A V I S O


I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.

Mostrando postagens com marcador Caminho Óctuplo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Caminho Óctuplo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Última da série: O Meio de Vida Correto


Chegamos ao último comentário sobre cada passo do Nobre Caminho Óctuplo, o Caminho do Meio (caminho do equilíbrio) do Budismo, que encerra muita verdade sobre a arte de viver. A Psicologia Budista se vale muito destas instruções. 

Este notável passo do Caminho do Meio, como os outros, envolve em grande parte o bom senso - a pessoa espiritualizada e inteligente sabe que deve procurar um meio de vida que não trangrida os ideiais de amor e compaixão, visto que a maneira como nos sustentamos pode ser expressão do mais profundo do nosso ser, ou constituir uma fonte de sofrimento para nós e para os demais.

Nos tempos do Lorde Siddharta, uma dica para cumprir o Meio de Vida Correto era: não vender armas; não vender escravos; não vender carne, álcool, drogas nem venenos; não fazer profecias nem dizer a sorte. Creio que a maior partes destas prescrições ainda são úteis... Mas penso que, em todas as épocas, trabalhar em negócios que tem o potencial de fazer as pessoas infelizes nunca pode redundar em algo bom, mais cedo ou mais tarde. Se nosso sustento depende de agirmos em maior ou menor grau em coisas que envolvem mau uso da sexualidade, que necessitam mentir, defraudar ou roubar, comerciar substancias de modo ilegal, transacionar com armas ou lucrar a partir das superstições das pessoas, nunca estaremos cumprindo este preceito e vamos atrair problemas, seguramente.

Os mestres Zen ensinam que, no fundo, a questão do Meio de Vida Correto constitui-se numa questão coletiva, que envolve nosso discernimento no nível comunitário, visto que nosso trabalho afeta o trabalho de muitas outras pessoas e vice-versa. Não se deve ser inocente ao ponto de pensar que esforçar-se para ter um Meio de Vida Correto envolve somente os aspectos pecuniários que abarcam nosso rendimento mensal. Pode ser difícil ter um Meio de Vida cem por cento Correto todo o tempo, mas a qualquer tempo a pessoa pode optar em trilhar sempre o caminho equilibrado de reduzir o sofrimento e aumentar a compaixão pelos demais seres viventes, os animais e nossos semelhantes, a partir do nosso trabalho. Um bom meio de ajudar a comunidade, inclusive com consumo responsável e auto-sustentável, é colaborarmos para que os demais tenham também seus bons empregos, e eles também seguindo o preceito do Meio de Vida Correto. 

Ao final destas nossas humildes apreciações, podemos dizer que nenhuma prática, nenhuma etapa do Nobre Caminho se corporifica isoladamente; temos que praticar os oito passos conjuntamente, sendo que cada prática, cada etapa, pressupõe os outros sete. Tudo inter-depende entre si, tudo guarda relacionamento com o resto, pois tudo pertence ao Universo, tudo é uma totalidade. 

Tenho apreço a estes ensinamentos pois revelam calma e pacientemente um modo oriental de ver a vida, com sua estética e ética características, difíceis, muitas vezes, de divisar pelo homem ocidental.  Eu, como sempre gostei do Oriente (Japão, especialmente), senti-me atraído por estes ensinamentos. Excetuando afirmações religiosas dogmáticas, que guardam suposições que podemos chamar de 'teológicas', os preceitos da arte de viver equilibrada do Budismo guardam bastante identidade com muitas das prédicas ensinadas por Jesus. 

Gosto particularmente de um ensino búdico denominado 'Cinco Lembranças', que devem ser recitadas diariamente, como forma de lidar com o sofrimento:

1. Sei que minha natureza é composta de coisas que envelhecem - não há como escapar da velhice, da decrepitude.
2. Sei que minha natureza envolver adoecer - a doença, em todos as suas modalidades, é-nos inescapável.
3. Minha natureza me faz saber que um dia fenecerei: não há como escapar da morte.
4. Tudo o que valorizo, em especial as pessoas que amo, tem a natureza, a essência de coisas que estão em constante mudança - isto implica que eventualmente posso me separar destas coisas e pessoas que aprecio.
5. O que mais me pertence são meus atos, aquilo que opto agir. Portanto, não posso escapar das consequências de minhas ações. 

