Volta e meia vemos na mídia (e, para os interessados, especialistas e estudiosos, também em seus respectivos fóruns acadêmicos) pessoas perpetrando comentários sobre o dito embate acima citado. Eu sempre gostei do tema da Psicologia da Religião (uma interface entre estas duas áreas, obviamente mais focada no âmbito científico) mas sempre soube conciliar este mundo com a da vivência de uma religião (minhas raízes são cristãs, do Catolicismo Romano). Tento escolher bem as palavras, pois sei o quanto elas são 'perigosas' para efetivamente transmitir o que pensamos. Como não sou nenhum Affonso Romano de Sant'Anna (recomendo-lhe dele uma obra muito legal de se desfrutar - 'Tempo de Delicadeza', Porto Alegre: L&PM, 2009) um Saramago ou Machado, "todo cuidado é pouco"... (perdoe o lugar comum, mas na minha idade não precisamos mais ter tanto escrúpulo assim!! - aqui, bem, veja só, o Dicionário Aurélio Sec XXI eletrônico, sobre escrúpulo, das 3 acepções, refiro-me precisamente à primeira - 1. hesitação de consciência, remorso... Mas concedo que, das outras 2, delicadeza de carater, senso moral, zelo, destes não abro mão).
Mas voltando, dos 16 livros que li sobre o assunto, um pouco tardiamente em relação ao rebuliço observado na mídia em seu auge - gosto de deixar a 'poeira assentar', para não ser influenciado - vejo que os querelantes por vezes se pronunciam com inusitado ímpeto... Vejo também que são poucos os que conhecem efetivamente os dois lados para, efetivamente, fornecer uma contribuição polida, como convém. Ora, qual a razão de se gastar a pena com tal tema se não for para contruir 'pontes' entre estes saberes? O número de diatribes é enorme, o que nos faz, quase, arrepender de ter investido alguma soma na aquisição do papelejo. Acabo mais lendo críticas das críticas, o que acaba sendo divertido.
Mas creio que, modestamente, eu obtive uma boa estratégia para não ter qualquer aproximação viesada (o que leva, seguramente, a mal-entendidos e radicalizações...) sobre tão complexa temática - o que aliás procuro, desde a faculdade, seguir para meus estudos e mesmo, creia, nas minhas deambulações... Estudando Psicologia, vi como a Linguagem (um acontecimento incrível, complexo, verdadeiro horror dos polifóbicos) é o fenômeno que subjaz em qualquer manifestação humana. Investi um bom tempo tentando entender suas nuanças, posto que, inclusive, para o fazer psicoterapeutico com a clientela, este entendimento é fundamental. Obviamente, meu treinamento acadêmico em Metodologia Científica e em Métodos e Técnicas de Pesquisa ajudou em muito também a manter um espírito mais desarmado e buscador da Verdade, não tanto das verdades ilusórias a que somos submetidos a toda hora...
Esta idiossincrática estratégia consiste em assumir, em princípio e a princípio, que todas posições e discussões, 'no fundo', são confrontos de narrativas, de discursos, de plano eivados ("nossa!", esta palavra é 'pesada' - ainda que me pareça apropriada para o que penso), ou melhor, continuando, de plano plenos de valores e posições assuntíveis e assuntivos, o que faz sempre periclitar qualquer debate que se pretenda isento. Poucos, não importa o lado, conseguem sucesso nesta empreitada.
Poderia tecer aqui considerações metodológicas, teóricas, filosóficas, sobre o tema, mas somente conto, superficialmente, 'o milagre, não conto o santo'. Para não ser leviano, em resumo, digo que uma pessoa, pode, sim, abrigar em si diferentes narrativas, basta ser coerente, e não ficar impingindo 'idiomas' peculiares de certa seara em domínios que praticam outras linguagens. Para discutir linguagens, respeitemos as regras do jogo (deste jogo...). É, creio, eu, o que muito estudioso esquece de fazer.
(P.S. de 13 de setembro de 2010 - vejam em http://blogdasciam.blog.uol.com.br a postagem de 03/09/2010 que Ulisses Capozzoli - Editor da Scientific American Brasil - escreveu sobre este tema, comentando o novo livro de Stephen Hawking - The Grand Design. De um modo geral, temos nesta revista um bom painel do que acreditados cientistas pensam sobre este embate...)