A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Primeira Comunhão de Lívia, e PHOTOFUNIA!


Ruth, Firmina, Liv, José Antonio, Ana Laura e Geraldo

Fomos a Rio Claro neste domingo p.p. para prestigiar a cerimonia de Primeira Comunhão da Liv, Bilú, meus pais e o padrinho de batismo de Livia, o primo José Antonio e esposa. Em que pese a gente não ter podido ao menos almoçar junto (proverbial/habitual atenção e gentileza da ex-wife...), valeu a tentativa.

O que significa este ato: um grande passo dado pela Livia para o conhecimento do que o Pai Celestial deseja para ela.  Demos presentes para solidificar sua adesão e ajudar a pavimentar o caminho... Grande Privilégio!


 
Liv se encaminhando ao altar


Outro dia eu falei sobre o software Photofunia... eis abaixo algumas outras brincadeiras... have fun!
Ruth em Out-door!
Mandei fazer uma super foto de Bilú
para colocar num prédio!
Quadro a óleo de Ruth
Retrato de Ruth em crayon...


Liv em quadro na rua...
Quadro de Liv no Museu...
Foto de Liv em outro Museu!
Reunião na Rússia...
Foto na rua

Mandei fazer pintura a óleo!
Pintura à moda de Andy Wahrol...

terça-feira, 17 de abril de 2012

Fotografia...

Imagem obtida em 10 de abril de 2012 em:
http://www.imagemagica.org/doc_resultados.asp
(A ImageMagica é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público 
- OSCIP - sem fins lucrativos, que promove educação, cultura e saúde por
 meio da fotografia, criando condições para o pleno desenvolvimento pessoal
 e social e potencializando nos indivíduos o papel de
 transformadores da realidade).


Olha que foto bacana; adoro fotos, apesar de não andar de câmera a tiracolo. Confesso que, quando preciso, apelo para o dispositivo (pobre, reconheço...) do meu celular; quando se trata de efemérides, apanho minha câmera digital, com diversos 'megapixels'...

Fato notável recente foi a compra pelo Facebook do Instagram (um aplicativo de fotos para dispositivos móveis), o que fez diversos analistas levantarem os sobrolhos... Para quem curte brincar com fotos a partir de celulares ou tablets o colunista José Antonio Ramalho, na ultima Folha Tec (caderno de  midias digitais do jornal Folha de São Paulo) sugeriu alguns programetes como o pixlr.com e  o photofunia.com .

Aprecio a linguagem das imagens, é um outro mundo, diverso das palavras, apesar das inúmeras interfaces. É um exercício de análise para qualquer pretendente a Psicólogo(a). Tantas são as possibilidades como tantas as das muitas personalidades! Fica a dica...

Olha uma brincadeira que fiz (com um detalhe da
 foto da IMAGEMAGICA)  com o soft PHOTOFUNIA...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O assunto chato de novo...

Gravura obtida agora de
http://www.layoutsparks.com
(site muito interessante!!)

Volto ao tema da morte, comentando um fato que, a cada vez, mais se torna presentificado em nossas vivências: o elevado número de mortes nas estradas e cidades (em especial nos feriados), envolvendo uso imoderado de álcool.

O que mais chamou a atenção é uma recente decisão de nossos nobres juristas, ratificando o direito da pessoa não produzir prova contra si mesmo, portanto sendo lícito alguém negar-se a fazer o teste do "bafômetro"... Que país o nosso; enquanto isso, os assassinos motorizados podem continuar ceifando vidas e respondendo a processo em liberdade, pagando um montante que a autoridade policial determina. Sei que culpar não resolve, mas nossos políticos são o retrato de nossa sociedade 'amadora' como costumo dizer - aqui tudo é feito de qualquer jeito, improvisado, sem esmero, o que redunda em leis inócuas e abusos de todo tipo.

Para a sociedade fica a dor daqueles familiares que sobrevivem ao falecido (quando não morre, é comum as lesões dos acidentes deixarem a pessoa incapacitada, entravada no leito, vegetando, presentificando o enorme sofrimento) e enormes gastos num sistema de saúde que já não é 'aquelas coisas', para dizer sem querer ofender.

Quanto à morte... é o tema que, quanto mais velhos ficamos, mais se nos apresenta à consideração. Sei que meus pais são bem mais velhos que eu (e, curiosamente, encontrando-nos volta e meia, como agora na Páscoa, o tema vem à tona, ainda que meus genitores, cristãos esclarecidos, consideram, como eu, a morte como a libertação das agruras desta esfera, e a entrada na Beatitude) e eu, mais velho que meus filhos e netos, mas nada garante 'quem vai' primeiro... Não tem um ou uma que não se atemorize com a aniquilação final, com 'o abotoar do paletó', em 'vestir o paletó de madeira'... No fundo, é o desconhecido, o ignoto, aquilo que o bicho-homem mais teme!

Eu já tenho bem equacionada a questão - ninguém voltou do outro lado para dizer como é. Estes relatos de pessoas que 'estiveram lá', as narrativas de retorno ao corpo depois de estar morto, presenciando aura de luz, etc., não tem qualquer respaldo científico que evidencie crença inequívoca quanto à sua suficiente veracidade. Não é ceticismo tacanho; sabe-se que temos que ter normas e princípios para discernir, senão passa-se a acreditar em tudo e em todos, o que é, no mínimo, arriscado.

