A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Dica de colunista sobre temática importante

Vou passar aqui aos amigos uma dica de colunista do Jornal Folha de São Paulo que aprecio muito - é um conhecido psicanalista italiano radicado na capital do estado. Hoje eu copiei sua coluna semanal, que reproduzo abaixo (depois comento...) :
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"AMOR" LETAL”


Contardo Calligaris, italiano, é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Ensinou Estudos Culturais na New School de NY e foi professor de antropologia médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias). Escreve às quintas na versão impressa de "Ilustrada".

<< Obtido em quinta-feira, 31 de janeiro de 2013, site jornal  F. de São Paulo,
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/1222907-amor-letal.shtml >>


Algumas reflexões depois de assistir a "Amor", de Michael Haneke. Adolescente, eu já achava bizarra a certeza com a qual alguns amigos se expressavam: "Se eu ficar 'assim'", diziam, "eu me mato na hora. E, por favor, se eu não me matar, seja generoso comigo, mate-me você".


O "assim" que justificava tamanha convicção dependia de relatos, leituras e filmes --ia desde uma impotência sexual talvez passageira (mas que parecia acabar com o charme da vida) até a condição terrificante do protagonista de "Johnny Vai à Guerra", livro e filme de Dalton Trumbo: o soldado Joe, sem braços, sem pernas, sem rosto, parece ser apenas uma carne disforme, enquanto a mente dele continua funcionando.

Eu não concordava com a certeza suicida de meus amigos; imaginava que, antes de decidir me matar, seria bom experimentar minha nova condição durante um tempo. Afinal, em geral, as imperfeições nunca impediram os humanos de viver --ao contrário.

Na época de minha adolescência, não dispúnhamos do exemplo do físico Stephen Hawking ou de Christy Brown, o protagonista de "Meu Pé Esquerdo", de Jim Sheridan. Em compensação, um amigo de meus pais, severamente inválido, disse-me, uma vez: "Você, por exemplo, não pode voar como as aves e é desafinado como um sino quebrado; ou seja, tem coisas que não pode fazer, e você vai procurar o valor de sua vida em outras coisas, que você pode fazer. Comigo não é diferente".

Entendi. Mas me sobrou um certo medo (justamente, pela leitura precoce de "Johnny Vai à Guerra"): poderia acontecer que, de imediato, por causa de um acidente cerebral ou, sei lá, de um incidente de carro, eu me encontrasse numa condição na qual eu não quisesse viver de jeito nenhum e na qual eu não tivesse sequer a capacidade material e mental de pôr fim à minha vida ou de pedir para um próximo que ele me ajudasse a morrer.

Anos atrás, conheci alguém realmente preocupado (muito mais do que eu) com essa eventualidade. Ele envelheceu desesperado, oscilando entre o medo de se matar cedo demais, quando ainda poderia viver um tempo que valesse a pena, e o perigo de esperar além da conta e decidir sair de cena quando ele não tivesse mais condição de se matar ou de pedir a alguém que o matasse.

O mesmo alguém se consolava pensando assim: no caso extremo em que eu não pudesse mais pedir, quem me ama (ou melhor, quem amava aquela pessoa que eu era antes) saberá decidir que eu, embora impedido de me manifestar por minha invalidez, não estou querendo mais viver. Nessa situação, para quem me ama (ou amava, que seja), me ajudar a morrer seria um gesto de amor.

Pois é. Não é tão fácil assim nem tão claro. Na sua coluna de sexta passada, Barbara Gancia escreveu, com razão, que "o fardo de cuidar dos idosos tornou-se um dos maiores dramas da atualidade". Os avanços da medicina fazem que, hoje, sejam cada vez mais numerosos os que cuidam de próximos que sobrevivem transformados pela idade, pela invalidez ou pela demência. E sobrevivem, muitas vezes, tanto irreconhecíveis quanto incapazes de reconhecer os que cuidam deles. Perguntas básicas. 

1) Será que o outro que nós amávamos, se ele pudesse escolher, toparia viver como ele está agora? 
2) Será que o ser do qual cuidamos hoje é o mesmo que nós amávamos antes do acidente, da invalidez ou da demência? Se ele não for o mesmo, será que esse "novo" ser não tem seus próprios critérios do que é uma vida que valha a pena de ser vivida --critérios diferentes dos do nosso amado de antes? 
3) Difícil continuar amando alguém que não nos reconhece mais. Mas será que por isso o deixaríamos morrer --por ele não ser mais aquele ou aquela que amávamos? 
4) Por que sempre chega um dia em que ninguém aguenta mais cuidar? É porque o custo (em todos os sentidos) é excessivo e queremos recuperar nossas vidas? Ou é porque é quase impossível fazer o luto de um amado que já se foi, mas continua de corpo presente? 

Acontece que alguém se suicide depois de ter matado um amado inválido e demente, de quem não consegue mais cuidar. É mais que uma maneira de evitar a culpa: renunciando a viver sem você, confirmo que foi por amor que matei você --ou melhor, que matei o desconhecido que tinha tomado seu lugar.

Pois é, foi mesmo por amor que matei você? Ou por vingança, por você ter me deixado sozinho?

Seja como for, fica confirmado, embora num sentido inabitual, que o amor resiste dificilmente ao tempo.
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Estas reflexões são importantes para discutir, em especial para os profissionais de saúde. Eu imprimi o texto e vou usar em sala de aula com os alunos mais avançados. Pensando bem, com todos os alunos; não vou julgar que se deve pensar isso somente quando se tem um ou dois anos a mais de curso... Acho agora que quanto mais cedo se pensar nisto melhor para se tomar uma posição. Os psicólogos são confrontados (na Clínica principalmente) com desafios enormes, e sei que meus alunos não fazem idéia do que vão encontrar.

Fico pensando na formação do Psicólogo - somente 5 anos de estudos o que nossa Lei determina - e no despreparo com que o jovem sai para o mercado, 'imaturo',  no mais das vezes, para as tarefas que deverão desempenhar. Faço um paralelo com a formação de ministros do Evangelho que existem em faculdades de Teologia e Seminários Teológicos de hoje (com cursos regulares de 4 anos para o bacharelado). Com a complexidade e crescentes dificuldades da pós-modernidade, será que um jovem que se forma com 22,  23 anos está preparado realmente? Nos Estados Unidos, sempre se soube, somente quem faz Doutorado em Psicologia pode exercer a Clinica - por isso que psicólogos lá são respeitados e valorados (coisa que não ocorre no Brasil). Pastores lá também tem uma formação mais abrangente, aprofundada, na maioria dos casos. Agora volto para nosso assunto de hoje, suscitado pela cronica do psicanalista Calligaris.

Para os não-cristãos esta questão da morte (e, por extensão, o matar por piedade) se torna um tanto mais complexa elucidar, tantas as referências do mundo para balizar tomadas de decisão sobre um ato que possa solicitar sua opção. A enormidade de textos éticos e legais disponíveis (em especial na web) que discutem esta temática é notória, em vários domínios do saber. Mas por outro lado, se sou cristão, assumo neste âmbito um referencial muito claro na Palavra: há um mandamento claro que determina a todo o crente saber ser Deus o Senhor da vida e, por decorrência, também da morte. Não caberia ao homem realizar algo do exclusivo domínio do Criador. Claro que existem situações extremas que impelem, pelo cansaço, desamparo ou desespero, a pessoa a agir de maneira também 'extrema'. Mas o modo de se iniciar o considerar toda esta complexidade é claro como o dia para o cristão.

