A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Caminho Óctuplo: a Atenção Correta.


Continuando com nossas singelas prédicas sobre a existência plena na psicologia budista, veremos hoje, depois de viagens de férias, o terceiro aspecto compreendido no Nobre Caminho das Oito Vias, ou Caminho Óctuplo.

A Atenção (Plena) Correta sempre esteve no âmago do ensino do príncipe Sidharta, abrangendo a energia que nos traz, a cada momento, precisamente de volta para o momento presente, o que vulgarmente se nomeia o ‘aqui-e-agora’. É um dos mais preciosos ensinamentos, e existem livros e livros dedicados à sua compreensão. Tentarei aqui resumir um pouco do ensinamento oriental, sabendo que algo se perde neste esforço de concisão. Conto com sua paciência!

Na psicologia budista, a atenção tem a característica de ser universal; em outros termos, sempre se está dando atenção a algo, mesmo quando se está devaneando, aparentemente alheio aos fatos. Nossa atenção pode ser apropriada, quando estamos inteiramente imersos no momento presente, ou pode ser inapropriada, quando nos atemos a algo que nos afasta do aqui-e-agora. Assim, a atenção plena consiste em lembrar-se de voltar constante e conscientemente ao momento presente, que é onde nós efetivamente existimos.

Um dos caminhos ensinados no Zen Budismo para treinar a atenção plena (conheço muitos outros...) consiste em praticar os ‘Sete Milagres da Atenção Plena’.  O primeiro deles é atentar para a miríade de fenômenos e coisas que nos cercam, a profusão de eventos e oportunidades com que somos agraciados a cada momento. Creio que o principal desta constatação de inúmeras ‘coisas’ que nos cercam é que Pessoas, não meras outras pessoas, outras indiferentes e anônimas gentes, se nos relacionam, a cada momento. Cada pessoa com sua história e valores únicos. Estar atento de modo pleno com estas pessoas pressupõe ser capaz de entrar em contato profundo com estas pessoas e os diversos elementos de sua pessoalidade (algo que, se não cultivarmos a Atenção Plena, se perde, ou seja, dela, sua pessoalidade singular, não nos tornamos cônscios).

O segundo milagre da Atenção Plena consiste que as coisas e principalmente as pessoas também se façam, com nossa Atenção Plena, efetivamente presentes para o pleno (enriquecedor) encontro. Na psicologia búdica, se algum de dois indivíduos não se faz ‘presente’, é como que a realidade do encontro se tornasse como que uma ilusão, um sonho, pois o corpo pode estar presente, mas a mente não;  então, rompida a dualidade (que se pretende indissociável) mente-corpo, a pessoa tem uma parte de si num lugar, e outra parte noutro lugar; somente uma delas está ‘presente’...

O terceiro milagre da Atenção Plena consiste em alentar, nutrir o objeto de nossa atenção, não ser indiferente ou neutro em relação a ele, implicando nos devotar todo o nosso ser na relação, no envolver com o outro. Implica também evitar pressuposições, assumir ‘verdades’ sobre o outro ou coisa, sem base, o que atrapalha descobrir fatos novos e auferir a verdade em si a partir da relação.

O quarto milagre da Atenção Plena é, coerente com o que prega a doutrina búdica, aliviar o sofrimento de outra pessoa, que se materializa inclusive nos pequenos gestos, como, p. ex.,  o modo com que olhamos para o outro. Assim, amar pode significar também nutrir o outro com nossa atenção, com nossa presença ativa. Já se disse que a melhor coisa que podemos fazer na situação de alguém que está a entregar sua alma é estar a seu lado, ‘apoiando’. Não se pode às vezes fazer mais nada para evitar a morte da pessoa, mas ela morrerá muito melhor se estivermos ao seu lado atentamente, do que se ela falecesse sozinha.

A contemplação profunda, um dos aspectos da meditação, é o quinto milagre da Atenção Plena, consistindo no fato de que, relaxados e concentrados, poderemos nos habilitar a olhar para os objetos e fenômenos com profundidade: estar-se-á cônscio do conteúdo de nossa Consciência sobre aquilo que se está a contemplar.

O sexto milagre da Atenção Plena é a compreensão resultante, como quando entendemos algo dizemos “ah, agora ‘vejo’ “. Ou seja, começa-se a ‘enxergar’ algo que antes não se vislumbrava; algo que surge à nossa frente ou em nossa mente, quando a constatamos dizemos que este algo apareceu, surgiu ‘dentro’ de nós. Ver, enxergar, surgir, compreender, tudo isto ocorre aqui neste momento, aqui-e-agora.

Finalmente, o  sétimo milagre da Atenção Plena é a mudança ou, uma palavra melhor, transformação, que ocorre como resultado da prática séria, consciente. Mas transformação de quê? Do sofrimento, de nossa dor, do apego. Atualmente vemos uma exacerbação do apego das pessoas com as coisas ilusórias da sociedade consumista, redundando muitas vezes em vícios, sendo o mais trágico os relacionados às drogas, lícitas ou ilícitas. Chega-se ao ponto de as autoridades terem que internar, contra a vontade das pessoas, os adictos em clínicas, pois elas não tem mais como visualizar seus desejos decaídos, destruidores, e os efeitos decorrentes de suas atitudes. Mas nunca vão se reerguer, curar-se, se não estiverem cônscias, se não virem claramente (ou seja, com Plena Atenção) o que elas fazem consigo...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

215a. postagem: Medo de cara feia...