Quantos paralelos com mandamentos cristãos, e também com preceitos humanistas e existencialistas! A Humanidade tem colecionado por centenas de anos estes ensinamentos, e fico pasmo que ainda exista tanta ignorâcia no mundo. Obviamente, dentro destas normas todas, o que está na Palavra é o repositório mais perfeito deste saber, da Sabedoria que foi  espalhada, manifestada deste o começo dos tempos a toda Humanidade. É muito interessante saber que, pela graça de Deus, todos estes ensinamentos, ainda que parciais, foram derramados para os homens, em todas as raças, eras e locais, guardando muita semelhança entre si.

Para finalizar, relembro um preceito antigo, deturpado por vezes, mas que ilustra bem esta certa uniformidade de sabedoria sobre a arte de viver. É a conhecida fórmula epicurista (de Epicuro, o famoso filósofo de Samos, da Grécia - 341 a 27o antes de Cristo - denominada o Tetrapharmakos. Ele ensinou estas quatro meditações, como modo de controlar o medo, a ansiedade e  angústia; em suma, o sofrimento, que era fonte de adoecimento da alma:

1. Não há o que temer aos deuses;
2. Não há o que temer à morte;
3. O sofrimento pode acabar, e
4. A felicidade é possível.

Obviamente estas quatro assertivas demandam estudo contextual e reflexão sobre o que querem significar, pois refletem uma visão de mundo à época antes de Cristo. Mas é notável que refletem uma preocupação milenar de debelar fontes de sofrimento, de aflição, de desalento. 

O Homem nunca vai ser feliz inteiramente, pois é muito apegado às coisas do mundo (o apêgo é o que causa sofrimento, para o Budismo), mas sei que somente pela reflexão sobre sua condição é que ele pode se libertar. Muitos caminhos são disponíveis, e importa que a pessoa se dedique a conhecer-se, a reconhecer a si mesmo e, assim trabalhando, pode vir a conhecer ao seu semelhante e, no limite, abrir-se para conhecer seu Criador, que se revela ao Homem por Sua própria iniciativa, pois por nós mesmo nunca O conheceríamos. Mas isso é assunto para outro dia...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Penúltima da série: a Concentração Correta

Hoje discuto um passo do Nobre Caminho Óctuplo que me é especial. Em toda minha vida não houve aspecto mais trabalhoso em que eu tenha me debruçado. Sabem,  creio que tenho TDAH, ainda hoje. Relembrando os depoimentos familiares e averiguando certos fatos, vejo que eu sempre lidei com este distúrbio. Por exemplo - não só isso, sei, mas veja - para guardar algo em minha memória preciso ter total silêncio e concentração atenta, perseverante, senão  puft!  algo que vi ou ouvi  'some' como vapor na atmosfera... Os anos que pratiquei Yôga e zazen (tenho minha almofada apropriada de meditação zen - o  zafu - até hoje!!)  foram muito bons para dar conta de grandes incumbências, em especial o Mestrado e o Doutorado.  Não sei se as conseguiria sem estas disciplinas pessoais,  estas práticas.  Hoje, estou bem estabilizado, inclusive por causa de sessões periódicas de acupuntura com um profissional muito sério e competente, meu amigo Prof.  Adão Carlos.

Em essência, a prática da Concentração Correta consiste em cultivar uma mente 'focada', habilitada em dar conta efetivamente de uma coisa por vez, (con)centrar-se em um aspecto do campo fenomênico a cada vez. Nossa 'mente de macaco' - que pula sem parar ali e lá e para acolá - é o maior empecilho para que atinjamos eficiência e eficácia nester mister de considerar o ser, o situar-se no aqui-e-agora. Sabem como primacialmente se treina a concentração? Isso, é meditando... No Zen, praticamos zazen, a meditação sentada (olhando por uma hora ou mais uma parede branca à nossa frente) e, também, uma espécie de 'meditação andando', onde caminhamos beeem devagar (o nome é kinhin), pé ante pé, nos intervalos de um zazen e outro, em postura apropriada. E, obviamente, tudo em completo silêncio! Aliás, até as refeiçoes na comunidade zen é realizada sem nenhum pio...

Quando estamos meditando a mente nunca para, mas o segredo é 'deixar vir, deixar ir'... assim, com o tempo conseguimos deter a voragem do pensar. A mente é uma coisa maluca mesmo; nem quando dormimos o cerebro se interrompe - o que é o sonho, não é mesmo?

