foto obtida agora via Google Images de
http://enikselom.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html
Quinta feira ‘braba’, como se diz
na minha terra, depois de mais um dos afamados festejos momescos. Eu brinquei
em minha vida somente um ou dois carnavais – depois de constatar que o cheiro
de cigarro ficava muito impregnado na minha roupa - vi que o ambiente
(problematizado pelo estado alcoólico de muitos frequentadores) não era
promissor para minha segurança e desenvolvimento. Nem pela TV acho muita
graça... Procuro saber mais noticias nos veículos impressos de grande circulação. Mas mesmo com as magras edições, não deixo de ler os principais jornais, em papel (sim, gosto ainda desta prática
antiga) e no formato digital, via PC ou tablet.
Uma tendência moderna que se vê
nestes importantes veículos de comunicação de massa é a coleção de colunistas,
que todos os jornais reúnem, convidando-os (ou pagando boas somas) para
interpretar os acontecimentos. Como tudo na sociedade, abarcam estas
heterogêneas coletâneas ensaístas e articulistas bons e ruins, além dos
medíocres. É impressionante a gama de assuntos que eles e elas discutem, alguns
que nos fazem ficar matutando onde foram busca-los – alguns, imagino,
vislumbraram-nos, aparentemente, sob efeito de alguma substancia inebriante, dada a desimportância ou maluquice.
Gosto do jornal Folha de São
Paulo, talvez o maior e melhor hoje em brasólia. Ele se gaba de ter uma gama
pluralista de colunistas, escalando-os em dias específicos para desfiarem suas
intelecções, pareceres e até diatribes. Lê-se coisas interessantes, bobagens,
discursos divertidos e outros bem instrutivos. Este jornal é tão eminente que
seus colunistas e articulistas costumam comentar e discutir (civilizadamente ou
não) entre si os próprios escritos que publicam, verberando ou dando perfil
laudatório ao discurso. E haja pluralismo...
Cresci na
Academia acreditando que o debate, a peleja, a controvérsia são necessários,
principalmente sob a égide da cortesia, da polidez, para bem descrever,
esclarecer, instruir, interpretar e compreender a realidade multifacetada,
multidimensional, embasbacante. Ou seja, da ‘discussão nasce a luz’, para citar
um brocardo conhecido. Mas o que parece imperar hoje, nos jornais, revistas, na
academia (sempre com honrosas exceções, e que não são poucas) é
discutir para ter luz, mas luz dos holofotes, quem ‘aparece’ mais, quem choca
mais (como alguns colunistas da Folha), quem é mais comentado/a pelos demais,
para o bem e para o mal (ou pelo bom ou pelo mau...). Veja só: Contardo Calligaris, na
sua coluna da Folha de São Paulo de hoje, quinta feira, 14 de fevereiro de 2013
(Ano 92, nro. 30.633, ‘Saudade de ideias perigosas’, Caderno Ilustrada, p.
E-8), lembrando de Foucault, pergunta se, neste cenário de grande
permissividade, onde se permite dizer tudo de qualquer coisa, por que discutir, por que lutar por qualquer ideia? Mesmo porque, digo eu, parece - já o disse outro dia - que não é
mais feio proferir sandices, disparates ou redundâncias... Contardo pergunta ao
final de sua coluna se não seria o caso – será... - de ‘falar e deixar falar’?...
E como ficam - volto a colocar esta constatação - dentro desta
confusão, os jovens, minha maior preocupação como educador? A exigência que se
faz, na Faculdade, para que eles leiam, leiam, leiam é enorme, em todos os sentidos.
Mas como ‘filtrar’ o que se lê, como categorizar, como arquivar
convenientemente a enxurrada de dados e informações? Eu gostaria de ter uma
resposta clara, cristalina, mesmo um tipo de ‘receita’, mas cada um deve achar,
dando ‘cabeçadas’ ou não, o seu caminho. Somente existem linhas gerais de
conduta: averiguar credenciais da pessoa, criticar o texto de modo minudente,
estabelecer ‘pontes’ entre discursos conexos (da pessoa e de seus pares; aliás,
mesmo que também seja oriundo de outros campos) etc. A lista de estratégias é
grande. Um profissional que não domine minimamente certas regras do uso da
linguagem, da razão, tem escassos horizontes de sucesso. Mas o exaustivo
desafio é recompensador: saber
discernir, em cada campo do saber e em cada profissão (e isso cada vez melhor),
o joio do trigo; diferenciar a ilusão da certeza, experimentar a satisfação da
clareza da decepção do engano e, principalmente, averiguar os frágeis limites
daquilo que é quimérico em relação ao que é real. Acho que contribuir para que isso ocorra faz parte de minha missão, nas diversas matérias que ministro na Universidade. Que Deus me ajude nesta tarefa cada vez mais complexa!