A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Reinício das aulas e mais uma Fábula de Esopo...

Sempre quando se inicia um semestre fico preocupado com a disposição, com a têmpera geral das classes que vou ensinar. Sempre fico atento para criar um bom clima de camaradagem e companheirismo com os alunos, senão fica prejudicado o processo ensino-aprendizagem como um todo. Infelizmente sempre vai existir um ou outro aluno que não vai simpatizar com minha figura, não importa o quanto eu faço de esforço. É da natureza humana, e só posso orar ao Pai Celestial para que me guarde destas confusões....

Grata satisfação obtive nesta primeira semana de aulas com a classe de primeiro semestre de Psicologia. Apesar da turma grande, parecem bem motivados e maduros para a vida acadêmica. É muito decepcionante e desmotivador quando uma classe não corresponde ao nosso empenho de prover aulas que façam a diferença. Mesmo as classes de turmas novas para mim, mas não de alunos ingressantes (terceiro semestre em diante...), foram boas experiências. Creio que este semestre vai ser muito produtivo. Tenho seis disciplinas para ministrar, o que vai tomar boa parte do meu tempo para preparação de material e organização dos assuntos. Vou tentar realizar mais tarefas práticas entre o alunado em meio às telas de MS power-point, que tendem a inibir a participação.

Espero que seja um bom ano para todos nós, principalmente para a nova equipe de administradores que foram empossados no nosso Centro Universitário o ano passado. Eles tem lançado vários projetos e estão com idéias muito interessantes, que tem o condão de instalar e manter um bom ambiente acadêmico para os docentes e os alunos. Que Deus proteja nosso Reitor e sua Equipe para o tão importante serviço que eles tem!!

Faço um alerta aos meus alunos para que atentem para uma mensagem antiga, antiquíssima, mas muito atual, mediada pela fábula abaixo:

A Raposa e a Máscara
Gravura obtida agora, via Google Images, de 
http://marcelaohistoria.blogspot.com.br/2011/05/ana-era-uma-vez_17.html

Conta o meu libreto de Fábulas (Jack Zipes [adaptador] Aesop's Fables, London: Penguin Books, 1996; Penguin Popular classics n. 20, " The Fox and the Mask", fab. CXXVIII, p. 135) predileto que uma raposa estava a furtar a casa de um ator e, inspecionando minuciosamente os vários haveres, encontrou uma notável máscara, que era uma fina imitação de uma cabeça humana. A raposa exclamou "Que excelente aparência tem esta figura! Pena que lhe falte um cérebro! ". Moral da estória: uma bela aparência é de pouca valia se falta a sabedoria...

Como uma singela fábula milenar guarda tanta erudição, inclusive para os dias de hoje! Com estes valores tão bagunçados desta pós-modernidade, o que mais importa parece ser o que se aparenta. Deixa-se em segundo plano valores mais superiores, tão aclamados em épocas pretéritas. Sabedoria é coisa que se cultiva de modo perenal - nunca termina esta busca em nossa breve jornada nesta esfera. Sei que demora muitos anos para a pessoa dizer-se um pouco sábia, ainda que existam 'muitos' caminhos para ela, asseverados por inúmeros 'experts'... Mas o que ocorre é que, procurando sabedoria pelos meios impróprios, o que se tem é infortúnio e tristeza, pois 'o tempo não para', como dizia o poeta.

Li no jornal outro dia um pequeno poema, que me serviu muito bem. É lindo, simples e tão carregado de significado! É de autoria de Mario de Santi Neto (*1925, +2013), e o li no necrológio do autor, no Jornal Folha de S. Paulo

Nada sei, pouco aprendi.
Continuo esperando
compreender as lições
da vida que vivi.

Humildade é a primeira condição da vida sábia - uma idéia que penso todo dia...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Mosquito e o Touro: presunção...