Há vários degraus de concentração e mormente galgamos passo a passo esta competência. Um outro segredo é começar a escutar nossa respiração. Quando respiramos, respeitando nossa natureza, ficamos mais capazes de focar nossa atenção, de domar a mente de macaco.

Há várias maneiras de se treinar concentração, tantas quantos os mestres que existem, ao que tudo indica... O problema então pode ser encontrar um bom mestre, se você for iniciante. Mas sei de pessoas que encontraram a paz de modo autônomo, autodidaticamente. Uma vez vi um modo de meditar que é sentar e ficar olhando para uma vela bruxuleante, num ambiente calmo e em silêncio. Fiz algumas vezes e acho que pode funcionar. O método que acho cem por cento é o do Budismo Sotozen - zazen e meditação andando. Mas acho que qualquer prática honesta e perseverante pode dar resultado. O importante é caminhar, trilhar uma senda, percorrer uma vereda só nossa... Vai chegar uma hora que qualquer atividade, qualquer prática é uma meditação... Eu, por exemplo, gosto muito de lavar pratos (na companhia de minha esposa, então, é um prazer diário), fazer barba dos meus velhos no asilo...; tudo feito com concentração apropriada pode ser uma meditação, um praticar onde todo o seu ser está 'focado', centrado...

Praticantes de meditação sentada Zen (zazen)
(fiz muito isso no Templo da Comunidade Soto Zenshu
em São Paulo, que fica na Rua São Joaquim, 
no bairro da Liberdade - ver abaixo 2 ultimas fotos)
Foto obtida agora, via Google Images, de
http://anshin.it/en/pratica-zen/zazen
(este parece um site sério - boas pesquisas!!)

Praticantes no kinhin
Foto obtida agora, via Google Images, de
http://www.flickr.com/photos/23236468@N04/3852450685/
(tem outras fotos legais lá, enjoy!!)

Templo Busshinji de São Paulo
http://www.sotozen.org.br/index.php
(fotos acima e abaixo)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Esforço Correto


Gosto, artísticamente, das figuras do Lorde Gautama (o conhecido príncipe indiano Siddharta Gautama, que viveu de 563 a 483 a.C., que depois se cognominou, do sânscrito, 'Buddha' - 'despertado', querendo significar 'esclarecido', 'iluminado') pois elas passam um tanto do desapego e da serenidade que o Budismo prega. Diferente do que se observa em algumas vertentes do cristianismo com relação às imagens, estátuas, relíquias e figuras, em geral aqui estas representações imagéticas não são adoradas, ainda que algumas, pelo seu valor histórico, sejam reverenciadas pelos adeptos de algumas seitas. Budismo é considerado como religião em nossas imprecisas ocidentais considerações, mas muitas vertentes, na verdade, constituem-se  mais como uma espécie de 'filosofia de vida', uma maneira ética de se relacionar com o Cosmos. É assim que eu encaro esta ampla escola de pensamento oriental, mesmo porque creio que só o Zen (e dentro deste, a escola japoneza Sotozen) represente a essência do Budismo, como Lorde Gautama o concebeu. Ele nunca pensou em fundar uma religião e, creio, ficaria 'chocado' com o que algumas correntes eregiram a partir de seus ensinos originais...

Hoje veremos um dos oitos passos do Nobre Caminho Óctuplo, que encerra interessante ensinamento. Esforço Correto (também entendido como Diligência Correta) é aquele passo que abarca um tipo de energia que ajuda ao budista (e qualquer vivente; não tem que ser adepto desta escola de pensamento para auferir sua inteligência...) a percorrer de modo mais apropriado o Caminho do Meio, o Nobre Caminho Óctuplo. Este esforço correto liga-se, creio, ao foco que deve presidir a maioria de nossas ações. Vejamos:

1. Esforçar-se corretamente não significa necessariamente intensidade de praticar, agir. Por exemplo, se nossa prática, nosso agir, qualquer que seja, nos fizer sofrer, ou sofrer a outros, está desvirtuada. Nossa prática e ação deve ser inteligente, baseada na real compreensão do ensinamento subjacente. (No Budismo se diz 'praticar' pois, mediante nosso correto, diligente - aplicado -  agir, nossa atenção constitue-se como que em método para alcançar fins; é metodologia de aprender a viver, de vivenciar)