Como crente (e cientista, sabendo a diferença e alcance destes dois Magistérios) opto pela  explicação que outros já (brilhantemente) trilharam. Mas digo o meu critério: com Esopo (seculos VII e VI antes de Cristo), admirado fabulista, penso que "todas as verdades tem dois lados, e convém examinar muito bem os dois antes de se comprometer com qualquer um deles".  E como Cristo ensinou (está lá no evangelho de Mateus), Sufficit diei malitia sua, que quer dizer, A cada dia bastam as suas tribulações.


[para quem gosta do tema, sugiro ler o interessantíssimo artigo de Cezar Luís Seibt, 'Sêneca e a finitude da vida - o que a finitude pode ensinar sobre o viver', revista INTEGRAÇÃO, ano XV, nro. 59, outubro-novembro-dezembro de 2009, páginas 371 a 378. Neste artigo aprendemos que o modo de encarar a morte tem a ver com o modo de encarar o viver...]

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Repassando... vejam que reportagem interessante!

            Coloquei no portal do Centro Universitário em que trabalho, para todos os meus alunos,  um texto que reproduzo aqui, como bonus de leitura. Ele vem a calhar sobre um tema que sempre reflito com eles e que creio ser fundamental para o seu preparo, a empregabilidade. É muito esclarecedor e espero que os motive a repensar suas prioridades. Todo esforço para conscientizar a moçada é válido, pois muitos me parecem perdido neste mundo globalizado, googleficado...

                      "O PROFISSIONAL QUE O MERCADO QUER"

                        Débora Rubin     -     Fonte: Revista Isto é - Ed. 2212 - 31/03/2012


O mundo do trabalho vive sua maior transformação desde a Revolução Industrial e busca um novo tipo de pessoas.  Agora o que vale mais é ter formação diversificada, ser versátil, autônomo, conectado e dono de um espírito empreendedor.


Esqueça tudo o que você aprendeu sobre o mercado de trabalho. Estabilidade, benefícios, vestir a camisa da empresa, jornadas intermináveis, hierarquia, promoção, ser chefe. Ainda que tais conceitos estejam arraigados na cabeça do brasileiro - quem nunca ouviu dos pais que ser bem-sucedido era seguir tal cartilha? -, eles fazem parte de um pacote com cheiro de naftalina. O novo profissional, autônomo, colaborativo, versátil, empreendedor, conhecedor de suas próprias vontades e ultraconectado é o que o mercado começa a demandar. O modelo tradicional de trabalho que foi sonho de consumo de todo jovem egresso da faculdade nas últimas duas décadas está ficando para trás. É a maior transformação desde que a Revolução Industrial, no século XVIII, mandou centenas de pessoas para as linhas de produção, segundo a pesquisadora inglesa Lynda Gratton, professora da London Business School e autora do livro "The Shift: The Future is Already Here" ("A mudança: o futuro já começou", em tradução livre).


Nas novas gerações esse fenômeno é mais evidente. Hoje, poucos recém-formados se veem fiéis a uma única empresa por toda a vida. Em grande parte das universidades de elite do país, os alunos sequer cogitam servir a um empregador. "Quando perguntamos onde eles querem trabalhar, a resposta é: na minha empresa", conta Adriana Gomes, professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo. Entre os brasileiros que seguem o modelo tradicional, a média de tempo em um emprego é de cinco anos, uma das menores do mundo, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) - os americanos trocam mais, a cada quatro anos. O ritmo dinâmico inclui mudanças de função, de empregador, e até de carreira.


O cenário atual contribui. "Estamos migrando de um padrão previsível para um modelo no qual impera a instabilidade", diz Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Quem apostar na estrutura antiga vai sair perdendo, segundo a professora Tânia Casado, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Isso significa, inclusive, rever o significado de profissão. "O que passa a valer é o conceito de carreira sem fronteiras, ou seja, a sequência de experiências pessoais de trabalho que você vai desenvolver ao longo da sua vida", define Tânia, uma das maiores especialistas em gestão de pessoas do País. Dentro desse novo ideal, vale somar cada vivência, inclusive serviços não remunerados, como os voluntários, e os feitos por puro prazer, como escrever um blog.


O conceito não é novo. Surgiu em 1993 da mente futurista de Michael Arthur, professor de estratégia e negócios da Universidade Suffolk, nos Estados Unidos. Só agora, quase 20 anos depois, é que a teoria começa a virar realidade. De acordo com sua tese, a carreira sem fronteiras é aquela que se apoia no tripé "por quê, como e com quem". "É preciso se perguntar o que você quer da sua vida e por quê; estudar para obter a técnica necessária e, por fim, estabelecer relações nas quais exista uma troca de conhecimentos", explica Tânia, estudiosa da tese de Michael. Ou seja, você pode até passar anos no mesmo lugar, como fizeram seu pai e avô, desde que tenha a mente flexível do profissional sem fronteiras e busque autoconhecimento, atualização constante e intercâmbio de experiências.


O novo profissional também tem que ter jogo de cintura para os novos arranjos trabalhistas. "A tendência é ter mais flexibilidade na remuneração, no tempo de duração da atividade, no conteúdo e no fuso e local de trabalho", destaca Werner Eichhorst, diretor do Instituto de Estudos sobre o Trabalho de Bonn (IZA, sigla em alemão), na Alemanha. O home-office, prática de trabalhar em casa que começa a ganhar terreno, será a realidade de milhões de brasileiros nos próximos dez anos, sobretudo nas grandes cidades sufocadas pelo trânsito.


