A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

terça-feira, 24 de maio de 2022

Seis meses de artroplastia...

 

Dia 23 deste mês completei meio ano da abençoada cirurgia de colocação da prótese no lado esquerdo da bacia. Após vinte sessões de fisioterapia apropriada, e com as atuais atividades de Pilates e bicicleta ergométrica posso dizer que estou 90% recuperado. Tentei largar da bengala há algumas semanas mas há dias em que volto a apoiar na bendita, principalmente se tenho que andar bastante. Ainda sinto (por vezes) de modo algo estranho as renovadas estruturas aqui implantadas. É estranho ficar de pé e não sentir mais aquelas fortes dores que sofri por quase 3 anos. Parece que vai doer, mas nada acontece! Fiquei com certo 'condicionamento' em relação a algumas posturas e o próprio caminhar, consistindo em expectativas de dor, que gradualmente vão se esvanecendo. Soube que demora até um ano para a recuperação desta cirurgia ficar 'cem por cento'... 

Que época abençoada esta que tenho o privilégio de viver. Há décadas atrás não tinham ainda desenvolvido com o sucesso de hoje tal procedimento. Fui pesquisar e vi no site medicinadoquadril.com.br  uma extensa informação sobre o assunto. Sou grato às inúmeras pessoas que possibilitaram melhorar minha qualidade de vida. Imagine que antigamente a amputação da perna era uma alternativa para debelar o enorme sofrimento oriundo do avançado desgaste ósseo da cabeça do fêmur. Ou a pessoa era condenada a ficar imobilizada, deitada ou sentada até o fim da vida. Qualquer movimento, por menor que seja, faz doer!

Minha atitude só pode ser de agradecimento a Deus. Olho em torno e vejo tantas pessoas que, por uma razão ou outra, não tem condições de mitigar apropriadamente seu sofrimento. Mudei um tanto minha visão de certos atos extremos que algumas pessoas perpetram. Certos desgostos tiram o vivente do seu eixo, fazendo ocasionalmente as pessoas tomarem decisões que nos parecem absurdas, mas a mente em tais situações de aguda e/ou crônica tribulação já não está a funcionar apropriadamente... Ficamos, nesta desolação, próximos da insanidade, é o que parece...

Ainda tenho muito medo de cair - uma queda pode estragar toda a cirurgia, tendo que voltar à mesa de operações no Hospital. Como comentei aqui em posts passados, a recuperação é muito dolorosa, e ninguém avisa dos desafios que vamos percorrer, ainda que o imperativo seja fazer ou fazer a cirurgia. Sei de idosos que colocaram prótese e nunca mais saíram da cama. Imagino que uma das respostas seja o medo que paralisa a pessoa, impedindo-a de enfrentar a trabalhosa recuperação.  O ser humano é, cada um, uma caixa de surpresas, um universo único, ainda que sejamos muito assemelhados... Costumo dizer que, depois de quase 45 anos de formado em Psicologia, e tendo realizado muitos estudos pós-graduados, ainda me surpreendo - para o bem e para o mal - com a atitude de certas criaturas, em especial nas suas aflições... 

Esta nossa existência é um mistério, e arte de viver é uma disciplina que nem todos tem sucesso em aprimorar-se.  No meu caso, passar por esta atribulação me fez uma pessoa melhor, pois vi o quanto limitado e provisório sou. E se já orava pelas pessoas que me são caras, passei a orar mais pelos semelhantes que sofrem. Peço que nosso Pai Celestial dê a eles e elas firmeza e coragem, pois Ele não nos dá, a cada um(a) na sua condição, uma cruz maior do que possamos carregar. É a minha fé.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Esparsos comentários...

Seriado "Bosh" (Amazon Home Video)

1. Tenho re-assistido a séries de TV, da Netflix e da Amazon Home Video, perpetrando verdadeiras maratonas. Uma das que mais gosto é a do marrento detetive (Hyeronimus) Bosh, muuuito bem feita e eletrizante! Existem 7 temporadas, uma melhor que a outra. E, de quebra, ficamos conhecendo no programa artistas de smooth jazz fantásticos. Outra série, obrigatória (mas da Netflix) é o impactante Orange is the new Black. Eu, como psicólogo, sempre descubro ali nos episódios nuances novas do humano, ainda que com viés por vezes violento, quase psicopático...

2. Existem pessoas que vemos pouco, às vezes uma ou duas vezes por ano, como o Contador que faz meu Imposto de Renda (que faço desde que comecei a trabalhar), ou o médico que acompanha meus exames clínicos anuais (check-up) - que faço 'religiosamente' desde os 40 anos... Tenho saudades de outras pessoas que, infelizmente, o destino nos afastou. Existe uma pessoa de nome Ariovaldo César Júnior, que deve ainda estar residindo em Araraquara, município do interior de São Paulo, que tenho certeza que, se nos encontrássemos novamente (depois de décadas sem nos vermos), seria como fossem somente alguns meses de separação - que alma boa, santa mesmo, em todos os sentidos. Moramos por um tempo nos anos 70 na mesma república estudantil e afeiçoei-me pela nobreza de seu caráter. Um grande cristão, patriarca de linda Família. Acho que um dia logo-logo vou ter que ir atrás dele... Fecho os olhos e vejo-o sorrindo, alegre e grato pela vida. Soube que sempre realizou obras caritativas, fiel espírita que é. Deus o abençoe!

3. Estou lendo bastante ultimamente. Retomei o gosto pela leitura, um tanto deixada de lado por causa da dor e desconfortos gerais da artrose e da artroplastia, que tiraram muito da minha vontade de viver. Mas tudo já passou e retomo aos poucos as minhas delícias. Leitura seguramente é a maior delas. Posso ficar sem vinho ou cerveja, mas sem leitura é quase impossível... É quase como ficar sem a Ruth - nem imagino!

4. Uma das pragas modernas da cidade são aqueles motoqueiros (motociclista de acôrdo não faz isso) que danificam o escapamento de suas máquinas, determinando a emissão de elevadíssimos decibéis de irritante barulho, perturbando definitivamente a paz social onde quer que infelizmente se encontrem. Abusam da falta de vigilância das autoridades, posto que constitui flagrante prática ilegal. Tristes personalidades que, no afã de chamar a atenção dos semelhantes, acham bacana detonar nossos delicados tímpanos. Mal sabem que, gradativamente, estão periclitando sua acuidade auditiva, ficando não poucos quase surdos ao longo de suas míseras existências, que não respeitam o próximo.

