A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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terça-feira, 24 de maio de 2022

Seis meses de artroplastia...

 

Dia 23 deste mês completei meio ano da abençoada cirurgia de colocação da prótese no lado esquerdo da bacia. Após vinte sessões de fisioterapia apropriada, e com as atuais atividades de Pilates e bicicleta ergométrica posso dizer que estou 90% recuperado. Tentei largar da bengala há algumas semanas mas há dias em que volto a apoiar na bendita, principalmente se tenho que andar bastante. Ainda sinto (por vezes) de modo algo estranho as renovadas estruturas aqui implantadas. É estranho ficar de pé e não sentir mais aquelas fortes dores que sofri por quase 3 anos. Parece que vai doer, mas nada acontece! Fiquei com certo 'condicionamento' em relação a algumas posturas e o próprio caminhar, consistindo em expectativas de dor, que gradualmente vão se esvanecendo. Soube que demora até um ano para a recuperação desta cirurgia ficar 'cem por cento'... 

Que época abençoada esta que tenho o privilégio de viver. Há décadas atrás não tinham ainda desenvolvido com o sucesso de hoje tal procedimento. Fui pesquisar e vi no site medicinadoquadril.com.br  uma extensa informação sobre o assunto. Sou grato às inúmeras pessoas que possibilitaram melhorar minha qualidade de vida. Imagine que antigamente a amputação da perna era uma alternativa para debelar o enorme sofrimento oriundo do avançado desgaste ósseo da cabeça do fêmur. Ou a pessoa era condenada a ficar imobilizada, deitada ou sentada até o fim da vida. Qualquer movimento, por menor que seja, faz doer!

Minha atitude só pode ser de agradecimento a Deus. Olho em torno e vejo tantas pessoas que, por uma razão ou outra, não tem condições de mitigar apropriadamente seu sofrimento. Mudei um tanto minha visão de certos atos extremos que algumas pessoas perpetram. Certos desgostos tiram o vivente do seu eixo, fazendo ocasionalmente as pessoas tomarem decisões que nos parecem absurdas, mas a mente em tais situações de aguda e/ou crônica tribulação já não está a funcionar apropriadamente... Ficamos, nesta desolação, próximos da insanidade, é o que parece...

Ainda tenho muito medo de cair - uma queda pode estragar toda a cirurgia, tendo que voltar à mesa de operações no Hospital. Como comentei aqui em posts passados, a recuperação é muito dolorosa, e ninguém avisa dos desafios que vamos percorrer, ainda que o imperativo seja fazer ou fazer a cirurgia. Sei de idosos que colocaram prótese e nunca mais saíram da cama. Imagino que uma das respostas seja o medo que paralisa a pessoa, impedindo-a de enfrentar a trabalhosa recuperação.  O ser humano é, cada um, uma caixa de surpresas, um universo único, ainda que sejamos muito assemelhados... Costumo dizer que, depois de quase 45 anos de formado em Psicologia, e tendo realizado muitos estudos pós-graduados, ainda me surpreendo - para o bem e para o mal - com a atitude de certas criaturas, em especial nas suas aflições... 

Esta nossa existência é um mistério, e arte de viver é uma disciplina que nem todos tem sucesso em aprimorar-se.  No meu caso, passar por esta atribulação me fez uma pessoa melhor, pois vi o quanto limitado e provisório sou. E se já orava pelas pessoas que me são caras, passei a orar mais pelos semelhantes que sofrem. Peço que nosso Pai Celestial dê a eles e elas firmeza e coragem, pois Ele não nos dá, a cada um(a) na sua condição, uma cruz maior do que possamos carregar. É a minha fé.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Semana Santa

“Ecce Homo”  - 'Eis o Homem' - de Antonio Ciseri (1871)m
obtido agora (via Google Images) de
http://www.livinglutheran.com/photos/good-friday-meditation.html#.UVYNnhdwroI


Esta semana se comemora um fato muito especial, o sacrifício expiatório de Jesus, em favor dos seus eleitos. Este mistério ainda vai constanger a muitos, pois vai contra a lógica mundana - quanto de nós se disporia a morrer em favor de outros (talvez, alguém, em lugar de um inocente ou justo) mas, morrer por pessoas que não merecem? 'Loucura'... Fico a imaginar que se Deus tivesse estabelecido outro tipo, modalidade ou estilo de plano de salvação, haveria mesmo assim oposição, desconfiança, descrença, inconformismo, etc. do mesmo jeito... 'porque não ser de outra maneira', e quejandos...

E, no entanto, este acontecimento é o cerne de toda a Fé cristã, que se completa com a ressurreição, ocorrida depois de 3 dias. Quanto mais o homem se aboleta na segurança da Ciência, menos propenso fica a considerar, meditar, acreditar nestes mistérios. O desafio, creio, é justamente este, ao que me consta - lançar fora toda a necessidade de certeza terreal que teima em nos enlevar, posto que estas realidades são de outro gênero, que mal descortinamos. É este o problema das pessoas que não se concedem assumir a crença: juntam 'tudo' no mesmo patamar de consideração. Para mim é um exemplo de erro categórico, como bem ilustrou o notável filósofo inglês Gilbert Ryle. 

Mas, no fundo, crer no sacrifício expiatório e no Plano de Salvação é algo muito pessoal, que devem, todos e cada um, vivenciar de modo privado, sem a cavilagem que teólogos e cientistas pretendem despender ao considerar estas coisas. Quanto mais o engenho  humano desejar apreender tal sublime mistério, mais ele se torna inacessível. Minha chave foi abordar a Fé pelo lado do coração, deixando o intelecto como primacial - aí, sei que consegui a real intelecção. Não se consegue explicar o coligido de  sentimentos, constatações, impressões, descobertas, revelações e desvelamento que obtemos, vivenciamos, quando nos dispomos seriamente a encalçar o Caminho. Ao eleito, depois da divina convocação, aí precisamente considero que é loucura o desviar-se dele, do Caminho, do convite, do chamamento. Ou trata-lo levianamente, sem a seriedade que encerra. Quem se dispõe a ouvir o Chamado sabe do que se trata. É um trajeto sem volta... Louco quem desiste dele ou o renega!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Raízes...

Ilustração obtida agora via Google Images de
http://www.biblesamacharam.com/popular-christian-wallpapers-for-download

Todos sabem de minhas raízes cristãs - já comentei aqui anteriormente. Dos 5 filhos do casal Geraldo e Firmina sou o único que professa a Fé Reformada, um dos maiores ramos do movimento protestante. Relembro, já comentei aqui, com carinho, as reuniões familiares que minha mãe dava na sala de jantar com a filharada, falando da Bíblia. Naquela época eram-me coisas um tanto incomprensíveis, mas ficou a semente, inequivocamente. Sempre senti um apelo intenso 'pedindo' minha volta ao redil - coisa que nunca duvidei que seria agraciado (não sei porque, pois os desígnios de Deus são incompreensíveis a nós, finitos e decaídos que somos) - mas que agora com todo o ensinamento que recebi (e continuo buscando) eu consigo entender melhor. 