A revolução trabalhista está na pauta do dia por diversas razões. Em seu livro, Lynda Gratton apresenta o resultado de um estudo feito com 21 companhias globais e mais de 200 executivos na London Business School. Do extenso debate, ela elegeu as cinco forças que estão moldando o trabalho e, claro, seus profissionais. Em primeiro lugar, está a tecnologia. Como na Revolução Industrial, quando as máquinas aceleraram a produtividade, hoje a vida em rede e os recursos de ponta eliminam uma série de empregos e modificam outros tantos. No cenário brasileiro, há de se considerar a herança deixada pelas amargas décadas de 1980 e 1990, nas quais o desemprego e a terceirização explodiram - segundo Pochmann, o número de trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria subiu de 11,7% para 58,2% somente entre 1985 e 1990. Nos últimos anos, o desemprego vem diminuindo e a formalização aumentou. Esse crescimento, porém, se deve mais pela geração de novos postos de trabalho com carteira assinada do que pela regularização do trabalho informal. Hoje, 45% dos brasileiros ativos não são registrados, de acordo com o Ipea.


Outras três forças citadas por Lynda Gratton são globalização, mudanças demográficas e preocupações ambientais. A primeira traz com ela a entrada de novos países no grande jogo econômico global - como o próprio Brasil. A segunda diz respeito à quantidade de gente no mundo - seremos nove bilhões em 2050 -, e à maior expectativa de vida. E a terceira tem a ver com as mudanças necessárias na forma de produzir e consumir para reduzir os impactos no meio ambiente. Por fim, a autora destaca a quinta força: as tendências de comportamento humano. Mais gente viverá só, as famílias serão menores e as relações afetivas serão foco de maior atenção. Trabalhar em casa ou próximo da moradia, mais que uma questão sustentável, será uma opção pelo bem-estar, algo que o brasileiro já valoriza. Em uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), no começo do ano, a meta profissional mais desejada em 2012 pelos entrevistados é "melhorar a qualidade de vida", acima até da opção "ganhar mais". "O workaholic está saindo de moda", afirma a professora Adriana Gomes, da ESPM. "Aos poucos, as pessoas foram percebendo que a produtividade delas caía a médio e longo prazos."


Não é só o profissional que deve estar preparado para tamanha virada. As empresas, sobretudo as grandes corporações que se expandiram ao longo dos últimos 20 anos, também precisam arejar suas convicções. Uma das principais mudanças é dar mais autonomia para que o funcionário crie, produza e evolua sem ficar estafado. Tânia Casado, da USP, coordena um grupo de estudo que tem se debruçado sobre um tema fresquinho, curioso e fundamental para o mundo corporativo: o "opt-out". Trata-se da prática, ainda pouco conhecida e aplicada, na qual as pessoas podem continuar sua trajetória dentro de uma empresa sem ter que necessariamente seguir a trilha convencional de subir na hierarquia. "Executivos de grandes grupos me procuram preocupados com a fuga de talentos e me perguntam o que podem fazer para retê-los", diz a professora. Isso inclui principalmente mulheres que gostariam de passar mais tempo com seus filhos após a licença-maternidade, sem abrir mão da carreira. A resposta de Tânia é: opt-out. Ofereça opções ou os talentos vão embora. Principalmente em um momento bom da economia.


O desafio de lidar com esse novo perfil é tão grande que é o tema do Congresso Anual de Gestão de Pessoas (Conarh) deste ano, que será realizado em agosto. "Os profissionais, em especial os jovens, guiam suas carreiras por suas causas e valores", diz Leyla Nascimento, presidente da ABRH, que organiza o evento. "Se percebem que seu empregador não compra a sua causa, ele simplesmente vai embora." Outra insatisfação grande, segundo ela é não ser reconhecido, cobrado e valorizado, o que exige melhorias na comunicação e na forma como as lideranças atuam. Até mesmo o uso das redes sociais é visto como uma questão estratégica. "É uma realidade e não pode mais ser ignorada."


Nas empresas de médio porte, em especial as de tecnologia, esse novo profissional já encontra território acolhedor. Na Conectt, os 150 funcionários têm a liberdade de propor ideias a qualquer momento. São eles que decidem também os programas de bem-estar, além de desfrutar de horários maleáveis. Alguns designers nunca pisaram na sede da empresa, em São Paulo, e trabalham remotamente de diferentes pontos do Brasil. No ano passado, um programador recém-contratado avisou que sairia em seguida para passar uma temporada na Austrália. Foi incentivado e lhe asseguraram que teria sua vaga na volta. Segundo o sócio-diretor Pedro Waengertner, o importante é a equipe entregar o trabalho, independentemente da quantidade diária de horas trabalhadas, e ela se sentir parte fundamental do processo. "O funcionário é um ativo valioso e, para reter os melhores, é preciso ter flexibilidade", diz ele.


