A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Penúltima da série: a Concentração Correta

Hoje discuto um passo do Nobre Caminho Óctuplo que me é especial. Em toda minha vida não houve aspecto mais trabalhoso em que eu tenha me debruçado. Sabem,  creio que tenho TDAH, ainda hoje. Relembrando os depoimentos familiares e averiguando certos fatos, vejo que eu sempre lidei com este distúrbio. Por exemplo - não só isso, sei, mas veja - para guardar algo em minha memória preciso ter total silêncio e concentração atenta, perseverante, senão  puft!  algo que vi ou ouvi  'some' como vapor na atmosfera... Os anos que pratiquei Yôga e zazen (tenho minha almofada apropriada de meditação zen - o  zafu - até hoje!!)  foram muito bons para dar conta de grandes incumbências, em especial o Mestrado e o Doutorado.  Não sei se as conseguiria sem estas disciplinas pessoais,  estas práticas.  Hoje, estou bem estabilizado, inclusive por causa de sessões periódicas de acupuntura com um profissional muito sério e competente, meu amigo Prof.  Adão Carlos.

Em essência, a prática da Concentração Correta consiste em cultivar uma mente 'focada', habilitada em dar conta efetivamente de uma coisa por vez, (con)centrar-se em um aspecto do campo fenomênico a cada vez. Nossa 'mente de macaco' - que pula sem parar ali e lá e para acolá - é o maior empecilho para que atinjamos eficiência e eficácia nester mister de considerar o ser, o situar-se no aqui-e-agora. Sabem como primacialmente se treina a concentração? Isso, é meditando... No Zen, praticamos zazen, a meditação sentada (olhando por uma hora ou mais uma parede branca à nossa frente) e, também, uma espécie de 'meditação andando', onde caminhamos beeem devagar (o nome é kinhin), pé ante pé, nos intervalos de um zazen e outro, em postura apropriada. E, obviamente, tudo em completo silêncio! Aliás, até as refeiçoes na comunidade zen é realizada sem nenhum pio...

Quando estamos meditando a mente nunca para, mas o segredo é 'deixar vir, deixar ir'... assim, com o tempo conseguimos deter a voragem do pensar. A mente é uma coisa maluca mesmo; nem quando dormimos o cerebro se interrompe - o que é o sonho, não é mesmo?

Há vários degraus de concentração e mormente galgamos passo a passo esta competência. Um outro segredo é começar a escutar nossa respiração. Quando respiramos, respeitando nossa natureza, ficamos mais capazes de focar nossa atenção, de domar a mente de macaco.

Há várias maneiras de se treinar concentração, tantas quantos os mestres que existem, ao que tudo indica... O problema então pode ser encontrar um bom mestre, se você for iniciante. Mas sei de pessoas que encontraram a paz de modo autônomo, autodidaticamente. Uma vez vi um modo de meditar que é sentar e ficar olhando para uma vela bruxuleante, num ambiente calmo e em silêncio. Fiz algumas vezes e acho que pode funcionar. O método que acho cem por cento é o do Budismo Sotozen - zazen e meditação andando. Mas acho que qualquer prática honesta e perseverante pode dar resultado. O importante é caminhar, trilhar uma senda, percorrer uma vereda só nossa... Vai chegar uma hora que qualquer atividade, qualquer prática é uma meditação... Eu, por exemplo, gosto muito de lavar pratos (na companhia de minha esposa, então, é um prazer diário), fazer barba dos meus velhos no asilo...; tudo feito com concentração apropriada pode ser uma meditação, um praticar onde todo o seu ser está 'focado', centrado...

Praticantes de meditação sentada Zen (zazen)
(fiz muito isso no Templo da Comunidade Soto Zenshu
em São Paulo, que fica na Rua São Joaquim, 
no bairro da Liberdade - ver abaixo 2 ultimas fotos)
Foto obtida agora, via Google Images, de
http://anshin.it/en/pratica-zen/zazen
(este parece um site sério - boas pesquisas!!)

Praticantes no kinhin
Foto obtida agora, via Google Images, de
http://www.flickr.com/photos/23236468@N04/3852450685/
(tem outras fotos legais lá, enjoy!!)

Templo Busshinji de São Paulo
http://www.sotozen.org.br/index.php
(fotos acima e abaixo)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Caminhos...