5. O verão foi embora mas o abafamento teima em não nos deixar - que triste sina. Nem na praia gosto de calor. Temo que, com a evidente mudança climática, nossa temperatura em geral vá se situar no topo do termômetro ao longo do ano, com escassos episódios de friozinho, que aprecio tanto. Sofro demais com isso, fico suado, irritadiço. No frio é tudo melhor; conseguimos nos agasalhar e apreciar melhor um vinho... 

6. Agora à noite o nosso guarda noturno se faz presente. Ele é um autônomo que vem nos cobrar a taxa pela vigilância, mais ou menos certeira, todo começo do mês. Das 22 horas até as 4 da madrugada nosso valente paladino percorre nossas ruas e avenidas com variada periodicidade. O ruim é que o gajo, apesar de eu ter já lhe pedido modificar sua conduta, insiste em ficar tocando tresloucadamente um característico apito, que curiosamente denuncia sua presença já no quarteirão anterior. Imagino que o mesmo deva - comercialmente - nos certificar de sua pontual presença, mas também creio que, se houver meliante na circunvizinhança, o mesmo (oops!) também será alertado com incompreensível antecedência, dando tempo de evadir-se em segurança. Intrigante dualidade de seu importante serviço...


quarta-feira, 6 de abril de 2022

A virtude da coragem.


 Obtido de https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/coragem-e-base-para-o-sucesso/


Escrevo novamente sobre a Ética da Virtude, abordando um outro tópico específico  para aprofundar. Seria interessante ao leitor averiguar as minhas outras postagens sobre Ética, em especial a minha anterior publicação que se pode ler através deste link: https://reflexoesparsas.blogspot.com/2009/01/#3785834747266441385 ,  para contextualizar o assunto. (copie-o, cole e dê-lhe enter em outra aba do seu navegador)

Hoje diremos algo sobre coragem, talvez a virtude que suscite mais admiração nas pessoas (sendo seu oposto, a covardia, uma das mais execradas...) - pois quantos heróis a Humanidade cultiva, em todo tempo e lugar! Observamos coragem quando vemos alguém determinado a auferir metas importantes (por vezes percebidas como incertas, duvidosas mas valiosas) frente a situações (internas ou externas) adversas. Como sempre, gosto de averiguar como os dicionários definem o termo. Precisamos sempre ter esta preocupação 'linguística' pois, como alertou importante filósofo, os maiores de nossos problemas no fundo são problemas de linguagem, do linguajar. Quando definimos bem os termos que usamos, afastamos muitas de nossas dificuldades, principalmente as da (apropriada e necessária) compreensão...

Coragem seria demonstrar índole resoluta frente a riscos ou perigos: algo como a intrepidez, a bravura, mesmo certa firmeza de espírito para lidar com situações extremas, difíceis. Um complicador para uma análise positiva desta virtude é o fato dela servir para tudo, para o bem e para o mal. Dificilmente alguém consideraria meritório a maldade ou o fanatismo, ainda que corajosas. Então parece que, para ser estimada, levada a sério e louvada, a coragem tem que ter uma faceta moral positiva: se a pessoa faz algo corajosamente, mas pelos motivos julgados errados ou reprováveis, de nada adiantou ser corajoso. Se sou corajoso visando o bem de outro(s), e não agindo egoisticamente, minha coragem ao que parece é, em princípio, valorosa, virtuosa. Exemplo: é preciso ter coragem para assaltar um banco, mas ninguém em sã consciência apreciaria este tipo (imoral) de coragem, próprio dos valentões...

Temos certa dificuldade em conceber ou imaginar a intencionalidade de uma pessoa que tem coragem. Os estudiosos no assunto identificam a bravura 'tipo' física, como os policiais, bombeiros ou soldados realizam. Outro 'tipo' (coloco aspas simples pois, em geral, esta maneira de dar classificação a partir de tipos pode ser enganosa, visto suas fronteiras serem por vezes sorrateiras, ilusórias como um eflúvio, e também poderem ser combinadas, amalgamadas) seria a bravura psicológica, quando a pessoa enfrenta, p. ex., aspectos dolorosos de si mesmo (como numa provação grave, tal como uma doença). Outro  'tipo' seria a bravura moral, como no caso de alguém manter determinada postura intelectual ou emocional impopular, difícil ou ameaçadora. Somos muito sensíveis ao desprezo do outro!

Alguns autores colocam a presença concomitante do medo como um diferenciador dos tipos possíveis de coragem ou assemelhados. Consideram que destemor (p. ex., do imprevidente), ousadia (p. ex., do apaixonado) ou arrojo seriam diferentes de bravura, pois enfrentar o perigo, apesar do medo, isto sim seria bravura, coragem. O valente supera os instintos naturais do medo, enfrentando resolutamente o amplo entorno assustador ou mesmo altamente, como se diz, complicado.

Outro elemento possível na equação da bravura seria a perseverança, que identificamos naquelas pessoas que trabalham duro, focadas em atingir metas, apesar dos obstáculos, ainda que haja o perigo de serem considerados perfeccionistas. Outros autores (sob o contexto da moral) ainda identificam características constitutivas de autenticidade ou integridade num verdadeiro corajoso, e até também o entusiasmo...

Outro aspecto misterioso é que, como toda virtude, a coragem só existe aqui e agora, no presente. Posso ter sido corajoso anteriormente, mas ser covarde agora; nem posso prometer ser corajoso no futuro... (posso lá não vir a se-lo). A coragem é ato oriundo da intenção e decisão do (preciso) instante contextualizado - uma instância determinada que me interpela.

Vejam quantas dimensões - e existem outras - podemos identificar para realizar a compreensão do vem a ser a natureza da verdadeira virtude da coragem. Parece certo que esclarecer situacionalmente os seus termos (os conceitos) seja uma atitude profilática (e propedêutica) no sentido de evitar julgar/entender estas multiformes condutas pelos meios errados!


quarta-feira, 30 de março de 2022

Final de março...

