Dito já algo do meu velho, hoje vou dizer algumas coisas da mommy's (como meus irmãos gostam de chamá-la), a matriarca da família, o esteio silencioso (bem, às vezes ela assume o palco, principalmente nas festas - a familia dela era 'festeira'...) em quem todos se apoiavam, desde que me conheço por gente. Personalidade forte, católica ferrenha e devotada, nascida em 1929, em ótima forma, como podem ver - ela se cuida, é vaidosa, muito ativa ainda hoje e até faz Pilates!
Ela fundou um Clube de Mães em Rio Claro (quando os 5 filhos estavam crescidos e 'encaminhados'), na Paróquia do Bom Jesus, onde congregávamos, e foi sua Presidente por décadas, deixando a obra consolidada nas mãos das voluntárias que ela treinou. 'Passou o bastão' da Ong para outra mulher somente quando acompanhou meu pai na mudança para Campinas. Esta obra assistia uma enormidade de mães carentes, dando toda espécie de auxílio, principalmente educação, artes domésticas e encorajamento. Trabalhei muitas vezes lá, dando palestras, orientando alguma coisa do trabalho com as crianças na creche anexa, ajudando nas quermesses que regularmente aconteciam (quanta gente prestigiava...), buscando leite em pó na LBA em Piracicaba para ser distribuida para as mães assistidas...
Firmina criou os 5 filhos com mão de ferro (no bom sentido; bem, às vezes tinha chinelada, mas ninguém ficou com 'trauma' por causa disso...), e creio que se tivesse uns 10 filhos teria dado conta tranquilamente. Ela ficava na retaguarda, e meu pai podia batalhar o pão de cada dia, na empresa onde trabalhou, desde que o casal se mudou de São Paulo para Rio Claro, nos anos de 1955, comigo e com o Luciano (ou seja, Luíz Sergio, Lúcia Helena e Lia Cristina nasceram nesta cidade, e no mesmo hospital que meus 3 filhos nasceram, o Hospital Evangélico, de grata memória).
Poderia contar tanta coisa que compartilhamos... Eu era o mais 'encapetado' dos 5 filhos. Eu creio que eu tinha TDAH, analisando uns videos antiquíssimos e pelo relato de todos. Parece que eu 'infernizava todo mundo'. Eu era o mais forte, e costumava castigar quem se opunha aos meus desmandos. Minha mãe era a defensora dos demais, óbvio. Mas, no geral, a gente se dava bem, e agradeço a firmeza da correção e do acompanhamento, principalmente na escola. O ambiente em casa era intelectualmente muito estimulante. Toda a minha vida meu pai e mãe assinaram os 2 principais jornais diários, o 'Estadão' e a 'Folha', e também diversas revistas. Minhas irmãs fizeram faculdade e trabalharam nas respectivas profissões e, com o casamento, elas se ocuparam de outras prioridades; eu e meu irmão Luciano fizemos pós-graduação até o Doutorado, e o Luís Sergio não pode fazer mais do que Mestrado, por causa das suas obrigações profissionais. Lembro-me que meus pais nunca foram ver se o dinheiro que eu sempre pedia para comprar livros era mesmo gasto com aquelas obras todas que eu ia acumulando... cheguei a ter 3 mil livros! E hoje tenho somente uns mil pois, com a internet, tem tanta coisa útil ao alcance da mão, e já doei os outros para as duas principais bibliotecas universitárias aqui de São João - mais um benefício que meus pais fizeram sem o saber! Aliás, o tanto de pessoas que meus pais ajudaram, sem fazer alarde, ou querer retribuição, é um dos tantos motivos de orgulho e gratidão por Deus ter me dado genitor e genitora tão especiais! É a maior graça que recebi dos Céus, sem dúvida.
Minha mãe tem uma fé cristã muito diferenciada - ela pratica efetivamente sua religião e sempre lutou com os filhos para serem firmes na fé. 'Para variar', o único que não é católico sou eu - sou reformado (quer dizer, grosso modo, 'calvinista'; não é bem a mesma coisa que 'protestante') faz alguns anos, e estou estudando Teologia no mais prestigiado instituto teológico presbiteriano (o CPAJ, do Mackenzie). Mas não existe pedra de tropeço entre nós; ela até me presenteia com Bíblias e outros recursos - ela me forneceu obras utilíssimas! Eu já a presenteei com livros de bons autores (inclusive católicos) e trocamos idéias, o que é salutar em todos os sentidos.
Fico a pensar um tanto sobre quando não mais a tiver entre nós. Ruth perdeu sua mãe há mais de ano e sofre até hoje. Meu sogro diz que o que temos que fazer é viver bem com todos, dizer que gosta, amar, conviver, enquanto a pessoa está viva - depois que o Pai Celestial chama a pessoa não adianta ficar se lamentando! Mas vai ser um baque para todos da família quando ela faltar! Na verdade, quando os dois se forem, imagino que vazio enorme - me preparo há muito para isto que deverei enfrentar; não fujo disso, é o destino de todos nós. Encaro como uma espécie de 'rito de passagem' - aceitando com gratidão a Soberania de Deus em tudo!