A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Unica carta de Calvino a Lutero


Carta de Calvino a Lutero, em  21 de Janeiro de 1545

         Ao mui excelente pastor da Igreja Cristã, Dr M. Lutero [i],  meu tão respeitado pai.

    Quando disse que meus compatriotas franceses [ii] que muitos deles foram tirados da obscuridade do Papado para a autêntica fé, nada alteraram da sua pública profissão [iii] e que eles continuam a corromper-se com a sacrílega adoração dos Papistas, como se eles nunca tivessem experimentado o sabor da verdadeira doutrina, fui totalmente incapaz de conter-me de reprovar tão grande preguiça e negligência, no modo que pensei que ela merece. O que de fato está fazendo esta fé que mente sepultando no coração, senão romper com a confissão de fé? Que espécie de religião pode ser esta, que mente submergindo sob semelhante idolatria? Não me comprometo, todavia, de tratar o argumento aqui, pois já o tenho feito de modo mais extenso em dois pequenos tratados, em que, se não te for incomodo olha-los, perceberá o que penso com maior clareza que em ambos, e através da sua leitura encontrará as razões pelas quais tenho me forçado a formar tais opiniões; de fato, muitos de nosso povo, até aqui estavam em profundo sono numa falsa segurança, mas foram despertados, começando a considerar o que eles deveriam fazer. Mas, por isso que é difícil ignorar toda a consideração que eles têm por mim, para expor as suas vidas ao perigo, ou suscitar o desprazer da humanidade para encontrar a ira do mundo, ou abandonando as suas expectativas do lar em sua terra natal, ao entrar numa vida de exílio voluntário, eles são impedidos ou expulsos pelas dificuldades duma residência forçada. Eles têm outros motivos, entretanto, é algo razoável, pelo que se pode perceber que somente buscam encontrar algum tipo de justificativa. Nestas circunstâncias, eles se apegam na incerteza; por isso, eles estão desejosos em ouvir a sua opinião, a qual eles merecem defender com reverência, assim, ela servirá grandemente para confirmar-lhes. 

     Eles têm-me requisitado de enviar um mensageiro confiável até você, que pudesse registrar a sua resposta para nós sobre esta questão. Pois, penso que foi de grande conseqüência para eles ter o benefício de sua autoridade, para que não continuem vacilando; e eu mesmo estou convicto desta necessidade, estive relutante de recusar o que eles solicitaram. Agora, entretanto, mui respeitado pai, no Senhor, eu suplico a ti, por Cristo, que você não despreze receber a preocupação para sua causa e minha; primeiro, que você pudesse ler atentamente a epístola escrita em seu nome, e meus pequenos livros, calmamente e nas horas livres, ou que pudesse solicitar a alguém que se ocupasse em ler, e repassasse a substância deles a você. Por último, que você escrevesse e nos enviasse de volta a sua opinião em poucas palavras. De fato, estive indisposto em incomodar você em meio de tantos fardos e vários empreendimentos; mas tal é o seu senso de justiça, que você não poderia supor que eu faria isto a menos que compelido pela necessidade do caso; entretanto, confio que você me perdoará. Quão bom seria se eu pudesse voar até você, pudera eu em poucas horas desfrutar da alegria da sua companhia; pois, preferiria, e isto seria muito melhor, conversar pessoalmente com você não somente nesta questão, mas também sobre outras; mas, vejo que isto não é possível nesta terra, mas espero que em breve venha a ser no reino de Deus. Adeus, mui renomado senhor, mui distinto ministro de Cristo, e meu sempre honrado pai. O Senhor te governe até o fim, pelo seu próprio Espírito, que você possa perseverar continuamente até o fim, para o benefício e bem comum de sua própria Igreja.

 Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductiory biographical sketch (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980),  pp. 71-73.

Tradução livre:
Rev. Ewerton B.Tokashiki

Pastor da Igreja Presbiteriana de Cerejeiras – RO.
Prof. de Teologia Sistemática no SPBC – extensão Ji-Paraná


NOTAS:

[i] Nota do tradutor: o especial interesse por esta carta, pelo que sabemos, é que ela é a única que Calvino escreveu a Lutero.

[ii] Nota do tradutor: pelo que parece Calvino se refere aos huguenotes que embora haviam assumido o compromisso com uma confissão de fé reformada, mas na prática ainda preservavam os ídolos, toda a pompa e ritual da missa católica romana. Esta prática evidenciava uma incoerência entre o ato e a convicção de fé.

[iii] Nota do tradutor: Calvino se refere ao culto como uma confissão pública de fé.

domingo, 19 de junho de 2011

Hércules e o carroceiro

foto obtida de    http://cantodecontarcontos.blogspot.com    hoje!