Foi muito doloroso o período afastado de Deus, agora consigo dimensionar. Quanto tempo perdido. Mas quanta misericórdia e graça sobre graça! Minha gratidão ao Pai Celestial não tem tamanho. Sei agora que Ele nunca desistiu de mim. O peso de minhas faltas era enorme para carregar, e ainda me enche de tristeza (pois muito do mal que fiz não tem volta ou reparação), não importa que eu saiba que Jesus vai estar pronto para me abraçar quando eu atravessar o rio.  Mas o horror do peso dos meus pecados, do afastamento que implica entre meu Criador e eu, é algo que chega a desesperar. Mas a certeza do sacrifício expiatório de Jesus pelos seus eleitos nos conforta e enche de esperança. Não há lugar mais para o desepero, e sim contentamento e gratidão. 

O que o Pai Celestial espera que nós façamos é que O temamos, O obedeçamos. E uma das incumbências mais especiais que podemos receber é o casamento. O desafio de cumprir o que Deus determina em seu Pacto no tocante ao matrimônio é, antes de tudo, uma bênção e um privilégio. Bênção de recebermos uma esposa nesta jornada, para nos ser como co-adjutora, conselheira e companheira nas tarefas que devemos cumprir. E um privilégio no sentido de termos uma rara oportunidade de aprendizado e de serviço.

Gosto muito de ver minha esposa ser a pessoa que é. Nosso dia-a-dia é permeado 98% de risos, alegrias, brincadeiras e companheirismo puro. Somos parceiros em tudo, sem perder a identidade de nossas existências específicas, nossos afazeres pactuados. Gosto de ver como Bilú cuida tão zelosamente da casa, dos seus adereços e guarnição; como ela, vaidosa que é, cuida de seu corpo e mente de modo a ser sempre uma bonita criação de Deus. Até as manias, as idiossincrasias de mulher costumo achar bastante graça. Gosto de ver as caras que ela faz quando a provoco. É muito engraçado, ela, que não faz mal a uma môsca, com seu metro e meio de altura, ficando brava comigo... Sou sempre atento ao ensinamento que Deus me provê por meio dela, pois isto também me foi designado por Ele através dela. Procuro cumprir o que o Pai Celestial espera de mim diante dela. É muito divertido - nunca entramos em tédio, apesar de nossa vida ser bem regulada, rotineira, previsível... nossa casinha velha, humilde mas muito arrumada é a nossa grande bênção, graça recebida sem o merecermos. É o nosso castelo, e apraz-me muito viver aqui, com nossos vizinhos; aqui, tão perto do centro da cidade, com tudo à mão, com tantas facilidades... Imaginava uma casa assim, mas recebê-la de Deus foi algo que guardo em meu íntimo como uma revelação e confirmação - só eu o sei.

Sei que tive dois casamentos anteriores que não deram certo, e não fico procurando culpado(s) porque os relacionamentos não continuaram. Casei na Igreja e no cartório das duas vezes anteriores também; nunca desejei terminar nenhum casamento. Fico mortificado pelo fato de meus filhos terem crescido longe de mim - não pude acompanha-los convenientemente, já o disse várias vezes. Não penso nisto como 'castigo' ou algo parecido; deixo muitas coisas para saber quando me encontrar com Ele (vai, inclusive, que estas preocupações não sejam mais importantes lá...) naquela outra dimensão, noutra Vida. Procuro meditar onde errei, onde não agi como devia, onde não amei minhas ex-esposas como deveria. Nem o fato de ter pedido perdão as fizeram me perdoar. Mas o importante é que sei que Ele me perdou. Este peso de ser divorciado é fardo pesado de carregar, e vou morrer com ele, lembrando-o todo dia de minha vida.

Sou muito grato ao Pai Celestial pela oportunidade de voltar ao redil - não compreendo aqui nesta esfera como Ele se apiedou e tem misericórdia de um ser tão abjeto como eu. Com todas estas experiências que vivi, todas serviram - agora vejo - para confirmar em meu íntimo (muito, muito mais espiritualmente do que racionalmente, ainda que nossa Fé seja racional) as verdades da Fé Reformada, de como a Palavra deve ser estudada unicamente a partir do que encerra a Bíblia. Tudo o que passei nesta vida, vejo agora, vai se 'encaixando', se significando em meu íntimo como uma sucessão de misericórdias imerecidas, tantas as coisas 'boas' (inúmeras) quanto os percalços e  provações. Deus Soberano dirige minha vida, ainda que eu seja tão imperfeito e decaído.  Nada aqui vale mais do que isso. 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Naturais momentos tristes...

Foto obtida agora via Google Images de
http://quentinmccall.com/ten-steps-to-healing-from-bitterness-and-resentment/
(muito legal este blog, de um palestrante cristão muito conhecido)

Hoje relembrei importante lição sobre uma majoritária vivência humana, importante para o 'sentir-se vivo'... Quando as coisas saem erradas, ocorrem de modo que não esperávamos, ou quando as más notícias nos surpreendem, ficamos  tristes, por vezes aterrados. Para o cristão esta experiência pode se traduzir em profundo aprendizado de relacionamento que devemos ter com o Pai Celestial.

A primeira noção que devemos apreciar neste âmbito é que é normal, natural sentir-se deprimido, entristecido com estas situações - o nosso corpo parece responder de modo autônomo. Muitas pessoas odeiam entrar neste estado, mas ele é tão natural quanto a alegria ou a saudade. Sim, pode ocorrer que ela venha 'do nada', sem razão ou motivo - e temos de igual modo que investigar seu porquê. Pode ser necessário a ajuda de um terapeuta para debelar o incômodo físico, mas o maior problema situa-se na mente, ou na alma, se você preferir. Veja a camiseta acima: ela diz que a amargura, a mágoa é (um tipo) de veneno que tomamos e que se espera (por vezes) que outra pessoa vá morrer... É horrível passar por isso, e precisamos dar conta da provação. O problema é como lidamos com o sentimento.

Vi no devocionário hoje cedo que o cristão deve meditar um aspecto desta vivência de tristeza, de amargura natural que todos passamos: onde estamos a derramar nossas lágrimas? Se a jogamos no chão, nos ombros de pessoas (que acreditamos vá nos fazer suplantar a dor), no lenço ou no travesseiro pode ser que elas vão secar sem que as coisas mudem para mudar também nosso sentimento. Quantas vezes não queremos que primeiro  se mude o cenário, os fatos, as pessoas ou as notícias para daí sim a gente tornar o sentimento? É uma espécie de 'mágica' o que queremos.