Foto obtida via Google nesta data de
https://www.otempo.com.br/mundo/movimentacao-chinesa-pode-ajudar-a-conter-guerra-entre-russia-e-ucrania-entenda-1.2623978


1. O grande fato atual é a guerra da Ucrânia. Que tristeza! Quantas notícias, opiniões, narrativas e a velha politicalha a atazanar as pessoas cá de fora da confusão. Assistimos a tudo consternados, impotentes. Duas coisas gostaria, modestamente, de ressaltar. (a) Existem outros conflitos no mundo, determinando covardes perseguições, mortes, sofrimento, exilados/refugiados e tudo o mais. Na grande imprensa vejo que, em geral,  não houve repercussão da magnitude desta da Ucrânia. Será que uma razão para esta atual 'preferência' da mídia seria que se trata de população branca, de olhos claros? (os outros conflitos envolvem etnias bem distintas desta, principalmente pela cor da pele etc.). (b) Interessante a defesa do presidente russo sobre as razões de tal empreitada militar, alegando 'ameaças' a seu país. Mas quem, em sã consciência ousaria ameaçar um país com um arsenal atômico como a Rússia possui? Creio estar patente que as desalmadas motivações são outras. Em todo caso, temos tantas opiniões e análises que a cada vez ficamos mais confusos, ainda que tristes.

2. Outro fato inusitado recente foi o tapa, a bifa do ator norte-americano Will Smith num conhecido comediante durante a cerimônia de entrega do Oscar. Defensores e críticos de lado a lado se pronunciaram à mão cheia. A lição que fica possui duas constatações: atitude grosseira é muito fácil de ocorrer, o quanto mais deselegante e deseducado seja o perpetrador, e  violência nunca é solução para nada... Mas aponto que é complexo julgar as condutas envolvidas, pois nunca se sabe de todo o entorno psicológico/social implicado na sequência de fatos. E houve até quem postulou que, no show business - que visa lucro - tudo é ensaiado, feito de caso pensado, e tal performance bombástica seria tudo encenação. Vai saber. Que elevou a audiência geral, trend topics e que-tais,  elevou...

3. Finalmente, depois de tantas sessões de fisioterapia, começo a me enxergar não usando mais um adereço que fez parte de minha configuração nos últimos anos: a bengala. Considero-me 85% recuperado da massiva cirurgia de artroplastia do fêmur-quadril esquerdo. Mas não vou fazer mais nada de atividade física de impacto, pois o outro lado da bacia apresenta leve desgaste ósseo (na verdade, igualmente na cabeça do fêmur). Meu fisioterapeuta afirmou que, com fortalecimento, o mesmo não vai evoluir ao grau desta que necessitou de excruciante cirurgia, Insha'Allah!

4. Uma última palavra à minha querida mãezinha, que está muito doente. Que tenacidade nestes seus 92 anos e quanta vontade de viver! Sempre foi uma batalhadora incansável, apesar de sempre ter muitos problemas de saúde (mas nunca a vi maldizer a sina). Até agora se interessa por tudo o que ocorre, e quer ajudar as pessoas ou com a lida da casa. Meu pai se desdobra em cuidados, mas vejo-o já cansado de tanta providência sem sucesso. Oro sempre para que o Pai Celestial ampare este casal que sempre foi modelo de fidelidade cristã e fé inabalável. Quantas vezes os vi rezando juntos o têrço... Este ano soube que farão 70 anos de convivência, entre namoro, noivado e casamento feliz - são muito enrabichados até hoje. Uma lição de vida. Sou muito grato a Deus por termos, junto com meus queridos 2 irmãos e 2 irmãs, pais tão valorosos, tão dedicados à família. 

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Tragédias periódicas e outros comentários.


 Fernando Frazão/Agência Brasil

(obtido de https://noticias.r7.com/ em 21/02/2022)


1. Quantas notícias tristes acerca dos desmoronamentos na cidade de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro! Agora que o tempo começa a passar e a ampla comoção começa a ser "esquecida", principalmente pelos órgãos de comunicação (sim, a guerra da Ucrânia agora domina o noticiário...) creio que aí sim deveríamos colocar em pauta novamente o assunto e pressionar as excelentíssimas autoridades para que tomassem decisões efetivas para minorar o sofrimento. Todo ano escutamos tais tragédias, com perdas de muitas vidas, resultado de uma enormidade de fatores, principalmente a omissão dos políticos. Difícil não se emocionar com as estórias das famílias impactadas, uma mais triste que a outra. A impressão que fica é que a vida humana, a cada dia, tem seu valor mais diminuído: parece valer quase nada. Como somos frágeis e desamparados... Num instante podemos deixar de existir, restando na memória dos sobreviventes somente saudade dorida e permanente. 

2. Minha recuperação da artroplastia tem sido errática: após uma fase praticamente sem dor, ultimamente tive que apelar para remédios, principalmente à noite. Tenho feito com minudência minha Fisioterapia e Pilates (bicicleta ergométrica minha fisioterapeuta aconselhou-me suspender por um pouco, até o quadro geral ficar mais claro...) mas sem forçar, sem ocasionar dor - ordens médicas. Tenho uma hipótese para o retorno de tal estado dolorido deve-se à postura de minha perna na hora do sono. Como devo, dormindo de lado (que é a melhor posição), colocar um travesseiro ou almofada espessa entre as pernas, sinto que, ao me movimentar durante a noite, a perna com a prótese acaba perdendo o apoio apropriado, prejudicando o próprio sono, inclusive. Voltei a amarrar a almofada na perna, e parece que dormi melhor esta noite - mas pode ter sido também por causa da medicação - prefiro relaxante muscular a analgésicos. Outro dia teimei em não tomar nenhum remédio - temo pelo meu fígado -  e demorei muito a conciliar o sono. Vai demorar para tudo ficar cem por cento...

3. Iríamos, toda a Sociedade, retomar no começo deste mês de fevereiro as atividades em geral que preveem certo ajuntamento, como as reuniões da Arte Real, mas o recrudescimento da pandemia, via a variante Ômicron, obrigou-nos a deixar tudo como está por pelo menos mais um mês. Em que pese a esta altura  quase 90% da população no Estado de São Paulo estar vacinada (ainda que certa parcela não tenha completado toda a série de aplicações) as internações e mortes voltaram a aumentar, obrigando as medidas restritivas. Mas, se não surgir outra variante, outra cepa de virus mais mortífera, julgam as autoridades que a tendência doravante é amainar as contaminações e, por decorrência, abrandarem-se mais um tanto as restrições sociais. Quanta saudade dos outros tempos! Creio que doravante o povo, tão cioso de sua 'liberdade', vai valorizar mais a convivência...