Não afirmo, ainda assim, que um Pastor iniciante no Ministério estaria necessariamente, em princípio (veja bem, eu disse  'em princípio', e não  'a princípio'...), melhor preparado do que um Psicólogo para lidar com estas específicas questões, pois nossos problemas podem ser mais (ou menos) 'espirituais', mas as dificuldades de argumentação e consistência de abordagem por parte do especialista - quem quer que seja - exigem preparo em questões 'terrenas' também, e questões estas abarcadas por pessoas que não estão fortes na Palavra e/ou que não são cristãs - algo muito encontradiço hoje, dada a fuga de Deus que se observa na atualidade.

Moral da estória (?): não existe problema 'simples', para o qual soluções 'apresadas',  reducionistas, simplistas, efetivamente deem conta; temos que nos preparar, ministros, profissionais da saúde, legisladores, juristas etc., para confrontar eficazmente desafios enormes, a cada vez mais interrelacionados e abrangentes, de modo a não comprometer, ao final e ao cabo, nossa própria espiritualidade e/ou sanidade...  

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Naturais momentos tristes...

Foto obtida agora via Google Images de
http://quentinmccall.com/ten-steps-to-healing-from-bitterness-and-resentment/
(muito legal este blog, de um palestrante cristão muito conhecido)

Hoje relembrei importante lição sobre uma majoritária vivência humana, importante para o 'sentir-se vivo'... Quando as coisas saem erradas, ocorrem de modo que não esperávamos, ou quando as más notícias nos surpreendem, ficamos  tristes, por vezes aterrados. Para o cristão esta experiência pode se traduzir em profundo aprendizado de relacionamento que devemos ter com o Pai Celestial.

A primeira noção que devemos apreciar neste âmbito é que é normal, natural sentir-se deprimido, entristecido com estas situações - o nosso corpo parece responder de modo autônomo. Muitas pessoas odeiam entrar neste estado, mas ele é tão natural quanto a alegria ou a saudade. Sim, pode ocorrer que ela venha 'do nada', sem razão ou motivo - e temos de igual modo que investigar seu porquê. Pode ser necessário a ajuda de um terapeuta para debelar o incômodo físico, mas o maior problema situa-se na mente, ou na alma, se você preferir. Veja a camiseta acima: ela diz que a amargura, a mágoa é (um tipo) de veneno que tomamos e que se espera (por vezes) que outra pessoa vá morrer... É horrível passar por isso, e precisamos dar conta da provação. O problema é como lidamos com o sentimento.

Vi no devocionário hoje cedo que o cristão deve meditar um aspecto desta vivência de tristeza, de amargura natural que todos passamos: onde estamos a derramar nossas lágrimas? Se a jogamos no chão, nos ombros de pessoas (que acreditamos vá nos fazer suplantar a dor), no lenço ou no travesseiro pode ser que elas vão secar sem que as coisas mudem para mudar também nosso sentimento. Quantas vezes não queremos que primeiro  se mude o cenário, os fatos, as pessoas ou as notícias para daí sim a gente tornar o sentimento? É uma espécie de 'mágica' o que queremos.

 Agora, o cristão que faz jus ao nome deve saber que nossas lágrimas devem ser derramadas aos pés do Senhor, e crer que Ele nos dará a paz que necessitamos. Não, isto nunca se assemelha ao processo 'mágico' aludido acima, pois ser cristão não implica inação; aprendi certa vez com um importante líder que, 'imediatamente' após a oração, devemos fazer de tudo para que a bênção rogada se realize...  Ou seja, nunca se deve abster de fazer o que temos (nós e, por vezes, somente nós) que fazer. Isto implica sempre estudar a Palavra para saber o que necessitamos saber (para todos os momentos, inclusive para os tristes).

Nossa fé em Cristo determina que, pela confiança nEle, teremos o auxílio, o amparo que necessitamos em qualquer situação, mesmo as inesperadas, as temidas, as entristecedoras.  Isto é um ensino espiritual - não espere que o mundo materialista e determinista vá entender o processo e as implicações conexas. No limite, trata-se de uma experiência pessoal, pertencente ao Convênio (Pacto), à Aliança que todo cristão adentra ao aceitar Jesus como seu Salvador. O mundo exige fatos, demostração inequívoca (ou estatística) do relacionamento causa-e-efeito entre os fenômenos, mas no campo que estamos aqui refletindo, o requisito primeiro é a fé. Isto estabelece um patamar diferenciado de julgamento, de consideração das coisas, dos sentimentos e pensamentos. O cristão acredita e tem certeza que o Senhor vai ajudá-lo (soberanamente) a superar a situação, a Seu tempo e modo.

Estas vivências não se demonstram - somente podemos dar nosso depoimento. Cada um deve passar por ela e julgar. Quando se procura a Deus em primeiro lugar (e não uma pessoa e/ou suas idéias...) demonstramos que confiamos nEle. Quando procuramos alguém, pode ser que esta pessoa não nos ouça como necessitamos, mas podemos ter certeza que Ele nos ouvirá. Não podemos passar pelas experiências espirituais com os olhos do mundo - nunca nos satisfaremos com as 'justificativas', com as suposições especulativas, com as expectivas causais, deterministas que o senso terreal  solicita ou fornece. 

No domínio do mundo, temos que 'ver para crer'; ou seja, demonstrado os fatos e sua ligação, aí (então) cremos. No reino espiritual, temos que ter em mente que a questão é pessoal (entre Deus e nós, sua especial criação), e que a equação se inverte. O que ocorre é que a todos é feito o convite: "vem, e vê" (João 1: 46; 11: 34; Lucas 6: 47; Apocalipse 6: 3 e 7; 22: 17)... ou seja, experiencie, vivencie o relacionamento com Deus, experimente a graça (sobre graça) imerecida, e saiba do fundo do coração que, se tiver a fé, aí então 'verá', conhecerá, saberá.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Mosquito e o Touro: presunção...

Foto obtida agora via Google Images de
http://blog.opovo.com.br

Vamos dar agora uma pausa nos posts sobre o Nobre Caminho Óctuplo, para um pequeno comentário, tendo uma fábula de Esopo como pano de fundo. Esta fábula é muito conhecida (se você colocar a primeira parte do título deste post no Google Images, verá o endereço de vários blogs que comentam sobre a fábula...) e relata um mosquito que, após ficar zumbindo por vários minutos em volta da cabeça de um touro, finalmente pousou na ponta de um dos chifres e respeitosamente perdiu perdão ao boi por perturba-lo: "Se meu peso está lhe causando algum inconveniente, basta você me dizer que eu me retiro num momento!"  Respondeu-lhe o touro "Oh, não se preocupe com isso; para mim tanto faz se você ficar ou permanecer... Para lhe dizer a verdade, eu nem mesmo  tinha reparado que você estava aí..."  No libreto que sempre consulto (Zipes, Jack. Aesop's Fables. London: Penguin Books, 1996, p. 104; Penguin Popular Classics n. 20), a moral da estória adverte-nos que quanto mais pequeno é o espírito, maior a presunção.