 Agora, o cristão que faz jus ao nome deve saber que nossas lágrimas devem ser derramadas aos pés do Senhor, e crer que Ele nos dará a paz que necessitamos. Não, isto nunca se assemelha ao processo 'mágico' aludido acima, pois ser cristão não implica inação; aprendi certa vez com um importante líder que, 'imediatamente' após a oração, devemos fazer de tudo para que a bênção rogada se realize...  Ou seja, nunca se deve abster de fazer o que temos (nós e, por vezes, somente nós) que fazer. Isto implica sempre estudar a Palavra para saber o que necessitamos saber (para todos os momentos, inclusive para os tristes).

Nossa fé em Cristo determina que, pela confiança nEle, teremos o auxílio, o amparo que necessitamos em qualquer situação, mesmo as inesperadas, as temidas, as entristecedoras.  Isto é um ensino espiritual - não espere que o mundo materialista e determinista vá entender o processo e as implicações conexas. No limite, trata-se de uma experiência pessoal, pertencente ao Convênio (Pacto), à Aliança que todo cristão adentra ao aceitar Jesus como seu Salvador. O mundo exige fatos, demostração inequívoca (ou estatística) do relacionamento causa-e-efeito entre os fenômenos, mas no campo que estamos aqui refletindo, o requisito primeiro é a fé. Isto estabelece um patamar diferenciado de julgamento, de consideração das coisas, dos sentimentos e pensamentos. O cristão acredita e tem certeza que o Senhor vai ajudá-lo (soberanamente) a superar a situação, a Seu tempo e modo.

Estas vivências não se demonstram - somente podemos dar nosso depoimento. Cada um deve passar por ela e julgar. Quando se procura a Deus em primeiro lugar (e não uma pessoa e/ou suas idéias...) demonstramos que confiamos nEle. Quando procuramos alguém, pode ser que esta pessoa não nos ouça como necessitamos, mas podemos ter certeza que Ele nos ouvirá. Não podemos passar pelas experiências espirituais com os olhos do mundo - nunca nos satisfaremos com as 'justificativas', com as suposições especulativas, com as expectivas causais, deterministas que o senso terreal  solicita ou fornece. 

No domínio do mundo, temos que 'ver para crer'; ou seja, demonstrado os fatos e sua ligação, aí (então) cremos. No reino espiritual, temos que ter em mente que a questão é pessoal (entre Deus e nós, sua especial criação), e que a equação se inverte. O que ocorre é que a todos é feito o convite: "vem, e vê" (João 1: 46; 11: 34; Lucas 6: 47; Apocalipse 6: 3 e 7; 22: 17)... ou seja, experiencie, vivencie o relacionamento com Deus, experimente a graça (sobre graça) imerecida, e saiba do fundo do coração que, se tiver a fé, aí então 'verá', conhecerá, saberá.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Deus numa suave, calma brisa (I Reis 19: 11 a 13)

gravura obtida agora de
http://philleng.blogspot.com.br/2010_07_01_archive.html

Recordo já ter comentado aqui sobre o Pai Celestial se manifestar de modo calmo, silente, suave - é o Deus como comumente me relaciono. Quando era criança sentia medo do Deus avassalador, punidor, gigante em todos os sentidos, arrasando a Terra com estrondo e furor. Creio eu que esta visão advinha de alguma pedagogia metida a besta, oriunda de certa tendencia 'catequética', vesga e neurótica. À medida que vamos crescendo e afastando esta perniciosa influência, buscando ao Deus de amor, ainda que justo e soberano, aprendemos a conhecê-LO adequadamente. O meu Deus hoje é, como já disse neste blog anteriormente, meu melhor amigo, mais que isso, um Pai amoroso, compreensivo, que em ensina sempre, de modo cortês, suave (muitas vezes me faz rir de mim mesmo...).

Esta questão de conhecer a Deus - alguns dizem a questão da Sua Existência - vai permanecer eternamente com os homens e sempre controversa. Todos emitem sua opinião, fundamentada ou não. Hoje li no jornal mais um artiguete - mas não desta vez um artiguelho, como aparece sempre - de comentarista (em geral estes palradores são bem pouco informados sobre religião, religiosidade, cristandade mas falam assim mesmo, pagando 'mico' adoidado!), no caso, de autoria de Marcelo Coelho, sobre ter ou não fé em Deus, sobre sentido de vida e outras crenças ('No fim do túnel', Folha de São Paulo, ano 92, n. 30.541, caderno Ilustrada, p. E-8). Serve para refletir, discutir, pois o autor não desrespeita o que os outros pensam, como a maioria; veja a este respeito, por exemplo: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1183974-os-ungidos.shtml   

A oposição à fé vai existir sempre; isto nos foi antecipado, previsto. Mas aprendemos que estamos no mundo, ainda que não devamos 'pertencer' a ele. Devemos tomar contato com as coisas do mundo, mas não necessariamente as endossar; não devemos viver apartados dos demais, como ermitões enfurnados em celas ou cavernas. Calvino ensinou isto muito bem - um cristão deve fazer parte da humanidade;  senão, como ser sal da terra?

Na verdade, resolvidas as questões de fundo, pode o crente averiguar melhor os fundamentos da sua fé. Na Fé Reformada, um dos pilares é o fato de que somos todos pecadores (sei que muitos acham o termo politicamente incorreto, mas isto revela tão somente mal entendimento do termo, ainda que ele como como conceito acarrete grave implicações. Mas no fundo é mais libertador do que destruidor seu correto entendimento) -  , ou seja, temos a tendencia perpétua nesta esfera de nos afastar do Pai Celestial. Hoje li em Provérbios 20: 9 (NVI): Quem poderá dizer: 'Purifiquei o coração; estou livre do meu pecado' ?  Nada que o homem faça o salvará, mas sabemos que Cristo já nos salvou. O processo de santificação (ser santo - ser 'apartado', separado para Deus) dura até a hora de nosso passamento, implicando vigilância contínua. Procedemos bem, a cada passo, neste processo, como ordenança, praticando boas obras, mas não para ser salvos, como se fosse tal numa espécie de 'comércio' , visando um resultado favorável, ao fim e ao cabo. Isto implicaria que Jesus necessitaria de nossa cooperação para realizar a tarefa Dele. E se temos a visão de ter de proceder bem para ganhar a salvação, vivemos mortificados, pois nunca saberemos se fizemos o suficiente - não temos garantia de sermos salvos. Quando se aprende que já somos salvos pelo sacrifício único e sumamente eficaz de Cristo, de uma vez por todas, podemos confiar, e sermos gratos eternamente por isso. Mas sei que isto gera controvéria, pois necessita detido estudo teológico para auferir sua apropriada compreensão. 