2. Um Esforço Correto conduz nosso agir a alcançar valores humanos como amor, lealdade, reconciliação. Obviamente quando nos esforçamos de modo correto a alegria e a felicidade a acompanha, mais cedo ou mais tarde - são índices, critérios de nosso esforçar apropriado. Um exemplo: quando se acorda, devemos sorrir - temos a bênção de mais um dia para praticar o Caminho. Mas como sorrir, se acordo com dores, angustiado, temeroso? Sorria para tudo isso também!!  Antigamente eu poderia me assustar quando acordava e ia ao toalete escovar os dentes, com a minha cara amassada. Resolvi colocar no espelho um lembrete tipo post-it que dizia, com aquela figurinha muito conhecida estilizada de sorriso :-) "Sorria!!" e, logo-logo, me condicionei a realizar isto 'automaticamente' nas manhãs, quero dizer, de modo cônscio; sim, consciente da necessidade do sorriso ser presente em meu rosto frente a qualquer situação (minha feição não ajuda muito as pessoas a 'se  soltarem' na minha presença, e se estiver carrancuda, então, pode mesmo assustar...). Mas confesso que ainda tenho dificuldades de manter esta prática; que fazer... - devo insistir, esforçar, pois sei que isso é correto em todos os sentidos!

3. Com o tempo descobre-se que qualquer prática, qualquer agir, se realizado com a energia e disposição da plena atenção, pode ser expressão de um esforço correto. Assim, lavar os pratos, varrer o chão, cuidar de crianças ou idosos adoentados podem ser eventos muito preciosos  (hoje cedo fiquei minhas 3 horas cortando cabelo e barba no asilo, como sempre faço às terças e sextas-feiras, e pude orar ao Pai Celestial mais uma vez pela bênção de poder servi-Lo)  para nosso despertar.

Aprendi em minha vida que o sofrimento é um tipo fundamental de experiência que pode nos conduzir a uma prática, a um agir consciente que, adornado pelo Esforço Correto, nos faz atingir conquistas existenciais, pessoais, muito importantes. Se estamos ansiosos ou tristes, quando assim praticamos sentimos alívio. Necessitamos de muita energia (leia-se estudo, conscientização) para contemplar o sofrimento e investigar suas causas, e sabemos que somente este tipo de compreensão é que poderá nos dizer como (qual o caminho para)  colocar um ponto final no sofrimento. Em outros termos, quando acolhemos o sofrimento, investigando sua(s) origem(ns), poderemos constatar que é possível por um fim no sofrer, visto que existe um caminho para realizar isso. 

O praticar do vivenciar consciente deve ser alegre, prazeroso. Devemos examinar nossa forma de praticar (de agir) em tudo. Não fomos criados para sofrer, ainda que nossa natureza decaída nos induza a isso. Mas, em si, a forma de lidar, de praticar, de agir, com relação a todas as coisas (boas e ruins, doloridas ou agradáveis, ...) deve ser alegre, prazerosa; se não, não estaremos nos esforçando corretamente. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

A Fala Correta


Interessante ficar estabelecido, desde os primórdios dos ensinamentos proferidos pelo Lorde Sidharta a necessidade de cultivar a Fala Correta. Quantos sábios não apontaram para as inúmeras ruínas pessoais, sociais, comunitárias, nacionais etc. determinadas pelo uso impróprio da linguagem. A língua é uma espada de dois gumes! Tanto constrói como destrói.

Todos sabemos que para falar corretamente temos que pensar corretamente; em outros termos, a Fala Correta baseia-se no Pensamento Correto (q. v.), pois o falar consiste no nosso pensamento, expresso sob a forma de encadeamentos adequados de sons, que se articulam em conceitos, estas em ideias, e estas originam os raciocínios. O fantástico é que quando falamos, nossos pensamentos adentram a esfera do público – não mais nos pertencem, deixam de ser particulares, e isso falando pessoalmente, via computador ou pelo telefone...

Estes tempos tem a marca dos sistemas e técnicas de comunicação cada vez mais sofisticados e abrangentes; o que ocorre num lugar pode ser imediatamente conhecido no outro lado do mundo! As ferramentas disponíveis parecem conectar as pessoas instantaneamente, pessoal ou remotamente, analógica ou digitalmente. O contraditório é que a comunicação interpessoal parece, a cada momento, mais difícil de realizar-se de modo excelente, profícuo, pois há muita incompreensão, bloqueios, mal-entendidos e aborrecimentos a partir do que o outro nos diz aqui e acolá. 