No dicionário Houaiss, 'presunção' remete tanto à idéia de uma opinião demasiado boa e lisonjeira sobre si mesmo, quanto às idéias de imodéstia, vaidade; remete à confiança excessiva em si mesmo, à pretensão. Remete também, segundo vejo, à vaidade, orgulho e soberba, mesmo até certa arrogância. Desde que o mundo é mundo esta tendência é muito encontradiça nas gentes, em especial as que necessitaram realizar um esforço de superação de dificuldades (notadamente as interpessoais) na infância. Não escolhe idade, sexo ou condição, mas parece acometer mais àqueles ou àquelas que se encontram em posição de poder, qualquer que seja ele - principalmente nos políticos...

Eu vejo nisso a evidência da falta de sabedoria; no limite, falta de Deus no coração. A mínima reflexão que o vivente possa realizar remeteria ao questionamento desta infeliz postura, e isso não só resultante dos embates e 'cabeçadas' que a vida nos endereça neste mistér, mas também, e complementarmente, do simples e sincero meditar sobre as dificuldades e descalabros dos nossos semelhantes neste âmbito. 

Vigio-me sempre para averiguar se não caio nesta tentação, pois conto comigo somente: as pessoas, no polo positivo, temem ser tachadas de grosseiras ou enxeridas, e evitam assim ser sinceras. E deste modo podemos ter ou demonstrar a pecha aqui discutida, mesmo sem o desejarmos... Que falta me faz um amigo de verdade! Mas parece que é um 'artigo' muito raro nos dias de hoje, e me pergunto sempre o porquê - será a TV? As novas mídias sociais? A superficialidade dos relacionamentos, o efêmero dos contatos interpessoais? A complexidade - e também a velocidade - às quais a tékhnè nos impele? O fato é que nem nas Igrejas, nas Comunidades religiosas, onde deveria imperar outro tipo de valor, de viver, se encontra facilmente amizade como Cristo demandou, modelo perfeito que foi para a Humanidade. 

Que riqueza se você tiver um amigo ou amiga que te goste do jeito que você é, e que não tema ser honesto(a) sempre contigo: vale mais que muitos rubis... Mas como disse, amizade de verdade é coisa escassa hoje em dia, infelizmente. Colegas ou 'conhecidos' temos diversos mas, amigos, talvez os contemos numa vida somente nos dedos de uma só mão!

sábado, 26 de janeiro de 2013

A Fala Correta


Interessante ficar estabelecido, desde os primórdios dos ensinamentos proferidos pelo Lorde Sidharta a necessidade de cultivar a Fala Correta. Quantos sábios não apontaram para as inúmeras ruínas pessoais, sociais, comunitárias, nacionais etc. determinadas pelo uso impróprio da linguagem. A língua é uma espada de dois gumes! Tanto constrói como destrói.

Todos sabemos que para falar corretamente temos que pensar corretamente; em outros termos, a Fala Correta baseia-se no Pensamento Correto (q. v.), pois o falar consiste no nosso pensamento, expresso sob a forma de encadeamentos adequados de sons, que se articulam em conceitos, estas em ideias, e estas originam os raciocínios. O fantástico é que quando falamos, nossos pensamentos adentram a esfera do público – não mais nos pertencem, deixam de ser particulares, e isso falando pessoalmente, via computador ou pelo telefone...

Estes tempos tem a marca dos sistemas e técnicas de comunicação cada vez mais sofisticados e abrangentes; o que ocorre num lugar pode ser imediatamente conhecido no outro lado do mundo! As ferramentas disponíveis parecem conectar as pessoas instantaneamente, pessoal ou remotamente, analógica ou digitalmente. O contraditório é que a comunicação interpessoal parece, a cada momento, mais difícil de realizar-se de modo excelente, profícuo, pois há muita incompreensão, bloqueios, mal-entendidos e aborrecimentos a partir do que o outro nos diz aqui e acolá. 

A condição fundamental da Fala Correta é o ouvir com atenção. Pode parecer banal, mas o que menos se vê é alguém ‘escutando’; os diálogos por vezes parecem solilóquios, discursos para plateia que não quer ouvir, monólogos frente ao espelho. O que sabemos é que, assim,  se não se consegue escutar de modo cônscio, não se pode realizar a  Fala Correta, pois fica-se girando em torno de nossas ideias, não respondendo ao que o outro ou outra efetivamente disse. Eu vislumbro isso toda vez que tenho a impressão, a partir do que o outro profere, de que este outro não está a me escutar; é como se ele ou ela parecesse não assumir ou considerar o que eu estou pensando, dizendo em nossa conversa, nas suas falas... é muito estranho. Tem conversa que saímos dela ‘iguais’ como no começo da mesma!

Muitas vezes consultamos um terapeuta porque não conseguimos conversar com o próximo e, pior, conosco mesmo... A pessoa que tem problemas comunicacionais habitualmente tem dificuldades na família, no emprego, na escola etc. Um dos conselhos que os psicoterapeutas encorajam é a pessoa escrever o que precisa falar – cartas ou mesmo e-mails. Escrever dá mais segurança pois pode-se refletir melhor o que vai se dizer; visualizamos o que o outro pode pensar, ao lermos nossas palavras e, assim, ‘calibrar’ nossos termos e avaliar sempre a adequação do que queremos transmitir. Mas escrever é difícil, tememos a avaliação do outro.

Um outro conselho, agora prescrito por mestres zen, é praticar o silêncio; em outras palavras, ficar menos dependente e escravizado pelas palavras. Quando se pratica o silêncio, meditando sentado, andando ou agindo (p. ex., lavrar pratos é uma excelente contemplação, dizem os adeptos avançados da meditação, o que eu concordo em gênero, número e grau) abrimos boas portas para exercitar a clareza dos nossos próprios pontos de vista e averiguar os bloqueios que subjazem em nossa forma de pensar. Se aprendermos a ouvir com a mente em silêncio, veremos que podemos compreender muito mais a partir das mesmas coisas que estão à nossa frente.

A fala, como qualquer ferramenta, é perigosa se usada de modo impróprio. A pessoa sábia é aquela que se conscientiza que a fala deve ser construtiva, amorosa, compassiva. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Relatividades... e outros comentários

Foto obtida agora via Google Images, de
http://rodrigobennett.blogspot.com.br/2011/04/2-ano-unificado-revisao.html


Que tempos, os atuais... Não, não vou ficar rememorando o passado, como é costume da humanidade, desde que o mundo é mundo... Sempre os tempos passados serão ‘melhores’ que os atuais, pois esta (vaga) impressão prende-se mais às emoções da imaturidade do que a uma análise realista, concreta, que compare situações parcamente assemelhadas de modo isento. Talvez o mais correto seja dizer – que situações estas...

Pois é. Gosto de ficar lendo jornais (acho que já disse que isto vem da minha infância, pois meu pai sempre assinou os 2 principais jornais do estado de São Paulo), coisa que chego a gastar quase 2 horas. Leitura e reflexão de jornal impresso e digital: atualmente é a Folha de São Paulo (que ocasionalmente troco pelo Estadão com o amigo Nathanael) e o Diário Popular (de Campinas, SP).  Vejo principalmente a economia e o ambiente de negócios, as tendências, os principais colunistas (de várias áreas), as esquisitices da conduta humana e a parte da Literatura. Tudo isso me é importante para manter atualizado para as docências diversas que sou responsável. Ah, e sempre recorto algo para usar em sala de aula, acho que é motivador para o aluno refletir coisa bem atual...