4. Já comentei anteriormente isso: depois que tive que a Covid-19, minha memória que nunca foi ótima, por falta de sono reparador, ficou pior, ao que parece. Mas, otimista que sou, vejo um lado positivo nisso... Muitas séries de TV que apreciei em canais de streaming não retiro do meu catálogo pessoal, e volto a assistir as mesmas, um ano ou tanto depois! Recentemente encetei apreciar a ótima série policial 'Bosh' (2016, com 7 temporadas de 10 episódios cada), da Amazon Prime Video. O ator Titus Welliver interpreta um detetive durão, marrento, mas apreciador - olha só - de smooth jazz, o que me atraiu ainda mais. Muito bem filmado, com enredos impactantes em cada temporada. Outra série que retomei, agora da operadora Netflix, foi a mui interessante 'Tokyo Stories: Midnight Diner', de 2019, com duas temporadas de 10 episódios cada. Enredos de 25 minutos, com tópicos bem humanos, mas engraçados por vezes. Ali, outra série japonesa que retomei também, 'Samurai Gourmet' (2017), diferente de tudo o que você possa ter visto, com ótimos atores. Fala sobre as descobertas gastronômicas de um recém-aposentado disposto a novas vivências. 

Até mais...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Virtudes... a Temperança.

 


[ Hoje estou a escutar na Amazon Music Prime uma jazzista de traços orientais,
e de curioso nome: Grace Kelly ]

Voltemos ao nosso assunto sobre a Ética das Virtudes. Analiso brevemente a temperança que, conforme os dicionários, seria a qualidade de quem é moderado, comedido (em especial nos dia de hoje em relação às comidas ou bebidas mas, ao que parece, nem tanto com os modos à mesa...), equilibrado, parcimonioso. Esta importante e pouco apreciada virtude, que regularia pela Razão nossos apetites ou desejos sensuais, permitiría-nos assim desfrutar melhor das benesses ao nosso alcance, posto que seria portanto um gozo mais esclarecido, dominado, cultivado, apreciado de modo equânime. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, diria alguém. 

Temperantes, somos senhores de nossos prazeres, não escravos, pois desfrutamos ali juntamente a nossa própria liberdade. Intemperantes, nos tornamos vassalos de nossos corpos, de nossos desejos, de nossos incontroláveis hábitos, aprisionados em sua força ou fraqueza... Se sou temperante, consigo contentar-me com pouco, visto que não é questão de quanto, mas sim do poder que me concedo ao apreciar, e este decididamente um apreciar superior. Revela o temperante um árduo trabalho de vasculhar o desejo sobre si mesmo, visando não a superação ou mera satisfação a partir dos nossos limites, mas sim visando a respeita-los. O intemperante está sempre triste, pois nunca se satisfaz com o necessário e suficiente para viver numa sociedade de abundância relativa, mas a cada momento deseja (e sofre, pela percebida incompletude) mais e mais...

Duas prisões aqui nos sujeitam: quando nos comparamos com o outro (em seu aparente ou efetivo desfrute de algo) e na ilusão da especificação, determinação-quantificação de algo para que venha a nos satisfazer efetivamente. Nossa régua, nosso standard, ilustrado ou estabelecido p. ex.  pela moda, propaganda ou pela vaidade de emular (possível) felicidade do outro, fatalmente entorpece nosso julgamento. O outro ou outra 'sempre' parece ser mais feliz ou realizado que a gente. Tais armadilhas podem estar na raiz de muitos adoecimentos que observamos em sociedade. Por exemplo, nunca consigo entender, por mais que examine as muitas hipóteses, porquê tantas criaturas utilizam substâncias que alteram a consciência... Consumir algo que altera a química de nosso ser em si já deveria ser algo a se duvidar ou desconfiar. Mas mais e mais vemos pessoas se entorpecendo, insatisfeitas, fragilizadas.. Falta instrução, orientação ou amor-próprio? 

As forças do ser do homem voltadas por natureza para a autoconservação, aperfeiçoamento e realização são aquelas mesmas forças que podem desnaturalizar o homem para a autodestruição. Assim, creio que a introspecção metódica da pessoa se impõe como chave para o correto situar-se perante este mundo com tantas 'tentações' - se nos conhecermos melhor poderemos estabelecer e respeitar os limites do desfrutar libertador das coisas que - ao final e ao cabo -  não nos pertencem, mas que insistimos em possuir, ocupar, 'domar'. Ledo engano!


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Pensamentos esparsos...

 

Fotógrafo Rafael (Trick Foto, de S.J.B. Vista, SP)

[Hoje escuto Dr. Saxlove, um canal de Smooth Jazz no YouTube;
ontem estava, via Alexa da Amazon, a escutar Peter, Paul & Mary]

1. Olhem aí Bilú e eu num ensaio fotográfico que periodicamente realizamos na Trick Foto (este menino, Rafael, foi meu aluno na Faculdade e fotografou - maravilhosamente - nosso casamento, um graaaande profissional). A gente faz um álbum com as melhores fotos, além de um ou dois quadros (frame) para exibir em cima dos móveis . Livia participou de algumas destas sessões fotográficas passadas mas, ultimamente, ela anda muito atarefada com sua faculdade e com outras incumbências... A cada vez pareço mais velho e Ruth, mais bonita. Ainda bem. Se esta equação ficar novamente muito díspar, tomo minhas providências!

2. Outro dia vi no Estadão uma citação do notável Senador e Historiador Romano Públio Cornélio TÁCITO ( Publius Cornelius Tacitus, 56 dC 117 dC ?) que ilustra bem - faz tempo - minha querida mas sofrida Pátria: 'O mais corrupto dos Estados tem o maior número de leis'. O Brasil tem um rol de dispositivos legais assombroso, dando azo inclusive a que classifiquemos as que "pegam" daquelas que são ineficazes, ineficientes, insonsas. Em decorrência, o funcionamento do outro poder, o Judiciário, fica a dever também, tantas as brechas e contorcionismos hermenêuticos que tal cornucópia legislativa permite. Lendo nos jornais o que boa parte de nossos representantes em diversos níveis diuturnamente perpetram, parece que usam sua imaginação de modo diverso ao que um verdadeiro estadista faria. Tristes trópicos... (lembrei-me do livro do grande antropólogo e filósofo Claude Lévi-Strauss)