A condição fundamental da Fala Correta é o ouvir com atenção. Pode parecer banal, mas o que menos se vê é alguém ‘escutando’; os diálogos por vezes parecem solilóquios, discursos para plateia que não quer ouvir, monólogos frente ao espelho. O que sabemos é que, assim,  se não se consegue escutar de modo cônscio, não se pode realizar a  Fala Correta, pois fica-se girando em torno de nossas ideias, não respondendo ao que o outro ou outra efetivamente disse. Eu vislumbro isso toda vez que tenho a impressão, a partir do que o outro profere, de que este outro não está a me escutar; é como se ele ou ela parecesse não assumir ou considerar o que eu estou pensando, dizendo em nossa conversa, nas suas falas... é muito estranho. Tem conversa que saímos dela ‘iguais’ como no começo da mesma!

Muitas vezes consultamos um terapeuta porque não conseguimos conversar com o próximo e, pior, conosco mesmo... A pessoa que tem problemas comunicacionais habitualmente tem dificuldades na família, no emprego, na escola etc. Um dos conselhos que os psicoterapeutas encorajam é a pessoa escrever o que precisa falar – cartas ou mesmo e-mails. Escrever dá mais segurança pois pode-se refletir melhor o que vai se dizer; visualizamos o que o outro pode pensar, ao lermos nossas palavras e, assim, ‘calibrar’ nossos termos e avaliar sempre a adequação do que queremos transmitir. Mas escrever é difícil, tememos a avaliação do outro.

Um outro conselho, agora prescrito por mestres zen, é praticar o silêncio; em outras palavras, ficar menos dependente e escravizado pelas palavras. Quando se pratica o silêncio, meditando sentado, andando ou agindo (p. ex., lavrar pratos é uma excelente contemplação, dizem os adeptos avançados da meditação, o que eu concordo em gênero, número e grau) abrimos boas portas para exercitar a clareza dos nossos próprios pontos de vista e averiguar os bloqueios que subjazem em nossa forma de pensar. Se aprendermos a ouvir com a mente em silêncio, veremos que podemos compreender muito mais a partir das mesmas coisas que estão à nossa frente.

A fala, como qualquer ferramenta, é perigosa se usada de modo impróprio. A pessoa sábia é aquela que se conscientiza que a fala deve ser construtiva, amorosa, compassiva. 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Pensamento Correto


O Pensamento Correto é o que resulta quando a Compreensão Correta se configura como parte integrante de nosso ser; esta, a Compreensão Correta, é o fundamento, o alicerce do pensar. E se aprimorarmos o Pensamento Correto, reciprocamente nossa Compreensão Correta irá se aperfeiçoar.

No Budismo se diz que o processo de pensar é a fala da mente, e o Pensamento Correto tornará nosso falar mais claro e benevolente. Como o pensamento é o motor da ação, conduz ao agir, o Pensamento Correto é fundamental para conduzir a cada um ao caminho da Ação Correta. O Pensamento Correto reflete a maneira, a forma como as 'coisas' se constituem. O pensamento errôneo faz-nos visualizar os fenômenos de modo confuso, desfocado, e é um sintoma de como nosso corpo e nossa mente estão dissonantes, ou seja, estão funcionando em desarmonia, de forma não unificada, como na situação onde nossa mente está pensando uma coisa e nosso corpo está fazendo outra. Esta é uma situação muito comum - mais usual ainda, penso eu, nestes tempos altamente cibernéticos...

Quando a mente e o corpo não funcionam em uníssono, 'perdemo-nos' a nós mesmos e não se pode afirmar realmente que se está - aqui-e-agora -  presente. Isto, a dissonância, ocorre em grande parte por causa do fato do nosso pensar ser, em sua maior parte, desnecessaria, visto que nossos pensamentos comuns são limitados, dotados de parca compreensão. Nunca a nossa mente descansa (nem quando dormimos - o que são os sonhos, os pesadelos?) e nossos pensamentos ficam 'pulando' para ali e acolá, percorrendo assuntos díspares constantemente - é o que o budista diz da 'mente de macaco'.