Vi ontem que a nossa Presidenta da República mandou baixar ‘por decreto’ o preço da energia elétrica. Qualquer mané hoje sabe que isto não se faz, mas no Brasil o populismo, jogar para o eleitorado, ainda é prática primordial dos nossos dignos representantes democráticos, praticantes em sua maioria da mais abjeta política. E ela parece afirmar, com toda a candura, que tal medida ‘não vai onerar o Tesouro’... Fico pensando se Planejamento, Projeto e Estratégia não são disciplinas prioritárias no serviço público, pois na iniciativa privada certamente o são. Por outro lado também me consolo, ao ler os jornais, pois eu poderia ter nascido em outro país, e é só olhar para alguns vizinhos nossos aqui do continente para ver que lá também os políticos fazem cada coisa! Acho que é atavismo inerente à classe...

Ante-ontem li crônica interessante de Marcelo Coelho na Folha (Tempo de Kindle, caderno ‘Ilustrada’, quarta-feira, 23 de janeiro de 2013, Ano 92, nro. 30.611, p. E-8). Ele falou de algo caro para mim, que sou de tempos antigos: as características ‘fisicalistas’, concretas, materiais dos livros impressos, como p. ex. o cheiro do livro. Ele derruba muitos mitos criados por esta ideia do livro de papel, mas acho que ele nunca teve uma Enciclopaedia Britannica, senão diria que gosta do cheiro, sim... Mas, falando sério, ele fala coisas precisas (quem nunca cortou dedo com folha de papel – arde à beça...) na comparação com esta fase atual de supervalorização do livro eletrônico, do e-book, do arquivo digital. Boa colaboração nesta fase de transição.

Mas o que eu queria ilustrar com este exemplo é a mania pós-moderna de desconstruir tudo. Hoje nada mais parece ser bem estabelecido – sempre tem alguém para nos alertar (às vezes fica somente na pretensão...) de nosso erro ou engano, ilusão, como a precificação das commodities, o valor do livro, a religião ou religiosidade etc. Sempre tem um quase-mané para palpitar, e pior, quando demonstra não ‘ter feito a lição de casa’ para proferir suas opiniões (tem alguns que falam cada bobagem!! E o mais gozado é que não parecem ligar para o ‘mico’ que estão a pagar... ). Acho que existem colunistas hoje nos jornais matutando o dia todo sobre qual sandice irão proferir para manter suas colunas polêmicas. Eles acham cada coisa para comentar, algumas úteis outras perda total de tempo! Mas não existem mais, ao que parece, valores eternos, fixos, imutáveis (a não ser para o cristão, pois Deus, cremos, não muda: ele é fiel, e Sua Palavra subsiste para sempre); tudo é relativo, provisório, questionável.  Fico a pensar nos jovens de hoje, que ficam como que 'perdidos' mesmo, com tanta gente falando contra e a favor de algo, ao mesmo tempo. Quem ainda não tem senso crítico formado padece sem dó, ao que parece!

Ontem vieram aqui nos visitar o bebê Ariel e seus pais, o sobrinho da Ruth, Sandro, e a esposa Jéssica. O casal foi ao banco perto aqui no centro e deixou comigo o petiz, que não sentiu falta dos genitores. Ele é muito inteligente e bem amadurecido para a idade; gosta de explorar o ambiente e de aprender, mediante diversas brincadeiras, e eu gostei de averiguar quantas estruturas psiconeurológicas e psicomotoras o nenê já possui. Depois que Ruth chegou da rua e começou a fazer o almoço, fiz o guri dormir – logo pegou no sono, cansado de andar com os pais e de me suportar, e 'desmaiou' por uma hora. Ainda estou bem treinado na lida com a nenezada, veja só; fiquei emocionado ao lembrar do quanto eu cuidava e embalava meus quatro filhos. Aproveitei bem enquanto eles foram crianças, com a graça de Deus. Isto, as boas lembranças e o amor que se dedica às crianças, as ex-esposas, que amam ver o pai sofrer a saudade e a ausência longe dos rebentos (que modo lamentável se pensar valorizadas, inclusive fazendo assim sofrer também os filhos e filhas), nunca podem tirar dos pais...

Meus pais estão, em Campinas, digitalizando centenas de slides antigos, fotos tiradas na nossa infância. Vou pegar todo este acervo e mandar para meus filhos, pois meus netos e bisnetos terão curiosidade de ver como eram meus pais e avós, com toda a certeza... É muito importante cultivar os laços com as pessoas de onde viemos. E nunca vi ou soube muitos detalhes de meus bisavós ou seus pais e avós, e eu adoraria conhecer de onde vim. Imagine se eu encontrasse um antepassado de quem eu sou hoje uma espécie de ‘reedição’? Pois é bem possível: meu filho José Geraldo ficou pasmo ao saber que seu primogênito, o Drake, era muito parecido comigo, e que era parecido com ele também quando nasceu, um nenê que parecia um japonezinho, com olhos bem puxados, branquinho e risonho...

Hoje é data comemorativa da cidade que nasci - São Paulo. Tenho satisfação em dizer que sou Paulista, Paulistano e São-Paulino, e ainda por cima nasci no Hospital São Paulo. Poderia me chamar Paulo, que nome de peso - admiro muito o evangelista. Tenho até um Dicionário sobre os seus escritos, muito bom!

Agora vou ao centro - fechar conta em banco, averiguar o jornal do dia (não assino porque normalmente leio na Universidade, e o entregador aqui é muito irregular...), encontrar algumas pessoas para trocar idéias. Amanhã dou continuidade com a série sobre o Caminho Óctuplo, prometo!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Caminho Óctuplo: a Atenção Correta.


Continuando com nossas singelas prédicas sobre a existência plena na psicologia budista, veremos hoje, depois de viagens de férias, o terceiro aspecto compreendido no Nobre Caminho das Oito Vias, ou Caminho Óctuplo.

A Atenção (Plena) Correta sempre esteve no âmago do ensino do príncipe Sidharta, abrangendo a energia que nos traz, a cada momento, precisamente de volta para o momento presente, o que vulgarmente se nomeia o ‘aqui-e-agora’. É um dos mais preciosos ensinamentos, e existem livros e livros dedicados à sua compreensão. Tentarei aqui resumir um pouco do ensinamento oriental, sabendo que algo se perde neste esforço de concisão. Conto com sua paciência!

Na psicologia budista, a atenção tem a característica de ser universal; em outros termos, sempre se está dando atenção a algo, mesmo quando se está devaneando, aparentemente alheio aos fatos. Nossa atenção pode ser apropriada, quando estamos inteiramente imersos no momento presente, ou pode ser inapropriada, quando nos atemos a algo que nos afasta do aqui-e-agora. Assim, a atenção plena consiste em lembrar-se de voltar constante e conscientemente ao momento presente, que é onde nós efetivamente existimos.

Um dos caminhos ensinados no Zen Budismo para treinar a atenção plena (conheço muitos outros...) consiste em praticar os ‘Sete Milagres da Atenção Plena’.  O primeiro deles é atentar para a miríade de fenômenos e coisas que nos cercam, a profusão de eventos e oportunidades com que somos agraciados a cada momento. Creio que o principal desta constatação de inúmeras ‘coisas’ que nos cercam é que Pessoas, não meras outras pessoas, outras indiferentes e anônimas gentes, se nos relacionam, a cada momento. Cada pessoa com sua história e valores únicos. Estar atento de modo pleno com estas pessoas pressupõe ser capaz de entrar em contato profundo com estas pessoas e os diversos elementos de sua pessoalidade (algo que, se não cultivarmos a Atenção Plena, se perde, ou seja, dela, sua pessoalidade singular, não nos tornamos cônscios).

