A V I S O


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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Última da série: O Meio de Vida Correto


Chegamos ao último comentário sobre cada passo do Nobre Caminho Óctuplo, o Caminho do Meio (caminho do equilíbrio) do Budismo, que encerra muita verdade sobre a arte de viver. A Psicologia Budista se vale muito destas instruções. 

Este notável passo do Caminho do Meio, como os outros, envolve em grande parte o bom senso - a pessoa espiritualizada e inteligente sabe que deve procurar um meio de vida que não trangrida os ideiais de amor e compaixão, visto que a maneira como nos sustentamos pode ser expressão do mais profundo do nosso ser, ou constituir uma fonte de sofrimento para nós e para os demais.

Nos tempos do Lorde Siddharta, uma dica para cumprir o Meio de Vida Correto era: não vender armas; não vender escravos; não vender carne, álcool, drogas nem venenos; não fazer profecias nem dizer a sorte. Creio que a maior partes destas prescrições ainda são úteis... Mas penso que, em todas as épocas, trabalhar em negócios que tem o potencial de fazer as pessoas infelizes nunca pode redundar em algo bom, mais cedo ou mais tarde. Se nosso sustento depende de agirmos em maior ou menor grau em coisas que envolvem mau uso da sexualidade, que necessitam mentir, defraudar ou roubar, comerciar substancias de modo ilegal, transacionar com armas ou lucrar a partir das superstições das pessoas, nunca estaremos cumprindo este preceito e vamos atrair problemas, seguramente.

Os mestres Zen ensinam que, no fundo, a questão do Meio de Vida Correto constitui-se numa questão coletiva, que envolve nosso discernimento no nível comunitário, visto que nosso trabalho afeta o trabalho de muitas outras pessoas e vice-versa. Não se deve ser inocente ao ponto de pensar que esforçar-se para ter um Meio de Vida Correto envolve somente os aspectos pecuniários que abarcam nosso rendimento mensal. Pode ser difícil ter um Meio de Vida cem por cento Correto todo o tempo, mas a qualquer tempo a pessoa pode optar em trilhar sempre o caminho equilibrado de reduzir o sofrimento e aumentar a compaixão pelos demais seres viventes, os animais e nossos semelhantes, a partir do nosso trabalho. Um bom meio de ajudar a comunidade, inclusive com consumo responsável e auto-sustentável, é colaborarmos para que os demais tenham também seus bons empregos, e eles também seguindo o preceito do Meio de Vida Correto. 

Ao final destas nossas humildes apreciações, podemos dizer que nenhuma prática, nenhuma etapa do Nobre Caminho se corporifica isoladamente; temos que praticar os oito passos conjuntamente, sendo que cada prática, cada etapa, pressupõe os outros sete. Tudo inter-depende entre si, tudo guarda relacionamento com o resto, pois tudo pertence ao Universo, tudo é uma totalidade. 

Tenho apreço a estes ensinamentos pois revelam calma e pacientemente um modo oriental de ver a vida, com sua estética e ética características, difíceis, muitas vezes, de divisar pelo homem ocidental.  Eu, como sempre gostei do Oriente (Japão, especialmente), senti-me atraído por estes ensinamentos. Excetuando afirmações religiosas dogmáticas, que guardam suposições que podemos chamar de 'teológicas', os preceitos da arte de viver equilibrada do Budismo guardam bastante identidade com muitas das prédicas ensinadas por Jesus. 

Gosto particularmente de um ensino búdico denominado 'Cinco Lembranças', que devem ser recitadas diariamente, como forma de lidar com o sofrimento:

1. Sei que minha natureza é composta de coisas que envelhecem - não há como escapar da velhice, da decrepitude.
2. Sei que minha natureza envolver adoecer - a doença, em todos as suas modalidades, é-nos inescapável.
3. Minha natureza me faz saber que um dia fenecerei: não há como escapar da morte.
4. Tudo o que valorizo, em especial as pessoas que amo, tem a natureza, a essência de coisas que estão em constante mudança - isto implica que eventualmente posso me separar destas coisas e pessoas que aprecio.
5. O que mais me pertence são meus atos, aquilo que opto agir. Portanto, não posso escapar das consequências de minhas ações. 

Quantos paralelos com mandamentos cristãos, e também com preceitos humanistas e existencialistas! A Humanidade tem colecionado por centenas de anos estes ensinamentos, e fico pasmo que ainda exista tanta ignorâcia no mundo. Obviamente, dentro destas normas todas, o que está na Palavra é o repositório mais perfeito deste saber, da Sabedoria que foi  espalhada, manifestada deste o começo dos tempos a toda Humanidade. É muito interessante saber que, pela graça de Deus, todos estes ensinamentos, ainda que parciais, foram derramados para os homens, em todas as raças, eras e locais, guardando muita semelhança entre si.

Para finalizar, relembro um preceito antigo, deturpado por vezes, mas que ilustra bem esta certa uniformidade de sabedoria sobre a arte de viver. É a conhecida fórmula epicurista (de Epicuro, o famoso filósofo de Samos, da Grécia - 341 a 27o antes de Cristo - denominada o Tetrapharmakos. Ele ensinou estas quatro meditações, como modo de controlar o medo, a ansiedade e  angústia; em suma, o sofrimento, que era fonte de adoecimento da alma:

1. Não há o que temer aos deuses;
2. Não há o que temer à morte;
3. O sofrimento pode acabar, e
4. A felicidade é possível.

Obviamente estas quatro assertivas demandam estudo contextual e reflexão sobre o que querem significar, pois refletem uma visão de mundo à época antes de Cristo. Mas é notável que refletem uma preocupação milenar de debelar fontes de sofrimento, de aflição, de desalento. 

O Homem nunca vai ser feliz inteiramente, pois é muito apegado às coisas do mundo (o apêgo é o que causa sofrimento, para o Budismo), mas sei que somente pela reflexão sobre sua condição é que ele pode se libertar. Muitos caminhos são disponíveis, e importa que a pessoa se dedique a conhecer-se, a reconhecer a si mesmo e, assim trabalhando, pode vir a conhecer ao seu semelhante e, no limite, abrir-se para conhecer seu Criador, que se revela ao Homem por Sua própria iniciativa, pois por nós mesmo nunca O conheceríamos. Mas isso é assunto para outro dia...