3. Gente, toda vez tenho que falar... Cada modalidade de extremismo, negacionismo e terraplanismo que grassa hoje em dia em todos os meios de comunicação e nas redes sociais! O pessoal passa recibo de inculto, bronco, e nem (parece) percebem. Cada argumentação rasa, sem evidência(s) factual, firme, veraz, fundamentada por critérios verificados (que é o que justificariam a crença correta em algo, sem temor de errar) que se observa e, pior, por vezes proferida por aqueles que conseguiram estudar no terceiro nível (faculdades etc.).  O problema é que não temos atualmente (antigamente havia Feira de Ciências etc.) educação para a Ciência em nosso sistema educacional, desde as primeiras letras... O 'ouvi dizer' , 'li em tal lugar' ou 'fulano afirmou' parece ter  tanto valor hoje quanto pesquisa sistemática, rigorosa, regulada, ética, examinada por pares. E, para completar o cenário cruel, adornada este soi-disant saber pela virulência, fanatismo, e intolerância que em geral acompanham as tais condutas dogmáticas e radicais, inviabilizando o necessário debate (saudável) das ideias. 

4.  Um efeito colateral que a recuperação desta minha cirurgia de artroplastia determinou-me é a melhor atitude de atenção e concentração, que temos que observar em todas as coisas. Tenho certo distúrbio de atenção que me faz estabanado, estouvado em muitas coisas, mas agora o medo obriga redobrar (triplicar) o atento cuidado com as atividades mais comezinhas, sob perigo de cair, acidentar-me. E a idade aumenta as oportunidades de agir desajeitadamente, credo. Assim, mesmo uma coisa drástica de saúde pode transmutar-se em boa prática Zen... E isto ajuda também a melhorar a memória que, como já comentei anteriormente, anda ruim, ruim. 

5. Sou muito grato a Deus por tanta coisa... Lembro-me de um jovem senhor que estava albergado no Lar de Idosos São Vicente de Paulo aqui de Sanja, onde sou voluntário. Ele tinha certa proeminência no braço que chamava a atenção. Disse-me que era por causa das sessões semanais de diálise que ele precisava realizar. Que tristeza! Raro o dia em que, indo ao toilette, eu não agradeça aos céus ter bom funcionamento renal. Uma coisa banal, corriqueira mas que, se não estiver ok determinaria tanta perda de Qualidade de Vida... Estou constantemente agradecendo e nas minhas orações reforço meu reconhecimento pelas abundantes graças dos Céus. Quando listamos os alimentos que temos, o sono reparador, os amigos, a Familia etc. podemos constatar o quanto somos ricos! Agora que estou a andar sem dor alguma (coisa que por três anos sofri) vejo realmente como é nas pequenas coisas que efetivamente reside o ser feliz...

6. Adoro quadrinhos, mangás e gibis... Mas não compro mais como antigamente. O que mais aprecio são estórias gráficas de Samurais. Mas o que tenho curtido mais recentemente são os quadrinhos nos jornais. Um dos quadrinistas que mais admiro é a Laerte, do jornal Folha de São Paulo. Tem dias que parece que a artista toma umas biritas ou fuma algo alucinante, mas em geral nos faz pensar e/ou rir sobre o certo absurdo do existir com seu traço característico. É de admirar...

Publicado dia 31/janeiro/2022 no jornal Folha de São Paulo.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Chuva, Sars-Cov-2 e visita a meus pais em Campinas (#400 a. postagem...)

Foto obtida agora de
https://www.climatempo.com.br/noticia/2021/11/09/brasil-com-chuva-volumosa-e-temperaturas-amenas-nesta-semana-2753

1. Dou pequena pausa nas postagens sobre ética da virtude; temos que variar um pouco senão "cansa", como se diz. Ia agora cedo fazer bike ergométrica mas a chuva incessante acautela-me a não descer desprotegidas escadas, que justamente dão acesso ao ambiente onde fica (numa das garagens) meu recurso esportivo. Assim, com o gostoso barulhinho das águas caindo no telhado aqui do escritório de cima (meu Consultório), animei-me a deitar pensamentos aqui no blog. Coloco smooth jazz na caixa de som e lá vamos nós...

Uma curiosa intelecção que obtive recentemente é que, em fase de cicatrização da extensa cirurgia a que me submeti (artroplastia com enxerto ósseo), flagrei-me com receio de dar correto passo com a perna 'biônica', como se ainda tivesse a dor da artrose - parece que fiquei condicionado com o desconforto irritante que de lá se originava, a cada passada, ainda que com a ajuda de bengalas.  Como bom Psicólogo, já estou trabalhando para desfazer este liame atroz, e tenho observado como a mente é fantástica... De uma hora para outra já enfrento a tarefa de caminhar sem (meio que inconscientemente) coxear, manquitolar! Nesta semana inicio firme a Fisioterapia e o Pilates e creio que em duas semanas poderei com segurança fazer mais e mais tarefas.

2. À noite, num dos sonhos que me recordo, alguém me pergunta algo sobre as pós-graduações que fiz e achei estranho conseguir lembrar-me, ali nos braços de Morpheu, de somente três (das 6 pós Lato Sensu que fiz), além das duas Strictu Sensu - Mestrado e Doutorado. Na hora amaldiçoei novamente o possível efeito correlato da infecção pelo Sars-Cov-2 que precisamente há um ano tive: a recuperação, a reminiscência que recorrentemente nos falha para as coisas mais firmadas que temos na memória. Nunca tive boa Memória mesmo (por causa do sono ruim), mas agora com a idade e o Covid-19, agravou de vez.  Que horror! Combato incessantemente esta limitação, daninha e frustrante ao extremo. Começa-se a pensar que estamos em processo de apatetar-se, credo.

3. Quanta chuva tem caído estes dias... O verde dos campos, o desenvolvimento das plantas - minhas queridas árvores que plantei nas calçadas aqui ao lado estão dando sombra maravilhosa no calor - são espetáculos divinais, prodigiosos. Lembro-me das viagens que fiz ao estado norte-americano de Utah, onde à época moravam meus filhos, e de sua paisagem amarronzada pelo clima desértico, muito diverso de nossa fartura aqui. O lado ruim de tanta chuva é que por vezes seu excesso e má distribuição acarretam deslizamentos, enchentes, destelhamentos e outras tristezas (como ocorre todo ano), sem que as autoridades deem conta de resolver os percalços do já sofrido povo.

