mulher, que estava a distância, resolvendo outras questões:


   – Sobre este trabalho, senhor eu já tinha comentado estes detalhes ali com a sua filha.


Atônito, olhando para ver de quem se tratava, visto que, além da rutilante esposa, ninguém morava com ele (em especial os filhos, já crescidos e quase todos casados, residindo em outras localidades), entendeu prontamente o que estava a suceder. 


   – Ahh, certo, obrigado, é mesmo, respondeu o ressabiado consorte, relembrando o outro evento.


O destino o fez agora testemunha de tais constatações, digamos, cronológicas, por parte de outros que não conheciam o casal.  E tratou de despachar logo o impiastro. Por dever de lealdade contou o evento à patroa que, sorridente mas com a elegância habitual, não explorou o fato, evitando possíveis constrangimentos. Mas com certeza ficou renovada sua alegria e orgulho, pela recorrente constatação de sua formosura pelos diferentes observadores.


Depois destes impactantes eventos, o quase-labrego decidiu abandonar o look viking, cortando a barba curtinho, como a dedicada consorte aconselhava, inclusive adotando o corte de cabelo ‘fuzileiro’. Tal mudança foi estrategicamente elogiada por ela, afirmando que agora, entre outras conquistas estéticas, ele estava mais jovial, com o rosto mais magro…


Soubemos que o antes cabeludo disse particularmente aos amigos, curiosos pela radical transformação no visual que, a evoluir os fatos, no futuro ele temia que poderiam vir a dizer que a antes  ‘filha’  poderia ser confundida como sua ‘neta’...