A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

sábado, 9 de julho de 2011

'Esfinge' (ou minha Mona Lisa), fábula e outros comentários.

Ruth Barroso - meu arquivo pessoal

          Sim, é Bilú, em foto normal (ela pediu para não colocar, sabe como é mulher vaidosa; mas é ela, 'total', misteriosa, uma 'Mona Lisa' com estes olhinhos tristes que me cativa, e é a ilustração do que quero iniciar este post) do dia-a-dia. Uma mulher como as outras, mas tão especial - minha esposa! Disse dos olhinhos tristes porque ela tem tantas memórias e lembranças que me esconde, como uma esfinge a ser decrifrada - pergunto a ela a razão da tristezinha e ela nunca me diz (bem, às vezes sim, depois de muito implorar...). Mas o normal é ve-la enigmática,  sorumbática, ensimesmada, em vero solipsismo. Entendo-a. Vivi muitos anos da adolescência assim, organizando meus pensamentos confusos, mesclados. Passava horas no quintal de casa (que saudades da rua 3, #95, em Rio Claro, em frente ao Velo Club; um dia preciso fazer um post desta casa, onde moramos por 45 anos...) cogitando, cismando  (penso que nestas fases muitos se viciam em cigarro ou bebida ou algo pior - é complicado confrontar-se; felizmente, pela Graça de Deus, tive pais ótimos que pavimentaram bom caminho, sem perigo de desvio ruinoso, como tanto se vê hoje em dia). Mas o assunto é Bilú: que rica vida interior, seguramente! Mas ela não compartilha muito, a não ser que eu me aproxime com jeito e na hora dela, que coisa!  Mas vale a pena; que bom seria se tivéssemos nos encontrado antes - era com ela que eu tinha que ter minha prole; estariam todos perto da gente, e ambos curtindo nossos netos e uma vida como deve ser, não esta solidão de casal que ninguém nota, ninguém priva... Paciência.

toalhas de fio barbante (por Ruth Barroso)

          Vejam estes caminhos de mesa. Fotografei-os pelo celular Nokia agora cedo. Clique na foto para ver melhor os detalhes. Imagine que Bilú elabora estes intrincados trabalhos numa tarde!  Que velocidade... Ela maneja a pequena agulha com tanta maestria que fico embasbacado. Ela diz que aprendeu com sua querida avó Maria (de sua mãe Lourdes, minha querida sogra - já vi Bilú fazendo de olhos fechados os complexos pontos!) e que é sua 'terapia' - quase a invejo. Tenho as minhas terapias também, como escutar hinos sacros antigos (tenho 20 CDs instrumentais,  presentes de minha querida filha Marília quando fui a visitar nos Estados Unidos,  são quase 400 preciosas obras musicais) ou ler, ler, ler... (antes, montava aviões em miniatura e aeromodelos de madeira de balsa, e colecionava moedas quando criança; na faculdade, fumava cachimbo).

          Continuo relendo, estudando As Institutas da Religião Cristã, de João Calvino, sua obra prima.  Que obra maravilhosa, quanto esclarecimento. Estou no volume II (são quatro) realizando novamente ali a intelecção sobre o arrependimento. Aprendi muito sobre o perdão divino e sobre o confessar  de nossos pecados. Como saber com clareza sobre a Vontade de Deus se não nos aplicarmos a desvendar, mediante nossa limitada mente, a Palavra? Graças dou ao meu Pai Celestial ter chamado a Calvino para nos ajudar, com sua imensa erudição e disciplinada argumentação, a controlar nossa mente carnal e incompleta inteligência, colocando em ordem cristalina e inequívoca o santo ensino, de modo a que possamos discernir o Plano que Deus tem para nós, sem desvios das nossas crendices e desejos pessoais! Que santo privilégio termos As Institutas em nossas mãos! É o melhor livro, depois da Bíblia... Para mim, consigo entender de modo explícito, evidente, a Palavra, sob Calvino e suas meditações e preciosa reflexão fundada  somente nas Escrituras. Uma alma santa, alçada pelo Pai em nosso favor, como Agostinho, Lutero e tantos outros.

          Agora, uma fábula. Escolhi hoje a de número LXVI, do libreto já citado em outros post. Chama-se O Vento e o Sol. Conta a quimera que... Certa vez o vento e o sol tiveram uma discussão sobre qual era o mais forte dos dois e então concordaram em resolver a questão por meio de uma competição: aquele que primeiro fizesse um viajante tirar seu paletó seria reconhecido como o mais poderoso. O Vento iniciou e soprou com toda sua força, levantando uma rajada de ventania fria e aterradora como uma tempestade do Alasca. O mais fortemente ele golpeava, mais apertado o viajante segurava em si seu paletó com as mãos. Então o Sol surgiu, e com seus raios abundantes dispersou as nuvens e o frio. O viajante sentiu a súbita mornura e, assim como o sol  foi brilhando mais e mais, ele sentou-se, dominado pelo calor e, abrasado,  jogou seu paletó ao chão.

          Dessarte, o Sol foi declarado vencedor e, desde então, a persuasão é apreciada em mais elevada estima do que a força. Realmente, um alvorecer luminoso ou as gentis maneiras abrem mais prontamente o coração das pessoas do que todas as ameaças e a força de uma tumultuosa autoridade. 