Ontem  ocorreu novamente comigo algo que me fez decidir – ‘escreverei sobre isso no blog’... Este tipo de acontecimento sempre me acompanhou, e acho que vai morrer comigo. Vou contar primeiro o que sucedeu, e depois vou ‘filosofar’ a respeito.

Período natalino, com lojas abertas até altas horas (muitos funcionários gostariam de estar em casa ou com amigos, mas estão a trabalhar – dinheiro extra, mas mais cansaço... os onipresentes conflitos modernos!). Estava a passear no centro desta querida São João com Bilú, em visita a vitrines e eventuais comprinhas, com a minha habitual boa vontade (diferente do normal dos maridos...), quando Bilú encontra uma simpática colega da Universidade que trabalha freelance em uma loja. Ficaram as duas a confabular e eu, recostado na parede, esperando o desenlace da conversa, mirando o movimento das pessoas e ocasionalmente as duas e sua (suas?) parlenda. Em dado momento a colega de Bilú me diz, em quase tom de brincadeira (com fundo de verdade): “não fica bravo comigo, olhando com esta cara feia, que eu libero logo sua mulher...”  Mas eu não estava bravo ou olhando com cara feia, juro! Homessa, pensei, o que levou a raparigota a proferir aquela desconexa percepção?  Mas tenho suspeitas...

Devo confessar que esta situação me deixava, tempos atrás, muito contrariado. Com algumas pessoas cheguei a increpar o dislate, denunciando pedagógica e psicologicamente a falta de lógica da percepção da pessoa etc... O que ocorreu é que, ali, eu não estava (sei que talvez só para mim, adianto) efetivamente bravo ou aborrecido; a colega da Ruth, a seu bel-prazer, ‘concluía’ esta minha disposição, e a assumia verdadeira, sabe-se lá a que título, baseada em nebulosa evidência.

Viu a foto? Você consegue inferir com certeza meu estado de espírito? Sei que a primeira impressão pode ser negativa. Juro que quando aqui fui clicado estava super bem e queria sair ‘bem na foto’... Sei que minha feição ali, que é a minha habitual pode, a princípio, ensejar a pessoa a imaginar isso de negatividade. Na verdade, a minha intenção é fazer, apresentar no dia a dia sempre esta feição:


Sei, como bom psicólogo, que a primeira impressão pode determinar toda a evolução de um relacionamento, pois as primeiras expectativas criadas sempre pautam nossas posteriores ações. Sempre que entro numa classe onde iniciarei uma disciplina, procuro ser MUITO risonho e amigável pois, pelo lado dos alunos, a ansiedade e excitação predispõem ainda mais as almas alarmadas a deturpar, enviesar suas percepções.  Mas imagine para mim, que não tenho o costume de ser risonho, ter que ficar o tempo todo com um sorriso estampado, imaginando com isso que as pessoas não vão me afastar pelo feiume da minha carranca? Será que as pessoas não sabem, inversamente, que existem inúmeras pessoas risonhas, amigáveis na aparência exterior, que são falsas e fementidas? Gostaria de ser exteriormente como alguns conhecidos, que parecem sempre ter acabado de ouvir uma boa notícia (a muitos, não interiormente, pois são falsos e desleais, apesar da casca)... Mas não sou assim, que fazer... e será que por isso 'sou' sempre perigoso, ameaçador? Sei que divisar alguém com rosto (aparente) inamistoso, e com 1,90 m. como eu aconselha a qualquer um a se manter cauteloso, arredio; mas serei perigoso assim necessariamente com tão poucos, subjetivos e ilusórios indícios??? Será que os jornais (ou a TV), com a onipresente violência, nos faz hoje tão medrosos?

Mas acontece isto volta e meia comigo – as pessoas pensam que estou aborrecido ou bravo. Não perguntam se há algo comigo (posso até estar com cara de poucos amigos por causa de algum desconforto ou tristeza, ou...) – pensam que é 'ameaçador contra elas', em tese; parecem sentir-se ameaçadas, e reagem antecipadamente como se eu fosse agredi-las, vai saber por quê... Nem adianta, muitas vezes, tentar dealbar o mal-entendido, a falha apercepção da pessoa a meu respeito – as pessoas pensam que faço troça.  E sei que, quanto mais inseguras, mais as pessoas tendem a achar que estou bravo ou aborrecido ou que posso espanca-las a qualquer momento, etc...  Uma coisa muito aborrecida e tediosa. Que indigência mental.

