A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Caminho Óctuplo: a Atenção Correta.


Continuando com nossas singelas prédicas sobre a existência plena na psicologia budista, veremos hoje, depois de viagens de férias, o terceiro aspecto compreendido no Nobre Caminho das Oito Vias, ou Caminho Óctuplo.

A Atenção (Plena) Correta sempre esteve no âmago do ensino do príncipe Sidharta, abrangendo a energia que nos traz, a cada momento, precisamente de volta para o momento presente, o que vulgarmente se nomeia o ‘aqui-e-agora’. É um dos mais preciosos ensinamentos, e existem livros e livros dedicados à sua compreensão. Tentarei aqui resumir um pouco do ensinamento oriental, sabendo que algo se perde neste esforço de concisão. Conto com sua paciência!

Na psicologia budista, a atenção tem a característica de ser universal; em outros termos, sempre se está dando atenção a algo, mesmo quando se está devaneando, aparentemente alheio aos fatos. Nossa atenção pode ser apropriada, quando estamos inteiramente imersos no momento presente, ou pode ser inapropriada, quando nos atemos a algo que nos afasta do aqui-e-agora. Assim, a atenção plena consiste em lembrar-se de voltar constante e conscientemente ao momento presente, que é onde nós efetivamente existimos.

Um dos caminhos ensinados no Zen Budismo para treinar a atenção plena (conheço muitos outros...) consiste em praticar os ‘Sete Milagres da Atenção Plena’.  O primeiro deles é atentar para a miríade de fenômenos e coisas que nos cercam, a profusão de eventos e oportunidades com que somos agraciados a cada momento. Creio que o principal desta constatação de inúmeras ‘coisas’ que nos cercam é que Pessoas, não meras outras pessoas, outras indiferentes e anônimas gentes, se nos relacionam, a cada momento. Cada pessoa com sua história e valores únicos. Estar atento de modo pleno com estas pessoas pressupõe ser capaz de entrar em contato profundo com estas pessoas e os diversos elementos de sua pessoalidade (algo que, se não cultivarmos a Atenção Plena, se perde, ou seja, dela, sua pessoalidade singular, não nos tornamos cônscios).

O segundo milagre da Atenção Plena consiste que as coisas e principalmente as pessoas também se façam, com nossa Atenção Plena, efetivamente presentes para o pleno (enriquecedor) encontro. Na psicologia búdica, se algum de dois indivíduos não se faz ‘presente’, é como que a realidade do encontro se tornasse como que uma ilusão, um sonho, pois o corpo pode estar presente, mas a mente não;  então, rompida a dualidade (que se pretende indissociável) mente-corpo, a pessoa tem uma parte de si num lugar, e outra parte noutro lugar; somente uma delas está ‘presente’...

O terceiro milagre da Atenção Plena consiste em alentar, nutrir o objeto de nossa atenção, não ser indiferente ou neutro em relação a ele, implicando nos devotar todo o nosso ser na relação, no envolver com o outro. Implica também evitar pressuposições, assumir ‘verdades’ sobre o outro ou coisa, sem base, o que atrapalha descobrir fatos novos e auferir a verdade em si a partir da relação.

O quarto milagre da Atenção Plena é, coerente com o que prega a doutrina búdica, aliviar o sofrimento de outra pessoa, que se materializa inclusive nos pequenos gestos, como, p. ex.,  o modo com que olhamos para o outro. Assim, amar pode significar também nutrir o outro com nossa atenção, com nossa presença ativa. Já se disse que a melhor coisa que podemos fazer na situação de alguém que está a entregar sua alma é estar a seu lado, ‘apoiando’. Não se pode às vezes fazer mais nada para evitar a morte da pessoa, mas ela morrerá muito melhor se estivermos ao seu lado atentamente, do que se ela falecesse sozinha.

A contemplação profunda, um dos aspectos da meditação, é o quinto milagre da Atenção Plena, consistindo no fato de que, relaxados e concentrados, poderemos nos habilitar a olhar para os objetos e fenômenos com profundidade: estar-se-á cônscio do conteúdo de nossa Consciência sobre aquilo que se está a contemplar.