Foto obtida agora via Google Images de
http://blog.opovo.com.br

Vamos dar agora uma pausa nos posts sobre o Nobre Caminho Óctuplo, para um pequeno comentário, tendo uma fábula de Esopo como pano de fundo. Esta fábula é muito conhecida (se você colocar a primeira parte do título deste post no Google Images, verá o endereço de vários blogs que comentam sobre a fábula...) e relata um mosquito que, após ficar zumbindo por vários minutos em volta da cabeça de um touro, finalmente pousou na ponta de um dos chifres e respeitosamente perdiu perdão ao boi por perturba-lo: "Se meu peso está lhe causando algum inconveniente, basta você me dizer que eu me retiro num momento!"  Respondeu-lhe o touro "Oh, não se preocupe com isso; para mim tanto faz se você ficar ou permanecer... Para lhe dizer a verdade, eu nem mesmo  tinha reparado que você estava aí..."  No libreto que sempre consulto (Zipes, Jack. Aesop's Fables. London: Penguin Books, 1996, p. 104; Penguin Popular Classics n. 20), a moral da estória adverte-nos que quanto mais pequeno é o espírito, maior a presunção.

No dicionário Houaiss, 'presunção' remete tanto à idéia de uma opinião demasiado boa e lisonjeira sobre si mesmo, quanto às idéias de imodéstia, vaidade; remete à confiança excessiva em si mesmo, à pretensão. Remete também, segundo vejo, à vaidade, orgulho e soberba, mesmo até certa arrogância. Desde que o mundo é mundo esta tendência é muito encontradiça nas gentes, em especial as que necessitaram realizar um esforço de superação de dificuldades (notadamente as interpessoais) na infância. Não escolhe idade, sexo ou condição, mas parece acometer mais àqueles ou àquelas que se encontram em posição de poder, qualquer que seja ele - principalmente nos políticos...

Eu vejo nisso a evidência da falta de sabedoria; no limite, falta de Deus no coração. A mínima reflexão que o vivente possa realizar remeteria ao questionamento desta infeliz postura, e isso não só resultante dos embates e 'cabeçadas' que a vida nos endereça neste mistér, mas também, e complementarmente, do simples e sincero meditar sobre as dificuldades e descalabros dos nossos semelhantes neste âmbito. 

Vigio-me sempre para averiguar se não caio nesta tentação, pois conto comigo somente: as pessoas, no polo positivo, temem ser tachadas de grosseiras ou enxeridas, e evitam assim ser sinceras. E deste modo podemos ter ou demonstrar a pecha aqui discutida, mesmo sem o desejarmos... Que falta me faz um amigo de verdade! Mas parece que é um 'artigo' muito raro nos dias de hoje, e me pergunto sempre o porquê - será a TV? As novas mídias sociais? A superficialidade dos relacionamentos, o efêmero dos contatos interpessoais? A complexidade - e também a velocidade - às quais a tékhnè nos impele? O fato é que nem nas Igrejas, nas Comunidades religiosas, onde deveria imperar outro tipo de valor, de viver, se encontra facilmente amizade como Cristo demandou, modelo perfeito que foi para a Humanidade. 

Que riqueza se você tiver um amigo ou amiga que te goste do jeito que você é, e que não tema ser honesto(a) sempre contigo: vale mais que muitos rubis... Mas como disse, amizade de verdade é coisa escassa hoje em dia, infelizmente. Colegas ou 'conhecidos' temos diversos mas, amigos, talvez os contemos numa vida somente nos dedos de uma só mão!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Do libreto de fábulas: Os Gansos e as Garças...

gravura obtida hoje de
 http://www.reporterdiario.com/blogs/ocorvo

Conta a fábula de Esopo (Jack Zipes' AESOP'S FABLES, Londres: Penguin Books, 1996, Penguin Popular Classics #20, fab. n. XCII, p. 95) que alguns gansos e garças estavam certo dia alimentando-se conjuntamente no mesmo campo quando uma armadilha caiu repentinamente sobre eles e elas. Desde que as garças eram mais magras e leves, elas puderam  voar facilmente e escaparam das redes da emboscada, do alçapão. Os gansos, entretanto, de certo modo presos ao chão pelo seu peso, não puderam alçar vôo tão facilmente e foram todas capturadas. Moral da história: Aqueles que são apanhados não são sempre os que tem maior culpa...

Longe de mim interpretar mal esta pequena estória. Quero 'filosofar' apenas num pequeno aspecto. A palavra culpa é por demais danosa em seus efeitos em nossa alma e, por vezes, nos apoquentamos, nos mortificamos desnecessariamente. Não creio que a maior parte dos arrependimentos ou tristeza em situações (principalmente de injustiça) se deva a auto-piedade ou desalento com o infortúnio, e sim com o fato de não podermos nos defender, de um lado ou, de outro, por estar a sofrer-se a desdita por ter agido bem, corretamente. 

