Vi no caderno ‘Mais!’ (#876) da Folha de São Paulo (ano 88 #29.145) à p. 5 uma pequena análise de Eduardo Sterzi sobre a obra de Steiner, complementando a matéria principal. O que salta aos olhos é a recorrente confirmação, a partir de diferentes autores/contextos, do fato de que compreender precisa e inexoravelmente envolve, como apontou claramente Hans-Georg Gadamer (Verdade e Método I e II), interpretação. Pode parecer a desavisados certa minudência de acadêmico enfastioso, mas disto decorre que sempre trazemos nossos horizontes prévios (de compreensão) que pré-conduzem nosso entendimento. Este acontecimento tem grande impacto no âmbito da comunicação humana em geral (e na educação em particular), posto que não se considera, de plano, por parte da pessoa (e, por vezes, dos docentes,) este fundamental aspecto na assimilação de novos dados, conceitos, informações, et cetera. Assim, creiam, no linguajar, na lingüisticidade gadameriana, também sobre a dialogicidade do humano bem como no exame das narrativas, este fato compreensão/interpretação se impõe. Vejo mais e mais, aqui e ali, comentários e análises muitas delas esclarecedoras. Uma sugestão faço aqui – coloque no google a toda a frase < TECNOLOGIAS INTELECTUAIS E OS MODOS DE CONHECER: NÓS SOMOS TEXTO > , de Pierre Lévy, e examine um sem número de ‘imbricações’.
Memórias, comentários e meditações ocasionais de ex-professor universitário (aposentado) Bücherwurm. AVISO - CAVEAT LECTOR (WARNING): We use cookies to personalise content and ads, to provide social media features and to analyse our traffic. We also share information about your use of our site with our social media, advertising and analytics partners who may combine it with other information you’ve provided to them or they’ve collected from your use of their services. PANTA REI (Heráclito)
A V I S O
I am a Freemason and a member of both the regular, recognized ARLS Presidente Roosevelt 75 (São João da Boa Vista, SP) and the GLESP Grande Loja do Estado de São Paulo, Brazil. However, unless otherwise attributed, the opinions expressed in this blog are my own, or of others expressing theirs by posting comments. I do not in any way represent the official positions of my lodge or Grand Lodge, any associated organization of which I may or may not be a member, or the fraternity of Freemasonry as a whole.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
A Ética da Virtude (como considero o que seja 'Ética')
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Violência Cotidiana
Modestamente me atrevo a provocar algumas reflexões, oriundas de minhas observações pessoais. Dizem que a beleza está nos detalhes, e ouso dizer que as relações interpessoais estão violentas já no 'varejo', o que diríamos no 'atacado'. Me explico – um dos atos que considero mais comezinho de urbanidade, de convivência social, é precisamente cumprimentar o vizinho, o colega de trabalho, um senhor ou senhora que cruzamos na rua, mesmo uma criança pequena que nos dirige o olhar. O que vemos hoje é um desfile de carrancas e concomitantes negações deste simples gesto, nos mais variados cenários (e mais lamentavelmente no próprio lar), o que já nos contamina e predispõe a devolver ao próximo passante a descortesia, e assim vamos disseminando uma intransigência pela simples presença do outro. Parece que o sorriso é uma expressão cada vez mais escassa, recebida somente em situações de interesse, nem sempre manifesto. Como podemos esperar gestos de compreensão e tolerância, voltados à manutenção uma cultura de convivência harmônica, de solução pacífica dos naturais conflitos, com base na sonegação ampla e generalizada de atos simples de gentileza, de palavras afáveis e olhares receptivos como vemos hoje?
Não nos apercebemos do mal que originamos ao tratar o circunstante com qualquer tipo de desconsideração, ainda que involuntária, por menor que seja. O contínuo recebimento do desdém, do desprezo do outro, somando-se aos inúmeros eventos semelhantes já vívido, expressivo em sua memória, faz o desventurado por vezes exorbitar do que julga ser razoável para ele próprio, como que 'autorizando', justificando o comportar-se de igual ou pior modo. E a cena está posta para os descalabros que assistimos todo dia, o que nos faz pensar duas vezes em ligar ou não a TV ou a comprar um jornal na banca da esquina.