Nesse cenário de mudanças aceleradas, a legislação trabalhista brasileira é um entrave. Criada em 1943 por Getúlio Vargas e alterada em poucos detalhes ao longo das últimas décadas, a essência da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) corresponde a um Brasil que já não existe. A rigidez da CLT, que impede, por exemplo, a opção de meio período para várias profissões, é o ponto mais criticado pelos especialistas. Um estudo realizado no ano passado pelo IZA, de Werner Eichhorst, em parceria com a USP, faz um comparativo entre os dois países e mostra que a possibilidade de os funcionários alemães negociarem seus salários diretamente com os empregadores, sem sindicatos nem governo no meio, ajudou a salvar 350 mil postos durante a crise de 2008. No Brasil, a pesquisa aponta a cultura de desconfiança entre as partes como fruto de uma lei extremamente paternalista. Resultado: dois milhões de casos julgados na Justiça do Trabalho a cada ano.


Apesar do embaraço legal, o mercado trata de pressionar, na prática, por mudanças. "Os empregadores vão achando as brechas até alguém ter a coragem de mudar", acredita a professora Adriana, da ESPM. O governo Dilma acena com transformações. Irá propor ao Congresso duas novas formas de contratação, a eventual e a por hora trabalhada. As alterações podem dar mais dinamismo ao mercado e permitir que quem dá expediente dois dias na semana ou três horas por dia seja integrado formalmente à força produtiva do País. Se a proposta for adiante, estará em maior sintonia com a realidade atual.


Afinal, a revolução no mundo do trabalho já começou.

(assino embaixo!!)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

161a. postagem: mais uma do aforista amador...

gravura obtida agora de
http://www.substantivoplural.com.br
(ótimo site que aborda o que discuto agora...)


Outro dia aprendi um outro apotegma fantástico, de Georg Simmel (1858-1918), filósofo e sociólogo alemão:

"O deslumbramento das pessoas diante do telégrafo e do telefone leva-as a esquecer o fato de que aquilo que realmente importa é o valor do que se tem a dizer". 

O que este scholar (sim, tem no Houaiss...) apontou continua válido ainda hoje - e vai continuar sempre atual. Vemos nas mídias o enorme bafafá em torno das redes sociais, de ferramentas como celular e tablet e suas possibilidades. Mas o que presenciamos (principalmente aqueles que se preocupam mais com o espírito...) é a valorização da forma, dos processos e da estrutura, em detrimento do conteúdo. Todos são fundamentais, por assim dizer (quando 'tudo' é fundamental, já imagina o que sobra...), mas sempre o Homem é que deveria ser a destinação de tudo, e não precisamente aquilo que as pessoas usam, criam, destinam, humanizam. 

Não se valoriza mais a leitura dos clássicos, o cultivo do espírito, as boas maneiras (só para citar alguns exemplos), como se fazia até há pouco. Evidentemente mudam-se o foco, as modas, as prioridades. Só que esta mudança evidencia a colocação do Homem para planos inferiores àquilo que ele mesmo criou e continua criando. O exemplo mais onipresente hoje corporifica-se no robô de busca Google. Muitos jovens ordenam suas mentes a partir daquele instrumento, daquele mecanismo, daquele dispositivo que trabalha dia e noite. Chega a parecer que não foi o homem que o criou. Não está distante, pressinto, os tempos que nos foram advertidos pelos visionários quase-apocalípticos da sujeição do homem pela maquinaria, pela tecnologia. Veja a medicina de hoje - os médicos, por vezes, parecem escravizados a uma 'bateria' de exames - não se diagnostica a não ser a partir de uma barafunda de inspeções e discussões... 

Vamos voltar às origens, obviamente 'guardadas as proporções'... ninguém quer voltar à Idade Média. Mas se não cultivarmos, resgatarmos as coisas do espírito, onde vamos parar?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Relembrei mais uma coisa dos tempos da faculdade...

foto obtida agora de
http://juneravenna.blogspot.com.br/

Uma das vivências mais mobilizadoras que um estudante de Psicologia pode ter são aquelas nas instituições asilares, em especial os hospitais psiquiátricos. Eu tive excelentes experiências em nosocômios de Campinas e em Valinhos, à época administrados por psiquiatras que estão, hoje, na crista da onda, como se diz. Muitas destas ocorrências falo em sala de aula e me divirto com os olhos arregalados de muitos educandos.

Tenho classes interessantes este ano (ainda que com alguns alunos que não sei discernir o que estão a fazer ali) e estou apreciando deveras a comunicabilidade de alguns outros. Deram a me escrever, coisa que pouco vi nestes anos todos de Universidade aqui em São João. 

Tomo a liberdade de pinçar um pedaço do texto de um aluno, R. (preservo seu nome porque ele afirma coisas importantes que podem ferir 'suscetibilidades', por assim dizer) , que me relembrou estas experiências dos anos 70. Diz ele, de um modo bem intenso, e que nos faz refletir estas importantes questões:

"Tenho presenciado cenas que soam estranhas para mim no sanatório, é muito duro, e ao mesmo tempo muito educativo, ver pessoas que não tiveram a mesma sorte que eu na vida, a sorte de ter uma boa família, a sorte de ter recebido uma boa educação, e principalmente a falta gritante de AFETO. Eu realmente acho importante o papel do hospital psiquiátrico, e realmente apoio a luta contra os manicômios, mas eu defendo a mudança de regimento, a mudança de conduta para com os ocupantes; existem pessoas ali, seres humanos que estão sofrendo MUITO, e poucos vão compreender esse sofrimento, e eu me sinto mal sobre esse aspecto, pois a falta de estrutura e de conhecimento em relação aos doentes é desolador, é MUITO triste ver pessoas sofrendo 'sozinhas', sem a minima lucidez e capacidade de entender o que acontece a elas. Não quero ser presunçoso, e muito menos discriminador, mas me incomoda MUITO ver o modo como os psiquiatras tratam aqueles SERES HUMANOS que vivem e convivem ali; é preciso entender seus problemas, é preciso auxiliá-los da melhor maneira possível, não é APENAS AMARRAR E DAR REMÉDIOS, isso é simplesmente "jogar a sujeira para de baixo do tapete". E tenho aprendido muito com os psicólogos que estão ali dentro, é um trabalho LINDO, um trabalho de SER HUMANO, PARA SER HUMANO. Vai muito além de remédios -- é amor, compaixão, serenidade, paciência, EMPATIA; é tentar entender ao máximo o sofrimento daquela pessoa, e ajudar a melhorar ao máximo sua qualidade de vida."

Que legal poder ver idealismo assim, vontade de mudar e de compreender, num plano humano, arraigado à existência. Faz-nos acreditar em nossa profissão. Assino embaixo! Continue assim, caro aluno, você vai ser grande em nosso fazer. Conte comigo...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Relacionamentos...


gravura obtida agora de 
http://fernandogomespr.blogspot.com.br/2010/04/como-cultivar-relacionamentos-saudaveis.html


Tenho muitos alunos e alunas. Alguns vem e vão. Poucos permanecem. Pouquíssimas vezes vemos iniciativas de com-vivências que marcam pela sinceridade. Recebo e-mails e comunicados de alunos, a maior parte para procedimentos acadêmicos, 'administrativos', ou de esclarecimentos sobre disciplina.

Uma das novas alunas, Ana Paula, mandou-me este seu texto:


Milésimo de segundo


'Como se toda a tristeza e a dúvida do mundo chegassem em um segundo. De felicidade plena tudo se transforma em incerteza, medo.

Todos os seus sonhos parecem impossíveis e tudo o que você mais quer é algo (ou alguém) que conforte o seu coração de uma forma rápida. Como um milésimo de segundo.
Todas as palavras e explicações são vazias, o que mais importa nesse momento é o final disso tudo.

A incerteza dói, e dói muito mais na solidão. Solidão entre muitos. Solidão na multidão.
Confortos falsos não importam mais. Que caiam as máscaras e se feche a cortina desse espetáculo da vida real!

O único espectador é você. O único ator principal é você. O mundo gira. Tudo passa, porém um instante parece ser infinito aos olhos do sofredor.
Drama, comédia, tragédia. Tudo se mistura em pouco tempo.
Em um dia, uma comédia de erros, fatos do cotidiano, nada muda.
No outro, uma tragédia grega, e tudo parece desmoronar.

Ao invés de um consolo, me consolo com o silêncio. Sei que os segundos e as horas vão passar, tudo vai se acertar. O destino é sábio, cria situações, sabe o fardo, o sofrimento, mas logo depois de tanta tristeza e incerteza a alegria impera.
Alguns segundos de tristeza são necessários para construir o resto de uma vida de alegrias.'


Pergunta se acho dramático ou melancólico... nem um nem outro, é dela, um texto denso, vivencial, carregado de pessoalidade. Fala de solidão, tristeza, sonhos, incertezas, medos e felicidade. Mas o que chama a atenção é que ela remete tudo isso à responsabilidade da pessoa em viver estes achados, estas vivências, e a paradoxal transitoriedade de tudo isso ... Acho que  ela será uma humanista-existencial, como eu.

Vou lhe remeter alguns textos, sei que ela vai gostar muito...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Sinal dos tempos!

gravura obtida agora de: bit.ly/GzGJbl (ali tem notícia sobre isso também)


Para mim, a notícia impactante da semana passada foi o fato de a centenária Encyclopaedia Britannica não vai mais ser oferecida em papel. Lembro-me até hoje da emoção de receber a minha, na época em que fazia Mestrado em Ciências da Motricidade, lá no Instituto de Biociências da UNESP, em Rio Claro (SP). Eu tinha ido acompanhar minha orientadora, a inesquecível Professora Maria Eunice Quilici Gonzalez, a um Congresso de Filosofia em Águas de Lindoya, e lá havia um vendedor da Britannica muito eficiente e... resultado: como consegui uma condição bastante favorável, com suaves prestações, logo estava com minha coleção. Sempre que posso a manuseio - é algo incomparável, realmente.

Quando adolescente li muito a Britannica de meu pai (ele também havia comprado a Britannica Júnior, mas eu logo me apossei da edição principal) e aprendi a amar aquela coleção; até o cheiro do papel - igual a da Bíblia - me seduzia... Coisas de quem ama os livros - fato que era muito estimulado em casa. Que rigor, que textos primorosos! Os maiorais de cada campo do conhecimento escreviam nos diversos tomos, ricamente encadernados e decorados. Um primor de acabamento (couro!), sem dúvida... Parece que os novos tempos da digitalização de tudo são 'irreversíveis'; veja mais sobre esta tendência em  bit.ly/zqFmqg

Outro fato que chamou muito minha atenção: um ínclito membro do Ministério Público decidiu processar o maior de nossos dicionários por constar nele o registro desabonador da palavra 'cigano'. Se isso vingar (em nosso país pode-se esperar tudo!) veremos revisar todos termos pejorativos em nossos dicionários (se bem que o insigne funcionário da justiça verberou somente contra o Houaiss...). Mas como que ainda hoje se pensa em matar o mensageiro por causa da mensagem que ele carrega? Eu sempre imaginei que quem deveria ser 'morto' seria aquele que precisamente mandou o mensageiro carregar/entregar a mensagem... que coisa! Vi um comentário a respeito do assunto pelo literato Paquale Cipro Neto, da Folha de São Paulo (Ano 92, nro. 30.297, de 15 de março de 2012, à p. 'C-2' do Caderno Cotidiano) e ri muito. O professor tem a finura das palavras, efetivamente.