Talvez, se eu gostasse de beber, ficaria sempre alegre, como vejo ser a estratégia de algumas pessoas que assim ficam eufóricas, amistosas. Conheci uma pessoa carismática que andava com uma latinha de cerveja na mão o dia inteiro; seu trabalho permitia isso, e seus clientes também apreciavam a bebida naquele ambiente - inclusive era certa estratégia de marketing, eficiente, por sinal - era uma borracharia. Mas tenho horror a isso, acho patética esta situação toda de ajuntamento em torno de bebida; as pessoas falam muitas bobagens ao sabor do efeito etílico, e eu gosto de ficar calado a falar sem necessidade ou verbalizar banalidades. Na verdade, poucas pessoas hoje em dia se dispõem a engajar em uma conversa construtiva; parece que pensar dá dor de cabeça, pois vejo muita preguiça ‘mental’, enfado, superficialidades, sei lá.

Na época da faculdade, nos anos 70, aprendi com o renomado psicólogo americano Carl Rogers (no famoso livro ‘Tornar-se Pessoa’; em inglês, On Becoming a Person) que não adianta ser uma pessoa que não somos, fabricar algo para servir ao outro, interesseiramente. Ao longo do tempo estas falsas relações são danosas, a todos e todas. Resolvi ser o que sou, sempre (eu tinha na Faculdade de Psicologia uma amiga mais velha, Ignez Toledo - saudades - que me ensinou muito). Isto implica em ser honesto e dizer coisas que as pessoas não gostam de ouvir, mesmo que você não grite nem ofenda ao outro – mas enfim você acaba dizendo o que elas não gostariam de escutar. Ocorre que, nesta época atual de relações superficiais, robotizadas pela web, 'tipo' o que se vê nas redes sociais como o facebook (que evito a todo custo), isto – a honestidade relacional - não é eficiente, pois as expectativas das pessoas estão mais lábeis, instáveis e pior, tendenciosas ao extremo, privilegiando o ego em detrimento daquilo que respeita ao comum, ao coletivo, às amizades ou parcerias, que pressupõem para seu sucesso certa carga de maturidade.

Sei que, com algumas pessoas, nem se Jesus Cristo viesse e dissesse que ela está errada nisto ou naquilo, a mesma não acreditaria e encrencaria com Ele. Aprendi a identificar pessoas assim e não perco mais tempo com tais criaturas; é malhar em ferro frio, o que acaba se voltando contra nós. Sei também que se eu fosse rico financeiramente (pois me considero muito rico em casamento, em familia, em saúde, em religião, em paz de espírito) teria muitos 'amigos' mais; teria muito mais pessoas que não se assustariam com meu rosto inamistoso; teria muito mais pessoas com boa vontade para me conhecer de verdade.

Creio que esta minha incapacidade de ‘sorrir’ me prejudica; mas, por outro lado, creio que ganho se não me relaciono com pessoas que se deixam impressionar por causa de ‘cara feia’. Isto tudo me faz solitário, que fazer. Toda manhã ao estudar a Palavra encontro consolo, e procuro fazer o meu melhor. Ainda estou aprendendo, e tento aos trancos e barrancos compreender ao outro. Mas confesso que tenho voltado a me relacionar  mais com pessoas de idade, como no meu tempo de criança e adolescente, por bênção de trabalhar em 2 asilos. Lá tem muita pessoa autêntica, que gosta de verdade de você, com seus defeitos e incapacidades, e que não te teme gratuitamente somente por causa da sua cara feia....

sábado, 22 de setembro de 2012

Absurdos

Profeta Jeremias
(Google Images)


Em Jeremias, capítulo 17, lemos "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" Quando era jovem acreditava na bondade natural do Homem. Agora, com o passar dos anos e dos estudos em Teologia, vejo como o mal se nos é intrínseco. Ou seja, é o que vemos diariamente nos outros e, principalmente, em nós mesmos. 

Quinte feira eu ministrei palestra para idosos e pessoas portadoras de deficiências, lá no UNIFAE. Agradável experiência em poder compartilhar com aquelas pessoas da AVAPED e do Centro do Idoso, ambas instituições daqui de São João. Falei sobre o preconceito, que parece hoje onipresente entre as pessoas. Discuti com eles o fato de que nós muitas vezes damos azo a que nos tratem com preconceito... Acho que o pessoal captou a mensagem. 

Nesta semana um gajo veio aqui limpar a caixa d'água de casa. O outro morador, que aqui residia anteriormente, por anos não procedeu a esta simples providência sanitária; vejam só como pode tal disparate... E, continuando, antes que o finório escalasse o telhado, perquiri por duas vezes quanto iria custar o serviço. Quando vi que o indigitado se esquivava com sutis meandros verbais, logo divisei que algo não cheirava bem. Mas não podia mais adiar a providência, então me fiz de rogado...

Sabes quanto, ao fim e ao cabo, me custou o pouco mais de hora de trabalho? Três vezes o que eu ganho de hora-aula como professor universitário titular concursado, 85 dólares... Algo não está certo neste mundo de negócios... Como pode ser este desatino, esta alogia, este despautério? Brigar, desancar, vociferar... tudo me passou pela cabeça conduzir, mas aquele ser inconveniente me foi recomendado por um amigo - não ficaria bem depois aquela abjeta criatura relatar-lhe o fato, fazendo-se por certo passar como vítima.

