A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Solipsismo... ou Fragmentos (2)

da web... GettyImages - milhões de imagens!
(escuto agora Stan Getz no Spotify...)

1. Todo dia (quase) tenho um tempo para mim - ou na verdade tempos 'vários' - para ler, escutar música ou podcast, mas principalmente fazer alguma atividade física. Espero chegar em idade provecta, mas com saúde, como os meus pais. Já disse à Ruth que ela tem mais "uns 30 anos para me aguentar"... Ela se diverte e diz que pode "ir" primeiro; retruco que os céus não fariam tal maldade comigo... e seguimos zoando um com o outro. Todo dia rimos bastante - este é um dos segredos do sucesso em con-viver: jamais perder o bom-humor.

Outra coisa mui prazerosa que me concedo é escrever, colocar as ideias organizadas, como aqui faço agora. É terapêutico ao extremo, e sugiro isso sempre aos meus clientes aqui na Psicoterapia. No meu caso não fico só 'polindo' os pensamentos - cuido em bem grafar, pois meus escrúpulos docentes de tantos anos me fazem preocupado com o garabulhar ou garatujar, escrever impropriamente, 'crédo'!

2. Um dos segredos de boa disposição psicológica é realçar - via correta atenção - em nosso onipresente fazer/sentir as dimensões da previsibilidade e  controlabilidade. Que mundo fascinante e que época vivemos (ainda que com fake-news e outras mazelas), com tanta coisa a ser desfrutada, e tudo quase ao alcance de nosso olhar, nosso desejo ou aplicado tirocínio... Fico a contemplar quantas coisas podem nos fascinar, a cada momento!

3. Hoje, depois de um tempo ocupado com a artrose do quadril e a colocação de prótese, problematizado pelo grande aborrecimento que foi o fenômeno Sars-Cov-2, retornei ao trabalho que realizei por dez anos no Lar de Idosos São Vicente de Paulo aqui da cidade: atuar como voluntário em cuidados masculinos, fazendo barba e cabelo dos meus 'meninos'... Que satisfação, que gostoso reencontrar muitos dos antigos 'clientes'!  Toda quarta-feira, das 7:30hs às 12hs estarei a postos lá no meu 'cantinho' - uma aconchegante barbearia no piso principal. Levei para lá muitas coisas que tinha na minha 'Barbearia Garage', de saudosa memória, já que não pretendo trabalhar mais nisso aqui em casa - foi bom enquanto durou... Doravante empunhar tesouras só lá mesmo no Lar, e com o meu velho pai que, a cada dois meses quando vou visita-lo em Campinas, corto com muito carinho seus (poucos) cabelos...

4. Aproximam-se as Eleições. Com tanta propaganda dos políticos, está aberto o Febeapá'O Festival de Besteira que Assola o País', como dizia em seus livros de crônicas (foram três, publicados em 1966, 67 e 68) o Stanislaw Ponte Preta (heterônimo do escritor Sergio Porto). Somos, brasileiros, insuperáveis quando se trata de achincalhar, fazer palhaçadas com coisa séria. 'Seria cômico se não fosse trágico...'   

5. Estou a ver - outros de pequenos prazeres! - no Netflix uma série alemã (dei-me um tempo das minhas preferidas séries coreanas ambientadas no século 17 e 18) de nome Kleo, muito bem produzida, além de divertida. Mas hoje em dia temos nestes provedores de streaming  tantas produções bem-feitas, em tantos países diferentes, um verdadeiro estudo de culturas riquíssimas. Curto muito os cenários, as roupas, o enredo/trama inteligente, a interpretação de tantos ótimos artistas!  Distrações televisivas - sou quase um maratonista de sofá - entre os estudos, leituras e tarefas a cumprir para a patroa por parte deste esforçado aposentado...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Chuva e primavera... e - 341a. postagem - alguma cogitação esparsa.