Cáspite! Tenho uma certa mania, confesso: acumulo textos que gosto, e arquivo em pastas suspensas e caixas 'montes' de recortes de jornal e cópias impressas de artigos, papers e xerox de capítulos de livros. Que excentricidade a minha, vou procurar um psicanalista... Digo a mim mesmo que 'um dia' posso precisar, etc... será patacoada? Tenho dó de deitar fora; folhas e folhas contendo ditados, aforismos, apotegmas e parêmias as tenho reunidas em diversas pastas 'preciosas'! Que mania, preciso remir...    =)

terça-feira, 13 de março de 2012

artigo A NATUREZA DO AUTO-ENGANO: proposições iniciais


Resumo
Este artigo discute a natureza do fenômeno do Auto-engano e os diversos campos onde se manifesta. Aponta-se que os aspectos cognitivos, conativos,   afetivos, intencionais, conscientes, inconscientes e volitivos podem tomar parte no entendimento do fenômeno.
  
            O Homem sempre enfrentou a situação onde a falsidade, a mentira, o logro pode tomar parte, e envida diuturnamente esforços tanto para empregar com certa segurança estas estratégias contra terceiros, quanto para identificar as que os mesmos utilizam contra ele. Apesar de certos agentes políticos serem, ao que parece, atualmente, os mais notórios usuários deste tipo de 'jogo' (v., p. ex. BONASSI, 2007, p. E-6), um tipo especial de logro muito investigado atualmente consiste na situação onde existe identidade entre o agente que logra e o agente que sofre a ação de engano, denominado 'Auto-engano' (doravante grafado 'AE'). Este artigo pretende discutir algumas nuanças que envolvem a correta identificação do fenômeno, como parte de uma investigação psicológica sobre a violência interpessoal  posto que, entre outros, conforme Rosenfield (2007, p. A-2), “a mentira é um meio de provocar a violência (...)”. (Para uma sucinta explanação dos principais aspectos psicológicos da natureza do fenômeno do AE, v. SHAPIRO, 1996).

          O problema do AE, à semelhança do problema mente-corpo, tem intrigado os estudiosos, desde tempos imemoriais - inclusive nas Escrituras cristãs encontra-se menção de tal fenômeno, como em Gálatas 6:3. Na literatura sobre o tema tem-se definido o termo como o ato de enganar-se a si mesmo ou como o estado de estar enganado por si mesmo. Não há consenso entre os especialistas sobre o fato de que aquele que se auto-engana estar ou não consciente de tal ato. Em que sentidos casos de auto-engano seriam distintos de hipnotismo,  'lavagem cerebral', 'pensamento positivo', 'cegueira intelectual', raciocínio ou pensamento tendencioso (enviesado), juízo distorcido ou outras formas de irracionalidade? No entanto, a considerar-se que o AE envolve logro intencional, a definição irá direcionar ao questionamento adicional sobre como alguém pode, ao mesmo tempo, pretender iludir-se e ter sucesso em tal empreitada. (MARTIN, 1986; MELE, 1987).

A definição usual de AE ( como p. ex., “The act of deceiving oneself or the state of being deceived by oneself ”, HONDERICH, 1995, p. 818) encontrada em diversos  textos é, aparentemente, circular. Observa-se grande variabilidade de interpretações entre diversos autores sobre o que seria AE, como por exemplo, em Platão (Crátilo), em Sartre (L’Être et le néant) e em Kierkegaard (Enten-Eller), para citar os mais conhecidos. Será que estes autores se referem ao mesmo fenômeno? Ou são diferentes fenômenos sob a mesma nomenclatura, o que leva a considerações sobre diferentes usos do termo? AE parece facilmente ser algo paradoxal. Como pode o enganador-que-conhece ser ao mesmo tempo o enganado-que-desconhece? Como pode alguém, intencionalmente, sabendo, não saber? Se isto ocorre, o processo requer um monitoramento seletivo de si mesmo e esta seletividade implica, de um lado, saber o que deve ser sabido e ao mesmo tempo ser capaz de não sabe-lo (SHAPIRO, 1996).

            Por outro prisma, em que difere essencialmente mentir para si da mentira para os outros? Para ilustrar com um aspecto do cotidiano de todos, o fenômeno da protelação de tarefas, pode ser um exemplo de AE? (ver, p. ex., MELLO, L. E. de A. M. ‘Amanhã eu faço’ – Estudos relacionam a protelação de tarefas à ansiedade e à depressão. FOLHA DE SÃO PAULO, 03 de Janeiro de 1999, Caderno mais!/Ciência, p. 5-13.; MICHELOOTTI, G.  Empurrando com a barriga. FOLHA DE SÃO PAULO, 17 de Janeiro de 1999. Cad. Campinas/Revista, p.3-17)  Parece não haver unanimidade sobre o entendimento da natureza do AE (SVECE, 1996), tornando trabalhoso o estudo do fenômeno. Muitos aspectos podem estar envolvido na determinação do fenômeno. Por exemplo, PALUSH (1967, p. 276) diz que uma pessoa X está auto-enganada quando:

(1) X crê p e p é falso. (2) X sabe a evidência relevante contra a verdade de p. (3) X tem algum motivo para descartar a evidência. (4) Se o motivo foi insuficiente ou deficiente, X veria que p é falso e a sua negação verdadeira. (5) se o motivo fosse tornado claro a X ele veria que isso não proveria razões legítimas para a sua crença. (6) X é livre para discernir a capacidade do seu motivo.