Sofri muito tempo (e sofro ainda, mas doutro modo) com o peso de meus maus atos, meus pecados, sem perspectiva de ser salvo por causa deles. Existem tantas pessoas com quem teria de me desculpar, reconciliar - mas ainda que fizesse tudo isso não apagaria a mágoa e tristeza que gerei, e esta tristeza não me dava paz. Hoje sei que, confessando-os, reconhecendo-os, fui perdoado (ainda que muitas pessoas com quem me desculpei não tenha me perdoado - isto as fazem ser maiores que Deus, que perdoa...) e isto não mais será contado, ainda que eu continue um pecador. Mas não tenho mais motivos para desespero, e sim posso ser feliz, ainda que vigilante, pois sou indesculpável; meus pecados não são mais imputados, mas sei que ainda me pertencem, pela minha natureza corrompida.

Eu agradeço ao meu Deus o privilégio deste ensinamento precioso, suave, libertador, que efetivamente nos dá a Paz, aquela que Cristo veio trazer, e que o mundo não compreende.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Espiritualidade

foto obtida agora de 
http://igrejapresbiterianadepicui.blogspot.
com.br/2010_06_01_archive.html

Uma das experiências mais impactantes que um ser humano pode vivenciar é a espiritualidade,  mesmo experimentar o estado numinoso da alma, conectada à Deidade. Nossa tradição ocidental determina a ascese cristã, afastada por muitos e abraçada pela quase totalidade dos que afirmam acreditar em Deus. Mas dentro desta rubrica 'cristão' muitas correntes se constituem. Observo que muitas tradições trazem uma interpretação incorreta, imprecisa, dúbia (pelo simples exame lógico de sua fundamentação e de sua práxis) do que Cristo quis ensinar como o Caminho.

Quem percorre esta modesta coluna, um simples blog (uma destas modernidades que mais nos traz aprazimento...) sabe que me considero calvinista, pois estudo e sigo as intelecções do controverso teólogo João Calvino sobre a nossa única regra de Fé e Prática, a Bíblia. Hoje digo que tenho paz em meu espírito, pois minha mente não mais contende em matéria de Fé, como antigamente. Tal embaraço pregresso me fez sofrer indizível padecimento, pois o estado de interna cizânia é por demais obnóxio para quem o vivencia - não se sai dele sem perseverante esforço, o que pode levar tempo. No meu caso durou décadas de procura, de perquisição, de pasmo e por vezes derriça (nos 2 sentidos...! )

O homem sempre terá necessidade vital de encontrar sentido em seu ser, o que continua sendo, para muitos (e para mim), suprido pela Religião. Ainda que atualmente caminhos alternativos possam ter sido propostos para endereçar esta questão do sentido do ser, não encontrei nada que suplantasse a espiritualidade (cristã), mesmo com meu treinamento científico (aliás, já comentei aqui, que não são mutuamente exclusivas a Religião e a Ciência, como o querem alguns). 

Minha vivência cristã, como de todo aquele que se esmera em descobrir a verdade a partir do mistério da cruz, não pode ser facilmente traduzida em palavras. Na verdade, a trajetória de relacionamento de qualquer crente com nosso Deus é muito particular, e parcas similaridades podemos identificar. Uns necessitam mais de referentes palpáveis para aquilatar suas experiências, outros menos. Minha história teve muitas 'idas e vindas', mas sempre vi como o Pai Celestial nunca se me apartava, sempre estava com seu olhar à minha espera. Custou-me organizar as idéias - ainda bem que encontrei um rumo fidedigno para discernir...

Minha atitude é de gratidão imensa ao meu Deus, pelo relacionamento de Pai, amigo (muitas vezes alegre!), pelo ensino terminante, esclarecedor, paciente, confortador de suas verdades eternas. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Basta uma só palavra...

imagem obtida agora de:
http://www.ecclesia.com.br/sinaxe/mateus-4.html

Hoje cedo me emocionei novamente (já falei desta perícope em 23 de dezembro de 2011...) quando da leitura e meditação da passagem que vemos em Lucas 7: 1 a 10. Vejo que isto revela o meu maior problema espiritual (e o cerne das minhas orações): minha formação acadêmico/científica determina que minha alma sempre se apoquente com detalhes mundanos sobre os relatos bíblicos, criticando-a, questionando-a. Normalmente não consigo evitar a emergência destes intimoratos movimentos. No final, quanto mais estudo e medito (em especial pelo ensino de Calvino nas sua magistral Institutas), sempre se reafirma em meu espírito a veracidade existencial/sobrenatural da Revelação para mim.

Como a Palavra tem o poder de nos mover o espírito, consoante nosso desejo de a assimilar, de a 'beber' como o vero alimento que nos dá sentido e alento... Procuro ponderar o celestial ensinamento, a partir da preparação da solitária oração, como aprendi. Escolho diariamente as primeiras horas da manhã para cumprir este mandato, onde o silêncio impera e quando nos encontramos, com sublimidade, imensamente gratos pela saúde, pela noite de sono reparador, e pelo desjejum; enfim,  vivenciando as inúmeras bênçãos que somos detentores, sem o merecermos.

Sou profundamente grato ao Pai Eterno por ter me resgatado do lodaçal  (Salmo 69: 2 e 14) onde pensava ser feliz, e me ensinar sempre o caminho que devo perseverar (Salmo 86:11).

Oro para que Sua vontade soberana seja a régua e o crivo onde minha vida deva prosseguir pois, como sei, sou dEle (Salmo 33:12).

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Família... e a Fé do Centurião

Liv, eu e Bilú
(Rafael de Oliveira, Trick foto, 2011)

Ontem fomos, como disse ontem, à Trick Foto, do meu ex-aluno Rafael. Aproveitamos e tiramos também a foto acima, para recordar. É a minha familia 'disponível', como se poderia dizer, pois os demais filhos moram MUITO longe... É a minha sina, e aceito-a, submisso ao Soberano Deus e Senhor. Ainda assim, digo mais: toda a Glória seja só a Ele.