O sexto milagre da Atenção Plena é a compreensão resultante, como quando entendemos algo dizemos “ah, agora ‘vejo’ “. Ou seja, começa-se a ‘enxergar’ algo que antes não se vislumbrava; algo que surge à nossa frente ou em nossa mente, quando a constatamos dizemos que este algo apareceu, surgiu ‘dentro’ de nós. Ver, enxergar, surgir, compreender, tudo isto ocorre aqui neste momento, aqui-e-agora.

Finalmente, o  sétimo milagre da Atenção Plena é a mudança ou, uma palavra melhor, transformação, que ocorre como resultado da prática séria, consciente. Mas transformação de quê? Do sofrimento, de nossa dor, do apego. Atualmente vemos uma exacerbação do apego das pessoas com as coisas ilusórias da sociedade consumista, redundando muitas vezes em vícios, sendo o mais trágico os relacionados às drogas, lícitas ou ilícitas. Chega-se ao ponto de as autoridades terem que internar, contra a vontade das pessoas, os adictos em clínicas, pois elas não tem mais como visualizar seus desejos decaídos, destruidores, e os efeitos decorrentes de suas atitudes. Mas nunca vão se reerguer, curar-se, se não estiverem cônscias, se não virem claramente (ou seja, com Plena Atenção) o que elas fazem consigo...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Caminhos...


Uma cena comum em muitas cidades aqui do sudeste no começo do ano é o sofrimento das criaturas que, morando em lugares de risco, tem suas casas invadidas pelas águas torrenciais oriundas das copiosas chuvas que habitualmente vem depois das festas de fim de ano. Não bastasse isso, este ano houve cidade em que o lixo (não recolhido por vingança de políticos que não se reelegeram nas ultimas votações) se somou ao entulho carregado pelas torrentes que veio das montanhas e encostas próximas às casas e prédios comerciais, onde as pessoas teimam em edificar suas construções.

O mais chato de tudo é que tais tragédias se repetem há tempos, e o jogo de empurra-empurra se alterna com os discursos inflamados de políticos e autoridades (ao que parece, sumamente comovidos com a provação das famílias, assoladas por vezes com a perda de parentes, além dos bens móveis e imóveis), prometendo a solução do amplo transtorno. E desgraçadamente eu, que olho de longe tal sofrimento, a salvo de tais perigos, além das minhas orações, não me encorajo em enviar algum donativo, pois não tenho a mínima confiança de que o recurso, ainda que parco, será empregado apropriadamente, dada as notícias de desvio de verbas por parte de corruptos alocados em diversos níveis da sociedade pertencente às áreas atingidas. Evito até ligar a TV ou escutar os noticiários do rádio nesta época...

O tema do sofrimento é sempre presente para o homem. No cristianismo, a 'obra prima' do ensinamento sobre o sofrimento encerra-se no Livro de Jó. Sempre pensei sobre isso em minha vida, ainda que eu pouco tenha sofrido em toda minha existência. Não considero hoje  que tenha 'sofrido', pois quando miramos o que vivenciam diariamente nossos semelhantes, tudo o que passei é quase irrelevante. E quando penso sobre o sacrifício expiatório do Cristo, vejo que nada tenho a lamentar ou reclamar e, sim, a agradecer. Todo o tempo.

Outro dia revi alguns papéis guardados, lembranças de um tempo bom que vivi intensamente. Eu já comentei que estudei bastante o Budismo, em especial a doutrina Zen (e, dentro desta, a escola Soto). Não me aproximei da doutrina de Buda como religião (alguns assim a consideram, mas prefiro considera-la enquanto ‘prática que nos ajuda a eliminar os pontos de vista incorretos’ como ensina o monge vietnamita Thich Nhat Hanh), mas pelas interfaces que possui com a Psicologia. Na verdade, existe até uma ‘Psicologia Budista’, que auxilia muito a pessoa a ajustar sua conduta, a partir da reflexão sobre as melhores práticas mentais para lidar com suas intelecções de modo apropriado.