          Gosto desta fabela pois encerra precioso ensinamento - temos que aprimorar os modos pelas quais a alma humana é alcançada, mesmo as mais encapsuladas e renitentes em se desvelar (em especial as femininas...). Que esfuziante desafio! Mas o importante é auferirmos  a regra geral de que mais vale usar a razão, a calma e a persistência (o que se nos custa...) para demonstrar ao próximo o acerto de nossas idéias (o quanto seja, cremos,  errônea a do outro) do que fazer, como muitos, por preguiça ou impaciência ou incapacidade, uso da força, do 'argumento baculino' (de báculo...).

Ruth e uma de suas melhores amigas,
a sua colega de faculdade, a querida Lígia.
( foto por Lucas V. Dutra )

sexta-feira, 1 de julho de 2011

As Lebres e as Rãs; fim de semestre...


Gravura obtida nesta data de 
http://ailhadaspalavras-alvarinhos.blogspot.com

          Hoje, fuçando no google images - que faríamos hoje sem o Google? - para ilustrar esta fábula (nro. LXIV do libreto - página 67 - já evocado anteriormente...) achei a acima colocada; inclusive a autora do despojado mas atraente blog também comenta (com foco diverso) esta mesma fábula. Estou curtindo muito esta série, pois descubro sites interessantes pela web!

          Diz a narrativa alegórica que ... desde que as lebres eram continuadamente ameaçadas pelos inimigos à sua volta, certa vez fizeram uma reunião para debater sua lamentável condição. Consequentemente, elas decidiram que a morte seria mais preferível à sua desesperada situação e saíram para um lago próximo, determinadas a se afogarem como as mais miseráveis e desgraçadas das criaturas.

          Ocorreu que um grupo de rãs estavam assentadas à margem do lago, admirando o luar, e quando ouviram as lebres se aproximando, assustaram-se e saltaram às águas em grande alarido e confusão.  Vendo o rápido desaparecimento das rãs, uma das lebres gritou às companheiras: 'Parem, amigas! Nossa situação não é tão desesperadora como parece! Existem outras pobres criaturas ainda mais covardes que nós!' O  compilador aduz a máxima, fechando a narrativa: "Lembre-se, não importa quão infeliz você seja, haverá sempre alguém que não gostarias de estar  no lugar dele... "

          Muitas lições cabem nesta fabela. Para mim, a mais óbvia é o fato de sermos por vezes pouco indulgentes conosco mesmo, exigindo de nós mesmos perfeição e realizações ótimas em todas as situações. Não nos perdoamos errar, não ser realizador ou competente. Comparamo-nos com os outros, e sempre vemos pessoas 'melhores' que nós, nisto ou naquilo, com mais ou mais vistosa fortuna, etc.   O fato é que sempre encontraremos pessoas melhores (e piores, também) que nós, não importa com o que nos comparemos e com quem... O problema é então a malévola tendência de ficar comparando a todo momento. Nosso foco acaba na constatação de coisas 'resultantes',  das quais desconhecemos precisamente a processualidade que levou ao resultado que estamos a comparar. O foco deveria ser em nosso comportamento - como aperfeiçoa-lo paulatinamente, de modo que a recompensa seja uma decorrência natural. Quando se olha somente resultados, corre-se o risco que julgarmo-nos miseráveis, incapazes, despossuídos, desprezados, etc...

          Quando se cultiva a virtude da humildade, aprendemos logo que tal disposição de ficar comparando é lorpice. Da comparação surge inveja e outros sentimentos perniciosos que obnubilam nosso entendimento, enredando-nos num cipoal difícil de discernir. Mas se olharmos ao outro e vermos que estamos todos juntos 'condenados' a viver num mundo  dado, que recebemos 'pronto', cada um na sua pessoal condição, poderemos divisar que podemos suplantar nossas imperfeições naturais, esperadas, habilitando-nos  de um lado à solidariedade, ao companheirismo, à mútua instrução e, de outro, à sábia apreciação do que  efetivamente somos aqui e agora, e assim poder planejar a pessoa que desejamos ser. Nossa vida, nossa existência, é determinada por aquilo que planejamos ser, pois livre-arbítrio, se o temos, constitue nossa principal natureza - poder decidir quem queremos ser.

          Fim de semestre letivo. Passou depressa mesmo desta vez! (dizem que quando o tempo corre célere é sinal inequívoco de nossa ancianidade...) Espero que consiga descansar neste julho da faina escolar. Outro dia estava comentando com um amigo, veja só, sobre aposentadoria, e ele me disse que, se pudesse, tinha já se aposentado 'ontem', dada a canseira que as relações interpessoais hodiernas determinam. Cansa-se demasiado porque as pessoas não são polidas como antigamente; ser tosco, rude hoje parece ser 'normal' no trato comum. Concordo com o colega - vejo isso em sala de aula muitas vezes, e também pelos corredores da escola, nas ruas, na igreja! A saída para problemas que temos é culpar ao próximo, ou a sociedade, ou ao governo, ou a Deus. Quão sábio aquele cientista que esclareceu que a inteligência abarca muito mais dimensões do que pensávamos, sendo a emocional a primordial. Eu creio que esta dimensão (inteligência emocional) precisamente organiza, estrutura as demais, pelo menos no trato interpessoal. É muito cansativo hoje em dia conviver! E o pior, quanto mais velho se fica, menos paciência parecemos ter, daí o cansaço (ou será o famigerado fastio, o antojo, o enfado, o tédio??)...

domingo, 19 de junho de 2011

Hércules e o carroceiro

foto obtida de    http://cantodecontarcontos.blogspot.com    hoje!