Uma explicação para esta 'mente de macaco' é o apêgo excessivo às palavras e conceitos. Quando, em meio à cotidiana voragem do nosso existir, nos perguntamos 'o quê estou -a aqui-e-agora - fazendo?' podemos subitamente nos libertar das amarras a que nos dispomos - tanto ao passado quanto ao futuro - e podemos retornar ao momento presente, de modo a vivenciá-lo integralmente. Aprendi meditando que as pequenas ações são preciosidades particulares. Quer ver um exemplo? Lavar pratos para muitos é tedioso e aborrecido, mas se nos dispomos a vivenciar plenamente o momento, aprendemos que lavar pratos pode ser uma meditação preciosa, se a realizamos com atenção e gratidão. Ou seja, se estamos realmente presentes (pois o passado já foi, é memória, e o futuro é uma abstração, uma possibilidade) lavar pratos pode ser uma experiência intensa, profunda e extremamente agradável. Mas se lavamos pratos pensando no que se poderia estar fazendo, sobre a obrigação que esta tarefa repetitiva traduz, sobre...; nosso corpo está a realizar tarefas mas nosso pensamento não está 'junto', e possivelmente não lavaremos bem os pratos e ficaremos aborrecidos, chateados!

Quando se pratica a Compreensão Correta e o Pensamento Correto, aprende-se a viver o 'aqui-e-agora', o momento presente, que é o quê unica e precisamente temos (pois o passado já se foi e o futuro é incerto) e assim poderemos entrar em contacto com a alegria, com a paz e a libertação das amarras que o viver nos habitua, nos condiciona, e para as quais não estamos  antenados, despertos, alertados, prevenidos. Estas amarras quase-invisíveis encerram muito de nosso sofrimento, fazendo-nos encapsular em nosso egocentrismo. Urge aprender o caminho que nos liberta de nós mesmos...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Compreensão correta


A primeira prática do Nobre Caminho Óctuplo é a Compreensão Correta, que encerra uma profunda compreensão das Quatro Nobres Verdades - o sofrimento, seu aparecimento, o fato de que o sofrimento pode ser transformado, e o caminho preciso de sua transformação.

A Compreensão Correta não pode ser descrita - só se pode apontar sua direção. Não é possível explicar o gosto da jabuticaba para alguém que nunca experimentou uma em sua vida. Pode-se tentar descrever, mas não se é capaz de dar ao outro a experiência direta; a pessoa tem que experimentar por si mesma o fruto.

É ensinado que mesmo um mestre não pode transmitir o que seja a Compreensão Correta; ele pode ajudar-nos a identificar as sementes da Compreensão Correta em nosso baú de vivências, e pode nos ajudar a ter confiança para praticar, mesmo proporcionando algumas sementes adicionais no solo de nossa vida do dia-a-dia. Mas o lavrador teremos que ser nós mesmos; é algo que não se delega a outrem, como o alimentar-se: nós é que temos que decidir e agir no sentido de alimentar nosso corpo; não podemos pedir para alguém ir almoçar em nosso lugar... Pode-se até casar com alguém por procuração, mas mesmo para efetivar o casamento nós é que temos que estar presente com nosso cônjuge para consumá-lo.

Uma chave para 'adubar' as boas sementes da Compreensão Correta que carregamos é viver com atenção plena, que significa respirar conscientemente, caminhar e vivenciar cada momento de nossa vida com plena e grata atenção a tudo o que nos é dado.

Outra chave que se aprende é que ficar pensando, conceituando e 'percebendo' tudo a todo momento na verdade tudo isso nos faz 'presos' à mente que tende a compartimentalizar tudo, como na tendência a catalogar as coisas e fatos como 'bom' ou 'mau', certo ou errado, inclinação a considerar as coisas de maneiras relativas, subjetivas, situacionais. No limite, qualquer ponto de vista traz a incorreção em seu bojo, pois nenhum ponto de vista pode representar a verdade total.

Quando se aperfeiçoa a Compreensão, aprendemos que as suas sementes em nós estão obscurecidas por 'camadas' de desapontamento, mágoas e ignorância, que temos que domar.  Nossa mente nos engana por demais - pensamos (p. ex. percebemos, julgamos, concluimos) muito errado; nossas hipóteses sempre tem vícios que precisamos pacientemente depurar... Aprendemos que os outros também tem as mesmas sementes dentro de si, e que a prática concreta é o que nos faz a todos, a cada passo, mais sábios em nossa Compreensão.

Ter a Compreensão Correta é ter 'olhos abertos', os mais descompromissados possíveis; abertos à experiência, sem medrosamente (defensivamente) 'pré-catalogar' tudo o que nos sucede, de plano; estar aberto à experiência como se nos descortina.