[(1) X believes p and p is false. (2) X knows the evidence which counts against the thruth of p. (3) X has some motives for discounting the evidence. (4) If the motive were lacking X would see that p is false and its negation true. (5) If the motive were made clear to X he would see that it provided no legitimate grounds for his belief. (6) X is free to discern the character of his motive]

            Nesta linha de pensamento, FOSS (1980, p. 241) declara que ‘Jones deceives himself that  p  just in case (i) Jones brings it about that Jones believes that  p, and (ii) Jones knows that not-p. Para SIEGLER (1962, p. 473) se White diz a Brown que Brown está enganando a si mesmo, White está dizendo a Brown que este tem uma crença errônea, e aquele está afirmando que é irracional para Brown ter tal crença. Por outro lado, Herbert FINGARETTE (1969, p. 81) aduz que o auto-enganador é aquele que de certa maneira está comprometido no mundo mas recusa o próprio comprometimento, não o reconhecendo a si mesmo como seu [‘the self-deceiver is one who is in some way engaged in the world but who disavows the engagement, who will not acknowledge it even to himself as his']. Enquanto os dois primeiros autores descrevem o fenômeno empregando explicitamente o conceito de crença, este ultimo parece fundamentar o AE em aspectos emocionais.

            Adicionando algumas dimensões não presentes nas formulações anteriores, AUDI (1985) estabelece que:

Uma pessoa, S, está em um estado de auto-engano com relação a uma proposição, p, se e somente se: (1) S inconscientemente sabe que não-p (ou tem razão para crer, e inconsciente e verdadeiramente crê que não-p); (2) S sinceramente admite ou está disposto a admitir sinceramente, que p; e (3) S tem ao menos uma carência que explicita, em parte, tanto porque a crença em não-p de S seja inconsciente e porque S está inclinado a admitir que p, mesmo quando reconhece, constata evidência contra p.

            Aqui temos intencionalidades ('sinceramente admite'), crenças 'inconscientes', 'carências' e 'inclinações' tomando parte na explanação do fenômeno, o que faz acreditar que o acontecimento possui muitas dimensões que, em princípio, desafiam qualquer proposta simplista de definição. Até ocorrências como 'esquecimento', colocado de modo vago ('certas circunstãncias'), como em CANFIELD & GUSTAVSON (1962, p. 34-35) é proposto:  “tudo o que ocorre no auto-engano (...) é que a pessoa crê ou esquece algo em certas circunstâncias [all that happens in self-deception (...) is that the person believes or forgets something in certain circumstances]”, e as circunstâncias constituiriam a falta de garantia para a crença envolvida.

            Esta lista pode ser consideravelmente ampliada, com variações mais ou menos ampla nos níveis descritivos envolvidos. Em resumo, analisando algumas das formulações citadas, podemos ver que Fingarette pensa AE como compreendendo engajamento no mundo, enquanto que muitos dos citados consideram o fulcro do fenômeno repousando na crença numa proposição p, concomitantemente com a crença na proposição não-p. Foss indica que AE requer duas crenças contraditórias (e parece sugerir também que Jones intencionalmente engana a si mesmo), enquanto que Audi, Canfield & Gustavson, Siegler e Palush descrevem AE consistindo na presença de uma crença sem sustentação, sem garantia, em outras palavras, sem evidência. De modo diferenciado dos demais estudiosos considerados brevemente aqui, Audi considera que AE requer conhecimento inconsciente, o quanto paradoxal possa isto parecer.

            Assim, mediante o exame desta literatura, observamos que o tema do AE possui muitas interfaces como p. ex., (a) estados cognitivos; (b) estados conativos; (c) estados afetivos; (d) intencionalidade; (e) estados da consciência; (f) determinismo e liberdade; (g) estados volitivos, que direcionam o estudo para possibilidades de contribuição, além da Psicologia, também para a Filosofia da Mente e para a Filosofia da Ação. De igual modo, no âmbito da Filosofia Moral, o tema do AE também exibe considerável questionamento.

            O estudo do AE e da conduta mentirosa apresenta relevância tanto teórica, auxiliando a clarificação do uso comum do conceito, como prática, conforme tem sido proposto p.ex., por alguns setores da área da saúde ensejando que auto-afirmações de cunho duvidoso podem atuar como coadjuvantes em determinadas terapias de cunho psicológico (McGARRY-PETERS, 1990; RUDDICK, 1999), o quanto isto possa ser eticamente questionado.