          Do libreto de fábulas... 'Um fazendeiro estava guiando de modo negligente sua carroça ao longo de um caminho barrento quando as rodas ficaram emperradas, imersas na lama, deixando assim os cavalos paralisados. Vendo isso, o homem caiu de joelhos e começou a rezar para Hércules vir e ajuda-lo, sem no entanto fazer o mínimo esforço para livrar o veículo. Hércules respondeu ao carroceiro dizendo que ele deveria colocar seus ombros nas rodas, e lembrou-o que os céus somente ajudam àqueles que tentam ajudar a si mesmos'. O compilador finaliza com a máxima de que podemos orar o quanto for; se não aprendemos a ajudar a nós mesmos, todas as nossas preces serão ignoradas...

          Vejo aqui como uma verdade celestial, que podemos aprender na Bíblia, também é de conhecimento geral, acessível às pessoas comuns, tão verdadeira e eterna ela é. Mas vejo que nossa inteligência paradoxalmente nos incapacita, por vezes, de vermos o que precisamos fazer de mais precioso a nosso favor!

          Uma das lições do tempo em que tive o privilégio de aprender com o Patriarca Odival Luciano Barbosa, um líder eclesiático sério e  vero pastor (grande caráter e servo de Deus amoroso, algo escasso nos dias de hoje), foi a de que, após orarmos ao Pai Celestial, devemos ir e fazer de tudo o que nos compete para que nosso pedido seja realizado. Todos temos a fantasia de que basta orar (e orar, orar...) para recebermos as bênçãos. Felizmente fui orientado no sentido de que 'Deus ajuda a quem cedo madruga'... Sim temos que ter Fé, mas isto não significa cruzar os braços e ficar olhando para cima.

          Disse que nossa inteligência age por vezes de modo paradoxal visto que, não poucas vezes, quanto mais se julga a si mesmo sábio, não se apercebe o indivíduo de que o conhecimento do mundo é enganador, e não tem este conhecimento mundano o mesmo status do conhecimento que é apreciado por Deus. Para desenvolvermos uma intelecção mínima neste sentido, temos que aliar a prática do que aprendemos das sagradas letras com uma reflexão honesta consigo mesmo, o que nos faculta a 'ouvirmos' os céus nos instruir, e isso mediante também a colaboração dos demais irmãos (que são usados muitas vezes por Deus para nos ensinar o que é necessário). Que triste vemos pessoas que se arrogam sabedoria, conhecimento, autoridade etc. sobre o que Deus dispõe e que demonstram em sua diuturna práxis comportamentos desarmônicos, contraditórios, incongruentes!

          Todo ensino da Bíblia visa, no plano eterno, à salvação do homem e, no plano mundano (entre outros), ao aperfeiçoamento de nossa vida (e isso implica, além da vida  quase-solipsista de cada qual, nossa vida - por vezes trabalhosa -  social). Qual a vantagem de saber-se 'biblicista' se não se esmera em aplicar a si mesmo aquelas verdades (e no aperfeiçoamento da complicada vivência interpessoal)? E, pior, usar aquelas verdades celestiais  para fundar, fundear, fundamentar de modo interesseiro suas disposições e caprichos?

          Outro dia li numa revista denominada Cristianismo Hoje  uma reportagem comentando o fato de que muitos cristãos estão abandonando as igrejas onde congregavam e reunindo-se, aqui e acolá, com pessoas conhecidas ou não em suas residências, para orar, entoar hinos e cânticos e compartilhar as riquezas da Bíblia. Muitas pessoas estão feridas por problemas de relacionamento e, apesar de não apostatarem da Fé, evitam associar-se novamente a quaisquer tipo de agremiação religiosa. Creio que uma das  principais explicações  para o recorrente fenômeno é a qualidade da formação dos responsáveis pelos trabalhos eclesiásticos, que não aplicam o que a Bíblia dispõe àqueles que se comprometem a ser pastores. Saem dos Seminários com certa erudição sobre o Antigo e o Novo Testamento, mas paupérrimos, imaturos na vivência que se requer para apascentar o rebanho... E o pior, a prática pastoral de muitos anos por vezes não aperfeiçoa a pessoa em sua importante obra, em seu ministério. Nem falo daqueles mercadores da Fé que transformaram a idéia de religiosidade, grosso modo, em empresa de 'prestação de serviços'...