Obviamente o episódio me rendeu profícua reflexão sobre o mundo em que vivemos hoje. Creio que aquele prestador de serviço não está preocupado em criar clientela fiel e, confesso, sua tática de negócio parece que somente viceja por causa de 'singelos' como eu...

Aprendi em Provérbios 8, 14: "Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria; eu sou o entendimento; minha é a fortaleza". Que sentença densa; pode-se extrair muito ensinamento aqui. Em nossa pequenez, devemos nos estribar no Amparo que vem do alto pois, com o que temos aqui entre as orelhas, o resultado é, vivendo entre as gentes, somente desamparo, estupefação. 

Que privilégio poder contar com a Providência neste tempo turbulento, arredado, enleado...

terça-feira, 13 de março de 2012

artigo A NATUREZA DO AUTO-ENGANO: proposições iniciais


Resumo
Este artigo discute a natureza do fenômeno do Auto-engano e os diversos campos onde se manifesta. Aponta-se que os aspectos cognitivos, conativos,   afetivos, intencionais, conscientes, inconscientes e volitivos podem tomar parte no entendimento do fenômeno.
  
            O Homem sempre enfrentou a situação onde a falsidade, a mentira, o logro pode tomar parte, e envida diuturnamente esforços tanto para empregar com certa segurança estas estratégias contra terceiros, quanto para identificar as que os mesmos utilizam contra ele. Apesar de certos agentes políticos serem, ao que parece, atualmente, os mais notórios usuários deste tipo de 'jogo' (v., p. ex. BONASSI, 2007, p. E-6), um tipo especial de logro muito investigado atualmente consiste na situação onde existe identidade entre o agente que logra e o agente que sofre a ação de engano, denominado 'Auto-engano' (doravante grafado 'AE'). Este artigo pretende discutir algumas nuanças que envolvem a correta identificação do fenômeno, como parte de uma investigação psicológica sobre a violência interpessoal  posto que, entre outros, conforme Rosenfield (2007, p. A-2), “a mentira é um meio de provocar a violência (...)”. (Para uma sucinta explanação dos principais aspectos psicológicos da natureza do fenômeno do AE, v. SHAPIRO, 1996).

          O problema do AE, à semelhança do problema mente-corpo, tem intrigado os estudiosos, desde tempos imemoriais - inclusive nas Escrituras cristãs encontra-se menção de tal fenômeno, como em Gálatas 6:3. Na literatura sobre o tema tem-se definido o termo como o ato de enganar-se a si mesmo ou como o estado de estar enganado por si mesmo. Não há consenso entre os especialistas sobre o fato de que aquele que se auto-engana estar ou não consciente de tal ato. Em que sentidos casos de auto-engano seriam distintos de hipnotismo,  'lavagem cerebral', 'pensamento positivo', 'cegueira intelectual', raciocínio ou pensamento tendencioso (enviesado), juízo distorcido ou outras formas de irracionalidade? No entanto, a considerar-se que o AE envolve logro intencional, a definição irá direcionar ao questionamento adicional sobre como alguém pode, ao mesmo tempo, pretender iludir-se e ter sucesso em tal empreitada. (MARTIN, 1986; MELE, 1987).

A definição usual de AE ( como p. ex., “The act of deceiving oneself or the state of being deceived by oneself ”, HONDERICH, 1995, p. 818) encontrada em diversos  textos é, aparentemente, circular. Observa-se grande variabilidade de interpretações entre diversos autores sobre o que seria AE, como por exemplo, em Platão (Crátilo), em Sartre (L’Être et le néant) e em Kierkegaard (Enten-Eller), para citar os mais conhecidos. Será que estes autores se referem ao mesmo fenômeno? Ou são diferentes fenômenos sob a mesma nomenclatura, o que leva a considerações sobre diferentes usos do termo? AE parece facilmente ser algo paradoxal. Como pode o enganador-que-conhece ser ao mesmo tempo o enganado-que-desconhece? Como pode alguém, intencionalmente, sabendo, não saber? Se isto ocorre, o processo requer um monitoramento seletivo de si mesmo e esta seletividade implica, de um lado, saber o que deve ser sabido e ao mesmo tempo ser capaz de não sabe-lo (SHAPIRO, 1996).

            Por outro prisma, em que difere essencialmente mentir para si da mentira para os outros? Para ilustrar com um aspecto do cotidiano de todos, o fenômeno da protelação de tarefas, pode ser um exemplo de AE? (ver, p. ex., MELLO, L. E. de A. M. ‘Amanhã eu faço’ – Estudos relacionam a protelação de tarefas à ansiedade e à depressão. FOLHA DE SÃO PAULO, 03 de Janeiro de 1999, Caderno mais!/Ciência, p. 5-13.; MICHELOOTTI, G.  Empurrando com a barriga. FOLHA DE SÃO PAULO, 17 de Janeiro de 1999. Cad. Campinas/Revista, p.3-17)  Parece não haver unanimidade sobre o entendimento da natureza do AE (SVECE, 1996), tornando trabalhoso o estudo do fenômeno. Muitos aspectos podem estar envolvido na determinação do fenômeno. Por exemplo, PALUSH (1967, p. 276) diz que uma pessoa X está auto-enganada quando:

(1) X crê p e p é falso. (2) X sabe a evidência relevante contra a verdade de p. (3) X tem algum motivo para descartar a evidência. (4) Se o motivo foi insuficiente ou deficiente, X veria que p é falso e a sua negação verdadeira. (5) se o motivo fosse tornado claro a X ele veria que isso não proveria razões legítimas para a sua crença. (6) X é livre para discernir a capacidade do seu motivo.