Hoje cedo estava meditando a Palavra, como sempre inicio o dia. Fiquei emocionado com a perícope abaixo (Evangelho de Lucas 7, 1 a 10; NVI):

(...) Tendo terminado de dizer tudo isso ao povo, Jesus entrou em Cafarnaum.
Ali estava doente, quase à morte, o servo de um centurião,
a quem seu senhor estimava muito.
Ele ouviu falar de Jesus e enviou-lhe alguns líderes religiosos dos judeus,
pedindo-lhe que fosse curar o seu servo.
Chegando-se a Jesus, suplicaram-lhe com insistência: 
"Este homem merece que lhe faças isso, porque ama a nossa nação e construiu a nossa sinagoga".
Jesus foi com eles. Já estava perto da casa quando o centurião mandou amigos dizerem a Jesus: "Senhor, não te incomodes, pois 
não mereço receber-te debaixo do meu teto. 
Por isso, nem me considerei digno de ir ao teu encontro. 
Mas dize uma palavra,  e o meu servo será curado.
Pois eu também sou homem sujeito a autoridade, e com soldados sob o meu comando. Digo a um: ‘Vá’, e ele vai; e a outro: ‘Venha’, e ele vem.
Digo a meu servo: ‘Faça isto’, e ele faz".
Ao ouvir isso, Jesus admirou-se dele e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse:
"Eu lhes digo que nem em Israel encontrei tamanha fé".
Então os homens que haviam sido enviados voltaram para casa
e encontraram o servo restabelecido.

 O centurião romano não deveria, a princípio, despertar simpatia entre os judeus mas, como demonstrou amar o país, apesar de representar militarmente um país opressor, intercederam a seu favor perante Cristo. Ele concede ir ver o que sucede, mas aquele líder de uma centúria Lhe diz que 'basta dizer uma palavra', e o servo estimado seria curado. O Mestre afirma perante todos que 'nem em Israel (o que seria esperado) encontrou tamanha fé'...

Minha oração ali foi que o Pai me concedesse uma partícula de tal fé, pois nossa tendência, nossa natureza decaída é duvidar, ser cético, descrer - se não pelo intelecto, pior, no espírito... De nossa parte não podemos fazer nada; só nos resta clamar, suplicar, na certeza que seremos ouvidos (e atendidos, ainda que no tempo de Deus, que não é o nosso...). 

Amanhã iremos 'devolver' Liv a Rio Claro, e depois iremos a Mogi-Mirim, onde celebraremos com meus pais e alguns dos irmãos o nascimento do menino Jesus. Oro para que esta efeméride possa ser uma data de meditação, exercício de humildade (implicando em nosso espírito acatamento, deferência, submissão às verdades reveladas) e refrigério. É o que desejo, além da família, a todos nós!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Buscar a Deus...


          Anteontem ministrei a Palavra na Congregação. Como sempre, uma experiência muito especial. Falei sobre 'buscar a Deus', que acho um grande desafio para o Homem hoje em dia. Na modernidade, buscar a Deus parece algo deslocado, démodé...  A Ciência (e alguns filósofos) parecem 'decretar' a  todos a desnecessidade de qualquer espécie de deidade. À parte qualquer análise antropológica ou sociológica  que se possa  assacar  aqui (para não dizer da minha especialidade), prefiro constatar a inutilidade desta  pretensão ou mesmo a imposição desta inexistência de Deus  para a realidade do homem comum, daquele ou daquela despossuída dos mais comezinhos aspectos de uma digna vida.

           Todos sabem que, em todo tempo e lugar, o homem expressou e expressa/expressará  sua espiritualidade. E, ademais, quando se carece de tudo, o bastião último a resguardar o que resta de sanidade e ânimo para o vivente restringe-se à esperança, ao espiritual, mesmo que se chegue, em alguns casos, ao numinoso de Rudolph Otto...

          No caso de minha preleção, ponderei (fundado na Palavra) que o imperativo do cristão de buscar a Deus se faz intrínseco à própria Fé, posto que desconhecemos em grande medida a este Pai Celestial que se nos fez inequívoca intelecção, e que, em decorrência, tem uma relação individual com cada qual.  Expus que esta insuspeitada ignorância pactual que nos auto-impomos nos prejudica em muitas dimensões, posto que deixamos de receber, de auferir graça e bênçãos, e o pior, não oferecemos o louvor devido ao Eterno.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Firmina, minha mãe...


          Dito já algo do meu velho, hoje vou dizer algumas coisas da  mommy's (como meus irmãos gostam de chamá-la), a matriarca da família, o esteio silencioso (bem, às vezes ela assume o palco, principalmente nas festas - a familia dela era 'festeira'...) em quem todos se apoiavam, desde que me conheço por gente. Personalidade forte, católica ferrenha e devotada, nascida em 1929, em ótima forma, como podem ver - ela se cuida, é vaidosa, muito ativa ainda hoje e até faz Pilates!

          Ela fundou um Clube de Mães em Rio Claro (quando os 5 filhos estavam crescidos e 'encaminhados'), na Paróquia do Bom Jesus, onde congregávamos, e foi sua Presidente por décadas, deixando a obra consolidada nas mãos das voluntárias que ela treinou.  'Passou o bastão' da Ong para outra mulher somente quando acompanhou meu pai na mudança para Campinas. Esta obra assistia uma enormidade de mães carentes, dando toda espécie de auxílio, principalmente educação, artes domésticas e encorajamento. Trabalhei muitas vezes lá, dando palestras, orientando alguma coisa do trabalho com as crianças na creche anexa, ajudando nas quermesses que regularmente aconteciam (quanta gente prestigiava...), buscando leite em pó na LBA em Piracicaba para ser distribuida para as mães assistidas...

          Firmina criou os 5 filhos com mão de ferro (no bom sentido; bem, às vezes tinha chinelada, mas ninguém ficou com 'trauma' por causa disso...), e creio que se tivesse uns 10 filhos teria dado conta tranquilamente. Ela ficava na retaguarda, e meu pai podia batalhar o pão de cada dia, na empresa onde trabalhou, desde que o casal se mudou de São Paulo para Rio Claro, nos anos de 1955, comigo e com o Luciano (ou seja, Luíz Sergio, Lúcia Helena e Lia Cristina nasceram  nesta cidade, e no mesmo hospital que meus 3 filhos nasceram, o Hospital Evangélico, de grata memória).

          Poderia contar tanta coisa que compartilhamos... Eu era o mais 'encapetado' dos 5 filhos.  Eu creio que eu tinha TDAH, analisando uns videos antiquíssimos e pelo relato de todos. Parece que eu 'infernizava todo mundo'. Eu era o mais forte, e costumava castigar quem se opunha aos meus desmandos.  Minha mãe era a defensora dos demais, óbvio. Mas, no geral, a gente se dava bem, e agradeço a firmeza da correção e do acompanhamento, principalmente na escola.  O ambiente em casa era intelectualmente muito estimulante. Toda a minha vida meu pai  e mãe assinaram os 2 principais jornais diários, o 'Estadão' e a 'Folha', e também diversas revistas. Minhas irmãs fizeram faculdade e trabalharam nas respectivas profissões e, com o casamento, elas se ocuparam de outras prioridades; eu e meu irmão Luciano fizemos pós-graduação até o Doutorado, e o Luís Sergio não pode fazer mais do que Mestrado, por causa das suas obrigações profissionais. Lembro-me que meus pais nunca foram ver se o dinheiro que eu sempre pedia para comprar livros era mesmo gasto com aquelas obras todas que eu ia acumulando... cheguei a ter 3 mil livros! E hoje tenho somente uns mil pois, com a internet, tem tanta coisa útil ao alcance da mão, e já doei os  outros  para as duas principais bibliotecas universitárias aqui de São João - mais um benefício que meus pais fizeram sem o saber! Aliás, o tanto de pessoas que meus pais ajudaram, sem fazer alarde, ou querer retribuição, é um dos tantos motivos de orgulho e gratidão por Deus ter me dado genitor e genitora tão especiais! É a maior graça que recebi dos Céus, sem dúvida.

