The Cosmos
(foto obtida agora, via Google Images, de
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Tomando como base um dos textos do físico brasileiro radicado nos Estados Unidos Marcelo Gleiser fiz um pequeno texto didático para discutir com meus alunos. Versa sobre Ciência, verdade e conhecimento...
Desde o começo da Humanidade, a pessoa deseja ter conhecimento sobre tudo aquilo que sua mente tem acesso, e deseja conhecer bem, isto é, ter um conhecimento certo, útil e confiável, que permita utiliza-lo apropriadamente agora e outras vezes. Neste percurso, muitas formas de conhecer foram desenvolvidas, como a do senso comum, a filosófica, a religiosa e, mais recentemente, o científico. Esta última modalidade de conhecer adquiriu na pós-modernidade ares de ferramenta que garantiria, se bem empregada, um conhecimento ‘melhor’ que os outros, mais confiável e condizente com a realidade. Muitos acreditam que a verdade objetiva, originada de fatos, se obtém somente mediante o uso da Ciência, e dos métodos que ela preconiza, ainda mais porque se valem, no mais das vezes, do auxílio da Matemática, ramo ‘exato’ do saber.
Existe hoje em dia quem questione esta corrente majoritária da Ciência, como se fosse a resposta última para bem conhecer. A Ciência, para alguns, parece debochar das outras formas de conhecer. As críticas à Ciência são muitas – ela uma hora diz algo, e outra hora se contradiz (exibe versões antagônicas mediante o uso de métodos por vezes ‘iguais’); Ciência é feita por pessoas imperfeitas, que tem suas vontades, intencionalidades, que acabam refletindo o próprio fazer da Ciência; a complexidade da realidade é enorme, e se a realidade é uma totalidade, como pode haver tantas versões, tantas visões de mundo discrepantes? A lista é enorme. Existem críticas à Ciência que no fundo são um tipo de preconceito, como por exemplo aquelas pessoas que a acusam de negar que certos eventos 'existam'. A Ciência na verdade se pronuncia somente sobre fatos que consegue efetivamente se aproximar com certeza razoável, com evidência firme. Os discos-voadores, ou qualquer UFO, por exemplo; a Ciência não nega a sua existência - somente diz que, com os instrumentos e ferramental atualmente disponíveis, não se consegue estabelecer consenso na comunidade científica para descreve-los de forma inequívoca, ou seja, ter certeza firme de sua real (palpável cientificamente) existência.
Mas a Ciência não se move por certezas, e sim – paradoxalmente – pelas dúvidas, pelas perguntas! Para ter uma idéia crível sobre a realidade - para a Ciência dar respostas sobre algo que se desconhece da Natureza - em primeiro lugar necessitamos perguntar bem, saber estabelecer com clareza o quê estamos procurando saber - qual seria nossa cristalina questão, ou seja, nosso 'problema' científico. Muitas vezes não progredimos em nosso conhecimento porque não temos certeza se o que encontramos (com nossa investigação) 'responde', satisfaz efetivamente a uma dúvida que colocamos.
Em Ciência, os fenômenos tem que ser bem interpretados em seus constituintes; as hipóteses adequadamente testadas (a partir da sua trama teórica); as conclusões (a partir dos resultados encontrados e adequadamente discutidos) demonstradas; os caminhos deste tipo de conhecer passíveis de serem reproduzidos, e aquilo que é momentaneamente consensuado como o mais perto do que seja a real ‘realidade’ – ou seja, a ‘verdade’ - permitir-se ser questionado e falsificável, mediantes novas observações.
A Ciência tem instrumentos sempre limitados – seu alcance e precisão são sempre limitados, visto que a (complexa) Natureza, como apontou Marcelo Gleiser, oferece barreiras consideradas intransponíveis (bem, hoje se pensa assim) para conhece-la em sua totalidade, como a velocidade da luz, a incerteza quântica, e o crescimento da desordem (entropia). Mesmo a Matemática parece ter seções que não ‘fecham a conta’, como os teoremas da incompletude de Gödel. Quem é cientista sério sabe que o Homem sempre será de certo modo ‘míope’ para enxergar a Natureza, pois ela não nos é (e parece que sempre será) descortinável com clareza em sua totalidade. Sempre que focamos uma 'janela' da realidade - este 'pedaço' aqui do que existe - deixamos de olhar para os outros componentes desta mesma realidade, o que pode estar comprometendo nossa visão do todo... Nietzche, Wittgenstein, e outros já nos alertaram que moramos todos em (diversas) ilhas de conhecimento (mais ou menos sofisticadas) cercados de oceanos de desconhecimento, de coisas que ignoramos ou de coisas com as quais nos iludimos.
Para um dia vir a saber de tudo, o Homem precisaria conhecer e postular todas as perguntas possíveis, o que parece ser certo ‘absurdo’ – segundo alguns, algo impossível. Se um dia chegarmos a isso, nossa vida teria ainda sentido? Ou ‘seremos como Deus’, conforme alguns filosofam (pois não se pode saber o que isso significaria)?
Talvez o que melhor possamos fazer mesmo é ter esta liberdade para continuar a questionar, a perguntar sobre esta Natureza, este Cosmos, inspirados por tudo aquilo que não sabemos.