Foto obtida agora (via Google Images) de
http://wanderluxe.theluxenomad.com/coif-it-up-the-swankiest-hipster-barber-shops-around-the-world/

1. Começo de mês e 'tudo parado' nesta crise; meus colegas barbershoppers estão reclamando também. O fato é que normalmente as coisas começam a ficar mais animadas, no âmbito das compras, somente depois que os salários são depositados... E creio que, com este período político-econômico que estamos vivenciando (não emprego mais o termo 'crise'... ficou muito batido!) os fenômenos ficam mais aguçados, ao que parece. Contudo, eu não posso reclamar, só agradeço! Felizmente não tenho dívidas e com minha vidinha funcionária (como dizia o célebre cronista carioca Pedro Nava) não tenho apegos e dispendiosas necessidades; aliás, são bem sóbrias. Agora, por exemplo, escuto W. A. Mozart (1756-1791) no meu CD player (Sinfonias n. 40 e 41 "Jupiter", Série RED Line, da Gravadora EMI Classics) - o quê mais quero? Antes, escutei um som de minha adolescência - o conjunto de rock sinfônico escocês Jethro Tull (' The very best of ', da Gravadora Chrysalis). Fico embevecido por horas!

2. Que época gostosa a primavera! A planta que Bilú me presenteou para colocar aqui na Garage - uma folhagem lustrosa que gosta de sombra - 'soltou'  mini-caules (algo que não é 'folha'... cruzes, que péssimo botânico sou!) e estes estão pejados de minúsculos e espaçados botões alaranjados mui delicados - não sei se é semente ou futura florinha. Estou curioso para ver o que sucederá. A gente se enamora destes viventes, não é mesmo? E só porque nos fazem companhia neste mundo solipsista, especioso e solitário. 

3. Nesta época de vacas magras, estou cortando algumas despesas, para adequar o orçamento. Por política do Centro Universitário onde trabalho (uma autarquia municipal), sou contratado como horista - não é o sistema 20 ou 40 horas de dedicação, como na UNESP ou USP. Sendo assim tem semestre que tenho um número apropriado de horas-aulas, e semestre 'ruim'... Mas, afortunadamente, não tenho dívidas, e minha mulher é muito econômica e industriosa, e nossas despesas são apoucadas, mesmo o seguro-saúde. Como tenho aquecimento solar em casa, também o valor da energia elétrica é baixo. E, depois de tanto tempo trabalhando nos três períodos consegui, há alguns poucos anos (gozado, fui na Agência  do INSS no fim do ano contar meu tempo para ver se tinha o direito e, "quando vi" - cáspite! - comecei a receber no começo do ano seguinte o meu sagrado 'provento'...), minha aposentadoria no sistema geral que, apesar de não ser muito (o malfadado 'fator previdenciário' reduziu boa parte do meu ganho) ajuda a fechar as contas no fim do mês.

4. Ouvi dizer que, ao escrever, uso muito o recurso da aposiopese. Mas gosto de pensar que, se deixo as reticências expressas, meus interlocutores, inteligentes que são, extrairão um pensamento apropriado. Creio, fazendo uma autocrítica, que emprego por vezes termos incomuns ou pouco castiços, mas procuro ser preciso e claro no que desejo expressar. O vocábulo 'salta' à minha mente à medida que vou organizando o pensamento a exprimir e seguidamente me vejo procurando um sinônimo para não parecer pedante (pecha de que já fui acusado) ou esnobe, coisas que detesto. Que fazer... (êpa, olha aí de novo!)

5. Meu espaço aqui está muito agradável, prazeiroso; todo dia aparece amigo ou amiga para papear. Se o ambiente estimula a tertúlia, é o que almejei. Deus me conserve, pois fico muito agradado!

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sexta feira, 23/Setembro/2016. Quase 26 mil visualizações de página em 08 anos de Blog...

 Foto não muito distante...