Todos os antigos lembram nesta hora 'os velhos tempos' quando, sob a denominação do termo 'escrúpulo', resumiam-se diversas maneiras de proceder em sociedade como denotativo de um caráter elevado ao seu detentor. Os pais e familiares efetivamente treinavam seus rebentos nas maneiras aprimoradas de convivência (isso era ponto de honra), que incluía o respeito aos demais, a polidez, o 'desconfiômetro' – a capacidade de se auto analisar quanto à possibilidade de estar aborrecendo ao próximo – e, principalmente, o amplo cultivo de virtudes, entendidas como aquelas disposições constantes da mente e do espírito as quais, por um autônomo esforço da vontade, inclinam seu possuidor à prática do bem. Assim, a pessoa escrupulosa era tida como um modelo de cidadão, de pessoa, merecedora de confiança e admiração. Mas parece que os valores pós-modernos não se coadunam com esta formulação. Não causa mais espécie uma pessoa ter a vida desregrada, desdourada, tresloucada, e julgar-se no 'direito' de nos afrontar, com diferentes graus, impondo-nos um verdadeiro suplício de Tântalo. Talvez evoque, quando muito, um enfado ou um esgar...
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Cavalheirismo - fora de moda ?
O tema do cavalheirismo não costuma freqüentar as discussões sobre as relações interpessoais em gerais e nas relações homem-mulher, em particular. Talvez isso seja devido a algumas mudanças ocorridas nos valores que fundamentam nossas condutas sociais.
Mesmo vendo o filme, poucos se deram conta de que o Titanic, após colidir com um iceberg, teve pouco mais de um terço dos seus passageiros sobreviventes, a maioria de mulheres e crianças. Isto ocorreu devido ao fato de que muitos homens se recusaram a entrar nos botes salva-vidas porque não estavam certos de que todas as mulheres e crianças estavam embarcadas neles. Um oficial do navio que sobreviveu, ao ser perguntado se a máxima ‘mulheres e crianças primeiro’ era uma regra do navio ou uma tradição dos mares, o mesmo respondeu que era uma regra da natureza humana.
Ao que parece, normas gerais de etiqueta parecem ter saído de moda. Modernamente, nossa cultura cibernética algo anárquica como que encoraja imediata gratificação e máxima auto-expressão, a qualquer custo. As mulheres engrossam as estatísticas de condutas desabonadoras praticadas em grande escala, evidenciadas principalmente pela violência, desordens coletivas e abusos de drogas, legais ou proscritas.
Sou daqueles que acreditam que as regras de etiqueta em geral e o cavalheirismo em particular são expressões que complementam as relações interpessoais onde a Lei não alcança, facultando, de um lado, viabilizar vivências enriquecedoras e, de outro, o aperfeiçoamento das instituições, principalmente o casamento. Os valores pelos quais as pessoas são ensinadas a pautar suas ações, não importa a que se dirigem, são determinadas em grande maioria pelo cuidado com que a Sociedade zela pelo constante aperfeiçoamento do mecanismo de ensino destes mesmos valores aos seus membros mais jovens. Ao vermos que a família, como núcleo básico da Sociedade, se encontra enfraquecida, o quê diremos dos valores acessórios, complementares da vida social?
As pessoas internalizam os motivos mais equivocados para autorizarem-se praticar condutas denotativas de falta de urbanidade, de educação. A tônica atual de nossos dias é pelo individualismo, não-cooperação, falta de solidariedade. A re-aprendizagem de valores intrinsecamente humanos, solidários, pressupõe uma reflexão aprofundada sobre os modos como nos tratamos mutuamente, em especial aqueles dirigidos às mulheres e crianças – e também aos idosos... Este repensar é fundamental não somente para dar um novo sentido a temas como etiqueta e cavalheirismo , mas para viabilizar a continuidade de um ensino efetivo destes valores às futuras gerações.
Os gregos clássicos vêm em nosso socorro para compreendermos porque ocorre tamanha modificação nos modos de tratamento entre as pessoas hoje em dia. Esquecemo-nos da ‘regra de ouro’ helênica, que rezava ser um contra-senso desejar-se conhecer o mundo externo, sem antes esforçarmo-nos para conhecer o mundo interno. “Conhece-te a ti mesmo” parece ser ainda hoje um sábio conselho, e a falência das pessoas em conhecer a Felicidade repousa numa série de equívocos, a começar pelo privilégio que se concede às coisas “de fora”, mais do que aquilo que nos é personalístico. Assim, a muitos pode parecer natural não cultivar mais o cavalheirismo, assim como espoliar, defraudar, violentar, impedindo o exercício adequado de nossa civilidade. Em muitos sentidos, creio que estamos não avançando pelo século XXI, mas rumando ao tempo da pedra lascada...