Gravura obtida agora de
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(site muito interessante!!)
Volto ao tema da morte, comentando um fato que, a cada vez, mais se torna presentificado em nossas vivências: o elevado número de mortes nas estradas e cidades (em especial nos feriados), envolvendo uso imoderado de álcool.
O que mais chamou a atenção é uma recente decisão de nossos nobres juristas, ratificando o direito da pessoa não produzir prova contra si mesmo, portanto sendo lícito alguém negar-se a fazer o teste do "bafômetro"... Que país o nosso; enquanto isso, os assassinos motorizados podem continuar ceifando vidas e respondendo a processo em liberdade, pagando um montante que a autoridade policial determina. Sei que culpar não resolve, mas nossos políticos são o retrato de nossa sociedade 'amadora' como costumo dizer - aqui tudo é feito de qualquer jeito, improvisado, sem esmero, o que redunda em leis inócuas e abusos de todo tipo.
Para a sociedade fica a dor daqueles familiares que sobrevivem ao falecido (quando não morre, é comum as lesões dos acidentes deixarem a pessoa incapacitada, entravada no leito, vegetando, presentificando o enorme sofrimento) e enormes gastos num sistema de saúde que já não é 'aquelas coisas', para dizer sem querer ofender.
Quanto à morte... é o tema que, quanto mais velhos ficamos, mais se nos apresenta à consideração. Sei que meus pais são bem mais velhos que eu (e, curiosamente, encontrando-nos volta e meia, como agora na Páscoa, o tema vem à tona, ainda que meus genitores, cristãos esclarecidos, consideram, como eu, a morte como a libertação das agruras desta esfera, e a entrada na Beatitude) e eu, mais velho que meus filhos e netos, mas nada garante 'quem vai' primeiro... Não tem um ou uma que não se atemorize com a aniquilação final, com 'o abotoar do paletó', em 'vestir o paletó de madeira'... No fundo, é o desconhecido, o ignoto, aquilo que o bicho-homem mais teme!
Eu já tenho bem equacionada a questão - ninguém voltou do outro lado para dizer como é. Estes relatos de pessoas que 'estiveram lá', as narrativas de retorno ao corpo depois de estar morto, presenciando aura de luz, etc., não tem qualquer respaldo científico que evidencie crença inequívoca quanto à sua suficiente veracidade. Não é ceticismo tacanho; sabe-se que temos que ter normas e princípios para discernir, senão passa-se a acreditar em tudo e em todos, o que é, no mínimo, arriscado.
Como crente (e cientista, sabendo a diferença e alcance destes dois Magistérios) opto pela explicação que outros já (brilhantemente) trilharam. Mas digo o meu critério: com Esopo (seculos VII e VI antes de Cristo), admirado fabulista, penso que "todas as verdades tem dois lados, e convém examinar muito bem os dois antes de se comprometer com qualquer um deles". E como Cristo ensinou (está lá no evangelho de Mateus), Sufficit diei malitia sua, que quer dizer, A cada dia bastam as suas tribulações.
[para quem gosta do tema, sugiro ler o interessantíssimo artigo de Cezar Luís Seibt, 'Sêneca e a finitude da vida - o que a finitude pode ensinar sobre o viver', revista INTEGRAÇÃO, ano XV, nro. 59, outubro-novembro-dezembro de 2009, páginas 371 a 378. Neste artigo aprendemos que o modo de encarar a morte tem a ver com o modo de encarar o viver...]