[(1) X believes p and p is false. (2) X knows the evidence which counts against the thruth of p. (3) X has some motives for discounting the evidence. (4) If the motive were lacking X would see that p is false and its negation true. (5) If the motive were made clear to X he would see that it provided no legitimate grounds for his belief. (6) X is free to discern the character of his motive]

            Nesta linha de pensamento, FOSS (1980, p. 241) declara que ‘Jones deceives himself that  p  just in case (i) Jones brings it about that Jones believes that  p, and (ii) Jones knows that not-p. Para SIEGLER (1962, p. 473) se White diz a Brown que Brown está enganando a si mesmo, White está dizendo a Brown que este tem uma crença errônea, e aquele está afirmando que é irracional para Brown ter tal crença. Por outro lado, Herbert FINGARETTE (1969, p. 81) aduz que o auto-enganador é aquele que de certa maneira está comprometido no mundo mas recusa o próprio comprometimento, não o reconhecendo a si mesmo como seu [‘the self-deceiver is one who is in some way engaged in the world but who disavows the engagement, who will not acknowledge it even to himself as his']. Enquanto os dois primeiros autores descrevem o fenômeno empregando explicitamente o conceito de crença, este ultimo parece fundamentar o AE em aspectos emocionais.

            Adicionando algumas dimensões não presentes nas formulações anteriores, AUDI (1985) estabelece que:

Uma pessoa, S, está em um estado de auto-engano com relação a uma proposição, p, se e somente se: (1) S inconscientemente sabe que não-p (ou tem razão para crer, e inconsciente e verdadeiramente crê que não-p); (2) S sinceramente admite ou está disposto a admitir sinceramente, que p; e (3) S tem ao menos uma carência que explicita, em parte, tanto porque a crença em não-p de S seja inconsciente e porque S está inclinado a admitir que p, mesmo quando reconhece, constata evidência contra p.

            Aqui temos intencionalidades ('sinceramente admite'), crenças 'inconscientes', 'carências' e 'inclinações' tomando parte na explanação do fenômeno, o que faz acreditar que o acontecimento possui muitas dimensões que, em princípio, desafiam qualquer proposta simplista de definição. Até ocorrências como 'esquecimento', colocado de modo vago ('certas circunstãncias'), como em CANFIELD & GUSTAVSON (1962, p. 34-35) é proposto:  “tudo o que ocorre no auto-engano (...) é que a pessoa crê ou esquece algo em certas circunstâncias [all that happens in self-deception (...) is that the person believes or forgets something in certain circumstances]”, e as circunstâncias constituiriam a falta de garantia para a crença envolvida.

            Esta lista pode ser consideravelmente ampliada, com variações mais ou menos ampla nos níveis descritivos envolvidos. Em resumo, analisando algumas das formulações citadas, podemos ver que Fingarette pensa AE como compreendendo engajamento no mundo, enquanto que muitos dos citados consideram o fulcro do fenômeno repousando na crença numa proposição p, concomitantemente com a crença na proposição não-p. Foss indica que AE requer duas crenças contraditórias (e parece sugerir também que Jones intencionalmente engana a si mesmo), enquanto que Audi, Canfield & Gustavson, Siegler e Palush descrevem AE consistindo na presença de uma crença sem sustentação, sem garantia, em outras palavras, sem evidência. De modo diferenciado dos demais estudiosos considerados brevemente aqui, Audi considera que AE requer conhecimento inconsciente, o quanto paradoxal possa isto parecer.

            Assim, mediante o exame desta literatura, observamos que o tema do AE possui muitas interfaces como p. ex., (a) estados cognitivos; (b) estados conativos; (c) estados afetivos; (d) intencionalidade; (e) estados da consciência; (f) determinismo e liberdade; (g) estados volitivos, que direcionam o estudo para possibilidades de contribuição, além da Psicologia, também para a Filosofia da Mente e para a Filosofia da Ação. De igual modo, no âmbito da Filosofia Moral, o tema do AE também exibe considerável questionamento.

            O estudo do AE e da conduta mentirosa apresenta relevância tanto teórica, auxiliando a clarificação do uso comum do conceito, como prática, conforme tem sido proposto p.ex., por alguns setores da área da saúde ensejando que auto-afirmações de cunho duvidoso podem atuar como coadjuvantes em determinadas terapias de cunho psicológico (McGARRY-PETERS, 1990; RUDDICK, 1999), o quanto isto possa ser eticamente questionado.