4. Ontem fomos, Ruth e eu, de carro de praça visitar meu pais em Campinas - há quase três meses não os visitava. Como minha mãe deixou (depois de 20 dias) o Hospital, corri lá para cumprir a obrigação filial. Felizmente estão bem, na medida do possível apesar da idade avançada - ela com 92 e ele com 94 anos, benza Deus! Minha mãe não tem se alimentado bem por causa dos tratamentos e remédios, mas levei daqui de São João da Boa Vista curau e pamonha, e ela adora estes quitutes; então, alimentou-se melhor no almoço, com a graça de Deus. Daqui a três semanas voltaremos lá no acolhedor bairro do Cambuí onde eles moram e, se o Pai Celestial permitir já, recuperado, dirigindo meu carro com segurança.

5. Que coisa, as notícias que lemos sobre a nova onda de contaminação deste Covid-19, agora com a majoritária variedade Ômicron. Eu examino detalhadamente, todos os dias, bons veículos de comunicação e começo a ver ali e acolá previsões mais positivas quanto ao curso desta malfadada pandemia. Em que pese o negacionismo inclemente que assola parte da Humanidade (e pior, certas 'autoridades'), propagandeando inverdades sobre vacinas, muitos cidadãos estão se vacinando, inclusive suas crianças. Seria cômico se não fosse trágico o desfile de sandices que alguns postulam, como chips embutidos em fármacos e outras birutices equivalentes. Que os céus nos protejam de tanta ignorância!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Recuperação de cirurgia e a Prudência.


1. Ontem (23/01/2022) fez dois meses que realizei a artroplastia com enxerto ósseo. Vi hoje o Raio-X da minha pelve, que foi solicitado pelo médico e, arrepios à parte, ficou serviço bem-feito, bacana mesmo... (parece, acoplado numa pequena concavidade parafusada na bacia, um punhal fincado no meio do osso da perna, mui estranho).  Estou me sentindo muito bem fisicamente, a ponto de estranhar ficar em pé e não sentir nenhum tipo de dor (o que foi a minha característica diária desde 3 anos atrás, até novembro do ano passado).  Amanhã irei à consulta com o ortopedista que realizou a cirurgia para verificar o estado geral da nova instalação e orientar a Fisioterapia massiva que terei de perpetrar doravante. Que maravilha as conquistas das Ciências, em particular a da Medicina! Quem imaginaria; outro dia ouvi que instalaram num cidadão um coração de porco modificado geneticamente. No futuro seremos realmente biônicos. É só dar um problema em algum órgão que poderemos ir ao médico fazer a troca. Talvez a coisa perca um tanto da graça, sei lá... Não estarei aqui para ver este tipo de procedimento banalizar-se, graças a Deus.

2. Hoje refletiremos brevemente sobre a Prudência. Segundo os dicionários, significa a  virtude que faz prever e evitar as inconveniências e os perigos;  seria a cautela, precaução. Por extensão, podemos assim considerar as condutas que revelam calma, ponderação, sensatez, paciência ao tratar de assunto delicado ou difícil. A Prudência é uma das quatro virtudes cardeais da Antiguidade e da Idade Média. Uma pessoa agindo como um ser prudente pensa (imagina, prevê) em bem responder tanto por suas intenções como pelas (possíveis) consequências do seu agir. 

Hoje em dia, ao se observar as condutas das muitas criaturas ditas racionais, parece a Prudência uma virtude démodé, desaparecida do vocabulário de pessoas de bem. Pois o bom-senso, a disposição que permitiria considerar, julgar sobre o que é bom ou mau para os homens parece 'sumida'. E  olhe que René Descartes disse no seu maravilhoso 'Discurso (sobre/d)o Método', de 1637, que o bom-senso seria a coisa mais abundante no universo, pois todos os homens julgam-se possuidores da mesma... Ledo engano, ainda que o notável Filósofo tenha usado de perspicaz ironia em sua argumentação. 

Santo Tomás de Aquino argumentou que, das quatro virtudes cardeais, a Prudência deveria reger as outras três pois, sem ela, a Temperança, a Coragem e a Justiça não saberiam o que (nem como) deveriam fazer. Sabedoria sem Prudência não seria efetiva Sabedoria... Epicuro, meu pensador favorito, ensina que da Prudência surgem todas as demais, pois esta escolhe, pelo exame das vantagens e desvantagens, os desejos que convém satisfazer bem como os meios para satisfaze-los. A Prudência faz distinguir o impulso (por vezes prejudicial) da ação eficaz e eficiente (veja com um bom Administrador de Empresas a diferença destes dois últimos termos). 

Assim, a própria Moral deve ser modulada, ponderada pela Prudência. Quanto mal já se realizou meramente por desejar-se seguir obstinadamente uma religião, uma regra ou algum ditame decretado. Quantos crimes se cometeram em defesa da virtude... Quantos assassinatos em nome do 'verdadeiro', 'justo' e 'correto'... Quantos preconceitos considerados justificados por razões espúrias!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Ética da Virtude: a Fidelidade.

Escrevo novamente sobre a Ética da Virtude, abordando um tópico específico  para aprofundar. Seria interessante ao leitor averiguar a minha postagem anterior a esta e minha outra postagem que se pode ler através deste link: https://reflexoesparsas.blogspot.com/2009/01/#3785834747266441385 para contextualizar o assunto de modo mais aprofundado. 

Hoje abordarei algumas nuances acerca da fidelidade. Este termo é derivado do latim fidelis, expressando atitude de quem é fiel, característica da constância do ente aos compromissos assumidos com outrem ou, complementarmente, aquela característica de quem demonstra zelo, respeito e lealdade, esta entendida como compromisso (quem está familiarizado com meus escritos sabe que, para mim, a tríade zelo-comprometimento-respeito é a essência ou substância do amor). Assim, a fidelidade faz parte intrínseca do amor. Quem verdadeiramente ama é fiel, é confiável, é honesto, é verdadeiro.

