Nesta semana pude ver novamente como é difícil a convivência interpessoal em geral (e entre pessoas que já foram cônjuges anteriormente; como ouvi certa vez, “uma ex-mulher é para sempre”...). Sim, no meu caso, vi novamente que, mesmo que me esforce para ser ético, elegante, cuidadoso, cortês; mesmo que confesse meu arrependimento e me desculpe, a ex-esposa pode relembrar rude, traiçoeira e de modo boçal que ela ainda nos carrega como pesada mágoa encarnada, depois de tanto tempo, envenenando-se inutilmente. Chega a dar pena e nos suscita ao pensamento desonroso que somos, pelo menos ali, melhores que ela (o que realmente não significa muita coisa). Que viés (por vezes) pernicioso este meu de ‘psicologizar’ os acontecimentos, mas é quase inevitável. Porquê certas coisas tem o condão de fragilizar tanto determinadas pessoas? Por mim, digo que considero um auto-treinamento meu ‘insistir’ que as coisas são menores do que eu, e que não é justo deixá-las nos derrubar. Quando vejo isto nos outros constato como todos temos cruzes a carregar que podem ser, paradoxalmente, um palitinho para os outros. Lembro-me de uma crônica (se assim posso nomear) de Danuza Leão, publicada na Folha de São Paulo em 25 de setembro de 2005 (‘Considerações sobre o egoísmo’, baixar em http://www1.folha.uol. com.br/ fsp/cotidian/ff2509200505.htm) no caderno Ilustrada. Ela dizia que os egoístas não amam os demais mas, antes, não amam a si mesmos. Podem ser até boas pessoas, mas tem uma falha essencial, aquele ‘desconfiômetro’ que minha mãe sempre me lembrava quando era criança. A grande indagação da articulista é se este tipo de pessoa pode mudar, e como. O bom senso diz que sim, mas o processo é que são elas. Novamente, neste caso, vejo que (para mim) funciona aquela reflexão sobre o desenvolvimento das virtudes. Os antigos (notadamente Aristóteles) ensinavam que o modo de ‘evoluir-se’ para melhor como ser humano era cultivando as virtudes. Mas o que é uma virtude? Como vimos, sabe-se que, grosso modo, constitui num padrão de comportamento e sentimento: uma inclinação sistemática e consistente para agir de certa maneira e desejar e sentir certas coisas em determinadas situações. Sabemos por experiência própria que possuir emoções apropriadas é essencial para o que nomeamos ‘a arte do bem viver’, consistindo virtude (em grande parte) na posse e uso de raciocínios apropriados sobre as condutas condizentes/adequadas que devemos executar na situação em que nos encontramos, eventos que se nos são dados. É qualidade por demais complexa, que custamos a nos conscientizar. Mais uma lição a relembrar.