A V I S O


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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Conclusão da Tese



Conclusão


De que o homem precisa, não é somente colocar de modo infalível as últimas questões, mas precisa igualmente do sentido para o factível, o possível e o correto, aqui e agora.

A compreensão não se satisfaz então no virtuosismo técnico de um “compreender” tudo o que é escrito. É, pelo contrário, uma experiência autêntica, isto é, encontro com algo que vale como verdade. H-G GADAMER, V&M, p. 28 e 706


Pretendi nesta Tese, em primeiro lugar, realizar a descoberta da própria Hermenêutica, enquanto aplicada à análise da conversão religiosa. O Capítulo I e notadamente a primeira seção do Capítulo IV apresentam as intelecções pertinentes a minha empreitada inicial. Aprendemos que o modo de ser do homem constitui-se em compreensão, realizado via linguagem, ou seja, a lingüisticidade da compreensão é inerente ao ser do Homem. Esta situação determina a postura do mesmo frente ao mundo, significando mundo humano. O processo hermenêutico, principalmente, consubstancia-se organicamente como diálogo, como dialética de perguntar e responder, uma dialética de pergunta e resposta entre intérprete e texto. A experiência hermenêutica é eminentemente uma experiência lingüística, e tem o mesmo arcabouço da experiência histórica: o discurso humano é finito no sentido de que nele existem sempre uma infinitos sentidos a captar, a interpretar, portanto infinitas compreensões.

Em segundo lugar, esta pesquisa visou aumentar os horizontes de compreensão da natureza do processo psicológico da conversão, realizado principalmente a partir do estudo hermenêutico de uma narrativa escrita. Os resultados estão relatados no Capítulo II e em especial nas seções intermediárias e finais do Capítulo IV. Observamos que o fenômeno da conversão constitui um processo que se espraia ao longo do tempo, não se reduzindo a um evento singular. Este fenômeno é contextualizado e, portanto, influencia e é influenciado por um tecido de relacionamentos, expectativas e situações as mais variadas. Seus fatores constituintes são múltiplos, interativos e, principalmente, caracterizados como cumulativos. Enquanto fenômeno humano, não existe causa única para sua ocorrência. Conversão constitui-se num evento e num processo, mas não existe um único processo e não existe uma conseqüência isolada ou única como resultado deste complexo processo. Por fim, sabe-se que não se pode predizer com acurácia seu percurso, e que pode ocorrer reversões.

         Para se realizar a compreensão de uma conversão religiosa, é mister que se proceda primacialmente a uma análise interpretativa, pela dimensões especificamente humanas (querendo dizer lingüísticas) envolvidas. E, no tocante ao conceito, ao fenômeno em si, considero que a análise tanto da vivência (no sentido gadameriano) quanto da Personalidade devem assumir papel preponderante no estudo do fenômeno.

Por fim, como terceiro objetivo, almejei ampliar os horizontes de compreensão da aplicação da abordagem hermenêutica à psicologia da conversão religiosa. Tais achados estão relatados principalmente na terceira seção do Capítulo III e nas terceira e quarta seções do Capítulo IV.  Auferi, de um lado, que o pesquisador deve se imbuir de características de pesquisas que se coadunem com o espírito da análise hermenêutica, tais como a abertura a diferentes projetos e significados, o rigor nos procedimentos e cuidados na abordagem de narrativas, de textos, a propensão ao diálogo, além da persistência. De outro lado, cotejando a abordagem hermenêutica com a descritivo-empiricista, vimos como a abordagem de análise tem como a tendência de ‘condicionar’ os resultados – efetivamente ‘vemos’ e ‘dizemos’ o que a situação de estudo, de análise, predispõe, isto porque “... aquele que pergunta busca uma confirmação direta de suas próprias suposições” (GADAMER, 2002, p. 392).

Uma grande aquisição de minha parte foi sem dúvida o encontro com o conceito de circulo hermenêutico, que significa, no domínio da compreensão, que não se pretende deduzir uma coisa de outra, mas que constitui a descrição adequada da estrutura do compreender. Esta expressão indica precisamente a estrutura do ser-no-mundo, ou seja, a superação da divisão entre sujeito e objeto na analítica transcendental da pré-sença. O ponto-chave do círculo, a linguagem, nesta perspectiva, nunca é utilizada pelo pesquisador como mera ferramenta; se ele se dispõe realmente a conhece-la como meio, não a converte em objeto mas, como ensina Gadamer, trabalha com ela. Assim também o compreender, que permite à pré-sença conhecer-se em seu ser e em seu mundo, não é uma conduta relacionada com determinados objetos do conhecimento, mas seu próprio ser-no-mundo.

         Ao reler a Tese e seus capítulos, constato que voltei não poucas vezes a certos conceitos que já havia mencionado. Refletindo sobre esta expressão vejo que realizei uma certa postura que existe nos textos de Gadamer. A repetição de conceitos, o constante re-dizer também é hermenêutico, no sentido de demonstrar constantemente a totalidade que erige o sentido das partes (que precisamente constituem o todo, mas que recebem seu sentido somente em relação a ela). Agora entendo porque muitas vezes me vejo (e dizem que sou) ‘redundante’, repetitivo. Agora não vejo mais isso necessariamente como imperfeição.

Termino este trabalho grandemente recompensado, mas acompanhado de um certo desconforto, por ter ‘deixado de lado’ teóricos que desconfio teriam muito a contribuir para esta discussão. Entre eles, cito Viktor E. Frankl, com sua logoterapia. Meus trabalhos futuros em Psicologia da Religião (seguramente utilizando a abordagem hermenêutica) se encaminham para o exame de outros aspectos que podem tomar parte significativa no fenômeno da conversão, como a intencionalidade, que cheguei a identificar em algumas passagens desta monografia.

         Finalizo com uma citação daquele que me ajudou tanto a descobrir novos caminhos quanto a corrigir muitos defeitos (obviamente ele não é responsável pelas imperfeições remanescentes). Ela é, apesar de pinçada dentro de um contexto maior, rica em significado, ilustrando a propriedade do emprego da hermenêutica no campo da religiosidade, como eu imaginei a princípio. (negrito meu)

         A linguagem religiosa tenta essa proeza quase impossível: não só falar do mistério, mas também falar ao mistério. E depois ouvi-lo. É isso que ela é quando corresponde a um processo pessoalmente vivenciado...” (AMATUZZI, 2003, p. 70).