            Ultimamente tem-se observado grande interesse sobre o estudo do engano de si e dos outros, dissimulação e esquivas, com discussões e pesquisas patrocinadas nos mais diversos campos de investigação. Nas Ciências Jurídicas, cremos que o entendimento dos motivos que levam as pessoas a cometer certos atos envolvendo mentira e engano deliberado pode colaborar na aplicação adequada da Justiça, posto que podem levar a situações de abuso e violência. Neste âmbito, muitas questões do Direito Civil (principalmente) ligados ao AE tem sido objeto de discussão como, p. ex., nas acusações de abuso sexual infantil (KOCOURKOVA & MALA, 1996) e falsas acusações de estupro (BIEDER & MAES-BIEDER, 1995; FELDMAN et al, 1994; KANIN, 1994). No Direito Penal, faceando a Psicologia Forense e Judiciária, muitas questões sofrem semelhante escrutínio, como na situação de interrogatório onde se originam falsas confissões (GUDJONSSON, 1990, 1992;).

            No campo da Psicologia, a discussão de muitos aspectos do AE e suas interfaces tem sido propostos. Dentre elas podemos citar o uso de instrumentos psicológicos de avaliação da personalidade na identificação de dissimulação de abuso de substâncias (FALS-STEWART & LUCENTE, 1997) e de jogadores compulsivos (JOHNSON et al, 1997), no uso de referenciais psicofísicos na identificação da mentira (VINCENT & FUREDY, 1992), na Psicologia da adoção, sobre crianças e adolescentes que sofreram abusos ou injúrias (WILKINSON & HOUGH, 1996; GLASPER & POWELL, 1996; RICCI, 1995; RIESER, 1991), na pesquisa sobre hipnotismo (KINUNNEN et al, 1994) e assertividade (KERN, 1994).

            Um dos tópicos mais desafiadores (e que interessa de perto ao Psicólogo) seria a ocorrência do engano em situação de psicoterapia ou consulta, nos mais variados temas (BILLIG, 1991; SMITH, 1991; HENDRICKS, 1990; O’SHAUGHNESSY, 1990). O estudo do AE aqui pode ser associado a certos aspectos do comportamento lingüístico, favorecendo novos insights (SIEGRIST, 1995). Uma lacuna que observamos no exame da literatura é a inexistência de instrumentos que possam auxiliar ao Psicólogo a inventariar de modo rápido e confiável a extensão da posse de idéias inapropriadas/irracionais e relacionados ao nível de ansiedade por parte do cliente, e que favoreceriam a ocorrência de engano, auto-engano e dissimulação na situação de consulta.

No que tange às implicações sociais da circunstância do fenômeno do AE, averigua-se que o mesmo, mediante sutis variações, parece estar disseminado, como vimos, por todo espectro do relacionamento humano. Muitas dimensões da mentira, do engano e do auto-engano são objeto de pesquisa, como lograr nos relacionamentos interpessoais casuais e íntimos (DE PAULO & KASHY, 1998), inclusive com subdimensões quanto à opção sexual das pessoas (BURDON, 1996), no ambiente de trabalho (MILLER, RESICK & RICHMOND, 1997), e no ambiente da promoção da saúde física (HUDSON, 1996; HADJISTAVROPOULOS et al, 1996; SOBEL, 1996). Encontramos igualmente interessantes discussões sobre o fenômeno do AE em estudos no tratamento de usuários de tabaco (WOODWARD & TUNSTALL-PEDOE, 1992), na formação de estudantes de medicina (THOMPSON, 1995; WATTS, 1995) e na prática da enfermagem (TUCKETT, 1998; TAMMELLEO, 1997). Mesmo na área de negócios, certas descrições remetem ao tema do AE (GARCIA, 1998).

            Com o acelerado desenvolvimento da tecnologia da comunicação, a velocidade e a magnitude das influências interpessoais ficam, ao que parece, mais e mais pronunciadas. Em igual extensão podemos esperar que os problemas nesta área do engano e auto-engano possam afetar maior número de indivíduos, em especial àqueles que não tem oportunidades igualitárias de inserção na Sociedade. Neste sentido, acreditamos que as iniciativas que promovam o esclarecimento das dificuldades humanas em geral (notadamente, nos últimos tempos, problematizados pela questão da violência) e do engano em particular tornam-se cada vez mais missão dos estudiosos e cientistas, em especial àqueles voltados para as Ciências Humanas.

            Estas constatações iniciais permitem identificar uma dificuldade importante para a consideração da questão do AE e o prosseguimento de nossa discussão. Perguntamos novamente: estas diferentes interpretações do que constitua AE são diferentes definições para o mesmo fenômeno, ou são descrições de diversos fenômenos sob a mesma nomenclatura, ou ainda, corporificam descrições de diferentes usos do termo Auto-Engano?

            Para estabelecer um parâmetro de trabalho dentre as muitas acepções para o fenômeno, iremos atentar em nossas futuras investigações para o termo AE e o significado do mesmo na linguagem ordinária, visto a ocorrência de ‘alguém-enganar-a-si-mesmo’ existir já antes de qualquer estudo teórico sistemático sobre o fenômeno. Este significado pode servir de base para comparação dentre as diferentes interpretações formuladas, averiguando quão coincidentes ou distantes as mesmas se mostram quando comparadas com a noção presente no senso comum do termo. Acreditamos que da análise dos muitos horizontes descritivos poderemos ampliar nossa compreensão sobre o fenômeno, em especial para a determinação e emergência das situações de crise nas populações (pequeno grupo), como p. ex., as de violência interpessoal.