            Ultimamente tem-se observado grande interesse sobre o estudo do engano de si e dos outros, dissimulação e esquivas, com discussões e pesquisas patrocinadas nos mais diversos campos de investigação. Nas Ciências Jurídicas, cremos que o entendimento dos motivos que levam as pessoas a cometer certos atos envolvendo mentira e engano deliberado pode colaborar na aplicação adequada da Justiça, posto que podem levar a situações de abuso e violência. Neste âmbito, muitas questões do Direito Civil (principalmente) ligados ao AE tem sido objeto de discussão como, p. ex., nas acusações de abuso sexual infantil (KOCOURKOVA & MALA, 1996) e falsas acusações de estupro (BIEDER & MAES-BIEDER, 1995; FELDMAN et al, 1994; KANIN, 1994). No Direito Penal, faceando a Psicologia Forense e Judiciária, muitas questões sofrem semelhante escrutínio, como na situação de interrogatório onde se originam falsas confissões (GUDJONSSON, 1990, 1992;).

            No campo da Psicologia, a discussão de muitos aspectos do AE e suas interfaces tem sido propostos. Dentre elas podemos citar o uso de instrumentos psicológicos de avaliação da personalidade na identificação de dissimulação de abuso de substâncias (FALS-STEWART & LUCENTE, 1997) e de jogadores compulsivos (JOHNSON et al, 1997), no uso de referenciais psicofísicos na identificação da mentira (VINCENT & FUREDY, 1992), na Psicologia da adoção, sobre crianças e adolescentes que sofreram abusos ou injúrias (WILKINSON & HOUGH, 1996; GLASPER & POWELL, 1996; RICCI, 1995; RIESER, 1991), na pesquisa sobre hipnotismo (KINUNNEN et al, 1994) e assertividade (KERN, 1994).

            Um dos tópicos mais desafiadores (e que interessa de perto ao Psicólogo) seria a ocorrência do engano em situação de psicoterapia ou consulta, nos mais variados temas (BILLIG, 1991; SMITH, 1991; HENDRICKS, 1990; O’SHAUGHNESSY, 1990). O estudo do AE aqui pode ser associado a certos aspectos do comportamento lingüístico, favorecendo novos insights (SIEGRIST, 1995). Uma lacuna que observamos no exame da literatura é a inexistência de instrumentos que possam auxiliar ao Psicólogo a inventariar de modo rápido e confiável a extensão da posse de idéias inapropriadas/irracionais e relacionados ao nível de ansiedade por parte do cliente, e que favoreceriam a ocorrência de engano, auto-engano e dissimulação na situação de consulta.

No que tange às implicações sociais da circunstância do fenômeno do AE, averigua-se que o mesmo, mediante sutis variações, parece estar disseminado, como vimos, por todo espectro do relacionamento humano. Muitas dimensões da mentira, do engano e do auto-engano são objeto de pesquisa, como lograr nos relacionamentos interpessoais casuais e íntimos (DE PAULO & KASHY, 1998), inclusive com subdimensões quanto à opção sexual das pessoas (BURDON, 1996), no ambiente de trabalho (MILLER, RESICK & RICHMOND, 1997), e no ambiente da promoção da saúde física (HUDSON, 1996; HADJISTAVROPOULOS et al, 1996; SOBEL, 1996). Encontramos igualmente interessantes discussões sobre o fenômeno do AE em estudos no tratamento de usuários de tabaco (WOODWARD & TUNSTALL-PEDOE, 1992), na formação de estudantes de medicina (THOMPSON, 1995; WATTS, 1995) e na prática da enfermagem (TUCKETT, 1998; TAMMELLEO, 1997). Mesmo na área de negócios, certas descrições remetem ao tema do AE (GARCIA, 1998).

            Com o acelerado desenvolvimento da tecnologia da comunicação, a velocidade e a magnitude das influências interpessoais ficam, ao que parece, mais e mais pronunciadas. Em igual extensão podemos esperar que os problemas nesta área do engano e auto-engano possam afetar maior número de indivíduos, em especial àqueles que não tem oportunidades igualitárias de inserção na Sociedade. Neste sentido, acreditamos que as iniciativas que promovam o esclarecimento das dificuldades humanas em geral (notadamente, nos últimos tempos, problematizados pela questão da violência) e do engano em particular tornam-se cada vez mais missão dos estudiosos e cientistas, em especial àqueles voltados para as Ciências Humanas.

            Estas constatações iniciais permitem identificar uma dificuldade importante para a consideração da questão do AE e o prosseguimento de nossa discussão. Perguntamos novamente: estas diferentes interpretações do que constitua AE são diferentes definições para o mesmo fenômeno, ou são descrições de diversos fenômenos sob a mesma nomenclatura, ou ainda, corporificam descrições de diferentes usos do termo Auto-Engano?

            Para estabelecer um parâmetro de trabalho dentre as muitas acepções para o fenômeno, iremos atentar em nossas futuras investigações para o termo AE e o significado do mesmo na linguagem ordinária, visto a ocorrência de ‘alguém-enganar-a-si-mesmo’ existir já antes de qualquer estudo teórico sistemático sobre o fenômeno. Este significado pode servir de base para comparação dentre as diferentes interpretações formuladas, averiguando quão coincidentes ou distantes as mesmas se mostram quando comparadas com a noção presente no senso comum do termo. Acreditamos que da análise dos muitos horizontes descritivos poderemos ampliar nossa compreensão sobre o fenômeno, em especial para a determinação e emergência das situações de crise nas populações (pequeno grupo), como p. ex., as de violência interpessoal.

REFERÊNCIAS


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