Chega-se, em certos casos, a se arrepender da bondade ou da correção, da retidão,  que acreditamos fazer parte de nossa personalidade. Imagine: arrepender-se por ter agido bem, e somente pelo resultado não ter saído como esperado. É o maior conflito interior, horrível de se vivenciar! Mas este sentir se revela no seu possuidor como resultado de um raciocínio superficial, rasteiro, limitado. 

Uma alma assim ao que parece, ressente-se de não ter lido mais, não ter estudado sobre o testemunho de tantos que sofreram injustiças (até alguns com a própria vida), faltando um certo lastro de valores que instrumentalizem a tomada de decisão consciente de nossas condutas em situações de crise, que nos sobressaltam de qualquer forma.

Temos que agir bem porque é correto em si, e não porque vamos sofrer consequências se agirmos mal. Aquele ou aquela que não detém um estoque de virtudes que o(a) habilitem a agir da melhor forma no dia-a-dia não é mais do que uma folha ressequida ao sabor do vento ou das chuvas, que nem precisam ser assim, digamos, torrenciais.

O ser humano, como bem identificou Calvino (principalmente na sua obra prima As Institutas da Religião Cristã) e tantos outros, é um ser decaído, corrompido, tendente ao mal por natureza. Temos que nos vigiar constante e inexoravelmente, pois estamos tanto mais perto de Deus quanto podemos estar, no momento seguinte, nas garras do arrenegado, do beiçudo, do capeta, do demônio, do lúcifer, do mofento, do rabudo, do satã, do temba, do tinhoso...

Portanto, nada de desanimar; vamos ser tentados e provados nesta terra, e o perigo vem tanto de nós mesmos, por causa de nossa mente imperfeita, quanto do nosso próximo, imperfeito tanto quanto nós mesmos. 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Fábula de Esopo: O lobo e o cordeiro

Gravura obtida nesta data, de
http://digiport.athabascau.ca/fp/fontaine.php

        Uma fábula (nro. LXXII, p. 75) do libreto já comentado... Diz o texto que, após ser atacado por uns cães, um lobo estava ferido e não podia mover-se. Por essa razão, quando um cordeiro passou por ali, o lobo rogou a ele que fosse buscar-lhe água de uma fonte próxima. "Se você me conseguir algo para beber", ele disse, "logo poderei ser capaz de conseguir comida por mim mesmo". "Sim", disse o cordeiro, "não tenho dúvida de que, assim que eu me achegasse com a água, você certamente me faria servir  de sua comida...". Moral da estória: hipocrisia é chegada à mentira.

        O grande problema do mentiroso é que ele mormente subestima a inteligência do pretenso incauto. Uma das principais formas com que o mentiroso imagina dissimular suas intenções é pela hipocrisia de sua articulação, sua argumentação. O mentiroso vê-se sempre mais inteligente do que os outros, e aí está sua miséria, reveladora precisamente de sua falta de inteligência: desdenhar do outro, de modo a minimizar a si mesmo a vilanagem que sabe perpetrar.

      Insegurança, auto-estima baixa, boçalidade intrínseca, e outros motivos ensejam a esta classe de criaturas a se engajarem sistematicamente nesta lutuosa classe de condutas. Recentemente vislumbrei certo segmento da categoria dos parvenu que se embrenharam neste manancial de péssimas estratégias de relacionamento, e alguns até pejados de suspeita jactância!

      O rol de pessoas que se valem destes oprobriosos expedientes parece aumentar exponencialmente nos dias de hoje. Sei, de auditu, de empresas onde o clima de trabalho é pavoroso, com as pessoas espreitando como podem espezinhar, debicar o colega, de modo a se 'dar bem' em tudo. Que os céus me protejam de trabalhar com semelhante plévia!

sábado, 9 de julho de 2011

'Esfinge' (ou minha Mona Lisa), fábula e outros comentários.