Uma das lições principais desta abordagem – digo que a lição fundamental, do qual todas as demais derivam - é a proposição da meditação sobre as Quatro Nobres Verdades, enunciadas diretamente pelo príncipe Sidharta Gautama quando da sua iluminação, ou seja, quando ele finalmente compreendeu a sua situada condição. Existem centenas de livros refletindo somente sobre esta temática. A primeira nobre verdade é o Sofrimento, inerente à existência do homem, e que precisamente existe ‘em tudo’, é onipresente. A segunda verdade nobre é a Origem do Sofrimento, que reside no apego que o homem desenvolve em seu existir cotidiano, ou seja, nos caminhos indignos que ele trilha e que conduzem ao sofrimento. A terceira nobre verdade é a Cessação do Sofrimento; a possibilidade do sofrimento ter um fim – é possível ao homem atingir o bem-estar. A quarta verdade nobre encerra o caminho para o surgimento do bem-estar: o Caminho Óctuplo, o nobre Caminho, ou como os chineses traduziram, o ‘Caminho das Oito Práticas Corretas’, as práticas retas, realizadas na forma certa, apropriada.

Praticar o Budismo se resume em aprender (é o ‘despertar’, ou a 'iluminação') a conduzir a si neste caminho de oito práticas, que é o que vai determinar a eliminação do sofrimento da vida da pessoa. Obviamente que, compreendendo o que este pequeno e superficial resumo encerra, veremos que a prática aperfeiçoante deste caminho pode abranger toda a vida da pessoa, e é isso mesmo... E quais são estes 8 passos? Auferir a Compreensão Correta, o Pensamento Correto, a Fala Correta, a Ação Correta, o Meio de Vida Correto, o Esforço Correto, a Atenção Plena Correta e a Concentração Correta. Não há nesta lista precedência ou grau ou subordinação entre os passos, posto que são inter-relacionados entre si como numa matriz; cada passo contém todos os outros sete... Vou comentar cada um deles nas próximas postagens.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A águia e a flecha


Gravura obtida agora de http://www.litscape.com
(veja também o site associado http://litscapeart.com)

Fim de ano, calorão, alunos aborrecidos porque ficaram de exame; as mesmas coisas 'aborrecentes', que tédio!! Que fazer, mas deixemos de lado as lamúrias... Estas férias prometem; teremos mais tempo neste período sabático, visto que as aulas somente serão retomadas em 18 de fevereiro de 2013 - creio que por causa do carnaval, êba!  Vamos, Ruth e eu, visitar os Dutras de Belo Horizonte - até já comprei as passagens de avião.

Pretendo formatar muitas aulas em telas de power point (MS Office) e refazer outras, principalmente aquelas que ministro no curso de Engenharia (disciplina 'Gestão de Projetos'). Vejo que, a cada dia, temos que propor aulas-tarefa, como estudo de caso, com pouca teoria - é a tendência pedagógica atual, que fazer; tudo é muito 'objetivo', prático e utilitarista. Tenho sempre em mente a admoestação de Nelson Rodrigues quanto aos idiotas da objetividade, mas sou voto vencido, como se diz... 

Os alunos em geral (existem exceções) querem nota para 'passar de ano', desesperadamente, hoje em dia; aprender, não necessariamente, visto que os usos que farão do conhecimento não são, neste momento, palpáveis. Os relacionamentos (principalmente em sala de aula) exibem um grau de atrito desnecessário, a meu ver, pois os critérios pessoais que lastreiam comportamentos interpessoais estão muito indiscerníveis quanto ao real valor na construção de relações produtivas e isto a longo prazo, tanto no público quanto no privado...

O mundo moderno está cada vez mais difícil de decifrar, problematizado pela deseducação que campeia (aparentemente) impune. Como já comentei aqui outras vezes, não é mais feio ser grosseiro, incivil; que fazer. Mas no campo educacional isto atinge contornos trágicos, ainda que por vezes cômicos. As pessoas não sabem o mal que fazem a si mesmos com suas condutas descorteses mas, com os valores transmutados, o feio parece aceitável, normal. Creio que alguns grosseirões (tem muita mulher também) nem sabem o quanto são boçais - talvez não tiveram pais para modelarem condutas apropriadas neste sentido.

Relendo aquele livro de fábulas de Esopo (Aesop's Fables, compilado por Jack Zipes, London: Penguin Books, 1996 - Penguin Popular Classics, vol. 20) vi uma estória que ilustra esta situação. Um arqueiro mirou uma águia e alvejou-a certeiramente. Em sua agonia, a ave viu que a flecha tinha sido feita com penas dela mesma. A águia então lamentou e observou que os nossos ferimentos, infligidos pelas armas que nós mesmos provemos, são ainda mais lancinantes... As pessoas muitas vezes dão, elas mesmas, azo a que sejam prejudicadas/desprezadas pelos outros, próximos ou não...