O segundo milagre da Atenção Plena consiste que as coisas e principalmente as pessoas também se façam, com nossa Atenção Plena, efetivamente presentes para o pleno (enriquecedor) encontro. Na psicologia búdica, se algum de dois indivíduos não se faz ‘presente’, é como que a realidade do encontro se tornasse como que uma ilusão, um sonho, pois o corpo pode estar presente, mas a mente não;  então, rompida a dualidade (que se pretende indissociável) mente-corpo, a pessoa tem uma parte de si num lugar, e outra parte noutro lugar; somente uma delas está ‘presente’...

O terceiro milagre da Atenção Plena consiste em alentar, nutrir o objeto de nossa atenção, não ser indiferente ou neutro em relação a ele, implicando nos devotar todo o nosso ser na relação, no envolver com o outro. Implica também evitar pressuposições, assumir ‘verdades’ sobre o outro ou coisa, sem base, o que atrapalha descobrir fatos novos e auferir a verdade em si a partir da relação.

O quarto milagre da Atenção Plena é, coerente com o que prega a doutrina búdica, aliviar o sofrimento de outra pessoa, que se materializa inclusive nos pequenos gestos, como, p. ex.,  o modo com que olhamos para o outro. Assim, amar pode significar também nutrir o outro com nossa atenção, com nossa presença ativa. Já se disse que a melhor coisa que podemos fazer na situação de alguém que está a entregar sua alma é estar a seu lado, ‘apoiando’. Não se pode às vezes fazer mais nada para evitar a morte da pessoa, mas ela morrerá muito melhor se estivermos ao seu lado atentamente, do que se ela falecesse sozinha.

A contemplação profunda, um dos aspectos da meditação, é o quinto milagre da Atenção Plena, consistindo no fato de que, relaxados e concentrados, poderemos nos habilitar a olhar para os objetos e fenômenos com profundidade: estar-se-á cônscio do conteúdo de nossa Consciência sobre aquilo que se está a contemplar.

O sexto milagre da Atenção Plena é a compreensão resultante, como quando entendemos algo dizemos “ah, agora ‘vejo’ “. Ou seja, começa-se a ‘enxergar’ algo que antes não se vislumbrava; algo que surge à nossa frente ou em nossa mente, quando a constatamos dizemos que este algo apareceu, surgiu ‘dentro’ de nós. Ver, enxergar, surgir, compreender, tudo isto ocorre aqui neste momento, aqui-e-agora.

Finalmente, o  sétimo milagre da Atenção Plena é a mudança ou, uma palavra melhor, transformação, que ocorre como resultado da prática séria, consciente. Mas transformação de quê? Do sofrimento, de nossa dor, do apego. Atualmente vemos uma exacerbação do apego das pessoas com as coisas ilusórias da sociedade consumista, redundando muitas vezes em vícios, sendo o mais trágico os relacionados às drogas, lícitas ou ilícitas. Chega-se ao ponto de as autoridades terem que internar, contra a vontade das pessoas, os adictos em clínicas, pois elas não tem mais como visualizar seus desejos decaídos, destruidores, e os efeitos decorrentes de suas atitudes. Mas nunca vão se reerguer, curar-se, se não estiverem cônscias, se não virem claramente (ou seja, com Plena Atenção) o que elas fazem consigo...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

225a. postagem: volta de Belô e livro Nathanael

Tirei esta foto antes de ir ao Aeroporto de Confins (da esquerda para direita:)
Tia Cordélia, Ruth, Maria Luísa, Bernadete, Tia Aurinha e Tio Cláudio


Na sexta feira próxima passada a Família Cláudio Dutra nos convidou para um almoço de despedida. Muito bom ter reencontrado nestas férias todo o pessoal - nossa família paterna é pequena, inclusive porque infelizmente um irmão de meu pai - Tio Clóvis - faleceu ainda jovem, deixando uma filha - a querida Claudinha, que mora atualmente no estado do Rio de Janeiro (ela tem duas jovens filhas). Este divertido tio Cláudio é mais velho que meu pai e trabalhou com Geologia muitos anos na capital de Minas Gerais, tanto no serviço público quanto na iniciativa privada. Ele conheceu a Tia Aurinha (uma gaúcha) quando estavam fazendo cursos nos Estados Unidos, veja só. Eu e meus irmãos gostávamos muito quando crianças de visitar estes Dutras de Belô, pois eram e são muito simpáticos, atenciosos e amorosos. Fazem de tudo para agradar a gente, especialmente as primas queridas, e sempre que podemos voltamos aqui, meus irmãos todos (ao que parece meu mano Serginho vem logo-logo visitar a turma; Luciano também sempre vem, bem como Lúcia e Lia). Lembro-me que tinham todos muita paciência com as bagunças que eu e meus outros irmãos fazíamos (minhas irmãs eram mais comportadas), e minha avozinha Zizi (Adalgiza) só sorria com as traquinagens. Alguns anos antes de entrar na faculdade eu vim a Belo Horizonte para treinar atletismo com uma mineirada boa mesmo, no Clube Atlético Mineiro, sendo que em 1971 competi aqui pelo estado de São Paulo nos Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs), tirando o segundo lugar nacional em arremesso de disco. Bons tempos aqueles...

Tencionava escrever logo este post, mas fiquei os 2 últimos dias sem internet - problemas de cabeamento fora de nossa cidade, segundo nos informaram. Mas, continuando, depois do almoço fomos ao aeroporto pegar o avião às quase 18 horas, e chegamos a Campinas antes das 19 e 30 horas, computados alguns atrasos 'normais' dos terminais. Ficamos no apartamento dos meus pais e voltamos a São João da Boa Vista no sábado na hora do almoço. Tínhamos um importante compromisso: o lançamento do livro de meu amigo Nathanael de Oliveira Neves, que eu ajudei a escrever (ele ditava e eu digitava, organizando a cronologia e o enrêdo). A conhecida professora Clineida Jacomini (minha ex-colega no Centro Universitário UNIFEOB e irmã na Igreja Presbiteriana) fez a revisão literária. A Gráfica Sanjoanense imprimiu as cópias, entregues gratuitamente a todos os presentes.



O evento ocorreu no salão nobre do UNIFAE, a universidade onde trabalho. Nas fotos acima, à esquerda o autor, forte e desenvolto nos seus 86 anos; o autor e seus familiares; a capa do livro, e uma vista do auditório, com o pessoal que compareceu ao evento. Após as falas de praxe houve a sessão de autógrafos, ao som de música de câmara, provida pelo maestro João Rios, pai do designer Thales Rios, que fez a capa do livro. Foi uma boa experiência ter colaborado com meu amigo neste um ano e meio de 'trabalho' que demorou a feitura do livro; na verdade nos divertimos muito, e sempre tinha um lanche ao final da tarde, preparado pela querida esposa Isabel...

Acima, Nathanael autografando; 
abaixo, Isabel, a filha Naísa (que prefaciou o livro), e Ruth.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ainda em Belo Horizonte...

Tia Cordélia e Elaine
(fotógrafo Lucas)

Uff! Vejam só um almoço típico na casa da tia, elaborado com maestria pela Elaine (aliás, obrigado pelo empréstimo do computador para estas postagens): arroz, feijão, 2 tipos de suco (além da água de coco), carne assada com batata, salada com 7 tipos de verduras e legumes, suflê de queijo, e sobremesa (arroz-doce) indescritível... É difícil manter o peso aqui! Já estamos nos preparando para dar uma extensa caminhada até o centro da cidade de modo a manter as calorias sob controle, isto depois do cafezinho das 16 horas...