Ruth Barroso - meu arquivo pessoal

          Sim, é Bilú, em foto normal (ela pediu para não colocar, sabe como é mulher vaidosa; mas é ela, 'total', misteriosa, uma 'Mona Lisa' com estes olhinhos tristes que me cativa, e é a ilustração do que quero iniciar este post) do dia-a-dia. Uma mulher como as outras, mas tão especial - minha esposa! Disse dos olhinhos tristes porque ela tem tantas memórias e lembranças que me esconde, como uma esfinge a ser decrifrada - pergunto a ela a razão da tristezinha e ela nunca me diz (bem, às vezes sim, depois de muito implorar...). Mas o normal é ve-la enigmática,  sorumbática, ensimesmada, em vero solipsismo. Entendo-a. Vivi muitos anos da adolescência assim, organizando meus pensamentos confusos, mesclados. Passava horas no quintal de casa (que saudades da rua 3, #95, em Rio Claro, em frente ao Velo Club; um dia preciso fazer um post desta casa, onde moramos por 45 anos...) cogitando, cismando  (penso que nestas fases muitos se viciam em cigarro ou bebida ou algo pior - é complicado confrontar-se; felizmente, pela Graça de Deus, tive pais ótimos que pavimentaram bom caminho, sem perigo de desvio ruinoso, como tanto se vê hoje em dia). Mas o assunto é Bilú: que rica vida interior, seguramente! Mas ela não compartilha muito, a não ser que eu me aproxime com jeito e na hora dela, que coisa!  Mas vale a pena; que bom seria se tivéssemos nos encontrado antes - era com ela que eu tinha que ter minha prole; estariam todos perto da gente, e ambos curtindo nossos netos e uma vida como deve ser, não esta solidão de casal que ninguém nota, ninguém priva... Paciência.

toalhas de fio barbante (por Ruth Barroso)

          Vejam estes caminhos de mesa. Fotografei-os pelo celular Nokia agora cedo. Clique na foto para ver melhor os detalhes. Imagine que Bilú elabora estes intrincados trabalhos numa tarde!  Que velocidade... Ela maneja a pequena agulha com tanta maestria que fico embasbacado. Ela diz que aprendeu com sua querida avó Maria (de sua mãe Lourdes, minha querida sogra - já vi Bilú fazendo de olhos fechados os complexos pontos!) e que é sua 'terapia' - quase a invejo. Tenho as minhas terapias também, como escutar hinos sacros antigos (tenho 20 CDs instrumentais,  presentes de minha querida filha Marília quando fui a visitar nos Estados Unidos,  são quase 400 preciosas obras musicais) ou ler, ler, ler... (antes, montava aviões em miniatura e aeromodelos de madeira de balsa, e colecionava moedas quando criança; na faculdade, fumava cachimbo).

          Continuo relendo, estudando As Institutas da Religião Cristã, de João Calvino, sua obra prima.  Que obra maravilhosa, quanto esclarecimento. Estou no volume II (são quatro) realizando novamente ali a intelecção sobre o arrependimento. Aprendi muito sobre o perdão divino e sobre o confessar  de nossos pecados. Como saber com clareza sobre a Vontade de Deus se não nos aplicarmos a desvendar, mediante nossa limitada mente, a Palavra? Graças dou ao meu Pai Celestial ter chamado a Calvino para nos ajudar, com sua imensa erudição e disciplinada argumentação, a controlar nossa mente carnal e incompleta inteligência, colocando em ordem cristalina e inequívoca o santo ensino, de modo a que possamos discernir o Plano que Deus tem para nós, sem desvios das nossas crendices e desejos pessoais! Que santo privilégio termos As Institutas em nossas mãos! É o melhor livro, depois da Bíblia... Para mim, consigo entender de modo explícito, evidente, a Palavra, sob Calvino e suas meditações e preciosa reflexão fundada  somente nas Escrituras. Uma alma santa, alçada pelo Pai em nosso favor, como Agostinho, Lutero e tantos outros.

