Gravura obtida nesta data do site:
http://www.comunidadenews.com/cultura/
liberdade-de-expressao-e-marca-de-artista-plastico-brasileiro-5256
(É um site de comunidade de brasileiros nos Estados Unidos
Connecticut - tem coisas bonitas, vale a pena navegar lá...)
Tenho que andar com um gravador! Tenho muitas idéias que necessito colocar aqui - ontem estava 'meditando' na sessão de acupuntura (tenho que ficar parado uma hora lá pelo menos...) - e tive várias intelecções que agora esqueci, ora bolas! (é a idade, que fazer...) Pelo menos aprendi a rir de mim mesmo, o que não me causa espécie, neste particular.
Estive meditando outro dia sobre a questão da liberdade, para preparar uma aula para meus alunos do terceiro ano de Psicologia. Acho que posso colocar aqui algumas ‘descobertas’... Vejo que a nossa vida, isto é, a vida de cada um, em sua realidade concreta, não é ‘coisa’ alguma, e sim, projeto, missão, ou seja, um processo. A vida é-nos dada, mas não é dada pronta, feita, acabada. A vida é um ‘por-fazer’, e qualquer um tem que conquistá-la com as coisas, em contextos, em situações que, em parte, nos determinam e é precisamente esta determinação que possibilita a liberdade. Ante as possibilidades que o mundo me faculta, tenho que eleger (decidir) por algo, com algo, para algo. Isto implica que tenho que justificar minhas decisões, implicando a idéia de responsabilidade pelos meus atos. Assim vemos que a idéia do que seja LIBERDADE é uma aquisição existencial fundamental, e factível no agir humano. Para um dos pilares do existencialismo, Maurice Merleau-Ponty, a liberdade constitui-se em processo vivido, transcendendo condicionadores conceituais que se possam estabelecer a priori. Para descobrir o sentido do ser, deve-se investigar a situação humana. Consciência e mundo constituem-se numa ambigüidade que rompe com a “presunção da razão” de explicar tudo. O que existe é apenas e imediatamente uma consciência da realidade: não há, de um lado, ‘uma consciência’ e, de outro, ‘uma realidade’...
A liberdade aparece como um fenômeno social e historicamente determinado; efetiva-se na ação e na produção e adquire consciência de si junto ao agir e ao fazer. É no presente pré-objetivo (da percepção) que o Homem encontra sua corporeidade, sua sociedade, a pré-existência (já dada) do mundo, que são os fundamentos da liberdade. Em outros termos, liberdade é considerada como relação entre o sujeito e o seu corpo, seu mundo e sua sociedade, e não como uma simples (mesmo ‘complexa’...) relação causal ou motivada. A liberdade é anterior à consciência; não pode fundar-se nos limites previamente determinados pela consciência. Tudo o que alguém seja, devido à natureza ou à história, nunca o é por si mesmo, mas o é para outrem. No entanto, permanece livre para colocar o outro como uma consciência que o atinge no âmago do seu ser. A crença em motivos que nos podem determinar significa exatamente ser livre para examinar precisamente estes motivos (“um rochedo só é um obstáculo para alguém que se propõe a ultrapassá-lo”...).
Se ser livre é ser livre para agir (se é que concordamos que temos livre-artbítrio); é agindo que a liberdade se realiza, e se escolher sempre supõe possibilidades, então só há uma escolha livre se a liberdade se compromete na sua decisão e coloca a situação que ela escolhe como situação de liberdade. A liberdade é uma conquista do Homem situado e histórico e nunca uma mera escolha de caráter inteligível, uma decisão abstrata. A liberdade requer engajamento, comprometimento na ação e que a ação seja conseqüente de uma nova visão – uma liberdade que não se constitua meramente em pura possibilidade.
O Homem dá um sentido à sua vida, porém o sentido não nasce de uma concepção, mas de um modo de existência presente – um projeto não se efetiva por uma simples decisão, mas deve vir acompanhada de ações concretas. Os atos tem sentido quando praticados em situações de convivência e não como atitudes isoladas.
Dá para ver que esta concepção é eminentemente mundanal, mundano – não pressupõe a Deidade, o divino. Por isso que, por vezes, leva esta concepção a uma insatisfação intrínseca – este mundo é por demais falível e limitado para o humano do homem que, em seus desejos, embute-se-lhe um transcender insuperável neste plano, plano que envolve principalmente convivência, relações interpessoais complicadas, complexas, frustrantes... Quem busca a Deus encontra outro tipo de relacionamento, de engajamento, ainda mais necessário ao ser do homem. Pense, medite, ao final e ao cabo: só em Deus podemos encontrar sentido, nesta nossa humana dimensão, sentido mesmo para o nosso livre-alvedrio!