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Sou uma pessoa feliz. Aprendi a contentar com o pouco que tenho e sistematizei uma maneira de ver o mundo de ta modo que dificilmente me entristeço. Hoje vou dar uma pista, um dos fundamentos de minha maneira de considerar as coisas que não posso mudar, ou seja, que estão fora de mim, em tese, "fora" do meu poder de altera-las. Óbvio que o acesso a muitas coisas que aprecio me fazem "feliz", como a música, a companhia de gente boa, etc., mas o modo de pensar é o segredo de ser feliz, pois visualizamos o mundo melhor do que ele em geral se apresenta e, grosso modo, minimizamos ou impedimos assim as chances da infelicidade se apresentar...
Uma conceituação que me ajudou muito em treinar minha mente foi o conatus, que é um dos pilares fundamentais da filosofia de Baruch de Spinoza (1632-1677), filósofo holandês de origem portuguesa, cujo pensamento se distingue pela busca de um sistema filosófico racionalista e monista. Spinoza (em português Bento de Espinosa - a familia dele veio para Holanda de Portugal) foi um dos pensadores mais influentes da era moderna, e sua teoria ética e metafísica, expressa principalmente em sua obra magna, Ética, oferece uma visão profunda da natureza humana, do universo e da moralidade. O conatus, ou "impulso" ou "tendência", é uma ideia central em seu sistema filosófico e está diretamente ligado à sua concepção de substância, livre-arbítrio, emoções, ética e à busca pela felicidade. No pensamento de Spinoza, o conatus pode ser compreendido como o esforço ou a tendência fundamental de cada ente para preservar sua própria existência. A palavra "conatus" vem do latim e pode ser traduzida como "esforço" ou "tendência". De forma simplificada, é a força interna que move todo ser a buscar a autossustentação e a perpetuação de sua natureza. Em sua obra Ética, Spinoza formula o conatus como a essência de cada coisa, afirmando que cada ente no universo possui uma tendência natural de continuar existindo conforme suas próprias propriedades essenciais.
Spinoza propõe que existe uma única substância, a qual ele chama de Deus ou Natureza (Deus sive Natura), que é a causa de si mesma e que contém todas as coisas que existem. Esta substância única se manifesta em tudo o que existe no Universo, e cada coisa particular que existe, seja ela uma pedra, um ser humano ou um planeta, é uma modificação ou modo dessa substância. Cada modo da substância, ou seja, cada ser ou objeto particular, possui o conatus como a tendência intrínseca à sua natureza. Isso significa que o conatus não é algo externo ou imposto de fora, mas uma força interna e essencial que está diretamente ligada à própria definição do ser, uma força vital que busca preservar a existência e aprimorar-se dentro dos limites da natureza. No caso dos seres humanos, o conatus é descrito por Spinoza como a tendência fundamental para a preservação e aumento do poder de agir. Para ele, a essência humana é definida pela razão e pelo desejo de autoconservação. Cada ser humano, então, está em busca de aumentar o seu próprio poder, o que pode ser entendido como o esforço para atingir a plenitude da sua natureza.
Spinoza vai mais longe ao sugerir que o conatus também está intimamente relacionado ao desejo (ou amor), sendo este o desejo de perseverar na existência. Isso implica que os seres humanos, como todas as coisas no universo, são movidos por essa força essencial que, no entanto, é experimentada por nós de maneira mais complexa e mediada pelas emoções. Spinoza considera que as emoções humanas são modulações do conatus. Ele os chama de 'afecções' e os define como os modos pelos quais o conatus se manifesta, sendo sempre uma experiência interna do indivíduo em relação à sua autossustentação. As emoções, então, são a resposta do indivíduo à sua interação com o ambiente, sendo causadas pela adequação ou inadequação do ambiente à sua natureza. Spinoza distingue entre emoções positivas (como o prazer e a alegria) e emoções negativas (como o sofrimento e a tristeza), e argumenta que as emoções podem ser controladas ou melhor compreendidas quando se entende a relação entre o conatus e o mundo ao redor. A felicidade, no pensamento de Spinoza, é entendida como o aumento do poder de agir de um indivíduo, e esse aumento está diretamente relacionado ao domínio das emoções e ao uso da Razão para entender melhor o que é benéfico ou prejudicial ao conatus.
Um dos aspectos mais intrigantes do conceito de conatus é a maneira como ele se relaciona com a liberdade. Em muitos sistemas filosóficos, a liberdade é muitas vezes associada ao livre-arbítrio, à capacidade de agir de forma independente. No entanto, Spinoza rompe com essa concepção. Para ele, a verdadeira liberdade não é a capacidade de agir de maneira arbitrária, mas sim a capacidade de agir de acordo com a Razão e, portanto, de agir de maneira que favoreça o conatus de forma racional e consciente. A liberdade, portanto, em Spinoza, está diretamente relacionada à compreensão da Natureza e à ação conforme a Razão. Quanto mais uma pessoa compreende as leis da natureza, tanto do universo quanto de si mesma, mais ela é capaz de agir em conformidade com o seu verdadeiro conatus, o que resulta em um aumento do seu poder de ação. Dessa forma, a liberdade verdadeira é encontrada na compreensão do que é natural e necessário, e não na capacidade de agir contra essa ordem. Em sua moralidade, Spinoza propõe que a virtude é um meio de aumentar o poder de agir, que é essencialmente a preservação do conatus. A virtude, para Spinoza, não é uma obediência a um código moral externo, mas sim uma expressão do aumento do poder de agir de um indivíduo conforme sua natureza racional. A moralidade e a ética no pensamento de Spinoza não se baseiam em mandamentos ou proibições externas, mas na Razão como um guia para viver de acordo com o conatus, ou seja, com o esforço natural de preservação e realização do ser. De acordo com Spinoza, viver eticamente significa viver em harmonia com as leis naturais do Universo, reconhecendo que a felicidade é alcançada através do conhecimento e da Razão, e não através da satisfação de desejos irracionais ou contraditórios ao conatus. Isso implica que a ética spinozista é essencialmente uma ética do autoconhecimento e do entendimento do próprio ser dentro de um Cosmo causal e interconectado. Obviamente que um razonar adequado se adquire com treinamento, dedicação e persistência.
O conceito de conatus em Baruch de Spinoza é fundamental para entender sua filosofia, pois reflete sua visão do universo como um sistema dinâmico e interconectado, onde cada ser possui uma tendência essencial à auto-sustentação e ao aprimoramento de sua natureza. Esse conceito abarca não apenas a metafísica e a ética spinozistas, mas também oferece uma perspectiva única sobre a liberdade, as emoções e a felicidade. A liberdade verdadeira, segundo Spinoza, não é a ausência de determinação externa, mas a capacidade de agir em conformidade com a Razão e de realizar o pleno potencial do conatus, levando ao aperfeiçoamento tanto do indivíduo quanto da sociedade como um todo.