          Agora, uma fábula. Escolhi hoje a de número LXVI, do libreto já citado em outros post. Chama-se O Vento e o Sol. Conta a quimera que... Certa vez o vento e o sol tiveram uma discussão sobre qual era o mais forte dos dois e então concordaram em resolver a questão por meio de uma competição: aquele que primeiro fizesse um viajante tirar seu paletó seria reconhecido como o mais poderoso. O Vento iniciou e soprou com toda sua força, levantando uma rajada de ventania fria e aterradora como uma tempestade do Alasca. O mais fortemente ele golpeava, mais apertado o viajante segurava em si seu paletó com as mãos. Então o Sol surgiu, e com seus raios abundantes dispersou as nuvens e o frio. O viajante sentiu a súbita mornura e, assim como o sol  foi brilhando mais e mais, ele sentou-se, dominado pelo calor e, abrasado,  jogou seu paletó ao chão.

          Dessarte, o Sol foi declarado vencedor e, desde então, a persuasão é apreciada em mais elevada estima do que a força. Realmente, um alvorecer luminoso ou as gentis maneiras abrem mais prontamente o coração das pessoas do que todas as ameaças e a força de uma tumultuosa autoridade. 

          Gosto desta fabela pois encerra precioso ensinamento - temos que aprimorar os modos pelas quais a alma humana é alcançada, mesmo as mais encapsuladas e renitentes em se desvelar (em especial as femininas...). Que esfuziante desafio! Mas o importante é auferirmos  a regra geral de que mais vale usar a razão, a calma e a persistência (o que se nos custa...) para demonstrar ao próximo o acerto de nossas idéias (o quanto seja, cremos,  errônea a do outro) do que fazer, como muitos, por preguiça ou impaciência ou incapacidade, uso da força, do 'argumento baculino' (de báculo...).

Ruth e uma de suas melhores amigas,
a sua colega de faculdade, a querida Lígia.
( foto por Lucas V. Dutra )

quinta-feira, 26 de maio de 2011

(Centésima postagem!) A fábula do Burro


 Ilustração obtida de
http://es.wikipedia.org/wiki/Equus_africanus_asinus
em 26.05.2011


Hoje reflito sobre uma fábula (O burro – de número  XXXVI do livrinho já citado anteriormente...) que até discuto em alguns cursos na faculdade, pois aborda a questão da nossa posição frente ao que consideramos 'verdade'.
 
Um burro, ou mulo, jerico, um animal estéril resultante do cruzamento do jumento com a égua (ou, lógico, do cavalo com a jumenta...) cresceu gordo e brincalhão a partir das generosas porções diárias de milho que recebia e, um dia, enquanto pulava, escoiceava e cabriolava pelos campos, disse a si mesmo “Minha mãe deve certamente ter sido uma corredora puro-sangue, e eu sou tão bom nisto como ela era!!”.
 
Mas logo ele se exauriu com o intenso galope e traquinagem, e imediatamente se lembrou que seu antepassado genitor não passava de um asno...

O compilador das Fábulas de Esopo encerra a narrativa afirmando que toda verdade tem dois lados, e é melhor olhar para ambos, antes de declarar onde nos situamos.

Esta lição é preciosa: nada mais inconveniente nas relações sociais quando nos deparamos com uma criatura que se aferra a um certo lado da questão e demonstra incapacidade de olhar para outra(s) possibilidade(s), para outro lado do problema. Poucas coisas ofendem tanto nossa sensibilidade quanto a falta de humildade em se aceitar que  uma outra pessoa possa deter melhor visão de mundo. Nestes tempos turbulentos, com tantas verdades sendo propaladas à mancheia, é mais fácil se apegar a algo, sem criticidade... 

Tragicamente, é na Universidade que tal conduta de rigidez mental, de simplismo, de reducionismo  se demonstra mais perniciosa, ruinosa: a deformação que determina nas mentes incautas pode ser permanente, posto que contagia todas as ulteriores aquisições do discípulo, do aprendiz, implicando assim uma temerária vida futura (pessoal e profissional). Um resultado disso é que vemos diminuída na pessoa a capacidade de identificar sandices, parvoíces, em si mesmo, nos semelhantes ou nas idéias que, a todo instante, somos alcançados. 

Que possamos nos vacinar contra os efeitos deletérios da comodidade, da pachorra mental, da lenidade a que nos acostumamos neste cipoal de especialistas, entendidos, consultores e profetas da certeza fácil ante um mundo crescentemente mais complexo e, a cada vez, mais inacessível à decifração útil e significativa...