A semana toda tem chovido, e bem. Eu gosto demais de chuva, e sente-se até certo frio por aqui. Logo cedo saio para comprar o jornal Folha de São Paulo, que é encontrado com facilidade. Gosto de me manter 'antenado', e sempre retiro dali algum material para preparar aulas para meus alunos. Quando forneço um texto de jornal parece que os alunos se motivam mais a ler a matéria, e podemos debater os assuntos de modo mais aprofundado. Tenho a impressão que a moçada não aprecia muito ler, não... então a gente lê em sala mesmo, que fazer. O resto do tempo vejo a TV - sempre se acha algo 'palatável' na tv a cabo, principalmente nos canais de documentários e ponho a leitura em dia. 

Ainda antes de pegar o avião para vir para cá descobri um livro recente sobre religiosidade e já estou quase terminando. Chama-se 'A razão de Deus: ciência e fé, criacionismo e evolução, determinismo e liberdade', de José Carlos de Assis (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012). O título me pareceu ambicioso, e o autor não reconheci entre os habituais da área. Vi depois que é (aparentemente, pois a plataforma Lattes/CNPq informa somente mestrado e doutorado em Engenharia, sem declarar formação acadêmica) um economista político, mas que talvez tivesse algo a dizer. De qualquer forma, pareceu sério, ainda que a proposta fosse inusitada: defender a existência de Deus, ao falar sobre Estado, valor, Criação, e paranormalidade, além dos temas 'normais' de homem, da religião, do bem e mal, e da ética (ele coloca o termo 'estado' com  maiúsculo, como também 'criação' e 'deus'; os demais tópicos com letra inicial minúscula...). Como esperado, o capítulo sobre Estado é muito bom, mas outros deixam a desejar, pela superficialidade. Mas não é um pastiche oportunista, ao que parece. Encontrei poucos erros de revisão, que fazem algumas frases perderem o sentido, mas o que me chamou a atenção é a citação (p. 93), inusitada para um acadêmico (há 7 anos ele é professor numa Universidade Federal), de uma passagem da Wikipedia para ilustrar um fato da Reforma Protestante, ocorrido em 15 de maio de 1525. Todos sabemos que esta fonte não é das mais acreditadas para sustentar discussões, mas como o autor trabalhou muitos anos na área de jornais como repórter e editor, não parece preocupado em discutir, mas apresentar suas idéias. Ah, e numa passagem (p. 211) ele diz que 'homossexualidade e uso de contraceptivo não são uma questão ética, mas moral'. Não posso afirmar que o autor não saiba que 'ética' e 'moral' são, grosso modo, no âmbito da Ética, sinônimos. Mas recomendo a leitura - sigo a máxima "leia de tudo, retenha o que é bom". Para mim fica principalmente a lição de ter sempre muita humildade na hora em que eu for escrever meus futuros livros, com prudência e cuidado redobrado. 

Estas duas semanas de férias que sobram vou me ocupar em preparar todas as aulas do semestre. Muitas disciplinas são reedições do mesmo conteúdo previsto em ementas oficiais fixas, mas sempre tento atualizar os temas com textos e materiais recentes. 'De quebra', procuro com esta estratégia incentivar os alunos a lerem jornais (e revistas, especialmente as científicas ou de divulgação científica), especialmente alguns colunistas ligados à nossa profissão, como o psicanalista Contardo Calligaris, que escreve às quintas no caderno 'Ilustrada' da Folha de S. Paulo

Amanhã retornamos a Campinas, devendo chegar ao cair da tarde. E já vamos pensar em quando voltar a Belô...  

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Belo Horizonte...

Foto obtida agora via Google Images, de
http://www.brazil-travels.com/Belo_Horizonte_vacations_hotel_packages_tours.html

Estamos, Ruth e eu, em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, na morada da querida Tia Cordélia, mana mais velha do meu pai. Ela nunca se casou, morando solita neste grande apartamento, de 4 quartos. Neste belo prédio (um apartamento por andar) também residem o outro tio (Cláudio) com a esposa Aurinha, e também, noutro apartamento, as suas filhas, as primas Maria Luiza e Bernadete. Chegamos anteontem via aérea, vindos de Viracopos, Campinas, aeroporto de muito movimento, cheio de gente! O curioso é que, comprada com antecedência a passagem pela empresa Gol, voamos num 'sucatão' (Boing 737) pintado com nome e as cores da célebre VARIG - pensei que tinha sido extinta esta marca. Para variar, o voo saiu com certo atrazo, inexplicável, mas 'normal' nesta brazólia. Nem um 'refri' nos serviram, 'pobreza'... Pousamos em Confins, aeroposto distante 40 km daqui da capital; por mais que se tente é difícil voo para pouso no aeroporto de Pampulha, um bairro aqui na cidade mesmo. Fico a pensar como precisamos melhorar nossa infraestrutura aeroportuária até a futura Copa do Mundo e também as Olimpíadas. Mas acho que vamos certamente passar vergonha e ser mais uma vez motivo de piada no resto do mundo, que fazer...

Quando criança a gente costumava vir aqui para 'Belô' - o bairro aqui da rua Ramalhete, um cruzamento da afamada Rua do Ouro, era 'periferia' e cheio de espaços vazios. Antes de todos se mudarem para este prédio aqui no mesmo quarteirão, moravam numa casa assobradada enorme. Gostosas memórias, inclusive por causa dos quitutes da Vó Zizi (Adalgisa). Tinha até um riacho pertinho da casa. Hoje a grande avenida Afonso Pena foi prolongada até mais acima, e os muitos prédios tampam a bela visão da cidade lá embaixo, que costumávamos apreciar. E agora aqui, na Serra, como chamam esta região da metrópole, é um lugar muito chic, de pessoas abastadas e bonitas. 'Cada' mansão construiram por aqui... Tem muitos jovens fazendo corrida e caminhada pelas ruas, exercitando nas diversas academias, e refrescando-se nos muitos barzinhos e cafés. Fico observando e meditando sobre as caras, bocas e gestos - eu tinha que virar psicólogo mesmo. (As pessoas dizem que psicólogo 'só fica analisando'; bobagem, só quando algo nos chama a atenção, pelo inusitado ou pelo disruptivo! Nem mesmo quando nos pedem para analisar a gente 'analisa' - somos muito profissionais... Alguns deslumbrados podem fazer isso, mas talvez só em início de carreira,  ou bobamente, quando estudante, mas logo se apercebe que isto é insensatez)

O trânsito é horrível, como toda cidade deste porte, problematizado pelas onipresentes (e perigosas) motocicletas. Andar à pé é interessante, pois permite que a gente veja melhor as pessoas e as construções. Os mineiros são algo diferentes na fala e nas atitudes, e todos reconhecem que sou paulista, apesar de minhas raízes mineiras... Em geral são mais cordiais. Fomos num shopping center que fica aqui perto, a Savassi, que tem já algumas décadas, segundo consta, mas que foi ampliado e reformado, pois parece novo em folha. Muitas lojas, uma bela livraria (mas muito bagunçada a disposição dos diversos assuntos) com muitos funcionários, muitos seguranças e variedade de ofertas, além dos inevitáveis cinemas. Pelo menos tinha bons banheiros, apesar de poucos para aquela enormidade de usuários.