Um aspecto do ser fiel é a necessidade de primeiro ser fiel a si mesmo, a fidelidade de si para consigo, pois esta primeira fidelidade ao que somos, nossos valores etc. fundamenta nossos (exigentes, imprescritíveis) deveres, nossos compromissos. A pessoa deve cultivar-se, "conhecer-se" bem, para bem expressar fidelidade. Pois um aspecto que embasa o ser fiel é a fidelidade ao nosso bem-pensar, às nossas preciosas cogitações. Cultivar precisamente aqui o rigor, a correção, e esforçar-se para rememorar as boas ideias e intelecções que cultivamos, que experienciamos em nossa vida, querer conserva-las vivas, vibrantes, significativas. É assim antídoto a fanatismos, a dogmatismos, pois não tememos mudar de ideia, mas muda-la para melhor, como os fatos determinam, e não as preferências ou inclinações da moda ou do grupelho que possamos momentaneamente pertencer. Resumindo - fidelidade à verdade, e fidelidade à verdade lembrada (a verdade res-guardada, memorizada).

Exibe fidelidade quem cultiva em seu espírito a boa memória (porque a matéria não tem "memória", tem o seu ordenamento físico-eletro-químico), lembrando-se em seu pensar, daquilo que quer rememorar. Podemos decidir as coisas ou criar/inovar porque reunimos novamente coisas úteis, verdadeiras, previamente alocadas lá na mente. A verdade nos interpela!

Rememora bem quem cultiva pelo apropriado razonar o que experimenta, aquilo que ao final do processo "arquiva" na mente. O conhecimento é preciosa riqueza, que se deteriora se não polida, aperfeiçoada, questionada, trabalhada diuturnamente frente às novas experienciações que o viver (com sentido, com significado) propicia.

(Vemos aqui como a Educação é - também - importante no vivenciar humano com sentido e proveitoso resultado: não se pode bem viver se não se cultiva o viver bem, instruído pela Razão, algo que exige refinamento, esforço, instrução, reflexão)

Podemos intuir disto tudo o perigo da infidelidade que ronda perigosamente em torno de cada um de nós, o que vai exigir constante vigilância e discernimento aprimorado para evitar a (auto-)traição, que parece residir junto com a fidelidade. Mas no fundo é ilusão que nossa mente faz, como aquele que caçoa de si mesmo. Fidelidade fundamenta a racionalidade. Quem trai a si mesmo não se ama, e quem não tem amor-próprio não 'ama' nada bem e, pior, não pode exigir amor de ninguém...

Devemos ser fiéis à fidelidade.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Ética da Virtude (de novo...); a polidez.

As quatro virtudes cardeais
( obtido de https://www.freemason.pt/vicios-e-virtudes-na-visao-maconica/ )

[ pedi à Alexa da Amazon tocar  James Taylor, como fundo musical... ]


A virtude, como explicou Aristóteles, é uma maneira de ser, mas no caso humano principalmente, como coisa adquirida e duradoura - é o que somos porque assim nos tornamos. A  virtude, como ensina o filósofo André Comte-Sponville, ocorre na intersecção da hominização (processo e fato biológico) com a humanização - uma exigência da Cultura, resultando em nossa capacidade de agir bem. Muitos filósofos se debruçaram sobre esta temática, como Montaigne, Spinoza, Confúcio, Rousseau... Aprendemos que por virtude devemos entender um esforço para se portar apropriadamente, de acordo, concorde com o Bem. A virtude, ou melhor, as virtudes, são os nossos valores morais vivenciados, atuados

Foi-me agradável surpresa constatar que minha centenária confraria dispôs-se a considerar, desde sua consolidação, a Ética como a chave para alcançar a excelência social (via as próprias conquistas individuais). Virtude seria uma qualidade pessoal que se conforma com o considerado reto, correto e desejável. Creio que uma das características que identificam o verdadeiro obreiro da Arte Real é o polimento de caráter que se expressa via virtudes, como por exemplo na dignidade nas atitudes finas, gentis, próprias de um gentleman, um cavalheiro que todos apreciam estar junto, um parâmetro escrupuloso de civilidade. Vou dedicar algumas publicações aqui neste blog expondo minhas reflexões que, espero, possam ajudar na intelecção de algum(a) interessado(a) neste tema de virtudes como expressão ética.

Como primeiro aspecto de virtude a ponderar, proponho a polidez. É um modo de agir que noto de certo modo escasso hoje em dia.  Nestes tempos turbulentos, chega a ser encarada como virtude ser polido, ter modos, etiqueta, urbanidade, um ser quase circunspecto. Alguns nem consideram polidez uma virtude, pois é pejada de formalidade, de aparato. Um fascista polido não altera a exclusão inerente do Fascismo que representa. Mas com tanta cizânia, intolerância, radicalismo, terraplanismo e outros 'ismos' hoje em dia, ser polido torna-se qualidade necessária à boa e saudável con-vivência. Mas, apesar de ser qualidade, vemos que pouco valor tem isoladamente. Um canalha polido é-nos ainda mais revoltante, pois traduz-se numa  contradição em termos

Mas ser polido parece ser  primeiro requisito que identifica certa preocupação, consideração de alguém para com o outro. Parece constituir-se no primeiro degrau rumo à moralidade. Como nenhuma virtude é natural, a pessoa deve tornar-se virtuosa. Vejo um aspecto de aprendizado (propedêutico) comportar-se com polidez como veículo, recurso para aquilatar-se melhores condutas. Não necessariamente alguém está respeitando um semelhante quando usa "por favor" ou "desculpe",  mas a talvez simulação de respeitabilidade pode tornar-se, por vários fatores, um hábito 'honesto', autêntico no futuro... Por isso insistimos com as crianças para comportarem-se polidamente, ainda que elas (com habitual relutância) não façam ideia por um bom tempo do valor de assim agirem com os demais.

Assim, como ninguém nasce com virtudes, a partir de doses 'homeopáticas' de seus (diversos) elementos podemos 'costurar' numa pessoa, pouco a pouco, as bases para que ela possa cultivar per se outros modos de ser mais complexos, que poderemos ao fim e ao cabo identificar como 'virtude'. Aristóteles já antigamente ensinou que "é praticando ações justas que nos tornamos justos". Definir/ensinar (a cada vez) para um vivente o que seria 'justo' envolve miríades de situações, exemplos, condutas e intencionalidades que, ao longo do tempo, poderão formar na mente de alguém um parâmetro estável para decidir-se agir com Justiça no seu fazer e (co)relacionar-se.

Por isso a importância da Família, onde lá, com paciência bem-humorada, começam (ou deveriam começar) os petizes a vivenciar o respeito dos usos e das boas maneiras...


sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Recuperação (convalescença) operosa, e a carência de virtude.

 
(estava envelhecido com a barba e o cabelão...)