          Minha mãe tem uma fé cristã muito diferenciada - ela pratica  efetivamente sua religião e sempre lutou com os filhos para serem firmes na fé. 'Para variar', o único que não é católico sou eu - sou reformado (quer dizer, grosso modo, 'calvinista'; não é bem a mesma coisa que 'protestante') faz alguns anos, e estou estudando Teologia no mais prestigiado instituto  teológico presbiteriano (o  CPAJ, do Mackenzie). Mas não existe pedra de tropeço entre nós; ela até me presenteia com Bíblias e outros recursos - ela me forneceu obras utilíssimas! Eu já a presenteei com livros de bons autores (inclusive católicos) e trocamos idéias, o que é salutar em todos os sentidos.

          Fico a pensar um tanto sobre quando não mais a tiver entre nós. Ruth perdeu sua mãe há mais de ano e sofre até hoje. Meu sogro diz que o que temos que fazer é viver bem com todos,  dizer que gosta, amar, conviver, enquanto a pessoa está viva - depois que o Pai  Celestial chama a pessoa não adianta ficar se lamentando! Mas vai ser um baque  para todos da família quando ela faltar! Na verdade, quando os dois se forem, imagino que vazio enorme - me preparo há muito para isto que deverei enfrentar; não fujo disso, é o destino de todos nós. Encaro como uma espécie de 'rito de passagem' - aceitando com gratidão a Soberania de Deus em tudo!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Humildade


          Li hoje um artigo do professor Paul Freston, publicado na revista ULTIMATO (Ano XLIII, novembro/dezembro de 2010, nro. 327, p. 48 a 51), sobre um tema objeto de uma recente pregação que ministrei em minha congregação, a humildade. Esta feliz coincidência, que ajuda a solidificar minhas concepções sobre a temática, inspirou-me a colocar aqui este artiguete, onde espero contribuir para esclarecer porque muitos não entendem ou não procuram desenvolver esta virtude fundamental.

          Quero comentar, adicionalmente, um problema que aflige a cristandade (e isso desde o inicio), especificamente com relação àqueles chamados a pastorear. A carnalidade, forte e avassaladora (bem apropriado este termo!) como é, deturpou e continua a deturpar de modo trágico o mandamento do Cristo neste particular do apropriado pastorear. Temo, e que me corrijam se me engano, que a raiz do problema esteja, nestes homens, na falta de uma virtude teologal, a Fé, que determina a que não tenhamos, como suponho, outra virtude fundamental, a humildade.

         Hoje vemos muitos líderes, pastores, bispos, élderes, padres, ‘apóstolos’, presbíteros, anciãos (etc...) que não são líderes como Jesus determinou. Ele disse expressamente que quem deseja ser o ‘maior’ no reino de Deus, este seja o servo, o servidor de todos. Claro está, como Cristo falou (e fez), que quem quer liderar, seja o primeiro e o maior servo. O Líder cristão serve, toma sempre a iniciativa de servir (não precisa a isso ninguem solicitar, mandar), dá o exemplo e age, efetivamente, como o servo de todos. O que se observa atualmente é ‘líder’ como sendo o servido, o ‘maioral’, aquele de detem certa espécie de poder sobre um número ‘x’ de ovelhas, com igrejas enormes, por vezes gigantescas, ministérios imensos onde estes ‘pastores’ reinam e são servidos por muitos (por vezes de modo vitalício!). Pastores ‘de púlpito’, que são admirados pela oratória, ou ministros que se preocupam mais com a posição, suas tarefas ‘elevadas’, e com o encômio, além do salário e/ou benefícios do cargo.

          Mas porque isso acontece? O problema é que a carne determinou e determina cotidianamente a corrupção do ensinamento bíblico. Muitos dos líderes não são humildes como Cristo é. Desde os primórdios de nossa relação com nosso Pai Celestial a importância da HUMILDADE tem sido ressaltada, e ouso dizer que, ao olhos de Deus, é uma das virtudes mais importantes. No dicionário, lemos seus principais significados: 1. É virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza.  2. Singeleza, modéstia, pobreza. 3. Respeito, reverência; submissão. Para compreendermos, vejamos seu contrário, o ORGULHO: 1. Auto conceito, brio, sentimento de dignidade pessoal. 2. Conceito elevado ou exagerado de si próprio; amor-próprio demasiado; soberba (altivez, arrogância, presunção ).

          A própria Bíblia procura situar a importância de descobrirmos o que significa esta virtude. Em Provérbios 15: 33 lemos  Quem teme o SENHOR está aprendendo a ser sábio; quem é humilde é respeitado. A conduta de quem é humilde, piedoso, revela-nos alguém como pessoa confiável, equilibrada, que conhece o sentido de sua existência. Mais adiante em Provérbios 22, 4 este conceito é reforçado: Quem teme o SENHOR, e é humilde, consegue riqueza, prestígio e vida longa. Apenas na fé bíblica a humildade é tida como virtude. Para as outras religiões, para muitos filósofos, e também no imaginário de muitas das pessoas comuns, a humildade é relacionada à falta de honra, pois sugere fraqueza, falta de iniciativa, ou mesmo subserviência; todos acreditam nestes tempos pós-modernos que a pessoa - em especial um líder - tem que ser pró-ativa, assertiva, auto-suficiente e outros termos modernos...

          Há muita confusão para definir-se de modo adequado qual seja a parte boa desta tal de HUMILDADE. Mas isto não é um problema dos dias de hoje. Há muito tempo o homem anseia por entender a importância desta virtude, e os Profetas, conscientes de sua importância, tem tentado nos comunicar a vontade de Deus a respeito.