1. Bilú viajou logo cedo - foi levar com a amiga Telma donativos para os Seminaristas lá de Campinas; depois iriam a um Shopping Center, etc. Fico aqui de plantão na Garage Barbershop ouvindo na TV alguns DVDs de musicais. Escuto agora Barry White (The Collection, UED0702AC) - lembra-se dele? Tinha um timbre inconfundível e fez muito sucesso no estilo de música romântica... As letras de muitas de suas músicas me tocavam fundo o coração (outra fera neste sentido era, em meu recorrente solipsismo - e ainda é - George Benson...). Boas memórias de um tempo que não volta mais. Mas que continuam fazendo parte daquilo que sou.

2. Homens são consumidores interessantes. O que já veio aqui de macho me sondar, inquirir, assuntar, inspecionar... a gente nunca sabe se passou boa impressão. O que é mais chato é que homem em geral não fala se não gostou do resultado. Diz sempre 'ficou bom...' mas a expressão facial não convence. Sim, houveram clientes honestos, sinceros, assertivos, como eu acho que mereço ser dialogado e que me comunicaram boas dicas sobre eles e a arte (complexa e desafiadora) que procuro dominar. Mas com a enorme diversidade de tipos de cabelo/barba e conceitos do que é 'belo' (de parte a parte...) tudo fica num reino muito diáfano, como se diz. Que bom que estou numa idade que não levo muito sério a mim mesmo e minhas fabulações e expectações. Na verdade, nunca fui muito aplicado neste sentido; somente agora esta inclinação ficou mais pronunciada. É que, parece, ficamos mais cônscios de nossas realizações e suas reais motivações, antigas e atuais. 

3.  Uma boa descoberta que fiz foi, na época da Faculdade, das idéias de Carl (Ransom) Rogers (1902-1987) sobre a centralidade da Pessoa. Continuo crendo que o encontro é um conceito fundamental para a saúde (principalmente no âmbito da Qualidade de Vida), em amplo sentido. Com este novo projeto que estou engajado aqui tive oportunidade de refrescar muitas reminiscências agradáveis. Quanta pessoa bacana aportou aqui, mandou mensagens, fez-se presente de algum modo. Esta vida constitui um certo absurdo (já comentei isso por aqui) mas enquanto 'somos' seres sociais nossa condição humana (precisamente situada) periclita se a  tratamos com a erronia de 'justamente' desconsiderar esta sociabilização/sociabilidade manifesta e inerente, por mais aborrido que possa ser. 

4.  Impossível não comentar manchete recente (clique no link do Jornal OESP):
MP prevê ensino médio de 1.400 h/ano, menos disciplinas e curso 50% opcional
 Esta nossa Educação não tem jeito mesmo... Gente, reformas extensas como esta não se resolve na 'canetada'... E digo isso não porque pertenço à área, mas porque qualquer serhumaninho sabe que é empreitada destinada ao fracasso, do modo como está sendo desenhada! Sem discussão, sem debate com todos os envolvidos! Estes políticos, ô classe abestada, como diz o Tiririca... Quem viver, verá.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Subjetividade e solipsismo


gravura obtida agora de
http://ricardoaoki.blogspot.com.br/2011/09/dilemas-eticos-do-cientista-na.html

Vi há pouco um rápido depoimento de alguém, jovem, com dificuldades de lidar com suas prementes dificuldades. Evoco meus tempos de adolescente, onde me encontrava em situação similar. Considero que meu amplo 'entorno' à época - principalmente o contexto familiar - facultou assumir certas opções possíveis que permitiram suplantar os obstáculos que vislumbrava (muitos deles, vi depois, quimeras que eu pensava ser real...). Meu pensamento flainava por demais, insuflado pelas muitas leituras que 'perpetrava'. Era um turbilhão quase sem rumo. 

Que falta faz ter um caminho, um conselho, uma diretriz quando o raciocínio está turbado, comprometido. Quando se comenta da necessidade do jovem ter orientação, nunca se exagera - o pensamento desconexo, sem base, produz estragos por vezes irreparáveis, e um mero arrepender-se, no mais das vezes, não torna os acontecimentos...