[ hoje estou escutando via App a Radio Eldorado FM, de São Paulo, SP, 107,3  "A rádio dos melhores ouvintes" ]

1. Creio que já falei sobre isso, mas pode também ser um dèjá-vu de minha parte... (avisose alguém no futuro, bem no futuro mesmo, quando eu for famoso - rs rs rs - fizer certo trabalho de paleografia em meus escritos, creio que poderão identificar traços de senilidade... rs rs rs).  Lembrei este fato porque é meio que 'permanente' Ruth parece que toma formol! Ela não parece envelhecer... Acreditem se quiser mas quando eu estava cabeludão e barbudão, brancos assim (há uns dois ou 3 anos), duas pessoas disseram que a Ruth era minha filha... Nessa hora a gente tem que tomar uma providência... cortei tudo curtinho.  Cabeludo e barbudo  nunca mais, senão vão dizer logo-logo que é minha neta e aí  'ferrou', cacildis. Na verdade, gosto de minha esposa ser muuito bem conservada, 'ajeitada/em forma'! Ela sempre foi muito zelosa, cuidadosa com sua imagem, e acho que mulher sem vaidade torna-se menos feminina, uma tragédia. Sim, sou 'antigo', graças a Deus.

2. Reduzido à condição de operado-em-recuperação limito atualmente meus dias  a ficar esperando pacientemente meu organismo, em sua (lenta por demais) velocidade e 'processualidade', se regenerar. Estou me alimentando super-bem, como sempre e, agora que tirei os pontos, restando bela cicatriz, espero poder pegar firme na fisioterapia. O médico disse que a partir deste janeiro poderei fazer várias coisas neste sentido, a partir de um exame de raio-X que devo providenciar para checar o estado da instalação. Eu falo 'instalação'  porque é um equipamento sofisticado que me tornou de certo modo 'biônico'  - a biônica ou biónica é a técnica de aplicação de conhecimentos de Biologia na solução de problemas de engenharia e design e que necessita cuidados determinados para garantir seu bom funcionamento ao longo de sua vida útil.  Sou disciplinado e sistemático, não ligando muito para a dor que estes processos fisioterápicos implicam, desde que conduzido de modo racional e com foco. O lado bom (sempre procurei ver em tudo o copo meio-cheio) é que estou lendo 'dobrado', revendo meus filmes, planejando, 'filosofando'... e constatando a cada momento como somos frágeis, efêmeros, dependentes. Meu pai sempre dizia que o tempo passa muito depressa, e por isso evito desperdiça-lo, principalmente esbanjando-o, como já comentei aqui, com pessoas tóxicas, idiotas. (isto é uma coisa que acabo ensinando a praticamente todos os meus clientes)

3. Uma alma bondosa, irmão na Arte Real trouxe-nos uma caixa cheia de víveres - até uma dúzia de ovos continha! Tenho recebido nesta trabalhosa convalescença agradáveis visitas ou telefonemas de pessoas amigas, o que contribui para escoar com leveza as (restritas, imobilizadas) horas. Outros tem me zap-zapeado...  Estas gentilezas, por poucas que sejam, nos felicitam, harmonizam, equilibram. Quem não planta isso (gentileza) colhe insegurança, desalento, desgostosura de vida (que é breve por demais, como já disse). Resumindo: nós é que nos fazemos felizes! É  patético aquele(a) que vive na ilusão que o(a) outro(a) que deve/deveria nos fazer feliz. Estas expectativas irracionais nos prendem à infelicidade, à melancolia, ao enfado, e toda gama de insucessos pessoais, profissionais, emocionais. Quantos ainda neste século morrem sem descobrir este fato.


4. Tempos bicudos os atuais... Eu, que convivi com costumes do século passado (meus pais nasceram na década de 20), vivenciei grandes alterações nos valores sociais principalmente após a década de 70, período em que entrei na faculdade. Quando analisamos o dito caos social atual creio que a velocidade das alterações, das mudanças nos valores (grande vetor foi a informatização e digitalização galopante que foi ilustrada numa dos mais impactantes decorrências, a globalização) delineou novos funcionamentos sociais dentro dos diversos setores. No nível pessoal, vemos atualmente a emergência de tanta gente entendida sobre tudo, com tantas certezas que se autorizam a nos interromper o discurso a todo momento. O diálogo é algo escasso; o que mais vemos atualmente a dois (ou três) é a predominância de 'aulas', discursos, conferências, palestras entre as poucas pessoas, pois o monólogo é a sensação que se tem quando o outro nos devolve (pretensa) informação sem levar em conta o que dizemos... A irritabilidade, terraplanismos, preconceitos ou arrogantes impaciência ou intolerância é a marca de muitas atitudes de pessoas frente ao que outros pensam. Certos temas (como a Política) são hoje em dia prudentemente vetados em família ou amigos, se o vivente não desejar se agastar por somenos. A tendência, a tentação à alienação ou alheamento é enorme.

5. Se alguém me pergunta o que mais carecemos hoje em dia, respondo como sempre: educação, instrução, conscientização. E parece que, dentre tantos temas necessários e possíveis que faltam ao Homem aperfeiçoar-se, instruir-se, o mais premente, 'urgente', seria a ética. Neste campo, como sabem - comentei sobre isso noutras postagens -  considero pensar a Ética como ética da virtude, a meu ver mais propedêutica, 'ensinável', apreensível. A virtude pode ser bem ensinada, e principalmente pelo exemplo, mais do que pelos livros. Mas reconheço que, apesar de tantos alertas, o povo não aprecia refletir sobre virtude. Vimos recentemente grande movimento neste sentido nas empresas, mas no nível pessoal reconheço que não é costumeira discussão. Virtude, como nos ensina o filósofo André Comte-Sponville,  é um tipo de poder, uma força-que-age, ou que pode agir. A virtude da faca é cortar, o do remédio é curar a virtude do Homem seria querer e agir  humanamente. A virtude de um ser é o que constitui seu valor, sua própria excelência: a boa faca é a que corta bem, o bom remédio é o que cura bem. Mas no caso do Homem complica um pouco: o que nos distinguiria dos animais, como já intuiu Aristóteles, o que seria a nossa excelência não constituiria somente a posse da razão, mas também da educação, do hábito, do desejo... a virtude de uma pessoa é o que a faz humana, é o poder específico que tem a pessoa de afirmar sua excelência própria, sua humanidade. Voltaremos ao assunto.