          Miquéias, um dos grandes profetas do oitavo século antes de Cristo, viveu no tempo de Isaías. Natural de uma pequena cidade de Judá, no Reino do Sul, ele viu que Judá corria o perigo de sofrer o mesmo castigo que Israel, o Reino do Norte, havia sofrido. Miquéias fala contra os pecados do povo de Judá e de Israel. Mas ele também fala da bondade de Deus: o Deus que castiga o seu povo é o Deus que perdoa. O Profeta Miquéias indica, de modo veemente, a necessidade de entendermos a ligação da HUMILDADE e certos valores celestiais importantíssimos: Mq 6, 8  "O SENHOR já nos mostrou o que é bom, ele já disse o que exige de nós. O que ele quer é que façamos o que é direito, que amemos uns aos outros com dedicação, e que vivamos em humilde obediência ao nosso Deus.

          O que significa HUMILDADE, de um modo simples? Sabermos todos que somos inteiramente dependentes do nosso Criador – temos que reconhecer o ABISMO que existe entre  o Deus soberano e nós. ABRAÃO sintetizou bem em uma frase esta constatação. Na Bíblia de Almeida, Revista e Atualizada, em GENESIS  18, 27  lemos: Disse mais Abraão: Eis que me atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza.

          Ainda na antiguidade, mesmo com tantos ensinos e exortações, a dificuldade permanecia. O apóstolo Paulo era muito preocupado como nossa vida espiritual, e escreveu muitas cartas com conselhos práticos aos primeiros cristãos. Uma delas foi endereçada aos cristãos de Filipos, que era uma cidade que ficava na província romana da Macedônia; hoje faz parte da Grécia. A igreja de Filipos foi a primeira fundada na Europa por Paulo, na sua segunda viagem missionária (Atos 16, 12 a 40). Anos depois, quando estava na prisão (1, 7), Paulo escreve esta Carta aos Filipenses. Ele havia recebido notícias de que havia sérias dificuldades entre os cristãos de Filipos e estava muito preocupado com as falsas doutrinas que alguns ensinavam lá. E estava preocupado também por saber que alguns líderes da igreja tinham ficado contra ele. Ao mesmo tempo, ele havia recebido ajuda dos cristãos de Filipos e escreve a carta, não somente para tratar dos sérios problemas da igreja, como também para agradecer aos filipenses tudo o que tinham feito em seu favor.

          A carta mostra o grande amor que Paulo tinha pelos filipenses e fala da alegria, união e firmeza que devem ser marcas dos seguidores de Jesus Cristo. Paulo diz que, acima de tudo, todos devem imitar o exemplo do próprio Cristo, que seguiu o caminho da humildade e da obediência a Deus, caminho este que o levou à morte na cruz e à altíssima posição de Senhor de todos. Filipenses 2, 1 a 3: Por estarem unidos com Cristo, vocês são fortes, o amor dele os anima, e vocês participam do Espírito de Deus. E também são bondosos e misericordiosos uns com os outros. Então peço que me dêem a grande satisfação de viverem em harmonia, tendo um mesmo amor e sendo unidos de alma e mente. Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber elogios; mas sejam humildes e considerem os outros superiores a vocês mesmos.

          Ser HUMILDE é a postura lógica daquele que  é cônscio do pecado, pelos seus efeitos. E aquele que almeja liderar, pastorear, não deveria saber isso de antemão? A HUMILDADE está no cerne da vida piedosa, como sendo a pessoa mansa, religiosa, sem pieguismo ou extremismos. Mas o grande problema de quem não cultiva a HUMILDADE ( e isso é trágico entre a liderança) é que a sua capacidade de aprender fica comprometida, e isto não só do aprendizado das coisas terrenas, mas principalmente das verdades eternas! E porque isso ocorre?

          Sabemos que, de acordo com o conhecimento mundano, dos homens, o problema conhecimento é enigmático pois o mesmo homem é limitado e a realidade é polifacetada, multimensional, ou seja, complexa. Como podemos chegar à verdade? Nenhum mortal é dono da verdade posto que entra em contato somente com parte da totalidade da realidade, e através da representação dos fatos e fenômenos ou as impressões que causam.

          Há VERDADE quando percebemos e dizemos aquilo que se desvela, que se manifesta aos nossos sentidos: existe certa conformidade entre o que julgamos e aquilo do que do objeto se constata, se observa, se apropria em nossa mente. Se conhecemos partes da realidade, não temos como conhecer toda a verdade, a verdade absoluta. Muitas vezes as aparências enganam e emitimos conclusões equivocadas (o erro). Para chegar-se à verdade precisa-se então de EVIDÊNCIAS – manifestações claras, transparentes, da essência da coisa – este é o critério da verdade. Se se obtém evidência inequívoca, então pode-se acreditar.

          CERTEZA é o estado de espírito que consiste na adesão firme a uma verdade, sem temor de engano. Fundamenta-se na evidência, no desvelamento da natureza e da essência da coisa. Havendo evidência (objeto, fato ou fenômeno se desvelando com suficiente clareza) pode-se afirmar com certeza (sem temor de engano) uma verdade. Aqui reside o eterno drama humano - como ter certeza das coisas?

          ‘CRER’, acreditar, é uma forma de assentimento que se dá àquilo que se julga como verdades, que pode ser um estado de espírito objetivamente insuficiente, embora subjetivamente se imponha com grande convicção: (1) Pode ocorrer Ignorância (ausência de conhecimento) quando não existe qualquer desvelamento, não existe na realidade, ao alcance da não, aquilo que se deseja saber. (2) Pode ocorrer Dúvida, que é um estado de equilíbrio entre afirmação e negação sobre o fato ou fenômeno. (3) Pode ocorrer também a situação de Opinião , que é um estado de espírito que afirma com temor de se enganar. O valor da opinião depende da maior ou menor probabilidade das razões que fundamentam a afirmação. Em geral não se tem evidência forte, inequívoca do fato... Porém, no estado de OPINIÃO, não se tem compromisso...

          E como ficamos com relação ao conhecimento ( ou, conhecimento certo, com certeza) da vontade de Deus? Diante do mistério (o oculto enquanto sugerido) duas atitudes podem ser tomadas: (1) refletir e, com auxílio de instrumentos, procurar obter conhecimento via procedimento que seja científico ou filosófico, ou (2) aceitar as explicações de uma autoridade que tenha vislumbrado o mistério e o desvendado. Implica numa atitude de diante de um conhecimento revelado e que, pelos sinais que a acompanham, reveste-se de verdade autêntica. Para muitos (ao que parece, alguns pastores inclusive), os sinais que estão assinalados na Bíblia, nossa autoridade,  não são convincentes. Muitos dizem - "não existe verdade absoluta, tudo é relativo"... Não se pode ter certeza de nada.  Para citar uma conhecida anetoda, no mundo, como ensinava Benjamin Franklin, só existem duas "certezas": a morte e os impostos...