Uma cena comum em muitas cidades aqui do sudeste no começo do ano é o sofrimento das criaturas que, morando em lugares de risco, tem suas casas invadidas pelas águas torrenciais oriundas das copiosas chuvas que habitualmente vem depois das festas de fim de ano. Não bastasse isso, este ano houve cidade em que o lixo (não recolhido por vingança de políticos que não se reelegeram nas ultimas votações) se somou ao entulho carregado pelas torrentes que veio das montanhas e encostas próximas às casas e prédios comerciais, onde as pessoas teimam em edificar suas construções.

O mais chato de tudo é que tais tragédias se repetem há tempos, e o jogo de empurra-empurra se alterna com os discursos inflamados de políticos e autoridades (ao que parece, sumamente comovidos com a provação das famílias, assoladas por vezes com a perda de parentes, além dos bens móveis e imóveis), prometendo a solução do amplo transtorno. E desgraçadamente eu, que olho de longe tal sofrimento, a salvo de tais perigos, além das minhas orações, não me encorajo em enviar algum donativo, pois não tenho a mínima confiança de que o recurso, ainda que parco, será empregado apropriadamente, dada as notícias de desvio de verbas por parte de corruptos alocados em diversos níveis da sociedade pertencente às áreas atingidas. Evito até ligar a TV ou escutar os noticiários do rádio nesta época...

O tema do sofrimento é sempre presente para o homem. No cristianismo, a 'obra prima' do ensinamento sobre o sofrimento encerra-se no Livro de Jó. Sempre pensei sobre isso em minha vida, ainda que eu pouco tenha sofrido em toda minha existência. Não considero hoje  que tenha 'sofrido', pois quando miramos o que vivenciam diariamente nossos semelhantes, tudo o que passei é quase irrelevante. E quando penso sobre o sacrifício expiatório do Cristo, vejo que nada tenho a lamentar ou reclamar e, sim, a agradecer. Todo o tempo.

Outro dia revi alguns papéis guardados, lembranças de um tempo bom que vivi intensamente. Eu já comentei que estudei bastante o Budismo, em especial a doutrina Zen (e, dentro desta, a escola Soto). Não me aproximei da doutrina de Buda como religião (alguns assim a consideram, mas prefiro considera-la enquanto ‘prática que nos ajuda a eliminar os pontos de vista incorretos’ como ensina o monge vietnamita Thich Nhat Hanh), mas pelas interfaces que possui com a Psicologia. Na verdade, existe até uma ‘Psicologia Budista’, que auxilia muito a pessoa a ajustar sua conduta, a partir da reflexão sobre as melhores práticas mentais para lidar com suas intelecções de modo apropriado.

Uma das lições principais desta abordagem – digo que a lição fundamental, do qual todas as demais derivam - é a proposição da meditação sobre as Quatro Nobres Verdades, enunciadas diretamente pelo príncipe Sidharta Gautama quando da sua iluminação, ou seja, quando ele finalmente compreendeu a sua situada condição. Existem centenas de livros refletindo somente sobre esta temática. A primeira nobre verdade é o Sofrimento, inerente à existência do homem, e que precisamente existe ‘em tudo’, é onipresente. A segunda verdade nobre é a Origem do Sofrimento, que reside no apego que o homem desenvolve em seu existir cotidiano, ou seja, nos caminhos indignos que ele trilha e que conduzem ao sofrimento. A terceira nobre verdade é a Cessação do Sofrimento; a possibilidade do sofrimento ter um fim – é possível ao homem atingir o bem-estar. A quarta verdade nobre encerra o caminho para o surgimento do bem-estar: o Caminho Óctuplo, o nobre Caminho, ou como os chineses traduziram, o ‘Caminho das Oito Práticas Corretas’, as práticas retas, realizadas na forma certa, apropriada.

Praticar o Budismo se resume em aprender (é o ‘despertar’, ou a 'iluminação') a conduzir a si neste caminho de oito práticas, que é o que vai determinar a eliminação do sofrimento da vida da pessoa. Obviamente que, compreendendo o que este pequeno e superficial resumo encerra, veremos que a prática aperfeiçoante deste caminho pode abranger toda a vida da pessoa, e é isso mesmo... E quais são estes 8 passos? Auferir a Compreensão Correta, o Pensamento Correto, a Fala Correta, a Ação Correta, o Meio de Vida Correto, o Esforço Correto, a Atenção Plena Correta e a Concentração Correta. Não há nesta lista precedência ou grau ou subordinação entre os passos, posto que são inter-relacionados entre si como numa matriz; cada passo contém todos os outros sete... Vou comentar cada um deles nas próximas postagens.