Oscar Wilde
(obtido nesta data de http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Wilde)
Tenho um libreto que ganhei há tempos de um amigo paranaense que costumava aportar por aqui, na época que ainda trabalhava no Centro Universitário UNIFEOB. Chamava-se Rodrigo, e era um vero empreendedor da área da educação, cativante mesmo (as mulheres diziam-no muito charmoso). Nunca mais o vi, mas ficou a lembrança. Este livro ('Aforismos', de Oscar Wilde, Rio de Janeiro: Newton Compton Brasil Ltda., 1997. Coleção Clássicos Econômicos Newton, vol. 02; tradutor Mario Fondelli) traz saborosos ditados do conhecido (e polêmico) poeta, romancista, comediógrafo, talvez o mais importante escritor da época vitoriana. Este simpático opúsculo (98 p.) traz também ótima nota biobibliográfica sobre Wilde, além de boa Introdução, de autoria do conhecido intelectual italiano Riccardo Reim (veja http://www.riccardoreim.it ). Pesquise no endereço da wikipedia acima um bom resumo da conturbada vida de Wilde. É um autor "obrigatório"...
Suas frases fazem pensar, não tanto pelo inusitado da costumeira apresentação verbal - ele esgrimia com maestria as palavras - mas pelas verdades que embutem. Uma das minhas preferidas (e com a qual me identifico, de certa maneira) é 'Adoro as coisas simples. Elas são o último refúgio de um espírito complexo'. Um grande frasista sabe ser sintético, mas com estilo! Em verdade, serve esta frase a todos/todas e qualquer um; todos somos pessoas de imensa complexidade, todos nós, humanos, pessoas, mesmo os que recusam esta existencial determinação de pessoalidade.
Mas o que gostaria de comentar hoje aqui é uma de suas frases modelares sobre a verdade. Aprecio também os ditos de Sebastian Melmoth (uma de suas conhecidas onomatóposes...) porque carregam um certo desafio de reflexão, como aqueles paradoxos zen que intentam realizar nossa iluminação mediante o estupefacto meditar nelas. Diz assim:
Raramente se dizem verdades que merecem ser ditas. Seria preciso escolher as verdades com o mesmo cuidado com se escolhem as mentiras, e escolher as nossas virtudes com aquele mesmo cuidado que dedicamos à escolha dos nossos inimigos (opere citato, página 89).
Nesta nossa sociedade, progressivamente mais e mais adoecida, a cada vez 'precisamos' ser menos verdadeiros, ao que (paradoxalmente) parece... O medo do relacionar-se faz-nos pensar demais (e sucumbir à tentação) em falsear nossos relacionamentos, pois nunca vemos claramente o que os outros poderão fazer com as nossas 'verdades'. Mas, ao fim e ao cabo, demonstramos muito nosso não-ser, o que não nos pertence, de fato. Só pode resultar em confusão, o que, parece também, ser a marca destes nossos tempos.
Interessante como nosso Autor liga aqui verdade com a idéia da virtude que, para mim, é esta inerente, intrínseco à idéia da Ética enquanto tal. Nossa pessoalidade é organizada e expressa em grande medida pelas virtudes que cultivamos. Pode-se estimar, avaliar muito o(a) outro(a) pelo que ele/ela demonstra com sua conduta virtuosa (ou viciosa). Na verdade é (esta estimativa) algo relativamente fácil, mas de dificultosa aquisição pelo homem/mulher simples.
Se é trabalhoso, árduo proferir verdades aos demais, o mais precioso é, vejo, a partir destas reflexões de Wilde, aprender a dizer-se verdades a si mesmo... Como nos auto-enganamos hoje em dia!