          Como a espiritualidade hoje está banalizada; virou também uma commodity (não, não é este termo um estrangeirismo oportunista, acabo de vê-lo no Houaiss!!), ao que parece... É como um produto, destes de consumo em massa, produzido em larga escala, como podemos ver em profusão pela mídia. Cada vez mais o crente tem dificuldade de discernir, como se diz, o joio do trigo. Mas sabe-se que a vida espiritual é primacialmente algo constituído como um relacionamento pessoal Criador-criatura, e temos, neste âmbito, que nos esforçar em nosso estudo da verdade revelada, para não dependermos tanto dos outros ou mesmo de nossa imperfeita inteligência. Eu, como sou muito limitado, procuro os comentaristas íntegros e lúcidos para investigar. Por isso que aprecio imensamente Calvino, Lutero, pois remetem sempre à Bíblia, e só a ela.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Niver do sogrinho e fábula...

         
          Acabo de tirar esta fotinho do meu apartamento (para variar, esqueci de ajustar a câmera com a data de hoje - é a idade...). São João da Boa Vista é conhecida pelos lindos crepúsculos verspertinos. Costumo colocar uma cadeira do lado de fora do apartamento aqui no condomínio para apreciar esta dádiva do Pai Celestial. Um poente assim deixa a mente mais leve!

          Ontem comemoramos, na linda chácara do concunhado Alzenir, os 90 anos do meu sogro, o famoso Barrosinho (na verdade seu natalício é hoje), figura 'terrível' na sua mocidade, segundo fiquei sabendo. Mas hoje é um homem de Deus, com uma Fé inabalável. Fez um belo discurso de agradecimento. Ele vai a mais de cem anos, pois tem uma saúde de ferro. É uma pessoa alegre, educadíssima, companheira mesmo. Ruth é sua filha-xodó, com quem uma especial ligação (ela também é MUITO ligada a ele). Vários parentes vieram prestigiar a festa, que foi 'surpresa'... e muitos, parentes por parte de sua falecida esposa.

José Barroso e a amiga Sandra

           Hoje vou comentar uma fábula do libreto já citado anteriormente - a Fábula dos viajantes e do urso (nro. LIV, p. 57). "Dois amigos estavam viajando juntos pela mesma estrada quando encontraram um urso. Sem se importar com o companheiro, um dos viajantes, espertalhão mas apavorado, subiu rapidamente numa árvore  e se escondeu. O outro percebeu que não tinha chance se lutasse a mãos nuas com o urso então caiu ao solo fingindo estar morto, pois escutara que os ursos nunca tocam um defunto. Assim ele permaneceu imóvel, e o urso aproximou-se de sua cabeça; cheirou seu nariz, ouvido e coração, e o homem ficou prendendo sua respiração. Finalmente o urso convenceu-se de que ele estava morto e retirou-se. Quando o urso ficou fora do campo de visão o homem fujão desceu da árvore e perguntou ao outro o que o urso tinha sussurrado para ele, pois percebera que o animal tinha colocado o focinho bem pertinho do ouvido do seu amigo. 'Não foi nenhum grande segredo', replicou o outro. 'Ele meramente me disse que ficasse esperto com meu companheiro de viagem e que não confiasse em pessoa que abandona seu amigo na hora do aperto!'..." O compilador das fábulas encerra a história com a máxima 'A adversidade testa a sinceridade dos amigos'.

          Em minhas palestras sobre gerenciamento de estresse e sobre outros assuntos de psicologia aplicada  eu costumo perguntar se podemos identificar um(a) ou d(uas)ois amigo(a)s de verdade em nossa vida. Se não temos um ou dois amigos, aquela(s) pessoa(s) que larga(m) tudo para te ajudar, estamos mal (muitos não são amigos nem de si mesmos!). Nestes tempos atuais temos muitos conhecidos, colegas, parceiros. Mas amigos, coisa cada vez mais rara. Sinais da época despersonalizada, massificada, tresloucada, mutante em alto grau nos valores humanos, cibernética ao extremo, plena de azáfamas. Tendemos a nos voltar para nós mesmos, e a solidão só aumenta, pois não se consegue confiar mais nos 'amigos'...  As pessoas estão cada vez mais 'vazias', é o lugar-comum. E as estatísticas insinuando que, também a cada vez, as pessoas "precisam" menos de Deus. Custa-me a entender isso. Mas estou investigando.  Enquanto isso, 'deixa' eu olhar mais um pouco o poente...
 
(clique duas vezes na foto para ampliar - você verá algumas casas do bairro
adjacente - meu condomínio fica ao alto - e, mais perto, no rodapé da foto,
detalhes da quadra de basquete ao lado do meu apartamento)

sábado, 4 de junho de 2011

Khalil Gibran (1883 - 1931)

foto obtida hoje de
http://felinanalua.blogspot.com/2011/01/gibran-khalil-gibran.html

          Hoje dou uma dica 'rememorativa' dos meus anos de faculdade. Uma das obras que a moçada indicava uns aos outros era o famoso O Profeta,  do autor citado acima. [[ obtenha o libreto no site  http://www.clube-positivo.com/biblioteca/pdf/profeta.pdf   Eu gosto mais da versão em papel que comprei em banca - baratinho!! - da editora L  e PM,  Porto Alegre, RS,  2001, coleção L e PM Pocket nro. 222, traduzido com muita competência por Bettina Gertrum Becker ]]

          Existe uma boa biografia do nosso autor em  http://www.paralerepensar.com.br/gibran.htm  Ele é um artista bem conhecido, apesar de hoje em dia não aparecer muito pela midia. Mas se voce colocar 'Khalil Gibran' no Google verá quanta coisa surge!