          O problema é a postura de inflexibilidade, altivez, arrogância, - ou seja, falta de humildade - que rechaça qualquer outra coisa, qualquer que seja a fonte, que confronte nosso “conhecimento” - O CONHECIMENTO DO MUNDO. O conhecimento do mundo, para ser certo ('dar certeza'), exige comprovação tácita, empírica, 'científica', factual, cabal, como São Tomé exigiu... Por outro lado, quem tem a virtude da HUMILDADE, da PIEDADE, é aberto, submete-se (sabe que nem tudo é comprovável cientificamente), venera, respeita... Sabe que existe algo superior a nós... e tem mais - sabe quem tem preferência para Deus? Veja ISAIAS 61, 1:  O SENHOR Deus me deu o seu Espírito, pois ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres. Ele me enviou para animar os aflitos, para anunciar a libertação aos escravos e a liberdade para os que estão na prisão. (Em algumas versões, está escrito em lugar de “pobres” que Deus prefere os mansos, os quebrantados, os humildes)  Isto é reforçado e ratificado pelo Apóstolo Pedro (com uma citação sua de Provérbios 3, 34): em  I Pedro 5, 5  lemos “E vocês, jovens, sejam obedientes aos mais velhos. Que todos prestem serviços uns aos outros com humildade, pois as Escrituras Sagradas dizem: “Deus é contra os orgulhosos, mas é bondoso com os humildes!”

          Mas, eu não espero convencer aqui pela racionalidade destes meus argumentos e das muitas passagens dos evangelistas sobre o tema. O principal argumento que tenho aqui, fundado na Bíblia autoritativa (veja bem, eu não escrevi  'autoritária'  ou 'autoritarista'...), é o fato de que Jesus foi e é o nosso modelo de conduta, e Ele nos exige mudança de vida, mudança de visão, mudança de espírito. Em especial com relação à HUMILDADE, o Senhor e Mestre sempre foi um notável professor:  um dos feitos mais memoráveis, em todos os tempos foi o acontecimento do LAVA-PÉS. Nesta passagem, Jesus simbolizou com perfeita integridade o significado e mensagem do seu memorável Ministério.

          Jesus nos convida à humildade como sendo o padrão de pessoa, como um modo de ser, como quem vê o mundo com os olhos da mansidão e isto, este convite, é-nos feito de modo bem claro, como vemos em MATEUS 11,  28 a 30: Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso. Os deveres que eu exijo de vocês são fáceis, e a carga que eu ponho sobre vocês é leve.

          Esta carga, os deveres, o jugo que CRISTO nos propõe se tornam leves e suaves, se temos fé, mas isto, a FÉ, só se possui se tivermos HUMILDADE. Sim, Jesus é o nosso modelo, e não é impossível de se seguir, como alguns, baseando-se no conhecimento do mundo, querem sugerir – “Só Jesus conseguiu, só Ele tem poder para isso!!!”, é o que dizem. O exemplo d’Ele foi pleno, e em várias dimensões e situações:  Ele, Deus que se fez carne, em vez de aceitar a glória, Ele dava testemunho da Sua dependência total do PAI CELESTIAL como fonte de sua própria sabedoria e poder; em vez de apegar-se à gloria, ele atribuía toda a gloria ao PAI. Isto é muito bem demonstrado no Evangelho de João, nos capítulos 5 a 8.

          Portanto, o imperativo de todo o Novo Testamento é imitarmos a Cristo - a vida do fiel, do cristão deve ser uma vida piedosa, uma vida de humildade, e isso a começar de nossos líderes, daqueles que são comissionados a pastorear, não importa sua denominação. (Aliás, que vergonhoso que alguns proclamem do púlpito, que  ‘esta igreja “x” é a única igreja verdadeira e que salva as pessoas’.... mas quem salva não é Jesus?? – ou a Igreja de Cristo agora virou sinônimo de instituição humana com determinado nome??)

          O discípulo fiel, que efetivamente tem FÉ, sabe que deve travar uma batalha contínua contra o orgulho, que é a raiz do pecado, aquele egoísmo que origina o egocentrismo, a auto-exaltação, a presunção de si; origina a obstinação, a auto-confiança exacerbada, a glorificação pessoal, a necessidade de ser servido, ‘paparicado’, em vez de servir, como Cristo fez e ordenou.  Sabemos onde termina tal tendência, tal deturpação – frustração, decepção, e até desespero!

          A humildade bíblica, como JESUS ensinou, não diminui as realizações pessoais nem aumenta as falhas de ninguém.  A humildade não é um tipo de masoquismo sutil que se deleita na sua própria humilhação, no rebaixamento estéril da pessoa. Não significa ser covarde, protegendo-se por meio de um servilismo ultrajante ou ainda auto-anulação. HUMILDADE também não é uma virtude puramente particular que, como pensam alguns, “somente poucos  a desenvolvem”; – é, sim, o resultado de perseverante estudo e oração, e de uma prática de vida que tem DEUS por centro, reconhecendo, de modo agradecido, a concessão gratuita de dons por parte do Pai Celestial para todos nós.

          Humildade é reconhecer também a soberania de Deus em nos capacitar, a cada um, para o serviço que precisamos realizar. Isso necessita fé por parte da pessoa!

          Fé significa confiar, acreditar, significa FIRMEZA, estabilidade, constância. é um conceito central no pensamento bíblico, pois lida com a relação de Deus com os homens, com o PACTO que temos todos com Ele.

          Fé não se reduz, como vimos, ao intelecto, como uma certeza científica, ou mesmo crença, que temos na mente – esta, até os demônios tem, e tremem... ( creio que, em relação a religião, a maioria parece ter mais mesmo é opinião...).  A Fé não é uma parte isolada de nossa experiência religiosa mas, precisamente, pelos seus frutos, determina todas as demais ações do homem e da mulher. Para tanto necessitamos exercitá-la, fortalece-la, e contamos com a Providência para isso, conforme nos esclarece TIAGO, no capítulo 1 verso 3:  Meus irmãos, sintam-se felizes quando passarem por todo tipo de aflições. Pois vocês sabem que, quando a sua fé vence essas provações, ela produz perseverança. E como uma pessoa pode entender este aparente paradoxo (ser feliz na provação), se não for humilde, pelo exemplo do Cristo? Muitos, per ipso,  não entendem mesmo o que significa o requerimento de Cristo para quem O  deseja seguir - primeiro, negue-se a si mesmo, segundo, tome a sua cruz e, terceiro, 'siga-Me'...

          Assim, vemos que humildade liga-se à Fé, e Fé, em decorrência, liga-se ao amor, como o Apóstolo Paulo ensina, em GALATAS 5, 5 e 6: Mas nós temos a esperança de que Deus nos aceitará, e é isso o que esperamos pelo poder do Espírito de Deus, que age por meio da nossa fé. Pois, quando estamos unidos com Cristo Jesus, não faz diferença nenhuma estar ou não estar circuncidado. O que importa é a que age por meio do amor