REFERÊNCIAS


AUDI, R.  (1985)  Self-Deception and Rationality.  In: MARTIN, M. W. (Ed.)  Self-Deception and Self-Understanding.  Lawrence, Kansas: University Press of Kansas.

BIEDER, J. & MAES-BIEDER, F.  (1995)  False Accusations of rape.  Ann Med Psychol Paris  153(6), 409-13, Jun-Jul.

BILLIG, N.  (1991)  Deceptions in psychotherapy: case report and considerations.  Can J Psychiatry 36(5), 349-52, Jun.

BONASSI, F. (2007) Aviso de saúde. Folha de São Paulo, ano 87, n. 28.573, Ilustrada, terça- feira 23 de junho, p. E-6.

BURDON, W.M.  (1996)  Deception in intimate relationships: a comparision of heterosexuals and homosexuals/bisexuals.  J Homosex  32(1), 77-93.

CANFIELD, J. V. & GUSTAVSON, D. F.  (1962)  Self-Deception.  Analysis, 23, p. 32-36.

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domingo, 19 de fevereiro de 2012

O problema das relações interpessoais pós-modernas

Robert de Niro


Acabo de assistir no canal local de TV a Cabo (HBO 2) um filme com este artista, denominado Estão todos bem (não sei o nome original). Como costumeiro no grande cinema americano, drama bem feito e com atuação magistral do personagem principal. Tema: relacionamentos entre pai e filhos, o que invariavelmente acaba me tocando, de modo especial. Imaginei que ficaria emocionado como das outras vezes, visto que acabo 'introjetando' sentimentos e emoções, me colocando no lugar do personagem, mas desta vez me surpreendi. Acho que todas as lágrimas que tinha já foram derramadas quanto a este departamento.

Como é sofrente (já comentei isso em outros post) para a criatura obrigada a apartar-se dos seus rebentos; sabe-se (todos e qualquer um) que não se tem filhos para si, mas nunca, pai ou mãe, nos emendamos. E, ao envelhecer-se os genitores, se houve ou não algum relacionamento mais amiúde, quando se emancipam, os 'ex-bebês' esvoaçam do ninho, como que esquecendo-se do tanto que os pais se apegaram àquelas criaturinhas de início tão frágeis e dependentes... Muitos nem chegam a dimensionar nos pais tal liame - talvez o saibam quando tiverem os seus próprios filhos.

Mas creio que isto também é inerente ao humano do Homem; cortar de vez o cordão umbilical pressupõe este afastamento. Será que é por isso (também) que ouço alhures pais se arrependendo de ter tido filhos? Muitos se dão em casamento, mas optam por não ter filhos ou, no máximo, uma dupla de pets... Mas o que está feito, realizado está!

Por isso também, creio, que muitos idosos se deprimem. Fiz uma pesquisa docente o ano passado na Instituição de Ensino Superior onde trabalho, investigando a visão daqueles da terceira idade (controversa esta nomenclatura...) sobre o estado de isolamento, de solidão vivenciado por eles, em especial daqueles ou daquelas asiladas. O que achei foi que o estado de solidão (situação de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só) ou isolamento, aquela sensação de quem vive afastado do mundo ou isolado em meio a um grupo social, revela-se para os idosos entrevistados como abarcando principalmente sentimento de tristeza – “sofrimento” (que ocorre, no caso de alguns idosos, precisamente ao cair do poente, ao entardecer), oriundo basicamente de cogitações subjetivas, pessoais, e disseminadas ao longo de dois pólos significativos. O primeiro, o das reminiscências vitais, ligadas (a) a entes queridos (ou na sua imaginada existência, para os solteiros) vivos (e/ou ausentes da vida da pessoa) ou falecidos, e seus atos, como por exemplo, a família colocar o idoso em instituição asilar, ‘abandonando-o’, ‘desprezando-o’; ou (b) a determinados espaços, como uma propriedade onde viveu anteriormente por período apreciável.

Como se pode ver, uma dimensão da tristeza sentida pelo idoso naqueles depoimentos traduz-se na ausência da pessoa querida. A pós-modernidade está, ao que parece, recrudescendo o afastamento dos viventes, em especial dos familiares. A individualidade, salvo erro ou engano, cada vez está mais valorizada, e isto às custas da intimidade, da cumplicidade, da entrega, da amizade. Sim, sei que generalizo, mas sempre que falamos, discutimos, refletimos sobre pessoas, abarcamos percentuais, quantidades determinadas de tal e tal população. 