          Eu vou propor aos meus alunos da disciplina Psicologia Humanista-Existencial realizarem um trabalho a partir do conteúdo deste livro. Existem muitas coisas interessantes, sobre temas muito humanos e, o mais legal, ditos de forma poética, como convém nestes dias turbulentos, de tanta certeza...

          Tencionava escrever mais agora, mas tenho que sair correndo para trabalhar (sim, neste sábado!) numa atividade da Prefeitura na praça central da cidade - tipo 'domingo na praça' - como sou funcionário público, minha universidade participa da atividade e vamos colaborar. É divertido, e posso compartilhar com meus alunos, o que é deveras salutar.  Bom fim de semana a todos!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

(Centésima postagem!) A fábula do Burro


 Ilustração obtida de
http://es.wikipedia.org/wiki/Equus_africanus_asinus
em 26.05.2011


Hoje reflito sobre uma fábula (O burro – de número  XXXVI do livrinho já citado anteriormente...) que até discuto em alguns cursos na faculdade, pois aborda a questão da nossa posição frente ao que consideramos 'verdade'.
 
Um burro, ou mulo, jerico, um animal estéril resultante do cruzamento do jumento com a égua (ou, lógico, do cavalo com a jumenta...) cresceu gordo e brincalhão a partir das generosas porções diárias de milho que recebia e, um dia, enquanto pulava, escoiceava e cabriolava pelos campos, disse a si mesmo “Minha mãe deve certamente ter sido uma corredora puro-sangue, e eu sou tão bom nisto como ela era!!”.
 
Mas logo ele se exauriu com o intenso galope e traquinagem, e imediatamente se lembrou que seu antepassado genitor não passava de um asno...

O compilador das Fábulas de Esopo encerra a narrativa afirmando que toda verdade tem dois lados, e é melhor olhar para ambos, antes de declarar onde nos situamos.

Esta lição é preciosa: nada mais inconveniente nas relações sociais quando nos deparamos com uma criatura que se aferra a um certo lado da questão e demonstra incapacidade de olhar para outra(s) possibilidade(s), para outro lado do problema. Poucas coisas ofendem tanto nossa sensibilidade quanto a falta de humildade em se aceitar que  uma outra pessoa possa deter melhor visão de mundo. Nestes tempos turbulentos, com tantas verdades sendo propaladas à mancheia, é mais fácil se apegar a algo, sem criticidade... 

Tragicamente, é na Universidade que tal conduta de rigidez mental, de simplismo, de reducionismo  se demonstra mais perniciosa, ruinosa: a deformação que determina nas mentes incautas pode ser permanente, posto que contagia todas as ulteriores aquisições do discípulo, do aprendiz, implicando assim uma temerária vida futura (pessoal e profissional). Um resultado disso é que vemos diminuída na pessoa a capacidade de identificar sandices, parvoíces, em si mesmo, nos semelhantes ou nas idéias que, a todo instante, somos alcançados. 

Que possamos nos vacinar contra os efeitos deletérios da comodidade, da pachorra mental, da lenidade a que nos acostumamos neste cipoal de especialistas, entendidos, consultores e profetas da certeza fácil ante um mundo crescentemente mais complexo e, a cada vez, mais inacessível à decifração útil e significativa...

sábado, 21 de maio de 2011

Tesouro disponível e outros fatos

Gravura obtida hoje no domínio abaixo:
http://poeticaecotidiana.blogspot.com/2009/03/musica-rara-carlos-gomes-e-francisco.html

1. Hoje vou indicar um dos melhores sites do planeta, o da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. É, creio, um verdadeiro patrimônio da Humanidade! Tem 'de tudo' lá... Acesse:    http://www.loc.gov/index.html    Hoje saiu uma nota sobre isso no jornal O Estado de São Paulo (caderno Sabático) que comento abaixo. Vale a pena ler a notícia neste renomado periódico.

Mas o que tem de incrível neste sítio é o link (entre centenas disponíveis)  http://loc.gov/jukebox  , inaugurado em 10 de maio do corrente.  Este domínio possui raridades fonográficas imperdíveis. Quer ver? Faça uma busca avançada pelo termo "Carlos Gomes" e verás algumas peças do nosso renomado artista, cantadas por pessoas como Caruso! Existem no site mais de 10 mil gravações raras e históricas, abrangendo o intervalo de 1901 a 1925. E o mais legal, o acesso é gratúito!

2. Tomei esta semana a vacina anual contra a gripe, no Posto de Saúde do bairro. Como sou um trabalhador da área da saúde, tenho o direito, como as gestantes e idosos. Sempre tomo, e isso há muitos anos (nunca mais fiquei gripado, e resfriado, quando tenho, é bem fraco... ) Bilú não vai tomar, visto que tem receio (creio que 'receio psicológico', supersticioso, pois o medicamento é produzido com fragmentos inertes de vários vírus, inclusive o famigerado H1H1) desde que passou mal, há tempos, depois de uma vacina que tomou, ainda em São Paulo... Acho incrível, nestes tempos googleanos, uma criatura medianamente informada recusar-se a usufruir de um recurso importante como este. Pior que isso é a pessoa que toma antibiótico quando fica gripada... Mas que fazer, nada mais me impressiona neste mundo!