Somos muito sós, e muitos não se acostumam consigo mesmos, parece que precisam de um alguém para pontuar, referenciar ou até modelar-se ('referenciar-se')... O fato é que precisamos nos encontrar, enfrentar nosso solipsismo e doma-lo, ordena-lo, sujeita-lo. Muito pensar desorganiza, desorienta, infelizmente. 

Tive sorte em não me desencaminhar? Meu raciocínio em seu processo de domação resultou em produtivo instrumento? Os céus me protegeram? Não tenho resposta certa para tais tipos de perguntas; provavelmente nunca saberei ao certo, mas lembro-me, em meus 'combates', que a palavra 'método' me auxiliou muito. Se uma opção é 'boa', então resolve um problema - é o meu critério. Se meu modo de pensar ou enfrentar a dificuldade não estava solucionando, não hesitava em abandona-lo... E eu também pensava que meus antepassados já tinham por certo descoberto muitas maneiras boas de enfrentar problemas iguais aos meus, portanto não deveria ficar perdendo tempo sozinho, e ir 'beber' na fonte - li muito os clássicos e os bons autores (os ruins ou que discutiam temas e assuntos corrompidos não me atraiam), e considero que minha mente foi bem instruída sobre como bem considerar o mundo e seus desafios.

Nascemos sós e morreremos sós, mesmo com pessoas por perto; assim, nós é que temos que ser nossos melhores amigos. Como costumo repetir aos meus alunos o ensino de Benjamin Frankin: só temos 2 certezas no mundo - a morte e os impostos. Tudo pode ser 'bom' ou 'mau', dependendo do viés com que se olha. Portanto, não precisamos catastrofizar nosso pensamento a cada obstáculo, a cada dificuldade. Se temos inteligência, é para nos pavimentar o caminho. Mãos à obra...

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O problema das relações interpessoais pós-modernas

Robert de Niro


Acabo de assistir no canal local de TV a Cabo (HBO 2) um filme com este artista, denominado Estão todos bem (não sei o nome original). Como costumeiro no grande cinema americano, drama bem feito e com atuação magistral do personagem principal. Tema: relacionamentos entre pai e filhos, o que invariavelmente acaba me tocando, de modo especial. Imaginei que ficaria emocionado como das outras vezes, visto que acabo 'introjetando' sentimentos e emoções, me colocando no lugar do personagem, mas desta vez me surpreendi. Acho que todas as lágrimas que tinha já foram derramadas quanto a este departamento.

Como é sofrente (já comentei isso em outros post) para a criatura obrigada a apartar-se dos seus rebentos; sabe-se (todos e qualquer um) que não se tem filhos para si, mas nunca, pai ou mãe, nos emendamos. E, ao envelhecer-se os genitores, se houve ou não algum relacionamento mais amiúde, quando se emancipam, os 'ex-bebês' esvoaçam do ninho, como que esquecendo-se do tanto que os pais se apegaram àquelas criaturinhas de início tão frágeis e dependentes... Muitos nem chegam a dimensionar nos pais tal liame - talvez o saibam quando tiverem os seus próprios filhos.

Mas creio que isto também é inerente ao humano do Homem; cortar de vez o cordão umbilical pressupõe este afastamento. Será que é por isso (também) que ouço alhures pais se arrependendo de ter tido filhos? Muitos se dão em casamento, mas optam por não ter filhos ou, no máximo, uma dupla de pets... Mas o que está feito, realizado está!