Na verdade, a gente não veio aqui para ficar passeando, pois como é difícil a gente encontrar os Dutras daqui, temos que aproveitar para colocar a conversa em dia... O mais legal é curtir a tia, simpaticíssima e lúcida nos seus 95 anos. Ah, e comer as especialidade mineiras da secretária Elaine, solítica e sempre amiga.

 Tia Cordélia e Bilú

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Pensamento Correto


O Pensamento Correto é o que resulta quando a Compreensão Correta se configura como parte integrante de nosso ser; esta, a Compreensão Correta, é o fundamento, o alicerce do pensar. E se aprimorarmos o Pensamento Correto, reciprocamente nossa Compreensão Correta irá se aperfeiçoar.

No Budismo se diz que o processo de pensar é a fala da mente, e o Pensamento Correto tornará nosso falar mais claro e benevolente. Como o pensamento é o motor da ação, conduz ao agir, o Pensamento Correto é fundamental para conduzir a cada um ao caminho da Ação Correta. O Pensamento Correto reflete a maneira, a forma como as 'coisas' se constituem. O pensamento errôneo faz-nos visualizar os fenômenos de modo confuso, desfocado, e é um sintoma de como nosso corpo e nossa mente estão dissonantes, ou seja, estão funcionando em desarmonia, de forma não unificada, como na situação onde nossa mente está pensando uma coisa e nosso corpo está fazendo outra. Esta é uma situação muito comum - mais usual ainda, penso eu, nestes tempos altamente cibernéticos...

Quando a mente e o corpo não funcionam em uníssono, 'perdemo-nos' a nós mesmos e não se pode afirmar realmente que se está - aqui-e-agora -  presente. Isto, a dissonância, ocorre em grande parte por causa do fato do nosso pensar ser, em sua maior parte, desnecessaria, visto que nossos pensamentos comuns são limitados, dotados de parca compreensão. Nunca a nossa mente descansa (nem quando dormimos - o que são os sonhos, os pesadelos?) e nossos pensamentos ficam 'pulando' para ali e acolá, percorrendo assuntos díspares constantemente - é o que o budista diz da 'mente de macaco'.

Uma explicação para esta 'mente de macaco' é o apêgo excessivo às palavras e conceitos. Quando, em meio à cotidiana voragem do nosso existir, nos perguntamos 'o quê estou -a aqui-e-agora - fazendo?' podemos subitamente nos libertar das amarras a que nos dispomos - tanto ao passado quanto ao futuro - e podemos retornar ao momento presente, de modo a vivenciá-lo integralmente. Aprendi meditando que as pequenas ações são preciosidades particulares. Quer ver um exemplo? Lavar pratos para muitos é tedioso e aborrecido, mas se nos dispomos a vivenciar plenamente o momento, aprendemos que lavar pratos pode ser uma meditação preciosa, se a realizamos com atenção e gratidão. Ou seja, se estamos realmente presentes (pois o passado já foi, é memória, e o futuro é uma abstração, uma possibilidade) lavar pratos pode ser uma experiência intensa, profunda e extremamente agradável. Mas se lavamos pratos pensando no que se poderia estar fazendo, sobre a obrigação que esta tarefa repetitiva traduz, sobre...; nosso corpo está a realizar tarefas mas nosso pensamento não está 'junto', e possivelmente não lavaremos bem os pratos e ficaremos aborrecidos, chateados!

Quando se pratica a Compreensão Correta e o Pensamento Correto, aprende-se a viver o 'aqui-e-agora', o momento presente, que é o quê unica e precisamente temos (pois o passado já se foi e o futuro é incerto) e assim poderemos entrar em contacto com a alegria, com a paz e a libertação das amarras que o viver nos habitua, nos condiciona, e para as quais não estamos  antenados, despertos, alertados, prevenidos. Estas amarras quase-invisíveis encerram muito de nosso sofrimento, fazendo-nos encapsular em nosso egocentrismo. Urge aprender o caminho que nos liberta de nós mesmos...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Compreensão correta


A primeira prática do Nobre Caminho Óctuplo é a Compreensão Correta, que encerra uma profunda compreensão das Quatro Nobres Verdades - o sofrimento, seu aparecimento, o fato de que o sofrimento pode ser transformado, e o caminho preciso de sua transformação.

A Compreensão Correta não pode ser descrita - só se pode apontar sua direção. Não é possível explicar o gosto da jabuticaba para alguém que nunca experimentou uma em sua vida. Pode-se tentar descrever, mas não se é capaz de dar ao outro a experiência direta; a pessoa tem que experimentar por si mesma o fruto.

É ensinado que mesmo um mestre não pode transmitir o que seja a Compreensão Correta; ele pode ajudar-nos a identificar as sementes da Compreensão Correta em nosso baú de vivências, e pode nos ajudar a ter confiança para praticar, mesmo proporcionando algumas sementes adicionais no solo de nossa vida do dia-a-dia. Mas o lavrador teremos que ser nós mesmos; é algo que não se delega a outrem, como o alimentar-se: nós é que temos que decidir e agir no sentido de alimentar nosso corpo; não podemos pedir para alguém ir almoçar em nosso lugar... Pode-se até casar com alguém por procuração, mas mesmo para efetivar o casamento nós é que temos que estar presente com nosso cônjuge para consumá-lo.

Uma chave para 'adubar' as boas sementes da Compreensão Correta que carregamos é viver com atenção plena, que significa respirar conscientemente, caminhar e vivenciar cada momento de nossa vida com plena e grata atenção a tudo o que nos é dado.

Outra chave que se aprende é que ficar pensando, conceituando e 'percebendo' tudo a todo momento na verdade tudo isso nos faz 'presos' à mente que tende a compartimentalizar tudo, como na tendência a catalogar as coisas e fatos como 'bom' ou 'mau', certo ou errado, inclinação a considerar as coisas de maneiras relativas, subjetivas, situacionais. No limite, qualquer ponto de vista traz a incorreção em seu bojo, pois nenhum ponto de vista pode representar a verdade total.

Quando se aperfeiçoa a Compreensão, aprendemos que as suas sementes em nós estão obscurecidas por 'camadas' de desapontamento, mágoas e ignorância, que temos que domar.  Nossa mente nos engana por demais - pensamos (p. ex. percebemos, julgamos, concluimos) muito errado; nossas hipóteses sempre tem vícios que precisamos pacientemente depurar... Aprendemos que os outros também tem as mesmas sementes dentro de si, e que a prática concreta é o que nos faz a todos, a cada passo, mais sábios em nossa Compreensão.

Ter a Compreensão Correta é ter 'olhos abertos', os mais descompromissados possíveis; abertos à experiência, sem medrosamente (defensivamente) 'pré-catalogar' tudo o que nos sucede, de plano; estar aberto à experiência como se nos descortina. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Caminhos...


Uma cena comum em muitas cidades aqui do sudeste no começo do ano é o sofrimento das criaturas que, morando em lugares de risco, tem suas casas invadidas pelas águas torrenciais oriundas das copiosas chuvas que habitualmente vem depois das festas de fim de ano. Não bastasse isso, este ano houve cidade em que o lixo (não recolhido por vingança de políticos que não se reelegeram nas ultimas votações) se somou ao entulho carregado pelas torrentes que veio das montanhas e encostas próximas às casas e prédios comerciais, onde as pessoas teimam em edificar suas construções.