3. Terminando o semestre letivo. Como passou depressa! Não sei se fico feliz pelo 'refresco' nas cansativas aulas (estou ficando velho para isso...) ou receoso da choradeira inevitável de boa parte do alunado que não consegue boas notas. Eu tenho o sistema didático de  considerar  várias avaliações, com trabalhos alternativos/complementares  para os que não se saem bem, mas milagres estão escassos hoje em dia. Tem gente que nem com "reza brava" consegue ficar fora do exame final (o grande trauma deles - eles acham que devem 'fechar' todas as notas sem se valer do direito de se submeter a exame final), e o fato de 'nós', os docentes, os 'deixar' de exame é uma grande maldade de nossa parte, segundo eles consideram. Não adianta argumentar que, no fundo, são eles que 'ficam' de exame mas, na ótica do alunado, é o professor que cruelmente os condenam a prestar exame, só para  maltratar... Durma-se com um barulho destes!

domingo, 15 de maio de 2011

É o fim da picada!

Foto obtida de http://www.obliviatee.com/ hoje...

          Li pelos jornais que o MEC - Ministério da Educação e Cultura, Programa Nacional do Livro Didático, adotou um material - para o programa de educação de jovens e adultos, EJA - que 'autoriza'  ao aluno a possibilidade de se cometer erros gramaticais, de modo a não ser 'prejudicado linguisticamente' (livro de língua portuguesa da autora Heloisa Ramos Por uma vida melhor, da Coleção Viver, Aprender, Editora Global). É demais, não me falta ver mais nada! Sabemos que a língua de um povo no seu conjunto é algo vivo, que se transforma mas, nesta época de mudanças rápidas e alterações tão impactantes na sociedade, tal tipo de excrescência, se virar moda, determinará que, em pouco tempo, os problemas entre o português culto (a linguagem mormente escrita e mais formal, erudita, empregada ou não em documentos oficiosos ou oficiais, etc.) e a fala do dia-a-dia se avolumem sobremaneira... No limite, existirão duas 'linguagens', podem esperar, a se confirmar esta  tendência, ainda mais num país de dimensões continentais, como o nosso, com seus extensos regionalismos... O que os luminares do MEC querem evitar, o preconceito, vai seguramente aumentar com este expediente chué, e originar ainda mais a não-inclusão das pessoas que não dominarem um mínimo aceitável das regras apropriadas da comunicação do nosso idioma (o que, afinal, é o que nos une, do Oiapoque ao Chuí...).

          Sim, sei que os linguistas e literatos discutem a questão da língua ser algo em construção (onde até defendem o que se critica aqui), mas se um jovem for fazer entrevista de contratação de emprego numa empresa, será muito prejudicado em sua avaliação se falar errado! Eu creio que o livro em questão não é a tribuna apropriada para se discutir algo que os acadêmicos debatem num outro nível,  na Universidade, entre especialistas. (Veja o que aconteceu quando o assunto caiu na mídia...) Uma obra didática deve instruir o português escorreito ao falante comum, como todos nós, o português como os que tem polimento compartilham, ainda que se permita informalmente, aqui e acolá, certos deslizes na fala oral (atire a primeira pedra quem já não maltratou verbalmente ou manuscritamente a nossa língua...). Acho que a questão é séria; o português é a língua oficial de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, e é falada também em Goa e Macau...

[[ Quando escrevo aqui tenho o maior cuidado de escrever corretamente. Se algum dia alguém observar algum erro, por favor me comunique! Reviso e reviso, e ainda acaba passando algum erro... que fazer, mas é um dever de respeito ao leitor, já que sou professor e escrevo "para o mundo", como se diz.  Se procuro não ser preconceituoso, injusto ou mal-educado nas minhas ponderações, de igual modo sinto-me obrigado a caprichar no texto em todos os sentidos - como capricho na apresentação geral, na organização, no lay-out.  ]]

          A cada dia vejo as coisas andarem mais e mais para trás na Educação em Belíndia... que coisa horrível. Quando vou corrigir provas dos meus alunos (costumo avaliar a aprendizagem com perguntas abertas, onde os mesmos devem construir um texto argumentativo, dissertativo) corrijo também os inevitáveis - por vezes pavorosos - erros de ortografia. Digo sempre aos meus preclaros educandos dos problemas futuros que eles ou elas terão pelo cacografismo a que desavisadamente se entregam. Mas sei que muitos se amofinam com minhas ponderações, não lhes dando crédito... paciência! Cumpro minha obrigação de preceptor.

http://pilivre.blogspot.com/2009/12/gorilas-machos-nosso-primos.html

sábado, 14 de maio de 2011

Fábula do Urso e a Raposa

Obtido de http://www.canstockphoto.com.br/ hoje...

