Oscar Wilde
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Do libreto de aforismos do grande literato: 'A alma nasce velha e se torna jovem. Eis a comédia da vida. O corpo nasce jovem e se torna velho. Eis a tragédia da alma.' Uma das grandes contradições da existência, o remoto dualismo corpo-alma. René Descartes foi marcante na discussão da matéria com sua obra As Paixões da Alma, ainda que na oportunidade tenha se valido (sabe-se hoje), alí e acolá, de cavilosos argumentos linguísticos na defesa de sua posição, o que, em princípio, não o desmerece.
Interessante a verve de Wilde: a alma nasce velha: desde a pré-história nascemos de mulher do mesmo modo, mas a alma é aquilo que nos faz diverso de todo o resto, esta, a centelha que anima de modo peculiar uma massa corpórea, assemelhada a tantas outras, mas dotada de tantas diferenciações precisamente por causa dela. Velha nasce mas se modela, se habitua, se afeiçoa, torna-se jovem, pelo conhecimento, pelo aprimoramento, pelo polimento. E este processo constitui, para Wilde, a comédia da vida, pois suscita o espanto, a admiração de quantos de debruçam a admirar este prodígio, esta maravilha (milagre?), que só rindo, agradecidos, todos e cada um, aos céus.
Agora, o corpo, que nasce jovem e se torna velho, constituindo, paradoxalmente (fechando o círculo) a própria tragédia da alma. Tragédia, querendo dizer mesmo (segundo o dicionário...) - a ocorrência ou acontecimento funesto que desperta piedade ou horror; catástrofe, desgraça - pois a alma não vai, mais e mais, dispondo (à medida que se 'rejuvenece', aprimora-se, evolui) como desejaria, do seu substrato, do seu correlato. O aperceber-se desta inexorabilidade determina à alma perenal desalento. Não tanto por causa da consciência da decrepitude ou da finitude ou até mesmo do final aniquilamento, mas sim pela impossibilidade das duas instâncias poderem auferir de (mutual) desenvolvimentos harmônicos, in totum.
Quantos se comportam hoje em dia como se nunca fossem envelhecer! Da Humanidade, tantos os anos de conhecimento, de aquisição de sabedoria, não instam a muito(a)s a modular, a equilibrar a existência, a subjugar as paixões e os arrebatamentos, a domar as pulsões... Resultado: ocasos melancólicos, caliginosos, caídos, desapreçados, desolados, solitários...