O mais chato de tudo é que tais tragédias se repetem há tempos, e o jogo de empurra-empurra se alterna com os discursos inflamados de políticos e autoridades (ao que parece, sumamente comovidos com a provação das famílias, assoladas por vezes com a perda de parentes, além dos bens móveis e imóveis), prometendo a solução do amplo transtorno. E desgraçadamente eu, que olho de longe tal sofrimento, a salvo de tais perigos, além das minhas orações, não me encorajo em enviar algum donativo, pois não tenho a mínima confiança de que o recurso, ainda que parco, será empregado apropriadamente, dada as notícias de desvio de verbas por parte de corruptos alocados em diversos níveis da sociedade pertencente às áreas atingidas. Evito até ligar a TV ou escutar os noticiários do rádio nesta época...

O tema do sofrimento é sempre presente para o homem. No cristianismo, a 'obra prima' do ensinamento sobre o sofrimento encerra-se no Livro de Jó. Sempre pensei sobre isso em minha vida, ainda que eu pouco tenha sofrido em toda minha existência. Não considero hoje  que tenha 'sofrido', pois quando miramos o que vivenciam diariamente nossos semelhantes, tudo o que passei é quase irrelevante. E quando penso sobre o sacrifício expiatório do Cristo, vejo que nada tenho a lamentar ou reclamar e, sim, a agradecer. Todo o tempo.

Outro dia revi alguns papéis guardados, lembranças de um tempo bom que vivi intensamente. Eu já comentei que estudei bastante o Budismo, em especial a doutrina Zen (e, dentro desta, a escola Soto). Não me aproximei da doutrina de Buda como religião (alguns assim a consideram, mas prefiro considera-la enquanto ‘prática que nos ajuda a eliminar os pontos de vista incorretos’ como ensina o monge vietnamita Thich Nhat Hanh), mas pelas interfaces que possui com a Psicologia. Na verdade, existe até uma ‘Psicologia Budista’, que auxilia muito a pessoa a ajustar sua conduta, a partir da reflexão sobre as melhores práticas mentais para lidar com suas intelecções de modo apropriado.

Uma das lições principais desta abordagem – digo que a lição fundamental, do qual todas as demais derivam - é a proposição da meditação sobre as Quatro Nobres Verdades, enunciadas diretamente pelo príncipe Sidharta Gautama quando da sua iluminação, ou seja, quando ele finalmente compreendeu a sua situada condição. Existem centenas de livros refletindo somente sobre esta temática. A primeira nobre verdade é o Sofrimento, inerente à existência do homem, e que precisamente existe ‘em tudo’, é onipresente. A segunda verdade nobre é a Origem do Sofrimento, que reside no apego que o homem desenvolve em seu existir cotidiano, ou seja, nos caminhos indignos que ele trilha e que conduzem ao sofrimento. A terceira nobre verdade é a Cessação do Sofrimento; a possibilidade do sofrimento ter um fim – é possível ao homem atingir o bem-estar. A quarta verdade nobre encerra o caminho para o surgimento do bem-estar: o Caminho Óctuplo, o nobre Caminho, ou como os chineses traduziram, o ‘Caminho das Oito Práticas Corretas’, as práticas retas, realizadas na forma certa, apropriada.

Praticar o Budismo se resume em aprender (é o ‘despertar’, ou a 'iluminação') a conduzir a si neste caminho de oito práticas, que é o que vai determinar a eliminação do sofrimento da vida da pessoa. Obviamente que, compreendendo o que este pequeno e superficial resumo encerra, veremos que a prática aperfeiçoante deste caminho pode abranger toda a vida da pessoa, e é isso mesmo... E quais são estes 8 passos? Auferir a Compreensão Correta, o Pensamento Correto, a Fala Correta, a Ação Correta, o Meio de Vida Correto, o Esforço Correto, a Atenção Plena Correta e a Concentração Correta. Não há nesta lista precedência ou grau ou subordinação entre os passos, posto que são inter-relacionados entre si como numa matriz; cada passo contém todos os outros sete... Vou comentar cada um deles nas próximas postagens.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Do libreto de Fábulas...

gravura obtida agora via Google Images de
http://metaforas.com.br/o-cachorro-na-manjedoura

O cachorro na manjedoura

Hoje li interessante fábula daquele libreto (Jack Zipes, Aesop's Fables, London: Penguin, 1996; CIII: The dog in the manger, p. 107), de poucas mas densas palavras. Um cão fez sua cama numa manjedoura e mantinha, rosnando e latindo, cavalos e bois afastados da sua alimentação. 

Um dos cavalos comenta "que miserável patife é este vira-lata! Mesmo que ele não coma a forragem, não permite que ninguém faça uso dela..."  Algumas versões modernas colocam  em cena outro personagem, um fazendeiro que, na história, aparece castigando o cachorro, assim que o vê judiando dos outros animais; mas, na fábula original, não consta.

A moral da história é que não se deve privar outros das bênçãos simplesmente porque não podemos nós mesmos as desfrutar. E não é o que muito se vê hoje em dia? Nem digo daqueles que fazem isso malevolamente, mas o que acho mais patético é aquela criatura que nem imagina o impedimento que impõe aos outros, pela desimportãncia que nutre pelo semelhante e suas coisas, ou pela simples ignorância.

Nas famílias sabemos de casos de jovens que sofrem um sistemático processo de desmotivação que as vão comprometer pelo resto de suas vidas, oriundo da simples falta de conversa com seus genitores. Obviamente que cabe ao pai ou à mãe tomar a iniciativa do diálogo, posto que quanto mais imaturo, mais confuso se desenham as realidades nas mentes das pessoas. Se cada um é um universo diverso, ainda que semelhante em muitas coisas, como saber do que se apraz, e mais a um do que a outro? E daí se estabelece, a princípio, muitas situações de estorvo da felicidade, desfrute para o(a) outro(a), mormente de coisas que não nos faz maior diferença. 

E como faz falta para os jovens uma vera atividade para proficuamente contruir seu caráter e, melhor ainda, prazenteira! Tenho refletido muito sobre o hábito da moçada de ficar o tempo todo atento a um terminal (TV, tablet, web, celular do tipo smartphone etc.) e isso às vezes por horas... Como esta mente está se moldando para uma realidade cada vez mais complexa, que exige demorado meditar para a sua devida compreensão, vivenciando a maior parte do seu tempo uma experiência, ao que parece, fugaz e superficial?

Para mim, que tenho uma filha nos seus onze anos, a preocupação é recorrente. Angustia-me  ve-la digitando, ouvindo, olhando 'ferozmente' seu iPod, o computador, o seu celular, por tardes a fio. Oferecer livros é arriscado, pois a meninada acha ler maçante por demais. Convida-la para sair e passear é, creio, talvez, interessante, mas sei que os amigos são mais motivadores para estar em contacto. Outro dia fui ver o conteudo da pagina de uma destas redes sociais que ela e suas amiguinhas frequentam e fiquei pasmo com a bobajada (sei, "assim é se lhe parece...") que lá é despejada diuturnamente. O fato é que o esforço de comunicar-se é cada vez mais necessário - ela me diz que pareço um 'dicionário ambulante', e juro que nem procuro usar termos muito técnicos! Vou ter que fazer um curso de linguajar popular... ou de gíria, ou de comunicação inter idades - existe algum?

Mas, penso, tenho o direito de determinar sempre o que é melhor para ela? Não estou a impedindo de desfrutar o que é para ela benefício, uma coisa que para mim não o é? Pensamentos, pensamentos... é por isso que alguns casais não tem filhos; no máximo, um animal de estimação!