Hoje apanhei  - graças ao Google! - uma foto de um site incrível que fornece todo tipo de foto, para ilustrar mais uma  predileta Fábula de Esopo. Esta (de nro. XIX do livro Aesop's Fables, London: Penguin Books, 1996, p. 19; Penguin Popular Classics, #20. Selecionado e adaptado por Jack Zipes) relata a passagem onde um urso costumava jactar-se sobre seu grande amor pela humanidade, dizendo que ele nunca profanara um cadáver humano. A raposa observou com um sorriso, "eu ficaria mais impressionado com sua afabilidade se você nunca tivesse devorado um ser humano vivo! " O editor termina o apólogo com a observação 'Não devemos esperar até que a pessoa morra para demonstrar nosso respeito'.

Costumo ir a enterros e observar os comportamentos. Em especial com relação a falecimento de pessoas idosas, quantos choram ante o(a) falecido(a), consternados, quando sabemos que o(a) maltratavam quando vivo(a). Não dá para entender... O mais incrível para mim é pensar que aquele que assim se descabela dá a impressão de não atinar com que os outros possam estar pensando de tamanha falta de pejo, da sua repulsiva desfaçatez... Mas parece mais que, hoje em dia, as pessoas não se importam com o que os outros pensam sobre elas. Porisso o contumaz espetáculo da falta de educação, de civilidade, nos mais variados setores e estamentos. O mais patético é o que se observa no trânsito de veículos e pedestres, principalmente pelos famígeros 'motoqueiros'. 

O que a mim mais causa espécie é o fato de um colega de trabalho, ou um aluno que vemos semanalmente, ou, pior, um irmão da igreja, cruzar a sua frente e não ter a fineza de  compartilhar/retribuir ou ainda conceder um cumprimento (gesto, palavra ou mesmo um esgar - pode ser mesmo uma carantonha - à guisa de saudação), uma  atenção ao seu olhar que lhe foi dirigido. Sei que, nos presídios, pela ética não-escrita da súcia dos meliantes, isto é motivo de assassinato! 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

... permanece a busca de sentido...

 obtido de http://pichorra.wordpress.com/2007/11/09/  via google...


          Gosto de garimpar imagens pela web e achei muito hílare a gravura acima. Eu pensava ilustrar  os pensamentos abaixo com algo parecido... O fato é que estamos vivendo tempos nunca dantes imaginados, sem dúvida alguma. A 'marca genérica' destes tempos é a elevada velocidade das mudanças e sua extensão, abrangência, alcance. Já se disse que voltaríamos célere à Idade Média se não tivéssemos mais energia elétrica, 'de repente'. Fica algo estranho pensarmos viver agora sem web, sem celular, sem e-readers, sem tablets

          Do modo que vejo alguns jovens plugados o tempo todo, imagino o mundo futuro com uma espécie de ecossistema integrado de quinquilharias tecnológicas (vi algo como imagino aqui naquele filme já-quase-antigo, o Matrix) onde o homem será uma espécie de 'adereço', não sei com que grau de importância.  Nossas idéias parecem ser cada vez mais contidas nos chips, e banais, dadas a sua transitoriedade... 

          Sou do tempo em que os objetos e as máquinas eram projetadas como criações do homem para humanizar (paradoxalmente) o ambiente à forma do homem, criando um mundo à maneira do homem (e suas necessidades); as formas, contornos e estrutura dos objetos visavam conformarem-se com suas funções projetadas, e faziam sentido o quanto eram superadas por aparatos mais aperfeiçoados, mais conformes com o que requeria o humanizado da natureza. Hoje já acho que chegaremos em breve na situação que teremos que nos adaptar à maquinaria, à tecnicalidade...

          O ambiente humano aparentemente parece mudar hoje a todo instante, e vemos que as referências  de uso, de destinação dos objetos definidos há pouco se esgotam rapidamente, pelo fracionamento, pela fragmentação das regras e dos padrões com os quais se planejava/ordenava  o entendimento e decodificação da vida cotidiana. 

          Dizem os entendidos de plantão que temos que reinventar o modo de pensar que utilizamos até então. A insegurança, a falta de parâmetros definidos nos deixam temerosos em priorizar também a flexibilidade, a adaptabilidade, a mobilidade, a velocidade, etc. como valores norteadores das nossas relações e cogitações.  Eu, educador,  ainda vejo como importantes saber conversar, ordenar as idéias, ser feliz com o que se tem (principalmente nosso corpo limitado e nossas incapacidades), saber encontrar  sentido nesta ampla constelação polivalente/multifuncional de fatos concretos e virtuais de crescente  e complexa decifração.  Vejo os jovens tão aturdidos (uso ambas as acepções do Houaiss eletronico que está aqui embarcado no meu computador), em derrelição...  que bom que sou 'velho'!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Outra do meu fabulário predileto...

 figura obtida de http://www.apaginadomonteiro.net/textos_soltos.htm

Hoje comento outra pequena fábula de Esopo, que está à página 12 do livrete já aludido anteriormente. Chama-se "O corço e sua mãe".  Fala sobre um gamo novo que contende com sua paciente mãe. Conta-se que um dia um corço disse à sua mãe, "Você é maior do que um cão e bem veloz. Você tem também uma notável resistência e chifres para defende-la. Porquê então, Mãe, você tem tanto temor da matilha?" Ela sorriu e disse: "Eu bem sei disso tudo, minha criança. Mas tão logo eu ouço o latido de um cão eu me sinto desfalecer e fujo tão rápido quanto meus calcanhares podem me carregar". O compilador aduz à narrativa a moral da historieta: "Nenhum argumento, não importa quão convincente, dará coragem ao covarde".