Vejo sintomas do afastamento entre as pessoas diuturnamente nas conversas, nos encontros, nas falas intercambiadas. A 'moda' agora é não ter paciência para escutar o outro ou a outra  terminar sua fala - falamos 'em cima' do que o outro está a falar, interrompendo-o. Eu não me calo, como é habitual; costumo muitas vezes continuar com o que estou dizendo, até deixar patente ao outro o abuso que comete, pois ninguém entende nada com duas bocas falando ao mesmo tempo. Nos casos mais recalcitrantes apelo para a metalinguagem: 'abro um parênteses' e intento conscientizar o interlocutor acerca da impropriedade de tal conduta de interromper, mas muitos 'não entendem', ficam chocados pois nunca esperariam tal observação direta sobre a conduta deles. De qualquer maneira, vejo que é muito difícil livrar-se de tal cacoete, principalmente 'de uma hora para outra'. Mas o que quero ressaltar é que tal vício e assemelhados 'antigamente' eram exceção; hoje parece ter tornado regra de conversa... Lamentável. Tudo parece tão 'acelerado', as pessoas correndo atrás do vento...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

aula... e dica de site de imagens grátis!

Image: vorakorn kanokpipat / FreeDigitalPhotos.net

           Olha só que imagem incrível! Obtive -a agora, grátis, no site citado acima (conforme instruções dos mesmos) que tem milhares de imagens, uma mais linda que a outra... Para quem aprecia fotografias, um 'prato cheio'!!

          Ontem ministrei auma aula sobre técnicas de psicologia humanista-existencial, da vertente rogeriana, para alunos do sexto semestre. Para mim foi um momento especial. Pude esclarecer muito do meu modo de ser como docente, coisa que muitos alunos tem dificuldade de discernir. Fico feliz em poder ser cristalino e autêntico em minhas relações com eles. Como sempre digo, penso não somente no aqui-agora da vivência da sala de aula, mas n'eles como meus colegas e profissionais logo-aí, no próximo futuro...

          Esta minha experiência choca-se com uma constatação que a cada vez se apresenta à minha pessoa. Os relacionamentos hoje em dia estão com tonalidades que eu desconhecia até a poucos anos. Não sei se a velocidade das diuturnas e polifacetadas exigências e/ou o fluxo cada vez mais "bombardeante" dos dados e informações que caem sobre nossa cabeça que cooperam, no seu conjunto, para nos deixar cada vez mais alienados de nós mesmos nestas relações que somos confrontados a cada minuto. Constato isto por inúmeros 'sinais' (que denomino 'sintomas'), sendo talvez o mais insidioso o fato das pessoas 'não escutarem' o que você diz. Parece que somos, no mais das vezes, platéia para discursos solipsistas, ensimesmados, apartados. O outro definitivamente parece, nestes tempos pós-modernos, transmutado no 'inferno' a que aludiu Sartre. Mas eu acho mesmo que (por nossa humana deficiência intrínseca neste amplo, complexo entorno social hodierno) transformamo-nos, para cada qual de nós mesmos, em vera inferneira para nossa mútua compreensão e enfrentamento... Será que tem jeito?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

noticias... que horror!

Uff... não dá mais para assistir o noticiário, ler jornal, navegar nos sites de informação sobre o cotidiano. Só 'porcariada', como se diria na minha terra. Que horror! Sei que notícia boa não vende jornal, mas assim não dá, só "tragédia"... O que causou mais espécie neste humilde 'escrevinhador' foi a notícia que em nossa Corte maior, o Supremo Tribunal Federal, os ministros (sendo verídicas as informações..., 'salvo erro ou omissão'...) se degladiam como se estivessem num botequim de segunda. Não bastava a notícia que um membro foi indicado pelo Presidente Lula para esta Instituição, sem nem mesmo ter um Mestrado ou coisa assemelhada, agora essa... Sei que somos imperfeitos, todos, mas na Magna Corte esperamos que seus diletos membros sejam inegavelmente possuidores de virtudes elevadíssimas, afins à fina flor da elite nacional, detentores de integridade a toda prova, com o nível maior de preparo, em todos os sentidos, inclusive na moralidade, eticidade, racionalidade, etc... Quando estas expressões sofrem reparo, quando se sabe de condutas que mancham esta expectativa, é de chorar.... Já não falta mais nada!
Recebi de um dos porteiros do condomínio onde moro um recorte da Revista VEJA de 11 de março de 2009 (O Nelson sempre me brinda com textos - muitos eu já havia lido, mas nunca vou dizer a ele - tenho mais é que incentiva-lo a ler e me repassar o que ele considera digno de ler). À p. 22 leio a coluna da escritora Lya Luft, que teve livros categorizados como best seller já há algum tempo. Nomeia seu pequeno ensaio de "No paraíso da transgressão" e, 'lógico', fala do lodaçal da nossa sociedade atual, com seus valores estragados e o certo caos reinante. Ela tece bom panorama de nossa impotência frente a tantos desmandos. Eu poderia adicionar a assemelhada pequenez de nosso sistema educacional, em todos os níveis. Sei mais de perto sobre o nível universitário, calamitoso. Recomendo a leitura...
Na mesma linha, leiam o "manifesto" que o polêmico Ferreira Gullar escreveu na Folha de São Paulo de domingo, 20 de dezembro de 2009 (ano 89, nro. 29.481), à p. E-12 do Caderno 'Ilustrada', intitulado 'Cabra safado não se ama', sobre a classe política... Tenho ou não razão?