A V I S O


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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Complexidade...


Gravura obtida agora (via Google Images) de
http://www.europosters.pt/estilo-de-vida-poster/


Estou pesquisando um tema para um novo projeto no Unifae e coloco aqui umas reflexões. Eu fiz uma compilação de algumas idéias de um filósofo bem conhecido, EDGAR MORIN, a partir do seu livro Ciência com consciência (8ª ed. rev. e mod. pelo autor. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005), que recomendo a todos a leitura...

Quando se pensa em ‘complexidade’, imaginamos um emaranhado de eventos, atos e ações em interação recíproca, ou mesmo acasos, que determinam nosso mundo. Num primeiro relance, complexidade seria uma trama de componentes heterogêneos que se ligam de algum modo, expressando as relações aparentemente contraditórias entre aquilo que exibe unidade e aquilo que se revela com multiplicidade. A complexidade pode inicialmente ser apreendida numa situação interior de inquietação, de perplexidade, como que vislumbrando certa desordem, ambiguidade e incerteza, posto que as coisas se desvelam misturadas, embaralhadas, embaraçadas.

Quando se intenta articular um tipo de ‘pensamento voltado para a discussão do complexo’, uma das primeiras aquisições que se obtém é precisamente discernir que o problema da complexidade não é necessariamente o da completude, do acabamento, mas o da incompletude do próprio conhecimento. O pensamento complexo visa lidar com aquilo que os outros tipos de pensamento deixam de lado, ao recortar a realidade e seus constituintes segundo seus cânones. Os demais modos de pensar caem facilmente pelos caminhos da simplificação e do reducionismo, como que mutilando os fenômenos, truncando-os, separando-os, pois é isto precisamente a processualidade de seus métodos.

O impacto que os estudos da complexidade determinaram nas Ciências criou as condições para questionar o seu próprio fazer, permitindo considerar a ‘Ciência’ como legítimo suporte para estabelecer uma nova dinâmica do conhecimento e do processo de entendimento.

Parece, neste novo cenário, que o considerar o que é complexo pode permitir definir melhor o mundo empírico, a incerteza e a enorme dificuldade de se aproximar da certeza, de articular e enunciar hipóteses, teorias e leis científicas, de conceber uma ordem estável no universo. Poderá, certamente, contribuir para resgatar algumas funcionalidades da lógica, em especial aquelas que nos ajudam a evitar contradições. No pensamento clássico (que parece ainda viger no dia-a-dia), quando emergia contradição no bojo de uma argumentação, a mesma era entendida como sinal de erro. Tal situação determinava que era necessário voltar atrás e reformular os termos, ou erigir nova argumentação. Na visão do pensamento complexo, no percurso empírico-racional, ao deparar-se algum tipo de contradição, isso não é necessariamente evidência de erro, mas sim de descoberta de uma dimensão mais profunda da realidade que nossa lógica se revela inábil para lidar, oriunda das características dessa mesma profundez.

Algumas características do pensamento complexo já são suficientemente estabelecidas atualmente. Em primeiro lugar, e de modo coerente, o estatuto semântico e epistemológico do termo complexidade não está concretizado. Ao examinar-se a literatura, observa-se que os estudiosos em diferentes campos do saber empregam o termo de modo diverso. Parece, assim, que as enunciações sobre a complexidade constituem-se em discursos que se generalizam no âmbito de diferentes vias, visto que existem múltiplos caminhos de entrada à ela.

Outro aspecto fundador é que, ainda que estudiosos da complexidade exibam posições diferentes sobre o termo, quase todos diferenciam “complexidade” e “complicação”, ou entre um problema apenas quantitativo e um tema qualitativo, visto que, com o discurso sobre a complexidade, aborda-se  sempre um problema lógico e geral. A complexidade espraia-se não apenas à Ciência, mas também à Sociedade, à Ética e à Política, constituindo-se um problema de pensamento e de paradigma que envolve uma epistemologia geral. Podemos dizer que a complexidade surge como problematização, como dificuldade, como incerteza e não como uma clareza e como resposta. O problema é saber se há uma possibilidade de responder ao desafio da incerteza e da dificuldade.

Sendo um pensar necessariamente articulante e multidimensional, um pensamento complexo nunca constitui um pensamento completo. A natural ambiguidade do pensamento complexo é poder lidar com as articulações entre domínios disciplinares desarrraigados pelo pensamento desestruturador, fragmentador, como faz, p. ex., o pensamento simplificador, que isola o que separa, e parece ocultar tudo o que ata. Neste tipo de pensar, interpretar e compreender, entender algo revela-se necessariamente como interferir e retalhar a multiplicidade da realidade enquanto tal.

A partir destas considerações, depreende-se que não se pode chegar à complexidade por uma definição anterior, preliminar. No próprio fazer do pensamento complexo, necessita-se seguir caminhos diversos, o que nos leva a perguntar se existem complexidades, e não uma complexidade. Morin indica algumas das diferentes ‘avenidas’, vias que podem conduzir ao que ele denomina "desafio da complexidade". Uma delas seria o da irredutibilidade do acaso e da desordem, que estão presentes no universo e ativos na sua evolução. Não se pode resolver a incerteza que as noções de desordem e de acaso trazem, visto que o próprio acaso não está certo de ser acaso. A incerteza continua, inclusive no que diz respeito à natureza da incerteza que o acaso nos traz.

Uma outra ‘avenida’ possível é a transgressão, nas ciências naturais, dos limites daquilo que poderíamos chamar de abstração universalista que elimina a singularidade, a localidade e a temporalidade. Por exemplo, a biologia atual não concebe a espécie como um quadro geral do qual o indivíduo é um caso singular. Ela concebe a espécie viva como uma singularidade que produz singularidades. A própria vida é uma organização singular entre os tipos de organização físico-química existentes. E, além disso, segundo Morin, as descobertas de Hubble sobre a dispersão das galáxias e a descoberta do raio isótropo que vem de todos os horizontes do universo trouxeram a ressurreição de um cosmo singular que teria uma história singular na qual surgiria nossa própria história singular.

Outra ‘avenida’ possível é a da complicação. O problema da complicação surgiu a partir do momento em que se percebe que os fenômenos biológicos e sociais apresentavam um número incalculável de interações, de inter-retroações, uma fabulosa mistura que não poderia ser calculada nem pelo mais potente dos computadores, e daí vem o paradoxo de Niels Bohr que diz: "As interações que mantêm vivo o organismo de um cachorro são as impossíveis de ser estudadas in vivo. Para estudá-las corretamente, seria preciso matar o cão". Pensar o complexo abarca apreender uma misteriosa relação complementar, no entanto, logicamente antagonista , entre as noções de ordem, de desordem e de organização.

Tema muito interessante, sem dúvida. Inclusive porque aqui nem sequer arranhei a riqueza do tema, seguramente. Tente colocar este termo no Google -  surgirá milhares de páginas! É o retrato da (pós-)modernidade contemporânea: tudo junto e misturado...