Por isso também, creio, que muitos idosos se deprimem. Fiz uma pesquisa docente o ano passado na Instituição de Ensino Superior onde trabalho, investigando a visão daqueles da terceira idade (controversa esta nomenclatura...) sobre o estado de isolamento, de solidão vivenciado por eles, em especial daqueles ou daquelas asiladas. O que achei foi que o estado de solidão (situação de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só) ou isolamento, aquela sensação de quem vive afastado do mundo ou isolado em meio a um grupo social, revela-se para os idosos entrevistados como abarcando principalmente sentimento de tristeza – “sofrimento” (que ocorre, no caso de alguns idosos, precisamente ao cair do poente, ao entardecer), oriundo basicamente de cogitações subjetivas, pessoais, e disseminadas ao longo de dois pólos significativos. O primeiro, o das reminiscências vitais, ligadas (a) a entes queridos (ou na sua imaginada existência, para os solteiros) vivos (e/ou ausentes da vida da pessoa) ou falecidos, e seus atos, como por exemplo, a família colocar o idoso em instituição asilar, ‘abandonando-o’, ‘desprezando-o’; ou (b) a determinados espaços, como uma propriedade onde viveu anteriormente por período apreciável.

Como se pode ver, uma dimensão da tristeza sentida pelo idoso naqueles depoimentos traduz-se na ausência da pessoa querida. A pós-modernidade está, ao que parece, recrudescendo o afastamento dos viventes, em especial dos familiares. A individualidade, salvo erro ou engano, cada vez está mais valorizada, e isto às custas da intimidade, da cumplicidade, da entrega, da amizade. Sim, sei que generalizo, mas sempre que falamos, discutimos, refletimos sobre pessoas, abarcamos percentuais, quantidades determinadas de tal e tal população. 

Vejo sintomas do afastamento entre as pessoas diuturnamente nas conversas, nos encontros, nas falas intercambiadas. A 'moda' agora é não ter paciência para escutar o outro ou a outra  terminar sua fala - falamos 'em cima' do que o outro está a falar, interrompendo-o. Eu não me calo, como é habitual; costumo muitas vezes continuar com o que estou dizendo, até deixar patente ao outro o abuso que comete, pois ninguém entende nada com duas bocas falando ao mesmo tempo. Nos casos mais recalcitrantes apelo para a metalinguagem: 'abro um parênteses' e intento conscientizar o interlocutor acerca da impropriedade de tal conduta de interromper, mas muitos 'não entendem', ficam chocados pois nunca esperariam tal observação direta sobre a conduta deles. De qualquer maneira, vejo que é muito difícil livrar-se de tal cacoete, principalmente 'de uma hora para outra'. Mas o que quero ressaltar é que tal vício e assemelhados 'antigamente' eram exceção; hoje parece ter tornado regra de conversa... Lamentável. Tudo parece tão 'acelerado', as pessoas correndo atrás do vento...

sábado, 19 de novembro de 2011

A Pajem e o Lobo


Foto obtida nesta data do site
http://fohn.net/wolf-pictures-facts

         Conta a fábula (nro. LXXXV do livro Aesop's Fables, London: Penguin Popular Classics, 1996, p. 88) que um lobo errante, procurando comida, passou frente a uma porta onde uma criança estava chorando e sua pajem a estava censurando. Assim que o lobo parou para escutar, ouviu a senhora dizer "se você não parar de chorar agora, vou te colocar para fora e o lobo vai te pegar!!

        Imaginando que a mulher pudesse ser boa como afirmava, o lobo esperou quieto fora da casa, contando com uma ótima refeição. Mas assim que escureceu e a criança se acalmou, o lobo escutou a pajem mimando a criança  dizendo "Que menino bom! Pois agora se o lobo malvado aparecer eu vou bater nele até morrer! "  

       Desapontado e mortificado, o lobo pensou que era agora hora de ir para casa. Esfomeado como somente um lobo pode ser, ele foi embora murmurando consigo mesmo "Isto é o que acontece por escutar pessoas que dizem uma coisa, mas querendo significar outra..."

       Este é mais um exemplo das mazelas humanas; nossa comunicação é muito complicada. A linguagem é um fenômeno tão dúbio, tão enganador, que é notável que possamos nos compreender amiúde (pelo menos é o que parece!)... Sei, os termos são por vezes polissêmicos, mas falo mais da intencionalidade que subjaz no emprego das palavras. 

