foto por Lucas V. Dutra
Tenho um casal de amigos que conheci numa Comunidade Presbiteriana que frequentei e que saí ainda no ano passado, por absoluta impropriedade comportamental do pastor que lá presidia. Mas ficou a amizade com este casal; semanalmente vou à casa deles ajudar ao 'Natha' a colocar no papel suas memórias (que ele tem muito bem preservada, apesar da idade) - já temos mais de cem páginas de um livro a ser publicado neste ano. Costumo acompanha-los em cultos e outras atividades; é um casal alegre e damos muitas risadas. Suas filhas (tem 3) e netas moram distantes e ocasionalmente os visitam, e eu 'ajudo' a tomar conta deles... mas longe de ser certo tipo de encargo, e sim divertimento. Eles são muito abençoados por terem uma 'secretária', senhorinha maravilhosa que os assiste nas atividades domésticas.
Sempre me dei com pessoas muito mais velhas que eu, desde criança. Achava que tinham mais paciência comigo e sempre pareciam se alegrar com minhas palhaçadas. Tive certa vez uma amizade que durou muitos anos, com um senhor aposentado da Rede Ferroviária Federal, que residia em Bauru, à rua Azarias Leite - cheguei a visitá-lo várias vezes. Seu nome era Balbeíno Ribeiro de Lacerda. Eu o conheci num congresso do movimento católico romano dos Focolares, em Piracicaba (SP) no início dos anos 70. Eu disse a ele que lhe escreveria cartas mas ele não acreditou, como me segredou tempos depois. E mantivemos a amizade até que ele, viúvo e sem filhos, foi acolhido por uma sobrinha em São Bernardo do Campo e eu nunca mais soube dele, pois já apresentava, ao fim dos anos 80, certa debilidade provecta. Cheguei a guardar uma caixa de papelão de proporções médias cheias das cartas dele, e ele disse que também tinha uma caixa repleta em sua casa, pois tínhamos o costume de quando chegava uma correspondência, escrevíamos outra imediatamente em seguida, comentando fatos e trocando idéias (naquele tempo não tinha internet...).
Não sei se, maximizado pela minha idade (medianamente) avançada, estes temas da velhice ficaram ainda mais 'impactantes', como se diz. Mas sempre fiquei impressionado com o descaso que a juventude trata os idosos. Achava e acho absurdo o fato de que certas pessoas 'não pensam' que um dia irão também ficar velho(a)s... A injustiça ao próximo tem seu ápice no tratamento desrespeitoso que a sociedade ministra àqueles que um dia a ajudaram a ser o que é, para o bem ou para o mal. Quando estudei o tema da violência interpessoal vi que o subtema de violência contra o idoso é o que concentra os detalhes mais deploráveis. É da natureza humana esta propensão, que fazer. Volto ao assunto.