foto obtida de http://cantodecontarcontos.blogspot.com hoje!
Do libreto de fábulas... 'Um fazendeiro estava guiando de modo negligente sua carroça ao longo de um caminho barrento quando as rodas ficaram emperradas, imersas na lama, deixando assim os cavalos paralisados. Vendo isso, o homem caiu de joelhos e começou a rezar para Hércules vir e ajuda-lo, sem no entanto fazer o mínimo esforço para livrar o veículo. Hércules respondeu ao carroceiro dizendo que ele deveria colocar seus ombros nas rodas, e lembrou-o que os céus somente ajudam àqueles que tentam ajudar a si mesmos'. O compilador finaliza com a máxima de que podemos orar o quanto for; se não aprendemos a ajudar a nós mesmos, todas as nossas preces serão ignoradas...
Vejo aqui como uma verdade celestial, que podemos aprender na Bíblia, também é de conhecimento geral, acessível às pessoas comuns, tão verdadeira e eterna ela é. Mas vejo que nossa inteligência paradoxalmente nos incapacita, por vezes, de vermos o que precisamos fazer de mais precioso a nosso favor!
Uma das lições do tempo em que tive o privilégio de aprender com o Patriarca Odival Luciano Barbosa, um líder eclesiático sério e vero pastor (grande caráter e servo de Deus amoroso, algo escasso nos dias de hoje), foi a de que, após orarmos ao Pai Celestial, devemos ir e fazer de tudo o que nos compete para que nosso pedido seja realizado. Todos temos a fantasia de que basta orar (e orar, orar...) para recebermos as bênçãos. Felizmente fui orientado no sentido de que 'Deus ajuda a quem cedo madruga'... Sim temos que ter Fé, mas isto não significa cruzar os braços e ficar olhando para cima.
Disse que nossa inteligência age por vezes de modo paradoxal visto que, não poucas vezes, quanto mais se julga a si mesmo sábio, não se apercebe o indivíduo de que o conhecimento do mundo é enganador, e não tem este conhecimento mundano o mesmo status do conhecimento que é apreciado por Deus. Para desenvolvermos uma intelecção mínima neste sentido, temos que aliar a prática do que aprendemos das sagradas letras com uma reflexão honesta consigo mesmo, o que nos faculta a 'ouvirmos' os céus nos instruir, e isso mediante também a colaboração dos demais irmãos (que são usados muitas vezes por Deus para nos ensinar o que é necessário). Que triste vemos pessoas que se arrogam sabedoria, conhecimento, autoridade etc. sobre o que Deus dispõe e que demonstram em sua diuturna práxis comportamentos desarmônicos, contraditórios, incongruentes!
Todo ensino da Bíblia visa, no plano eterno, à salvação do homem e, no plano mundano (entre outros), ao aperfeiçoamento de nossa vida (e isso implica, além da vida quase-solipsista de cada qual, nossa vida - por vezes trabalhosa - social). Qual a vantagem de saber-se 'biblicista' se não se esmera em aplicar a si mesmo aquelas verdades (e no aperfeiçoamento da complicada vivência interpessoal)? E, pior, usar aquelas verdades celestiais para fundar, fundear, fundamentar de modo interesseiro suas disposições e caprichos?
Outro dia li numa revista denominada Cristianismo Hoje uma reportagem comentando o fato de que muitos cristãos estão abandonando as igrejas onde congregavam e reunindo-se, aqui e acolá, com pessoas conhecidas ou não em suas residências, para orar, entoar hinos e cânticos e compartilhar as riquezas da Bíblia. Muitas pessoas estão feridas por problemas de relacionamento e, apesar de não apostatarem da Fé, evitam associar-se novamente a quaisquer tipo de agremiação religiosa. Creio que uma das principais explicações para o recorrente fenômeno é a qualidade da formação dos responsáveis pelos trabalhos eclesiásticos, que não aplicam o que a Bíblia dispõe àqueles que se comprometem a ser pastores. Saem dos Seminários com certa erudição sobre o Antigo e o Novo Testamento, mas paupérrimos, imaturos na vivência que se requer para apascentar o rebanho... E o pior, a prática pastoral de muitos anos por vezes não aperfeiçoa a pessoa em sua importante obra, em seu ministério. Nem falo daqueles mercadores da Fé que transformaram a idéia de religiosidade, grosso modo, em empresa de 'prestação de serviços'...
Como a espiritualidade hoje está banalizada; virou também uma commodity (não, não é este termo um estrangeirismo oportunista, acabo de vê-lo no Houaiss!!), ao que parece... É como um produto, destes de consumo em massa, produzido em larga escala, como podemos ver em profusão pela mídia. Cada vez mais o crente tem dificuldade de discernir, como se diz, o joio do trigo. Mas sabe-se que a vida espiritual é primacialmente algo constituído como um relacionamento pessoal Criador-criatura, e temos, neste âmbito, que nos esforçar em nosso estudo da verdade revelada, para não dependermos tanto dos outros ou mesmo de nossa imperfeita inteligência. Eu, como sou muito limitado, procuro os comentaristas íntegros e lúcidos para investigar. Por isso que aprecio imensamente Calvino, Lutero, pois remetem sempre à Bíblia, e só a ela.