      Eu, psicólogo por profissão, educador por vocação (se bem que muitos pedagogos acham que este termo é privativo de sua prática, que viés ...), lembro sempre aos meus alunos como devemos ser muito observadores da totalidade do ser (e da situação) do interlocutor, se desejamos realmente chegar perto do que ele/ela tenciona em sua fala.... e mesmo assim não se garante a real intelecção. Eu sempre assumo que (talvez) chego 'perto', e assim tenho evitado muitas decepções. Mas creio que este fato seja mais uma evidência (ou decorrência?) do inexorável, inelutável solipsismo a que, ao que tudo indica, estamos todos encerrados.

       Este ano, academicamente, foi muito interessante para mim. Precisei substituir na Faculdade uma professora na disciplina de Psicologia Humanista Existencial e, em virtude dos debates dos diversos assuntos, realizei boa revisão destas idéias. Um tema pertinente é a atividade de conferir sentidos, que parece ser privativa dos humanos. Ainda que existam alguns, como o notável literato Rubem Braga (1913-1990) que afirmem que as coisas, em geral, não tem sentido algum, sabemos que o conferir sentidos é-nos imanente, mesmo essencial à nossa natureza e práxis. E fazemos isso primacialmente pela linguagem, ainda que imperfeita, provisória, enganadora...
   
       A arte de viver - que muitos hoje em dia aparentam desprezar seu aprendizado - está imbricada no aperfeiçoamento do nosso linguajar, seguramente. Agradeço aos céus ter tido este vislumbre logo cedo em minha juventude, o que tem, creio, me poupado de muito desalento e aflição. Estou ainda aprendendo. Vejo como uma das tarefas mais lancinantes (a que nos podemos propor) a imperiosa, preciosa introspecção - e como é trabalhosa! Mas como pretender saber um pouco do outro se não nos entendemos um tanto mais? Assim vejo a equação - entender ao outro a partir do entendimento que obtenho de mim mesmo. É divertido ver as agruras daqueles que querem se entender a partir do outro - tenho minhas reservas sobre tal estratégia...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

aula... e dica de site de imagens grátis!

Image: vorakorn kanokpipat / FreeDigitalPhotos.net

           Olha só que imagem incrível! Obtive -a agora, grátis, no site citado acima (conforme instruções dos mesmos) que tem milhares de imagens, uma mais linda que a outra... Para quem aprecia fotografias, um 'prato cheio'!!

          Ontem ministrei auma aula sobre técnicas de psicologia humanista-existencial, da vertente rogeriana, para alunos do sexto semestre. Para mim foi um momento especial. Pude esclarecer muito do meu modo de ser como docente, coisa que muitos alunos tem dificuldade de discernir. Fico feliz em poder ser cristalino e autêntico em minhas relações com eles. Como sempre digo, penso não somente no aqui-agora da vivência da sala de aula, mas n'eles como meus colegas e profissionais logo-aí, no próximo futuro...

          Esta minha experiência choca-se com uma constatação que a cada vez se apresenta à minha pessoa. Os relacionamentos hoje em dia estão com tonalidades que eu desconhecia até a poucos anos. Não sei se a velocidade das diuturnas e polifacetadas exigências e/ou o fluxo cada vez mais "bombardeante" dos dados e informações que caem sobre nossa cabeça que cooperam, no seu conjunto, para nos deixar cada vez mais alienados de nós mesmos nestas relações que somos confrontados a cada minuto. Constato isto por inúmeros 'sinais' (que denomino 'sintomas'), sendo talvez o mais insidioso o fato das pessoas 'não escutarem' o que você diz. Parece que somos, no mais das vezes, platéia para discursos solipsistas, ensimesmados, apartados. O outro definitivamente parece, nestes tempos pós-modernos, transmutado no 'inferno' a que aludiu Sartre. Mas eu acho mesmo que (por nossa humana deficiência intrínseca neste amplo, complexo entorno social hodierno) transformamo-nos, para cada qual de nós mesmos, em vera inferneira para nossa mútua compreensão e enfrentamento... Será que tem jeito?