gravura obtida nesta data de
http://www.overmundo.com.br/banco/duvidas-dilemas-existenciais
Outro dia surgiu numa das classes de psicologia a questão do ‘maior dilema existencial’ das pessoas. Todos ali escreveram seus comentários. O professor foi instado a escrever também... Abaixo coloco o que entreguei aos alunos:
a) Primeiramente, um conhecimento que se obtém pelo simples exame dos termos. A palavra ‘dilema’ remete, numa primeira instância, à necessidade de se escolher entre duas saídas contraditórias e igualmente insatisfatórias, configurando assim uma situação embaraçosa, contendo duas alternativas difíceis ou penosas a que se deve optar. Pode-se pensar (erradamente, e de modo costumeiro), que esta palavra é sinônima de ‘sinuca’, que significa situação difícil ou embaraçosa para a qual o indivíduo não vislumbra qualquer saída ou solução. Vemos que existe uma diferença aqui: dilema abrange duas opções que não são satisfatórias, mas que são conhecidas, enquanto que sinuca abrange uma situação onde o indivíduo não sabe nem sobre o quê poderia optar.
Se dizemos de algo ser-nos ‘existencial’, isto quer dizer que implica uma reflexão que toma como ponto de partida e objeto principal (desta reflexão) o modo de ser próprio do homem na sua concretude individual, singular e solitária. Esta reflexão não leva a encarar o resultado dela como algo que deva ser ‘insatisfatório’ para o homem ou para a mulher (como se devesse pensar sobre um ‘dilema’). Quando se pensa o SER, pensa-se o que é do existente, ou aquilo que o constitui; o quê pertence à (nossa) existência; aquilo que nos é, e que, assim, não é em si ‘bom’ ou ‘mau’, simplesmente ‘é’, independentemente do que possamos pensar sobre o que quer que seja. Quando se questiona o SER, reflete-se sobre o que se põe como existente: o que configura o ente (em nosso caso, a pessoa); pensamos sobre aquilo que nos faz, de maneira concreta, fática ou atual, e isto – o que nos faz - não é, como dissemos, em si, ‘bom’ ou ‘mau’. Por extensão, não existe MAIOR (ou ‘menor’) ato ou movimento para realizar nosso ser – todos os atos e aquisições que constituem diariamente nosso rumo em direção à efetivação de nosso ser são importantes, fundamentais, ou seja, precisamente ‘existenciais’!
Resumindo: em nosso caso, quando se pede para identificar qual nosso maior dilema existencial, tem-se a impressão de que se deve ‘optar’ por uma entre duas vertentes ou constituintes do ser (da pessoa), sendo, qualquer coisa que se escolha, ‘ruim’, ‘insatisfatório’. Na verdade, o uso comum da asserção DILEMA EXISTENCIAL é impróprio, posto que dispõe ali um erro lógico, levando a pensar em algo reprovável. Qualquer que seja o movimento da pessoa no sentido de efetivamente SER, isto é algo ‘ótimo’, desejável. Assim, o homem ou mulher deve tornar-se pessoa, realizar seu SER de modo a cumprir a medida de seu potencial, assumindo-se como ser-em-potência que deve, responsavelmente, realizar-se enquanto tal, a partir de suas decisões.
b) Em segundo lugar, e feitas as considerações anteriores, posso tentar responder ao desafio, entendendo a questão como uma forma (inapropriada, mas comum) de situar (encarar) uma decisão de alguém para, assumindo-se, ‘decidir e/ou enfrentar seu destino’; realizar-se a partir de algo fundamental em sua vida, algo que caracterize seu existir, e isto com responsabilidade e autonomia. Nesta acepção, podemos provisoriamente afirmar um resultado de reflexão, que nos é vislumbrado (pessoalmente) como importante nesta processualidade de tornarmo-nos pessoa.
Em meu caso, creio que um movimento vital (não visto por mim como um ‘dilema’, ‘menor’ ou ‘maior’...) que cotidianamente assumo, de modo responsável e para constituir com liberdade o meu existir, seria encarar o perene desafio de (a partir do horizonte que percorri até aqui), lidar efetivamente com a limitação da Razão (e, principalmente, da linguagem), e isto, em direção ao conhecimento, de um lado, das qualidades transcendentais e, de outro, da espiritualidade cristã.
Tenho dito!