Vejo todo dia pessoas que não tem, aparentemente, auto-confiança rogarem que os ajudemos (principalmente na instituição de ensino...) com algo que eles seguramente poderiam realizar sozinhos, se tentassem um pouco que fosse. Não sei  se um pouco é da índole do 'brazuca' que sonha a todo tempo angariar um patrocinador, um patrono, um 'costa-quente', como se dizia na minha terra. Quanto brasileiro vive tão-somente de uma cesta básica que alguém lhe presenteia todo mês... Seu horizonte é do tamanho do seu braço.

Do velho se diz, por vezes,  que ele (ou ela) já passou da hora de poder aprender algo novo, ou  mesmo que possa mudar sua natureza ('pau que nasce torto morre torto'). Eu, como já presenciei muita mudança em pessoas que se decidem a tal, não acredito neste determinismo que exclui a liberdade do Homem. A pessoa pode muito mais do que meramente acredita, e invariavelmente trazemos a nós mesmo a maior parte do nosso infortúnio. Mas, aqui, um expediente que muitos lançam mão é pespegar a outrem a culpa pela nossa desdita... 

E a moral da história ilustra o que de mais nefasto pode suceder ao homem: a racionalidade é posta de lado, a superstição e a mágoa dominam o pensamento do vivente, enredando-o em uma constante de danações da qual não se vislumbra saimento possível...

domingo, 1 de maio de 2011

Fábula de Esopo

obtido de
http://chato.cl/blog/es/2008/12/historia_jesus.html

Hoje vou iniciar uma série de comentários sobre o grande fabulista Esopo, cuja biografia pode ser averiguada em muitos lugares (ver, p. ex.,  http://sites.google.com/site/fabulasesopo/ e também no http://pensador.uol.com.br/autor/Esopo/biografia/). Depois da Bíblia, é tradicionalmente apreciado pelo povo como um ótimo repositório de ensinamentos úteis para a arte de bem viver. Como eu já havia comentado anteriormente, achei um libreto muito legal - bom e barato! - na livraria Saraiva (Aesop's Fables, London: Penguin Books, 1996 - Penguin Popular Classics 20, selecionado e editado por Jack Zipes) e que agora passo a traduzir e adaptar para meus comentários.

O uso de apólogos/fábulas para orientar ao simples é um recurso tradicional entre os viventes, desde priscas eras. Como se costuma encerrar a lição com uma máxima, ou um provérbio, acaba sendo um modo apreciado, inclusive pela fácil memorização. Uma afirmação dessa, um adágio ou um ditado, colocado ao final de uma estória interessante, visa sintetizar um conceito a respeito da realidade vivida, ou ainda uma regra social ou moral, e as pessoas apreciam a sutileza, a simplicidade da solução, em especial se ela é rimada ('Deus ajuda quem cedo madruga'...). Eu já acho que é bom recurso em especial para se usar com as crianças (se bem que muito marmanjo como eu também se beneficia com sua reflexão...) e até nas sessões de terapia, a ilustrar nossos argumentos.

Uma das mais conhecidas sem dúvida é a fábula da Raposa e as uvas. Conta-se que uma raposa faminta aproximou-se cuidadosa e sorrateiramente de um vinhedo onde cachos de uvas maduras e saborosas derramavam-se em parreirais tentadores. Em seus esforços para obter um suculento prêmio, a raposa pulou e saltou muitas vezes, mas falhou em todas as suas tentativas. Quando ela finalmente teve que admitir sua derrota, ela bateu em retirada e resmungou para si mesma 'Bem, que isto importa, de qualquer modo? As uvas estavam verdes!!' ...  "É fácil desprezar aquilo que você não pode obter".

Quão humano é esta reação da raposa, e vemos isto diuturnamente, inclusive em nós mesmos... sim, muitos de nós utiliza esta saída, de modo a proteger sua auto-estima. O problema é o fenômeno já modernamente bem estudado do auto-engano embutido, que transparece nas pessoas, em diferentes graus. Este tipo de estratégia (que Sartre apropriadamente rotulava de 'má-fé') se observa nas crianças também, e muitos continuam a adota-la na vida adulta. O maior mico que pagamos com esta 'solução' é, na esteira do auto-engano, imaginar que ninguém se apercebe deste nosso devaneio, da 'auto-burla' que nos impomos... O fato é que tal conduta assume, por vezes, contornos patológicos, inviabilizando a mínima convivência.

Neste mundo pós-moderno, logar-se a si mesmo  (ou ao semelhante) parece fenômeno epidêmico, não poupando idade, genero, classe social, nível de educação. A garatusa, a logração, a manganilha, a mofatra, parecem hoje, em muitos círculos, expedientes quase-aceitos, para qualquer um pespega-lo no próximo,  a qualquer título. Vemos que muitos, flagrados nesta deplorável atitude, 'não se dão por achado', e se acham espertalhões, e ficam assim, gabolas... Fazer o quê, sinal dos tempos!