          Do libreto de fábulas... 'Um fazendeiro estava guiando de modo negligente sua carroça ao longo de um caminho barrento quando as rodas ficaram emperradas, imersas na lama, deixando assim os cavalos paralisados. Vendo isso, o homem caiu de joelhos e começou a rezar para Hércules vir e ajuda-lo, sem no entanto fazer o mínimo esforço para livrar o veículo. Hércules respondeu ao carroceiro dizendo que ele deveria colocar seus ombros nas rodas, e lembrou-o que os céus somente ajudam àqueles que tentam ajudar a si mesmos'. O compilador finaliza com a máxima de que podemos orar o quanto for; se não aprendemos a ajudar a nós mesmos, todas as nossas preces serão ignoradas...

          Vejo aqui como uma verdade celestial, que podemos aprender na Bíblia, também é de conhecimento geral, acessível às pessoas comuns, tão verdadeira e eterna ela é. Mas vejo que nossa inteligência paradoxalmente nos incapacita, por vezes, de vermos o que precisamos fazer de mais precioso a nosso favor!

          Uma das lições do tempo em que tive o privilégio de aprender com o Patriarca Odival Luciano Barbosa, um líder eclesiático sério e  vero pastor (grande caráter e servo de Deus amoroso, algo escasso nos dias de hoje), foi a de que, após orarmos ao Pai Celestial, devemos ir e fazer de tudo o que nos compete para que nosso pedido seja realizado. Todos temos a fantasia de que basta orar (e orar, orar...) para recebermos as bênçãos. Felizmente fui orientado no sentido de que 'Deus ajuda a quem cedo madruga'... Sim temos que ter Fé, mas isto não significa cruzar os braços e ficar olhando para cima.

          Disse que nossa inteligência age por vezes de modo paradoxal visto que, não poucas vezes, quanto mais se julga a si mesmo sábio, não se apercebe o indivíduo de que o conhecimento do mundo é enganador, e não tem este conhecimento mundano o mesmo status do conhecimento que é apreciado por Deus. Para desenvolvermos uma intelecção mínima neste sentido, temos que aliar a prática do que aprendemos das sagradas letras com uma reflexão honesta consigo mesmo, o que nos faculta a 'ouvirmos' os céus nos instruir, e isso mediante também a colaboração dos demais irmãos (que são usados muitas vezes por Deus para nos ensinar o que é necessário). Que triste vemos pessoas que se arrogam sabedoria, conhecimento, autoridade etc. sobre o que Deus dispõe e que demonstram em sua diuturna práxis comportamentos desarmônicos, contraditórios, incongruentes!

          Todo ensino da Bíblia visa, no plano eterno, à salvação do homem e, no plano mundano (entre outros), ao aperfeiçoamento de nossa vida (e isso implica, além da vida  quase-solipsista de cada qual, nossa vida - por vezes trabalhosa -  social). Qual a vantagem de saber-se 'biblicista' se não se esmera em aplicar a si mesmo aquelas verdades (e no aperfeiçoamento da complicada vivência interpessoal)? E, pior, usar aquelas verdades celestiais  para fundar, fundear, fundamentar de modo interesseiro suas disposições e caprichos?

          Outro dia li numa revista denominada Cristianismo Hoje  uma reportagem comentando o fato de que muitos cristãos estão abandonando as igrejas onde congregavam e reunindo-se, aqui e acolá, com pessoas conhecidas ou não em suas residências, para orar, entoar hinos e cânticos e compartilhar as riquezas da Bíblia. Muitas pessoas estão feridas por problemas de relacionamento e, apesar de não apostatarem da Fé, evitam associar-se novamente a quaisquer tipo de agremiação religiosa. Creio que uma das  principais explicações  para o recorrente fenômeno é a qualidade da formação dos responsáveis pelos trabalhos eclesiásticos, que não aplicam o que a Bíblia dispõe àqueles que se comprometem a ser pastores. Saem dos Seminários com certa erudição sobre o Antigo e o Novo Testamento, mas paupérrimos, imaturos na vivência que se requer para apascentar o rebanho... E o pior, a prática pastoral de muitos anos por vezes não aperfeiçoa a pessoa em sua importante obra, em seu ministério. Nem falo daqueles mercadores da Fé que transformaram a idéia de religiosidade, grosso modo, em empresa de 'prestação de serviços'...

          Como a espiritualidade hoje está banalizada; virou também uma commodity (não, não é este termo um estrangeirismo oportunista, acabo de vê-lo no Houaiss!!), ao que parece... É como um produto, destes de consumo em massa, produzido em larga escala, como podemos ver em profusão pela mídia. Cada vez mais o crente tem dificuldade de discernir, como se diz, o joio do trigo. Mas sabe-se que a vida espiritual é primacialmente algo constituído como um relacionamento pessoal Criador-criatura, e temos, neste âmbito, que nos esforçar em nosso estudo da verdade revelada, para não dependermos tanto dos outros ou mesmo de nossa imperfeita inteligência. Eu, como sou muito limitado, procuro os comentaristas íntegros e lúcidos para investigar. Por isso que aprecio imensamente Calvino, Lutero, pois remetem sempre à Bíblia, e só a ela.